Image Map

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 4

Eu não podia acreditar. Janine Hathway. Minha mãe. Minha insanamente famosa e impressionantemente ausente mãe. Ela não era nenhum Arthur Schoenberg, mas ela tinha uma reputação estelar no mundo dos guardiões. Eu não a via há anos porque ela sempre estava fora em uma missão insana. E ainda sim... aqui estava ela na Academia nesse momento – bem na minha frente – e ela não tinha nem se dado ao trabalho de me dizer que ela estava vindo. Isso que é amor materno.

O que diabos ela estava fazendo aqui de qualquer forma? A resposta veio rapidamente. Todos os Moroi que vieram ao campus teriam seus guardiões na cidade. Minha mãe protegia um nobre do clã Szelsky, e vários membros dessa família tinham vindo para as festas. É claro que ela estaria com eles.

Eu sentei na minha cadeira e senti algo dentro de mim murchar. Eu sabia que ela devia ter me visto entrar, mas sua atenção estava em outra coisa. Ela estava usando jeans e uma camiseta bege, e uma jaqueta jeans que tinha que ser a coisa mais sem graça eu já tinha visto. Com apenas 1,50m ela estava escondida entre os outros guardiões, mas ela tinha uma presença e um jeito de ficar parada que a fazia parecer mais alta.

Nosso instrutor, Stan, apresentou os convidados e explicou que eles iriam contar experiências da vida real para nós.

Ele andou na frente da sala, suas sobrancelhas cerradas se juntando enquanto ele falava. “Eu sei que isso é incomum,” ele explicou. “Guardiões visitantes normalmente não tem tempo de passar nas nossas aulas. Nossos três visitantes, no entanto, arranjaram tempo para vir conversar conosco devido ao que aconteceu recentemente...” Ele pausou por um momento, e ninguém precisava nos dizer sobre o que ele estava se referindo. O ataque aos Badica. Ele limpou sua garganta e começou de novo. “Devido ao que aconteceu, nós pensamos que seria melhor fazer vocês aprenderem com aqueles que atualmente trabalham no campo.”

A turma ficou tensa de excitação. Ouvir histórias – particularmente aquelas com muito sangue e ação – era muito mais interessante que analisas as teorias dos livros. Aparentemente alguns dos outros guardiões também pensavam assim. Eles freqüentemente passavam por nossas turmas, mas eles estavam presentes hoje em um número muito maior. Dimitri estava parado entre eles mais atrás.

O cara mais velho foi primeiro. Ele começou sua história, e eu me encontrei ficando viciada. Ele descreveu uma época em que o filho mais novo da família que ele guardava tinha andado em

lugares públicos que os Strigoi estavam observando.

“O sol estava para se por,” ele diz a nós em uma voz grave. Ele baixou suas mãos em câmera lenta, aparentemente demonstrando como um por do sol funciona.”Só tinham dois de nós, e nós tínhamos que tomar uma decisão rápida sobre como proceder.”

Eu me inclinei mais pra frente, os cotovelos apoiados na mesa. Guardiões freqüentemente trabalhavam em duplas. Um- o guarda de perto – normalmente fica perto daquele que ele protegia enquanto o outro – o guarda de longe – varria a área. O guarda de longe normalmente ficava em contato visual, então eu percebi o dilema ali. Pensando sobre isso, eu decidi que se eu estivesse naquela situação, eu faria o guardião de perto levar o resto da família a um lugar seguro enquanto o outro procurava o garoto.

“Nós fizemos a família ficar dentro de um restaurante com meu parceiro enquanto eu varria o resto da área,” continuou o velho guardião. Ele espalhou suas mãos em um envolvente movimento, e eu me senti orgulhosa por ter pensado na resposta correta. A história teve um final feliz, eles encontraram o garoto e não viram nenhum Strigoi.

O segundo cara contou sobre como ele encontrou por acaso um Strigoi que seguia um Moroi.

“Tecnicamente eu nem estava em serviço,” ele disse. Ele era muito bonitinho, e uma garota sentada perto de mim o encarava com olhos grandes e cheios de adoração. “Eu estava visitando um amigo e a família que ele guardava. Quando eu estava saindo do aparentemente, eu vi um Strigoi entrando pela janela. Ele nunca esperou ver um guardião ali. Eu dei uma volta na quadra, e vim por trás dele, e...” O cara fez um forte movimento, muito mais dramática que o gesto de mãos que o cara velho tinha feito. O contador de histórias fez até imitou como enfiou a estaca no coração do Strigoi.

