Um mensageiro trouxe notícias para o palácio que Dhiren aprovou o encontro alguns dias antes de eu chegar e em antecipação a este anúncio, o meu pai tinha sido notificado. Na manhã depois do meu regresso, fui chamada à sala do imperador. Kishan quase me derrubou enquanto caminhava para fora. Ele estava com raiva, uma emoção que não era totalmente incomum de sentir quando na presença de meu pai - mas quando ele me viu, seus olhos se acenderam em mim brevemente antes de olhar para longe. Era como se ele não pudesse mais tolerar olhar para mim e a ideia me cortou com a dor de milhares de agulhas. Eu estava tão dominada pela sensação que eu quase esqueci que eu estava na presença do meu pai.
Lokesh se aproximou de mim enquanto Kishan rapidamente saiu da sala e desapareceu.
— Yesubai. Como é agradável vê-la em boas condições de saúde, minha querida. — Disse ele, como se estivesse feliz em me ver. Mas por trás de sua máscara pública, seus olhos brilharam loucamente e eu podia ver as promessas sussurradas de coisas agonizantes que estavam por vir.
— Pai — eu disse enquanto abaixava minha cabeça. — Eu acredito que sua viagem foi sem incidentes?
— De fato. As felicitações estão em ordem. Seu compromisso é motivo de fazer que ambos os reinos comemorem.
— Sim. — Rajaram respondeu. — Na verdade, vamos comemorar esta noite.
Meu pai pegou meu braço num aperto forte que foi oculto pelas dobras do meu vestido.
— Muito bem. — Disse ele. — Talvez mais tarde esta noite então podemos discutir quando você acha que seu filho pode estar preparado para finalizar a união?
— Asseguro-lhe que seu noivado com Yesubai será a primeira coisa na mente do meu filho. — Disse Deschen. — Tenho certeza de que, assim que a ocasião permitir, ele virá rapidamente para fazê-la sua esposa.
Lokesh deu Deschen um sorriso meloso que mal disfarçou o olhar malicioso.
— Então até esta noite eu vou ficar com minha filha.
A expressão equilibrada de Deschen se transformou em uma carranca e ela se levantou de seu trono.
— Se você não se importar, eu gostaria de passar algum tempo com ela esta tarde. Eu me afeiçoei muito com nossas conversas.
— Claro. — Lokesh inclinou-se ligeiramente e, em seguida, se virou e saiu da sala comigo de reboque. Ele não disse nada e até mesmo dispensou Hajari quando saímos do palácio para longe das fileiras de soldados que o esperavam. Quando ele estava convencido de que nós estávamos longe o suficiente, ele me soltou e ficou de costas para mim enquanto inspecionava a terra e o jardim próximo. Colocando as mãos nos quadris, ele circulou lentamente, levando os olhos em tudo ao nosso redor, até que os pousou em mim. O que eu vi em sua expressão me surpreendeu. Ele estava ... feliz.
— Você fez bem. — Disse ele.
— Estou feliz por ter agradado você, pai.
— De alguma forma, você conseguiu até mais do que eu esperava. Parece que sua beleza vale alguma coisa, afinal.
Eu nunca tinha visto meu pai em tal estado de espírito. Ele estava quase dançando de alegria.
— Não só você ludibriou um contrato de casamento com o príncipe mais velho, mas tem seu irmão mais novo salivando por você também. Ele praticamente me implorou para considerá-lo em vez de Dhiren. Eu, é claro, insisti que Dhiren era o melhor pretendente. Eu não quero que haja qualquer dúvida a respeito de sua futura posição.
Kishan me queria? O pequeno nó de esperança no meu coração desenrolou. Por apenas um momento, eu considerei a forma como o imperador abraçou sua rainha e me perguntei se havia mesmo a menor possibilidade que Kishan algum dia me seguraria de tal forma.
Meu pai interrompeu minha linha de pensamento.
— Deschen também olha para você com carinho. Eu não poderia ter esperado um resultado melhor. Portanto, eu mudei de ideia em relação ao nosso plano. Você vai envenenar o príncipe mais novo e seu pai esta noite e casar com o mais velho. Se eu posso usá-lo, eu vou deixá-lo viver. Ele parece ser um líder militar bastante competente.
