O resto da viagem passou sem nada de especial. Sydney nunca perdeu totalmente o desconforto que ela parecia ter ao meu redor, mas às vezes, enquanto eu estava tentando entender a televisão russa, ela explicava o que estava acontecendo. Havia algumas diferenças culturais entre aqueles shows e os que nós tínhamos crescido vendo, então tínhamos isso em comum. De vez em quando, ela dava um sorriso sobre algo que nós duas achávamos engraçado, e parecia que havia alguém ali que eu poderia ser amiga. Eu sabia que nunca encontraria um substituto para Lissa, mas acho que uma parte de mim ainda anseia preencher o vazio de amizade que fora aberto quando a deixei para trás.
Sydney dormiu de dia, e eu comecei a pensar que ela tinha insônia com aquele padrão de sono bizarro. Ela também continuou seu tratamento estranho com comida, mal tocando nas refeições. Ela sempre deixava eu comer as sobras e era um pouco mais aventurosa na cozinha russa. Eu tive que experimentar quando cheguei, e era sempre bom ter o guia de alguém que, embora não fosse local, sabia muito sobre esse país do que eu.
No terceiro dia de viagem, chegamos em Omsk. Omsk era uma cidade mais grande e bonita do que eu esperava da Sibéria. Dimitri sempre me provocou sobre as imagens de que a Sibéria parecia a antártica eram erradas, e eu percebi que ele tinha razão – pelo menos em relação a parte sul da região. O clima não era muito diferente do que Montana
esse ano, vento frio de primavera ocasionalmente esquentado pelo sol.
Sydney me disse que quando chegássemos aqui iríamos conseguir uma carona com um Moroi que ela conhecia. Vários viviam na cidade, se misturando com a grande população. Ainda sim enquanto o dia passava, descobrimos que tínhamos um problema. Nenhum Moroi podia nos levar para o vilarejo. Aparentemente, a estrada era perigosa. Strigoi geralmente ficavam por lá durante a noite, esperando pegar um viajante Moroi ou Dhampir. Quanto mais Sydney explicava, o mais preocupada eu ficava com meu plano. Aparentemente, não tem muitos Strigoi na cidade de Dimitri.
Segundo ela, eles ficam no perímetro da cidade, mas poucos viviam lá permanentemente. Se esse fosse o caso, minhas chances de encontrar Dimitri diminuíam. As coisas ficaram ainda piores enquanto Sydney continuava a descrever a situação.
“Vários Strigois viajam pelo país procurando vitimas, o vilarejo é só uma área de passagem,” ela explicou. “As estradas são meio remotas, então algum Strigoi fica por um tempo e tenta conseguir uma presa fácil. Então eles seguem em frente.”
“Nos EUA, Strigoi geralmente se escondem em cidades grande,” eu disse agitada.
“Eles fazem isso aqui também. É mais fácil para eles tomar vitimas sem serem notados.”
Sim, isso definitivamente atrapalha meus planos. Se Dimitri não estivesse residindo na cidade, eu iria ter sérios
problemas. Eu sei que Strigoi gostam de cidades grandes, mas de alguma forma, eu me convenci que Dimitri iria voltar para o lugar que ele cresceu.
Mas se Dimitri não estivesse lá... bem, de repente, o tamanho da Sibéria me atingiu. Eu soube que Omsk não era nem a maior cidade da região, e encontrar mesmo um Strigoi aqui poderia ser difícil. Procurar por ele em várias cidades que podem ser ainda maiores? As coisas iriam ficar muito feias se meu palpite se provasse errado. Desde que saí para encontrar Dimitri, eu ocasionalmente tinha momentos de fraqueza que eu esperava nunca encontrar ele. A idéia dele como um Strigoi ainda me atormentava. Eu também era visitada por outras imagens... imagens do jeito que ele era e das memórias do tempo que passamos juntos.
Eu acho que minha memória mais preciosa era aquela de logo antes dele ser transformado. Foi quando eu sujei muita escuridão induzida pelo espírito de Lissa. Eu estava fora de controle, incapaz de me segurar. Eu estava com medo de me tornar um monstro, com medo de me matar como outro guardião shadow-kiss tinha feito.