E então foi a vez da minha mãe. Eu fiz uma cara feia antes mesmo dela dizer uma palavra, uma cara que ficou pior quando ela começou a contar a história. Eu juro, se eu não acreditasse na sua incapacidade de ter uma imaginação para isso – e suas escolhas de roupas sem graça provava que ela realmente não tinha nenhuma imaginação – eu teria pensado que ela estava mentindo. Era mais que uma história. Era um conto épico, o tipo de coisa que faz com que filmes ganhem o Oscar.

Ela falou sobre como seu protegido, o Lord Szelsky, e sua mulher tinham ido a um baile realizado por outra família real. Vários Strigoi estiveram esperando. Minha mãe descobriu um, o empalou rapidamente, e então alertou aos outros guardiões. Com a ajuda deles, ela caçou o outro Strigoi o pegando por trás e foi responsável pelas mortes.

“Não foi fácil,” ela explicou. De qualquer outro aquele comentário soaria como se ele estivesse se gabando. Não ela. Tinha uma velocidade no jeito que ela falava, um jeito eficiente de dizer os fatos que não deixava espaço para isso. Ela tinha sido criada em Glasgow e algumas das suas palavras ainda tinham o sotaque escocês. “Tinham mais três no perímetro. Naquele tempo, isso era considerado um número incomum trabalhando junto. Isso não é necessariamente verdade agora, considerando o massacre dos Badica.” Algumas pessoas demonstraram medo do jeito casual que ela falou do ataque. Mais uma vez, eu podia ver os corpos. “Nós tínhamos que nos livrar dos Strigoi restantes o mais rápido e silenciosamente possível, para não alertar os outros. Agora, se nós tivéssemos o elemento

surpresa, o melhor jeito para acabar com um Strigoi é chegar por trás, quebrar seu pescoço, e empalar ele. Quebrar o pescoço dele não vai matá-lo, é claro, mas os confunde e te permite empalá-lo antes dele fazer qualquer barulho. A parte mais difícil na verdade é pega-los desprevenidos, porque a audição deles é muito boa. Já que eu sou menor e mais leva que a maioria dos guardiões, eu posso me mover bem silenciosamente. Então eu acabei matando dois dos três.”

De novo, ela usou aquele tom de “aliás” enquanto ela descrevia suas habilidades mortíferas. Era irritante, mais do que se ela tivesse sido presunçosa e falado abertamente do quão incrível ela era. Meus colegas de aula brilhavam com admiração; eles estavam claramente mais interessados na idéia de quebrar o pescoço de um Strigoi do que analisar as habilidades narrativas da minha mãe.

Ela continuou com a história. Quando ela e os outros guardiões tinham matado o resto dos Strigoi, eles descobriram que dois Moroi tinham sido levados da festa. Tal ato não era incomum para os Strigoi. Às vezes eles queriam guardar os Moroi para um lanche depois; às vezes Strigoi de rank mais baixo eram enviados por Strigoi mais poderosos para trazerem uma presa. Independentemente, dois Moroi tinham sumido do baile, e seus guardiões tinham sido feridos.

“Naturalmente, nós não podíamos deixar aqueles Moroi nas mãos de Strigoi,” ela disse. “Nós seguimos os Strigoi até o lugar onde estavam escondidos e encontramos vários deles

vivendo juntos. Eu tenho certeza que vocês podem perceber o quão raro isso é.”

E era. A maldosa e egoísta natureza dos Strigoi os fazia eles se virarem uns contra os outros tão facilmente quanto eles faziam vitimas. Se organizar para atacar – quando eles tinham o objetivo de buscar sangue em sua mente – era o máximo que eles podiam fazer. Mas viver juntos? Não. Era quase impossível de imaginar.

“Nós conseguimos libertar os Moroi que tinham sido levados, e descobrimos que outros estavam presos,” minha mãe disse. “Nós não podíamos deixar aqueles que tínhamos resgatado voltarem sozinhos, então os guardiões que estavam comigo os escoltaram para fora e me deixaram para pegar os outros.”