Matar Kishan? Ele queria que eu matasse ele?
— Não! — Eu gritei e bati as mãos sobre minha boca enquanto seus olhos astutos voltaram-se para mim.
— O que você disse? — Ele perguntou com uma voz baixa e ameaçadora.
Lutando para proteger não só Kishan, mas a mim mesma, eu disse a única coisa que eu sabia que iria distraí-lo.
— O príncipe mais jovem usa um dos amuletos. Eu já vi. Você não deve matá-lo até eu descubrir a localização do outro.
Meu pai fez uma pausa e, corajosa, eu pisei em direção a ele e coloquei minha mão em seu braço.
— Kishan pode ser ... manipulado. Talvez eu possa descobrir sobre a outra peça. Sinceramente, eu não tenho certeza se eu teria a mesma influência sobre Dhiren; ele é gentil, mas ele não olha para mim com o mesmo fogo como Kishan.
— Você é mais esperta do que eu lhe dei crédito, Yesubai, mas, novamente, você é minha filha. Muito bem, use suas artimanhas para descobrir o paradeiro do segundo amuleto e traga-o para mim imediatamente.
— E o Imperador?
— O que tem ele?
— Se eu matá-lo, iria trazer suspeitas sobre nós. Será muito mais fácil lidar com os príncipes se eles se deixarem levar por um sentimento de segurança.
Meu pai ficou rígido, com o corpo tenso. Ele não estava acostumado à minha coversa às costas dele, mas ele não podia ignorar meus comentários também e ele ainda precisava de mim para continuar seus propósitos. Faíscas azuis acenderam nas pontas dos seus dedos. Eu os vi com o canto do meu olho, mas sabia que não devia reconhecer seu poder abertamente. Ele o conteu e disse:
— Por enquanto, então, a família Rajaram viverá. Trabalhe sobre o príncipe mais novo até Dhiren chegar e aguarde novas instruções.
Curvando a minha cabeça, eu disse:
— Como quiser.
— Agora volte para o palácio e passe o dia com a rainha. Fale com ela das minhas ... realizações.
Ele então virou as costas para mim, uma indicação de que eu estava dispensada e eu rapidamente voltei para o palácio.
Naquela noite jantamos juntos, uma grande família feliz, apesar de Kishan não olhar para mim e meu pai me olhar com muita frequência. Hajari ficou atrás de meu pai, seus olhos atirando dardos com mensagens que me ameaçavam que ele iria me pegar no momento em que eu estivesse sozinha. Ele era um homem que eu não sentiria remorso em matar.
Meu pai iria embora no dia seguinte. Quando houve uma batida na minha porta ao nascer do sol, eu presumi que era ele, mas para minha surpresa era Deschen e ela estava sozinha.
— Onde está o seu guarda? — Eu perguntei temendo o que meu pai faria se ele fosse para cima dela.
Deschen encolheu os ombros.
— Privilégio de Rainha. — Ela disse com um sorriso.
Ela pediu desculpas por interromper meu sono, embora eu não tivesse dormido durante a maior parte da noite e perguntou se eu não me importaria de lhe fazer companhia. A segui para o campo aberto onde os soldados treinavam.
— O que estamos fazendo aqui? — Eu perguntei.
Deixando para trás o seu manto, Deschen revelou um vestido estilo quimono afivelado na cintura com chinelos macios e calças por baixo, como as que um soldado usaria. — Eu precisava praticar um pouco. — Ela disse com uma piscadela. — Ah, lá está Kadam.
O comandante de meia-idade do exército de Rajaram pisou no círculo de terra utilizado para treinar e entregou à sua rainha um conjunto lindo de espadas. Eu nunca tinha visto armas como aquelas antes e eu me perguntei se elas tinham vindo de sua terra natal.
— Minha rainha. — O homem se inclinou diante dela. — Você está pronta para tomar posição?