Dimitri me trouxe de volta, me emprestando sua força. E então eu percebi o quão forte era nossa conexão, o quão perfeitamente nos entendíamos. Eu fui cética sobre pessoas serem alma gêmeas no passado, mas naquele momento, eu soube que era verdade. E com aquela conexão emocional veio a física. Dimitri e eu finalmente tínhamos cedido a atração. Juramos que nunca iríamos, mas... bem, nossos sentimentos eram simplesmente fortes demais. Ficar longe um do outro se tornou impossível. Nós transamos, e foi
minha primeira vez. As vezes eu sentia certeza que seria minha única vez. O ato em si fora incrível, e eu fui incapaz de separar a alegria física da emocional. Depois, ficamos deitados juntos naquela pequena cabana por tanto quanto nos atrevemos, e isso foi incrível também. Tinha sido um daqueles poucos momentos onde eu senti que ele era realmente meu.
“Você se lembra do feitiço de lúxuria de Victor?” eu perguntei, me aproximando dele. Dimitri olhou para mim como se eu fosse louca. “É claro.”
Victor Dashkov era da realeza Moroi, alguém que tinha sido amigo de Lissa e sua família. Pouco sabíamos que ele secretamente estudava espírito e tinha identificado Lissa como uma usuária de espírito antes dela sequer saber. Ele a torturou com todo tipo de jogos mentais que realmente a fizeram pensar que ela estava ficando maluca. Os esquemas dela tinham culminado em seqüestro e tortura até que ela o curou da doença que estava matando ele.
Victor agora estava preso para sempre, tanto pelo que ele fez por Lissa e por causa dos seus planos de traição para se rebelar contra o governo Moroi. Ele era um dos poucos a saber da minha relação com Dimitri, algo que me preocupou até o fim. Ele até facilitou nossa relação criando um feitiço de luxuria – um colar fundindo com terra e compulsão. O feitiço estava cheio de magia perigosa que fez Dimitri e eu cedermos a nossos instintos mais básicos. Tínhamos nos afastados no último momento, e até nossa noite na cabana, eu acreditei que nosso encontro induzido pelo encanto tinha sido nosso pico em encontro físico.
“Eu não imaginei que poderia melhor,” eu disse a Dimitri depois que dormimos juntos. Eu me senti um pouco tímida em falar sobre isso. “Eu pensei sobre isso o tempo todo... o que aconteceu entre nós.”
Ele virou para mim, erguendo as cobertas. A cabana estava fria, mas sua cama tinha cobertores quentes. Eu suponho que pudéssemos ter colocado as roupas, mas essa era a última coisa que eu queria fazer. Ficar pressionada pele contra pele era bom.
“Eu também.”
“Você pensou?” eu perguntei, surpresa. “Eu pensei... eu não sei. Eu pensei que você era muito disciplinado para isso. Eu pensei que você tentaria esquecer.”
Dimitri riu e beijou meu pescoço. “Rose, como eu poderia esquecer de estar pelado com alguém tão linda quanto você? Eu fiquei acordado tantas noites, repassando todos os detalhes. Eu me disse de novo e de novo que era errado, mas você era impossível de esquecer.” Seus lábios se moveram para a minha clavícula, e sua mão acariciou meus lábios. “Você queimou em minha mente para sempre. Não tem nada, nada nesse mundo que nunca irá mudar isso.”
E eram memórias assim que faziam tão difícil compreender essa busca para matar ele, mesmo que ele fosse um Strigoi. Ainda sim... ao mesmo tempo, era exatamente por causa de memórias assim que eu tinha que destruir ele. Eu precisava lembrar dele como o homem que me amava e me segurou na cama. Eu precisava lembrar que aquele homem não iria querer permanecer um monstro.
Eu não estava muito excitada quando Sydney me mostrou o carro que ela comprou, particularmente já que eu dei o dinheiro para ele.
“Vamos nisso?” eu exclamei. “Podemos sequer chegar até lá?” A viagem aparentemente era de sete horas.