Sim, é claro, eu pensei. Minha mãe corajosamente foi sozinha. Ao longo do caminho, ela foi capturada mas conseguiu escapar e resgatar os prisioneiros. Fazendo isso, ela fez o que tinha que ser o truque triplo do século, matando Strigoi de todos os três jeitos: empalando, decapitando e os colocando em chamas.

“Eu tinha acabado de empalar um Strigoi quando mais dois atacaram,” ela explicou. “Eu não tinha tempo para tirar minha estaca do outro quando eles me atacaram. Felizmente, tinha uma lareira aberta ali perto, e eu empurrei um deles para lá. O ultimo me perseguiu lá fora, até uma antiga cabana. Tinha um machado lá dentro e eu o usei para cortar a cabeça dele. Então eu peguei um galão de gasolina e voltei para a casa. O que eu tinha jogado na

lareira não tinha se queimado completamente, mas assim que eu joguei gasolina nele, ele se queimou bem rápido.”

A turma estava apavorada enquanto ela falava. Bocas caíram. Olhos se esbugalharam. Nenhum barulho podia ser ouvido. Olhando ao redor, eu senti como se o tempo tivesse parado pra todo mundo – exceto eu. Eu parecia ser a única que não tinha se impressionado pelo sua história assustadora, e vendo o rosto de todos me irritou. Quando ela terminou, uma dúzia de mãos levantaram enquanto a turma fazia perguntas sobre as técnicas dela, sobre se ela teve medo, etc.

Depois da décima pergunta, eu não pude mais agüentar. Eu levantei minha mão. Ela levou um tempo para notar e me chamar. Ela parecia meio impressionada por me encontrar em aula. Eu me considerei sortuda por ela ter se quer me reconhecido.

“Então, guardiã Hathaway,” eu comecei. “Porque vocês não deram segurança ao lugar?”

Ela franziu as sobrancelhas. Eu acho que ela tinha ficando em guarda no momento que ela me chamou. “O que você quer dizer?”

Eu encolhi os ombros e me inclinei para trás da mesa, tentando parecer casual e dar um ar de conversa. “Eu não sei. Me parece que vocês fizeram besteira. Porque vocês não varreram o lugar e se certificaram que não houvesse Strigoi no lugar pra começo de conversa? Me parece que você teria se poupado de muitos problemas.”

Todos os olhos na sala se viraram pra mim. Minha mãe momentaneamente perdeu as palavras. “Se nós não

tivéssemos passado por todos esses “problemas,” teriam 7 Strigoi andando no mundo, e aqueles outros Moroi capturados estariam mortos ou transformados agora.”

“É, é, eu entendi como vocês salvaram o dia e tudo mais, mas eu vou voltar para o principio. Eu quero dizer, isso é uma aula de teoria, certo?” Eu olhei para Stan, que estava me olhando com um olhar tempestuoso. Ele e eu tínhamos uma longa e desagradável história de conflitos em aula, e eu suspeitava que nós iríamos ter outra. “Então eu só quero entender o que deu errado pra inicio de conversa.”

Eu digo isso pra ela – minha mãe tinha muito mais autocontrole do que eu. Se nossos papeis fossem inversos, eu teria andando até mim e me dado uma surra. Seu rosto continuou perfeitamente calmo, no entanto, um pequeno aperto na posição de seus lábios indicava que eu estava irritando ela.

“Não é tão simples,” ela respondeu. “O local tinha uma planta extremamente complexa. Nós a percorremos inicialmente e não encontramos nada. Acreditamos que os Strigoi vieram depois que a festa tinha começado – ou que talvez tivessem passagens e quartos escondidos que nós não sabíamos.”

A turma soltou uns “ooh” e “ahh” pela idéia de quartos escondidos, mas eu não estava impressionada.

“Então o que você está dizendo é que vocês ou falharam em os detectar durante sua primeira varredura, ou eles atravessaram a ‘segurança’ que você montou durante a festa. Me parece que alguém fez besteira de qualquer jeito.”

O aperto em seus lábios aumentou, e sua voz ficou mais gelada. “Nós fizemos o melhor que podíamos em uma situação incomum. Eu posso entender sobre como alguns de vocês podem não ser capaz de entender os problemas do que eu descrevi, mas uma vez que vocês tenham aprendido o suficiente além da teoria, vocês verão o quão diferente é quando você realmente está lá e vidas dependem de você.”