— Eu estava pronta há uma hora. Você esteve enrolado como um gato em sua cama por muito tempo esta manhã? Eu temo que você está se tornando um homem velho, Anik.
O soldado sorriu.
— Ainda não, minha senhora.
— Entao, levante a sua espada. — Deschen ousou com uma expressão travessa.
Enquanto eles lutavam, eu me enrolei na base de uma árvore para assistir. O líder do exército era um lutador experiente, mas logo ficou claro que Deschen era mais do que capaz de manter-se. Eu nunca tinha visto uma mulher lutar antes, muito menos se movimentando de forma tão ágil e flexível. O par de espadas deslizavam no ar como se fossem uma extensão de seu corpo e ela girava e girava como uma bailarina letal.
Eu podia ver por que o meu pai estava fascinado por ela. Logo o par treinando foi acompanhado por Kishan, que bem humorado brincou com seu homem-das-armas seria superado por uma mulher. Quando Deschen perguntou se seu filho poderia fazer melhor, Kadam lhe atirou a espada. O príncipe puxou a túnica e circulou sua mãe. Ele não tinha me visto e me escondi nas sombras. Embora Deschen soubesse que eu estava lá, eu senti como se estivesse espionando.
A rainha questionou seu filho quando as espadas se encontraram e eu logo me perguntei se ela tinha me trazido para um propósito completamente diferente. Kishan, sem saber que eu estava por perto, respondeu a perguntas de sua mãe abertamente. Ela perguntou:
— Como você está depois de ontem?
— Assim como pode-se esperar.
— Você sabe que nós tentamos.
— O que eu sei é que, mais uma vez, Ren venceu.
— Não é uma competição, Kishan.
— Claro que não é. Como poderia ser quando nunca houve qualquer esperança de sucesso? Eu vou perder todas as vezes.
— Não o tempo todo. Talvez seja apenas o pai que anseia pelo título.
— Que mulher trocaria amor por um trono?
Deschen baixou a espada.
— Eu trocaria. — Ela disse sobriamente. — Dê a ela um pouco de crédito.
Kishan moveu sua espada para sua mão, girou o pulso e virou novamente. Quando as espadas se encontraram, ele ficou cara a cara com sua mãe.
— Mesmo que ela me queira, seu pai não permitiria isso.
— Nós não sabemos totalmente se isso é verdade.
Ele deu a sua mãe um olhar de dúvida e ela fez uma careta.
— Tudo bem, então ele é um homem teimoso. Talvez com o tempo nós possamos influenciar seu pensamento.
— Ren deve voltar dentro de uma semana e ele vai estar esperando uma noiva para cumprimentá-lo.
— Talvez haja algo que possa ser feito sobre isso.
Kishan ergueu as sobrancelhas para o sorriso secreto de sua mãe e desviou a espada dela para longe de sua garganta. Deschen continuou:
— O que quer que ela decida, eu quero que seja escolha dela. Eu não quero pressioná-la de qualquer forma. — Mais discretamente, ela acrescentou. — A pobre menina foi pressionada com frequência em sua vida.
Com um contramovimento hábil, Deschen torceu o pulso e a arma de Kishan foi arrancada de sua mão. Ela levantou a espada em seu peito e riu.
— Nunca subestime as mulheres, meu filho.
Rindo, Kishan, disse:
— Eu nunca poderia subestimá-la, mãe. — Ele beijou a bochecha dela e foi recuperar a espada. — Melhor de três? — Ele sugeriu e mãe e filho começaram novamente.
A pele de Kishan brilhava à luz da manhã e o cuidado que ele tinha com sua mãe era animador. Aqui estava um homem que iria tratar sua esposa com respeito e bondade que ele demonstrava com sua mãe. Aqui estava um homem que não se sentia ameaçado por uma mulher poderosa. Aqui estava um homem que eu poderia me importar.
Deschen estava certa sobre eu não me importar nem um pouco em ter o título de rainha. Eu me perguntava quais eram seus planos e fiquei maravilhada com o quão habilmente ela manipulou meu pai. Ela propositalmente me levou lá naquela manhã. Ela queria que eu ouvisse a conversa. Eu estava pensando por quê e exatamente o que ela esperava que eu fizesse sobre isso quando ouvi uma voz atrás de mim.