Ela me deu um olhar chocado. “Você está falando sério? Você sabe o que é isso? É um citroen 19723. Essas coisas são incríveis. Você tem idéia do quão difícil deve ter sido trazer isso de volta para o país no tempo dos Soviéticos? Eu não acredito que esse cara vendeu. Ele não tem noção.”
Eu sabia pouco sobre os soviéticos e ainda menos sobre carros clássicos, mas Sydney acariciou o capo vermelho como se ela estivesse apaixonada. Quem iria adivinhar? Ela gostava de carros. Talvez ele tivesse valor e eu simples-mente não conseguisse apreciar. Eu gostava mais de carros esportivos novos. Para ser justa, não tinha nenhum amassado e arranhões, e fora o visual antigo, ele parecia limpo e bem cuidado. Esse carro:
“Vai ligar?” eu perguntei.
Se possível, a expressão dela ficou ainda mais incrédula. “É claro!” E ele ligou. O motor ligou firme, e do jeito que ele acelerou, eu comecei a entender a fascinação dela. Ela queria dirigir, e eu estava prestes a discutir que foi o meu dinheiro que o comprou. Vendo o olhar de adoração no rosto dela, no entanto, eu finalmente decidi não ficar entre o carro e ela.
Eu só estava feliz por estarmos partindo. Já era tarde. Se a estrada era tão perigosa quanto todos alegavam, não iríamos querer estar lá no escuro. Sydney concordou mas
disse que poderíamos fazer a maior parte da viagem antes do pôr-do-sol e então passar a noite em um lugar que ela conhecia. Chegaríamos no nosso destino amanhã.
Quanto mais dirigíamos para longe de Omsk, o terreno se tornava mais remoto. Enquanto eu o estudava, eu comecei a entender o amor de Dimitri por essa terra. Ele tinha um visual miserável e estéreo, verdade, mas a primavera estava transformando o terreno em verde, e havia algo lindo sobre ver toda aquela selvagem intocada. Me lembrava de Montana de certa forma e ainda sim tinha uma certa qualidade que era própria sua.
Eu não pude me impedir de usar a adoração de Sydney pelo carro para conversar.
“Você sabe muito sobre carros?” eu perguntei.
“Um pouco,” eu disse. “meu pai é o alquimista da nossa família, mas minha mãe é uma mecânica.”
“Verdade?” eu perguntei, surpresa. “Isso é meio... raro.” É claro, eu dificilmente posso falar sobre o papel dos sexos. Considerando que minha vida era dedicada para lutar e matar, eu não poderia alegar ter um papel feminino normal também.
“Ela é muito boa e me ensinou muito. Eu não teria me importado em fazer isso para viver. Não teria me importado em ir para faculdade também.” Tinha um tom amargo em sua voz. “Eu suponho que tem várias outras coisas que eu gostaria de fazer.”
“O que poderia fazer?”
“Eu tive que ser a próxima alquimista da família. Minha irmã... bem, ela é mais velha, e normalmente são os mais velhos que fazem o trabalho. Mas, ela é meio que... inútil.”
“Isso é duro.”
“Yeah, talvez. Mas ela não conseguiu lidar com esse tipo de coisa. Quando se trata de organizar a coleção de gloss dela, ninguém a para. Mas lidar com o tipo de ligações e pessoas que conversamos? Não, ela nunca é capaz. Papai diz que eu sou a única capaz.”
“Pelo menos isso é um elogio.”
“Eu suponho.”
Sydney parecia tão triste agora que eu me senti mal por tocar no assunto. “Se você pudesse ir para faculdade, o que você estudaria?”
“Arquitetura grego romano.”
Eu decidi então que era uma boa coisa por eu não estar atrás do volante, porque provavelmente teria dirigido para fora da estrada. “Sério?”
“Você sabe alguma coisa sobre isso.”
“Um, não.”
“É incrível.” A expressão triste foi substituída por de maravilha – ela parecia quase tão enamorada quanto pelo carro. Eu entendi então porque ela gostou da estação de trem. “A ingenuidade que era necessária para alguém fazer isso... bem, isso é surreal. Se os alquimistas não me mandarem de novo para os EUA, estou esperando ser designada para Grécia ou Itália.”