“Sem duvidas,” eu concordei. “Quem sou eu para questionar seus métodos? Eu quero dizer, faça o que for necessário para ter mais tatuagens molnija, certo?”

“Srta. Hathaway.” A voz profunda de Stan soou na sala. “Por favor pegue suas coisas e vá esperar lá fora até o final da aula.”

Eu o encarei confusa. “Você está falando sério? Desde quando tem algo errado em fazer perguntas?

“Sua atitude é o que está errado.” Ele apontou para a porta. “Vá.”

Um silencio mais pesado e profundo do que quando a minha mãe tinha contado sua história desceu sobre todos. Eu fiz o possível para não me encolher diante dos olhares dos guardiões e dos novatos. Essa não era a primeira vez que eu era expulsa da aula do Stan. Não era nem a primeira vez que eu era expulsa da aula de Stan enquanto Dimitri assistia. Colocando minha mochila nos meus ombros, eu cruzei a pequena distancia até a porta – uma distancia que parecia como quilômetros – e me recusei a fazer contato visual com a minha mãe enquanto eu passava.

Uns 5 minutos antes de a turma sair, ela saiu da sala e andou até onde eu estava sentada no corredor. Olhando para mim, ela pôs suas mãos em seus lábios daquele jeito irritante que a fazia parecer mais alta do que ela era. Não era justo que alguém 15 centímetros mais baixo que eu pudesse me fazer sentir tão pequena.

“Bom. Eu vejo que seus modos não melhoraram com os anos.”

Eu levantei e senti um fulgor aparecer. “É bom ver você. Estou surpresa que você tenha me reconhecido. Na verdade, eu nem achava que você lembrasse-se de mim, já que você nem se incomodou em me avisar que você estava aqui.”

Ela tirou suas mãos dos lábios e cruzou seus braços em seu peito, se tornando – se possível – ainda mais impassiva. “Eu não podia negligenciar meu dever para mimar você.”

“Mimar?” eu perguntei. Essa mulher nunca tinha me mimado a vida inteira. Eu não conseguia nem acreditar que ela conhecesse essa palavra.

“Eu não esperaria que você entendesse. Pelo que eu ouvi, você não sabe o que ‘dever’ significa.”

“Eu sei exatamente o que significa,” eu respondi. Minha voz estava intencionalmente arrogante. “Melhor que a maioria das pessoas.”

Os olhos dela se ampliaram em uma falsa surpresa. Eu usava aquele olhar sarcástico com muitas pessoas e não apreciava ter ele direcionado em minha direção. “Oh verdade? Onde você esteve nos últimos dois anos?”

“Onde você esteve nos últimos cinco?” eu exigi. “Você teria descoberto que eu tinha partido se alguém não tivesse dito a você?”

“Não faça disso minha responsabilidade. Eu estava longe porque eu tinha que estar. Você estava longe porque você pudesse ir ao shopping e ficar acordada até mais tarde.”

Minha magoa e embaraço se tornaram pura fúria. Aparentemente, eu nunca ia superar as conseqüências de ter fugido com Lissa.

“Você não faz idéia do porque eu parti,” eu disse,o volume da minha voz aumentando. “E você não tem nenhum direito de fazer suposições sobre a minha vida quando você não sabe nada sobre ela.”

“Eu li os relatórios sobre o que aconteceu. Você tinha razão em se preocupar, mas você agir de forma incorreta.” Suas palavras eram formais e rápidas. Ela podia estar ensinando na aula.

“Você deveria ter ido até outros para pedir ajuda.”

“Não tinha ninguém para quem eu pudesse ir- não quando eu não tinha prova. Além do mais, nós aprendemos a pensar de maneira independente.”

“Sim,” ela replicou. “Ênfase em “aprendendo.” Algo que você perdeu nos últimos dois anos. Você dificilmente está numa posição de me dar sermão sobre o protocolo dos guardiões.”

Eu entrava em brigas o tempo todo; algo em minha natureza fez isso inevitável. Então eu estava acostumada em me defender e ter de ouvir insultos. Eu era durona. Mas de algum jeito, perto dela – nos breves momentos que eu

tinha estado perto dela – eu sempre sentia que eu tinha 3 anos. Sua atitude me humilhava, e brincava com a minha falta de treinamento – o que já era um assunto espinhoso – o que me fez sentir pior. Eu cruzei meus braços em uma imitação moderada do próprio jeito de ficar em pé dela e consegui um jeito presunçoso.