— Linda.
O sentimento de apreço soou sujo vindo dos lábios de meu pai. Me levantei da cadeira confortável debaixo da árvore de imediato, meu rosto corou com a ideia de que minha vigilância foi vacilante. Que eu tinha sido pega observando mãe e filho com o mesmo tipo de desejo sedento de meu pai que tinha me revoltado.
— Ela é verdadeiramente única. — Disse ele.
— Sim, ela é.
Kishan nos notou em seguida e deixou cair sua espada, ganhando um corte no braço quando sua lâmina não rebateu a de sua mãe.
— Yesubai? — Ele deu um passo para a frente e depois parou.
A rainha virou-se, passando um tecido em seu pescoço.
— Ah. Vendo escondido com seu pai, então? — Ela me perguntou com uma piscadela. Ela abordou meu pai. — Obrigado por permitir que ela ficasse com a gente nestes próximos meses. É uma pena que Ren não esteja pronto antes.
Inclinei a cabeça, imaginando o que ela iria usar de desculpa para impedir Dhiren de voltar para casa. Era óbvio que ela amava Kishan, mas eu nunca tive a impressão de que ela favorecia um filho sobre o outro.
— Sim. — Lokesh lhe deu um pequeno sorriso. — Uma pena. Até que nos encontremos de novo, minha senhora. — Ele pegou a mão dela e beijou-a por um período desconfortável de tempo, então se virou para mim. — Adeus, minha filha. Você vai ter notícias minhas.
Deschen pediu para Kishan para escoltar o meu pai para seu séquito de soldados e, em seguida, passou o braço em volta de mim.
— Você se manteve muito bem. — Disse ela.
Eu não tinha certeza se ela estava se referindo às revelações que eu tinha escutado ou a presença de meu pai. Então eu decidi falar.
— Foi gentil da sua parte pedir para eu ficar.
— Você voltar com ele? Eu acho que não. Você está sob nossa proteção agora, Yesubai.
Juntas, vimos quando os cavalos de meu pai correram para longe do palácio e fora do portão. Kishan se virou para nós, me deu um longo olhar e então suspirou e começou a voltar em nossa direção. Enquanto esperávamos por ele, ouvi o pedido da rainha para seu homem das armas, Kadam.
— Aumente a segurança no banheiro das mulheres. Eu estava sendo espionada esta manhã. O culpado ainda tem de ser pego.
Ele fez uma reverência.
— Vou tratar disso pessoalmente, minha senhora.
Vendo minha expressão chocada, ela rapidamente me tranquilizou.
— Não tenha medo, Yesubai. Todos nós vamos manter você segura.
Embora eu tivesse toda a fé na dedicação dos soldados da rainha, eu sabia exatamente quem estava observando a rainha. Meu rosto ficou vermelho ao saber o que o meu pai tinha feito e eu senti a culpa dele quase tão completamente como se eu tivesse cometido o ato.
Confirmando as palavras da rainha, logo foi anunciado que Dhiren deveria iniciar uma longa jornada pelo império. Foi sugerido que ele levaria algum tempo para por todos os assuntos do império em ordem antes de voltar para casa e focar a atenção em sua noiva.
Dhiren relutantemente concordou e se reuniu com assessores de seu pai em cidades e fortalezas, tomando o caminho mais longo para casa na frente de guerra.
Hajari havia sido deixado para trás para me fiscalizar e por causa disso, Kishan tomou para si a função de ser minha escolta pessoal. A medida que os dias passavam, eu descobri que eu estava ansiosa para vê-lo. Ele me ensinou a jogar Pachisi e eu me tornei muito boa nisso, mesmo vencendo ele em mais de uma ocasião. Às vezes, sua mãe se juntava a nós, mas mais frequentemente era só nós dois com Hajari sentado por perto, mal-humorado e entediado.