“Isso seria legal.”
“Yeah.” O sorriso dela sumiu. “Mas não tem garantias de que você vai conseguir o que quer nesse trabalho.”
Ela ficou em silêncio depois disso, e eu decidi que persuadir ela a conversar tinha sido um vitória. Eu a deixei com seus próprios pensamentos de carros clássicos e arquitetura enquanto minha mente divagava sobre assuntos próprios. Strigoi. Dever. Dimitri. Sempre Dimitri...
Bem, Dimitri e Lissa. Era sempre uma luta sobre quem me causaria mais dor. Hoje, enquanto o carro me atraía em deslumbramento, era com Lissa que me preocupava, graças principalmente a recente visita de Adrian a meus sonhos.
Cedo da noite na Rússia significava cedo da manhã em Montana. É claro, já que a escola tinha um horário noturno, era tecnicamente noite para eles também, apesar do sol. Era hora de se recolher, e todo mundo teria que voltar para seus próprios dormitórios.
Lissa estava com Adrian, no seu quarto. Adrian, como Avery, tinha se formado, mas como o único outro usuário de espírito, ele veio ficar indefinitivamente na escola e trabalhar com Lissa. Lissa deitou, esticando seus braços sobre a cabeça.
“Isso é inútil,” ela gemeu. “Eu nunca vou aprender.”
“Nunca supus que você fosse uma desistente, prima.” A voz de Adrian era irreverente como sempre, mas eu percebi que ele estava cansado também. Eles não eram primos de verdade; esse era apenas o termo que a realeza usava para chamar uns aos outros.
“Eu só não entendendo como fazer isso.”
“Eu não sei como explicar. Eu só penso, e... bem, acontece.” Ele deu nos ombros e pegou um cigarro que ele sempre carregava. “Você se importa?”
“Sim,” ela disse. Para minha surpresa, ele o guardou. O que diabos? Ele nunca me perguntou se eu me importava quando ele fumava – que eu me importava. Na verdade, na maior parte do tempo, eu juro que ele fazia para me irritar, o que não fazia sentido. Adrian passou da idade quando os caros tentavam atrair garotas que eles gostam zombando delas.
Ele tentou explicar o processo. “Eu só penso sobre como eu quero e meio que... eu não sei. Expando minha mente em direção a eles.”
Lissa sentou e cruzou as pernas. “Soa muito como Rose descrevia me ler.”
“Provavelmente é o mesmo principio. Olha, você levou um tempo para aprender sobre auras. Isso não é diferente. E você não é a única com uma curva de aprendizado. Eu estou apenas agora finalmente passando de curar arranhões, e você pode trazer os mortos de volta, o que – me chame de louco – é meio hard-core.” Ele pausou. “É claro, alguns iriam discutir que eu sou louco.”
Ao mencionar auras, ela o estudou e convocou a habilidade para ver o campo de luz que brilhava ao redor de tudo. A aura dele entrou em foco, o cercando com um brilho dourado. De acordo com Adrian, a aura dela era igual. Nenhum outro Moroi tinha esse tipo de dourado puro. Lissa e Adrian achavam que era único para usuários de espírito.
Ele sorriu, adivinhando o que ela estava fazendo. “Como está?”
“O mesmo.”
“Vê o quão boa você está agora? Só seja paciente com sonhos.”
Lissa queria tanto andar nos sonhos do jeito que ele podia. Apesar da sua decepção, eu estava feliz por ver que ela não conseguia. As visitas nos sonhos de Adrian eram difíceis o bastante para mim. Ver ela seria... bem, eu não tinha certeza, mas faria essa atitude legal e dura que eu estava tentando manter na Rússia muito mais difícil.
“Eu só queria saber onde ela está,” disse Lissa baixo. “Eu não suporto não saber.”
Era a conversa com Christian de novo.
“Eu a vi o outro dia. Ela está bem. E eu vou de novo em breve.”
Lissa acenou. “Você acha que ela vai fazer isso? Você acha que ela pode matar Dimitri?”
Adrian demorou para respondeu. “Eu acho que ela pode. A questão é se vai matar ela no processo.”