“É? Bom, não é isso que meus professores acham. Mesmo depois ter perdido todo esse tempo, eu alcancei todo mundo na minha turma.”

Ela não respondeu de cara. Finalmente, em uma voz nivelada, ela disse, “Se você não tivesse partido, você teria ultrapassado eles.”

Se virando em estilo-militar, ela se afastou. Um minuto depois, o sino tocou, e o resto da turma do Stan se espalhou pelo corredor. Nem mesmo Mason pode me animar depois disso. Eu passei o resto do dia irritada e incomodada, claro que todos estavam falando sobre minha mãe e eu. Eu faltei o almoço e fui até a biblioteca ler um livro sobre fisiologia e anatomia. Quando era hora do meu treinamento depois da aula com Dimitri, eu praticamente corri até os bonecos de pratica. Com o punho fechado, eu bati no peito dele, levemente para a direita mas na maior parte no centro.

“Aí,” eu disse a ele. “O coração está aí, e o esterno e as costelas estão no caminho. Posso ter minha estaca agora?”

Cruzando meus braços, eu olhei pra ele triunfante, esperando que ele derramasse elogios por minha perspicácia. Ao invés disso, ele simplesmente acenou eu

entendimento, como se eu já devesse saber disso. E sim, eu deveria.

“E como você atravessa o esterno e as costelas?” ele perguntou.

Eu suspirei. Eu tinha descoberto a resposta da pergunta, apenas para receber outra. Típico. Nós passamos uma grande parte do treino falando sobre isso, e ele demonstrou várias técnicas que iriam render uma morte mais rápida. Cada movimento que ele fez era gracioso e letal. Ele fez parecer que era fácil, mas eu sabia mais.

Quando ele de repente estendeu a mão e me ofereceu a estaca, eu não entendi a principio.

“Você está dando para mim?”

Seus olhos brilharam. “Eu não acredito que você está se segurando. Eu pensei que você fosse pegá-la e sair correndo.”

“Você não está sempre me ensinando a me segurar?” eu perguntei.

“Não com tudo.”

“Mas em algumas coisas.”

Eu ouvi o duplo significado em minha voz e imaginei de onde isso tinha vindo. Eu tinha aceitado há algum tempo que tinham muitas razões para mim nem ao menos pensar romanticamente sobre ele mais. De vez enquanto, eu escorregava um pouco e meio que desejava que eu não tivesse. Seria bom saber que ele ainda me queria, que eu ainda o deixava maluco. Estudando ele agora, eu percebi que ele talvez nunca escorregasse porque eu não o deixava mais maluco. Foi um pensamento deprimente.

“É claro,” ele disse, sem mostrar indícios que estávamos discutindo qualquer coisa que não o assunto de aula. “É como todo o resto. Balanço. Saber por que coisas você deve correr – e que coisas deixar em paz.” Ele colocou uma ênfase pesada na ultima frase.

Nossos olhos se encontraram brevemente, e eu senti uma onda elétrica me percorrendo. Ele sabia sobre o que eu estava falando. E como sempre, ele estava ignorando e sendo meu professor – o que é exatamente o que ele deveria estar fazendo. Com um suspiro, eu empurrei meus sentimentos por ele para fora da minha cabeça e tentei lembrar que eu estava prestes a tocar numa arma que eu esperava desde criança. A memória da casa dos Badica voltou para mim de novo. Strigoi estavam lá fora. Eu precisava me concentrar.

Hesitantemente, quase reverencialmente, eu a alcancei e curvei meus dedos em volta do punho. O metal frio e formigava contra a minha pele. O cabo tinha sido gravado para melhor aderência, mas traçando meus dedos sobre o resto, eu notei uma superfície tão lisa quando vidro.Eu o tirei da mão dele e a trouxe para perto de mim, levando um longo tempo para estudá-la e me acostumar com seu peso. Uma parte ansiosa de mim queria virar e empalar os bonecos, mas ao invés disso eu olhei para Dimitri e perguntei, “O que eu deveria fazer primeiro?”