Deschen frequentemente convocava Kishan para a ala das mulheres, fingindo que precisava dele só para lhe pedir para me levar até a cozinha para buscar um doce para ela ou para me escoltar até o jardim para cortar algumas novas flores. Uma vez ela mentiu abertamente e disse que eu tinha reclamado de estar entediada e perguntou se ele se importaria de me ensinar a montar. Era óbvio que a sua intenção era nos deixar propositadamente juntos.
Considerando o fato de que eu estava para me casar com seu irmão, a situação era embaraçosa. Ainda assim, eu adorava estar com Kishan. Nas horas que passávamos juntos, eu confiava nele. Eu adorava ver o brilho em seus olhos dourados quando ele ria e o calor do seu sorriso enchia meu coração de uma forma inesperada. Eu nunca pensei que eu seria capaz de confiar em um homem. As experiências que eu tive com eles tinham sido menos do que agradáveis, mas Kishan era diferente.
Confiança logo se tornou fidelidade. Fidelidade levou à admiração. E então, antes que eu estivesse ciente do que aconteceu, admiração se transformou em um desejo que era ao mesmo tempo terrível e espantoso e eu percebi que estava apaixonada. Apesar disso, Kishan se manteve respeitável e tão distante como um primo.
Enquanto as longas semanas se passavam e os rumores do retorno de Dhiren começaram a circular, eu me perguntava se eu tinha de alguma forma mal interpretado Deschen e meu pai. Que os sentimentos de Kishan ao meu respeito haviam mudado com o tempo. Que ele agora me aceitava mais como uma irmã e já não me desejava como um homem fazia a uma mulher.
Todo o tempo, quase diariamente, chegavam cartas de Dhiren. Ele falava eloquentemente sobre a vida que ele imaginava para nós juntos e apesar de minha carta de resposta ser breve e até um pouco curta, suas respostas ficaram mais quentes ao longo do tempo, mais emocionais e íntimas. Após me esgueirar na passagem secreta para o jardim para evitar Hajari, eu encontrei um banco e me sentei lá, com as últimas páginas de Dhiren amassadas na minha mão e me perguntando o que eu estava fazendo com esta pobre família quando Kishan me encontrou.
— Yesubai? O que há de errado? — Perguntou ele.
Ele se sentou ao meu lado e arrancou as páginas de meus dedos. Colocando-as suavemente em sua coxa, ele leu:
" Minha querida Bai,
Os meses que nos separamos têm pesado sobre mim. Como eu queria estar ao seu lado neste exato momento. Apesar do
pedido de minha mãe, a minha intenção é voltar para casa depois da minha visita a esta cidade, passando as útimas paradas. Posso até chegar antes de você receber esta carta. Devo admitir que toda vez que eu fecho meus olhos eu vejo você. Eu sou o mais afortunado dos homens por ter sido prometido em casamento a uma mulher tão bonita como você é. A forma como a luz brilha em seu rosto ... "
Kishan parou de ler, as páginas caíram de seus dedos.
— Kishan? — Eu perguntei. — Kishan, diga alguma
coisa.
Ele não disse. Me dando apenas um breve olhar, se levantou e se afastou rapidamente em direção ao labirinto do jardim.
— Onde você vai? — Gritei quando ele desapareceu atrás das cercas vivas.
Eu finalmente o encontrei no centro do labirinto. Ele se inclinou sobre a fonte, as mãos espalmadas contra a borda, de costas para mim e ele não se virou para me reconhecer antes de falar.
— Bai? — Ele perguntou em voz baixa. — Ele chama você de Bai?
— Sim. Não. Eu nunca pedi a ele.
— Mas você não se importa.
Eu não tinha certeza de como responder a ele. Isha me chamava de Bai e eu sempre gostei do nome. Parecia um segredo entre nós duas. Era um nome que significava que alguém me amava.
Finalmente, eu respondi.
— Eu preferiria que ele não usasse esse nome, na verdade. — Me aproximando de Kishan por trás, eu continuei com uma voz suave. — Eu sei que você chama seu irmão de Ren, mas eu só me refiro a ele como Dhiren. Honestamente, eu não sei se eu iria me sentir confortável chamando-o de outra forma.