Lissa recuou, e eu estava um pouco surpresa. A resposta foi tão direta quanto a de Christian. “Deus, eu queria que ela não tivesse decidido ir atrás dele.”
“Desejar é inútil agora. Rose tem que fazer isso. É a única forma de conseguirmos ela de volta.” Ele pausou. “É o único jeito que ela vai ser capaz de seguir em frente.”
Adrian às vezes me surpreendia, mas esse foi demais. Lissa achava que era tolo e suicida ir atrás de Dimitri. Eu sabia que Sydney concordaria se eu contasse a ela a verdade
sobre essa viagem. Mas Adrian... tolo, superficial, e festeiro Adrian entendia?
Estudando ele pelos olhos de Lissa, eu percebi que ele entendia. Ele não gostava, e eu podia ouvir a magoa em suas palavras. Ele se importava comigo. Eu ter sentimentos tão fortes por outra pessoa causava a ele dor. E ainda sim... ele realmente acreditava que eu estava fazendo a coisa certa – a única coisa que eu poderia fazer.
Lissa olhou para o relógio. “Eu tenho que ir antes do toque de recolher. Eu provavelmente deveria estudar para minha prova de história também.”
Adrian sorriu. “Estudar é superestimado. Só encontre alguém inteligente para colar.”
Ela levantou. “Você está dizendo que não sou inteligente?”
“Diabos não.” Ele se levantou e foi se servir de um drink do bar totalmente estocado que ele mantinha a mão. Auto medicação era o jeito irresponsável dele de controlar o efeito do espírito, e se ele esteve usando espírito a noite toda, ele iria querer a dormência dos vícios dele. “Você é a pessoa mais inteligente que conheço. Mas isso não significa que você tem que fazer um trabalho desnecessário.”
“Você não pode ter sucesso na vida se não trabalhar. Copiar dos outros não te leva a lugar nenhum.”
“Tanto faz,” ele disse com um sorriso. “Eu colei a escola toda, e olhe onde estou hoje.”
Virando os olhos, Lissa deu a ele um rápido abraço de despedida e partiu. Fora de vista, o sorriso dela sumiu um pouco. Na verdade, os pensamentos dela viraram negros inesperadamente. Me mencionar tinha trazido todo tipo de
pensamento a tona. Ela estava preocupada comigo – desesperadamente preocupada. Ela disse a Christian que ela se sentia mal pelo que havia acontecido entre nós, mas a força total disso não me atingiu até agora. Ela estava se remoendo de culpa e confusão, continuamente se castigando pelo o que ela deveria ter feito. E acima de tudo, ela sentia minha falta. Ela tinha os mesmos sentimentos que eu – como se uma parte dela tivesse sido cortada. Adrian vivia no quarto andar, e Lissa optou pelas escadas ao invés do elevador. Enquanto isso, a mente dela girava em preocupação. Preocupação sobre quando ela iria dominar o espírito. Preocupação por mim. Preocupada por não estar sentindo os efeitos negros do espírito, o que a fez se perguntar se eu estava absorvendo eles, como a guardiã chamada Anna fazia. Ela viveu séculos atrás e estava ligada a Santo Vladimir, a quem a escola foi nomeada. Ela absorvia os efeitos horríveis do espírito dele – e ficou louca.
No segundo andar, Lissa podia ouvir sons e gritaria, mesmo através da porta que separava a escadaria do corredor. Apesar de saber que não tinha nada a ver com ela, ela hesitou, a curiosidade se apoderando dela. Um momento depois, ela silenciosamente empurrou a porta e parou no corredor. As vozes estavam vindo do canto. Ela cuidadosamente espiou – não que ela precisasse. Ela reconheceu as vozes. Avery Lazar estava no corredor, as mãos nos quadris enquanto ela encarava seu pai. Ele estava na porta que deveria levar para sua suíte. Suas posturas estavam rígidas e hostis, e raiva passava entre eles.
“Eu faço o que eu quero,” ela gritou. “Não sou sua escrava.”
“Você é minha filha,” ele diz com uma voz calma e condescendente. “Embora às vezes eu deseje que você não fosse.”