Em seu jeito típico, ele cobriu o básico, falando sobre o jeito que eu segurava e movia a estaca. Mais tarde, ele finalmente me deixou atacar os bonecos, o que nesse ponto eu descobri que não era sem esforço. A evolução tinha feito

algo esperto em proteger o coração com o esterno e as costelas. Ainda sim por tudo, Dimitri nunca vacilou em negligencia e paciência, me guiando através de cada passo e corrigindo cada detalhe.

“Deslize para cima através das costelas,” ele explicou, me observando tentar encaixar a estaca em um ponto através dos ossos. “Será mais fácil já que você é mais baixa que a maioria dos seus agressores. E mais, você pode deslizar pela ponta da costela mais baixa.”

Quando a pratica terminou, ele pegou a estaca de volta e acenou em aprovação. “Bom. Muito bom.”

Eu olhei para ele surpresa. Ele não dava esse tipo de elogio normalmente. “Verdade?”

“Você fez como se estivesse fazendo há anos.”

Eu senti um riso satisfeito aparecer no meu rosto enquanto nós começávamos a sair do quarto de pratica.Quando estávamos perto da porta, eu notei um boneco com um cabelo ruivo enrolado. De repente, todos os eventos da aula de Stan voltaram para minha cabeça. Eu fiquei de cara feia.

“Eu posso empalar aquele ali da próxima vez?”

Ele pegou seu casaco e o colocou. Era longo e marrom, feito de couro. Parecia muito com um cowboy, embora ele nunca admitisse. Ele tinha uma fascinação secreta com o Velho Oeste. Eu não entendida, mas então, eu também não entendia as preferências musicas esquisitas dele também.

“Eu não acho que isso seria saudável,” ele disse.

“Será melhor do que eu realmente fizer com ela,” eu murmurei, colocando minha mochila no meu ombro. Nós nos dirigimos ao ginásio.

“Violência não é a resposta para os seus problemas,” ele disse sabiamente.

“Ela é que tem problemas. E eu pensei que todo o motivo da minha educação era que violência é a resposta.”

“Apenas para aqueles que a trazem primeiro. Sua mãe não está te agredindo. Vocês duas são só muito parecidas, só isso.”

Eu parei de andar. “Eu não sou nada parecida com ela! Eu quero dizer... nós meio que temos os mesmos olhos. Mas eu sou muito mais alta. E meu cabelo é completamente diferente.” Eu apontei para meu rabo de cavalo, só no caso dele não ter percebido que meu cabelo marrom não parecia com o cabelo moreno encaracolado dela.

Ele ainda tinha meio que uma expressão entretida, mas tinha algo duro em seus olhos também. “Eu não estou falando sobre a aparência física, e você sabe disso.”

Eu olhe pra longe daquele olhar sábio. Minha atração por Dimitri tinha começado praticamente assim que nós conhecemos – e não era só porque ele era gostoso, também. Eu sentia que ele entendia parte de mim que nem eu entendia, e às vezes eu tinha certeza que eu entendia partes dele que ele também não entendia.

O único problema é que ele tinha a irritante tendência de apontas as coisas sobre mm mesma que eu não queria entender.

“Você acha que eu tenho ciúmes?”

“Você tem?” ele perguntou. Eu odiava quando ele respondia minhas perguntas com outras perguntas. “Se sim, então do que você tem ciúmes exatamente?”

Eu olhei para Dimitri. “Eu não sei. Talvez eu tenha ciúmes da reputação dela. Talvez eu tenha ciúmes porque ela gasta mais tempo em sua reputação do que comigo. Eu não sei.”

“Você não acha que o que ela fez foi incrível?”

“Sim. Não. Eu não sei. Só soou como algo...eu não sei... como se ela estivesse se gabando. Como se ela tivesse feito aquilo pela gloria.” Eu fiz careta. “Pelas tatuagens.” Molnija são tatuagens feitas em guardiões quando eles matam um Strigoi. Cada uma parece como um pequeno x feita de raios. Elas ficam na nossa nuca e mostram o quão experiente um guardião é.

“Você acha que enfrentar Strigoi vale a pena por algumas marcas? Eu pensei que você tinha aprendido algo com a casa dos Badica.”

Eu me sentia estúpida. “Não é isso –”

“Vamos.”

Eu parei de andar. “O que?”

Ele estava indo em direção ao meu dormitório, mas agora ele acenou sua cabeça para o outro lado do campus.

“O que foi?”

“Nem todas as marcas são emblemas de honra.”

0 Comments:

Postar um comentário