Ouch. Lissa e eu ficamos chocadas.
“Então porque você está me fazendo ficar nesse buraco do inferno? Me deixe voltar para a Corte!”
“E me envergonhar ainda mais? Nós mal saímos sem manchar a reputação da família – muito. De jeito nenhum vou te mandar sozinha e deixar você fazer só Deus sabe o que.”
“Então me mande para minha mãe! Suíça tem que ser um lugar melhor do que esse lugar.”
Houve uma pausa. “Sua mãe está... ocupada.”
“Oh, ótimo,” disse Avery, a voz cheia de sarcasmo. “Esse é um jeito educado de dizer que ela não me quer. Nenhuma surpresa. Eu só vou interferir com ela e aquele cara que ela está dormindo.”
“Avery!” A voz dele saiu alta e furiosa. Lissa se esquivou e deu um passo para trás.
“Essa conversa terminou. Volte para o seu quarto e se acalme antes que alguém te veja. Te espero no café amanhã, e espero que você esteja respeitável. Temos visitas
importantes.”
“Yeah, Deus sabe que temos mantido as aparências.”
“Vá para seu quarto,” ele repetiu. “Antes que eu ligue para Simon e faça ele te arrastar para lá.”
“Sim, senhor,” ela sorriu com afetação. “Imediatamente, senhor. O que você disser, senhor.”
E com isso, ele bateu a porta. Lissa, abaixada atrás do canto, mal podia acreditar que ele disse aquelas coisas para sua própria filha. Por alguns momentos, houve silêncio. Então, Lissa ouviu o som de passos – vindo em direção a ela. Avery de repente virou o canto e parou na frente de Lissa, nos dando a primeira boa olhada nela. Avery estava usando um vestido apertado feito de algum tipo de tecido azul que brilhava em prata na luz. O cabelo dela era longo e selvagem, e haviam lágrimas saindo dos olhos azul acinzentados que destruíram a pesada maquiagem que ela usava. O cheiro de álcool vinha forte e claro. Ela rapidamente passou a mão sobre os olhos, obviamente embaraçada por ser vista assim.
“Bem,” ela disse. “Eu acho que você ouviu nosso drama familiar.”
Lissa se sentia igualmente envergonhada por ter sido pega espionando. “Eu – eu sinto muito. Eu não queria. Eu só estava passando...”
Avery deu uma risada dura. “Bem, eu não acho que importa. Provavelmente todos no prédio nos ouviram.”
“Sinto muito,” Lissa repetiu.
“Não sinta. Você não fez nada errado.”
“Não... quero dizer, eu sinto muito por ele... você sabe, ter tido aquelas coisas para você.”
“É parte de ser uma “boa família”. Todos tem esqueletos em seus armários.”
Avery cruzou os braços e se inclinou contra a parede. Mesmo chateada e bagunçada, ela era linda. “Deus, eu odeio ele às vezes. Sem ofensa, mas esse lugar é tão chato.
Eu encontrei uns veteranos para andar hoje a noite, mas... eles também eram bem chatos. A única coisa que eles tinham a favor deles era a cerveja.”
“Por que... porque seu pai te trouxe aqui?” Lissa perguntou. “Porque você não está... eu não sei, na faculdade?”
Avery deu um risada dura. “Ele não confia em mim o bastante. Quando estávamos na Corte, eu me envolvi com um cara bonito que trabalhava lá – totalmente não real, é claro. Papai enlouqueceu e estava com medo que as pessoas descobrissem. Então quando ele ganhou o trabalho aqui, ele me trouxe junto para manter um olho em mim – e me torturar. Eu acho que ele tem medo que eu fuja com um humano se eu for para faculdade.” Ela suspirou. “Eu juro por Deus, se Reed não estivesse aqui, eu simplesmente fugiria, ponto final.”
Lissa não disse nada por um longo tempo. Ela saiu do seu caminho para evitar a diligência de Avery. Com todas aquelas ordens que a rainha estava dando a Lissa ultimamente, esse parecia o único jeito de Lissa poder lutar contra e se impedir de ser controlada. Mas agora, ela se perguntava se ela estava errada sobre Avery. Avery não parecia uma espiã para Tatiana. Ela não parecia alguém que queria moldar Lissa em alguém perfeito da realeza. Na maior parte, Avery parecia uma garota triste e magoada, cuja vida estava saindo de controle. Alguém que estava recebendo tantas ordens quanto Lissa ultimamente.
Com um profundo suspiro, Lissa falou rapidamente as próximas palavras. “Você quer almoçar comigo e Christian amanhã? Ninguém iria se importar se você viesse no nosso
horário de almoço. Não posso prometer que vá ser, um, tão excitante quanto você quer.”
Avery sorriu de novo, mas dessa vez, um pouco menos amarga. “Bem, meus outros planos eram ficar bêbada sozinha no meu quarto.” Ela ergueu uma garrafa do que parecia ser uísque da sua bolsa. “Consegui algumas coisas sozinha.”
Lissa não tinha certeza de que tipo de resposta isso era. “Então... te vejo no almoço?”
Agora Avery hesitou. Mas devagar, um fraco brilho de esperança e interesse apareceu no rosto dela. Concentrando-se, Lissa tentou ver a aura dela. Ela teve um pouco de dificuldades a princípio, provavelmente cansada por causa do treino com Adrian hoje a noite. Mas quando ela finalmente foi capaz de ver a aura de Avery, ela viu uma mistura de cores: verde, azul e dourado. Não era incomum. Ela estava atualmente tendendo ao vermelho, como acontecia quando as pessoas ficavam chateadas. Mas diante dos olhos de Lissa, a vermelhidão sumiu.
“Yeah,” Avery disse finalmente. “Séria ótimo.”
“Eu acho que aqui é o máximo que podemos ir hoje.”
Do outro lado do mundo, a voz de Sydney me tirou dos pensamentos de Lissa. Eu não sabia quanto tempo estive sonhando acordada, mas Sydney tinha saído da estrada principal e estava dirigindo até uma cidade pequena que se encaixava perfeitamente na imagens de florestas da Sibéria. Na verdade, “cidade” era um exagero total. Haviam algumas casas espalhadas, uma loja, um posto de gasolina. Terra a ser arada se esticava além dos prédios, e eu vi mais
cavalos do que carros. As poucas pessoas que estavam na rua olhavam nosso carro maravilhados. O céu se tornou de um laranja profundo, e o sol estava afundando mais e mais no horizonte. Sydney tinha razão. Já era quase o anoitecer, e precisávamos sair da estrada.
“Estamos apenas a umas duas horas de distância no máximo,” ela continuou.
“Fizemos um bom tempo e devemos chegar lá bem cedo da manhã.” Ela dirigiu até o outro lado do vilarejo – o que levou, tipo, um minuto – e estacionou na frente de uma casa branca com um celeiro do lado. “Vamos ficar aqui.”
Saímos do carro e nos aproximamos da casa. “Eles são seus amigos?”
“Não. Nunca os conheci. Mas estão nos esperando.”
Mais conexões misteriosas de Alquimista. A porta foi atendida por uma humana com aparência amigável que tinha vinte e poucos e nos fez entrar. Ela só falou algumas palavras de inglês, mas Sydney traduziu com habilidade. Sydney estava mais extrovertida e charmosa do que eu tinha visto até agora, provavelmente porque nossos hospedeiros não eram uma horrível cria de vampiros.
É de se imaginar que ficar num carro um dia todo fosse cansativo, mas eu me sentia exausta e ansiosa para que amanhã chegasse. Então depois da janta e um pouco de TV, Sydney e eu fomos para o quarto que tinha sido preparado para nós. Era pequeno e sem graça mas tinha duas camas cobertas num grosso e peludo cobertor. Eu me aninhei na minha, grata por um pouco de suavidade e calor, e me perguntei se iria sonhar com Lissa ou Adrian. Eu não sonhei.
Eu acordei, no entanto, acordei com náusea passando por mim – a náusea que me disse que havia um Strigoi por perto.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 5
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às 19:05
Marcadores: Academia de Vampiros, Promessa de Sangue
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