Eu estava tentando lhe transmitir de uma pequena maneira que não era o seu irmão que eu amava. Kishan ainda não olhava para mim e eu balbuciei mais.
— O meu pai sempre disse que apelidos são utilizados apenas por pessoas de castas mais baixas.
Estremeci com minhas próprias palavras. Elas soaram cruéis e não era o que eu pretendia dizer a ele. Eu tinha acabado de insultar não só ele, mas toda a sua família.
— Ele vai estar em casa a qualquer momento. — Disse Kishan.
— Sim. — Respondi.
— E então você vai se casar com ele.
— Não é isso o que está combinado?
— É ...
— É ... O quê?
— É o que você quer? — Ele se virou para mim em seguida e estendeu a ponta dos dedos, correndo-os para baixo no comprimento do véu que cobria o meu cabelo. O tecido fino, já solto, caiu do meu rosto. — Yesubai?
A maneira como ele disse meu nome era quase uma carícia. Minhas pernas tremiam e embora não estarmos mais perto do que estivemos no passado, senti a distância entre nós fechando. O ar se envolveu em torno de nós dois e aqueceu minha pele.
— Eu ... — meus lábios tremiam e eu abaixei a cabeça, incapaz de me conter, enquanto presa em seu olhar. — Eu não o amo. — Eu finalmente murmurei.
Kishan respirou fundo e gentilmente correu os dedos ao longo do meu maxilar para meu queixo, levantando minha cabeça para que eu pudesse me afogar em seus olhos dourados, mais uma vez.
— Você ama alguém, então?
Em silêncio, eu assenti.
— Diga-me. — Disse ele enquanto eu observava seus lábios formarem as palavras.
Meu coração batendo me fez sentir excessivamente tensa, como se a única coisa que eu podia focar era o formigamento dos meus membros. Com uma voz lenta e pensamentos confusos, eu sussurrei:
— Eu gostaria que você fosse meu noivo.
Um batimento cardíaco passou e depois outro e no momento eu estava quente e congelada ao mesmo tempo. Então ele sorriu e era sol e calor e promessas não ditas envoltas em uma única expressão. Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, ele pressionou seus lábios contra a palma da minha mão e beijou a pele macia. Seus lábios se moviam sobre o meu pulso lentamente, antes que ele pegasse minha outra mão. O nevoeiro nebuloso que tinha envolvido a minha mente engrossou e eu me tornei um ser de sentimentos e sensações. Tudo que eu queria era mais. Mais de seus lábios. Mais de seu calor. Mais dele. Ele subiu para o meu pescoço quando eu finalmente fui capaz de me concentrar em suas palavras. Ele havia dito que iria falar com o meu pai.
Eu coloquei minhas mãos em seu peito e o empurrei com força. De repente, eu me afastei e senti a falta de seu calor tão intensamente como se meu próprio pai tivesse congelado o sangue em minhas veias.
— Não. — Eu sussurrei.
— O que quer dizer com não? — Ele perguntou, tão confuso e tão afetado quanto eu.
— Quero dizer que nós vamos ter que tomar cuidado. Meu pai é um ... ele é um homem difícil.
A expressão de Kishan petrificou.
— Eu não vou permitir que ele te machuque mais, Yesubai.
— Por favor, apenas ... apenas me dê algum tempo para conversar com ele. Talvez eu possa convencê-lo a reconsiderar.
— Quando ele olhou duvidoso, acrescentei — Eu prometo que vou tentar encontrar uma maneira de ficarmos juntos.
— Ren vai voltar em breve. Se quisermos alterar os termos de seu noivado, então algo deve ser decidido rapidamente.
— Vou mandar um recado para ele imediatamente. — Tomei suas mãos nas minhas e apertei os lábios nos seus dedos. — Por favor, Kishan, vamos manter isso entre nós por enquanto.
Ele concordou e me levou de volta ao palácio. Chamei Hajari e mandei uma carta para o meu pai dizendo que eu tinha que falar com ele imediatamente. Naquela noite, meu pai apareceu no meu quarto e mesmo tendo cuidadosamente me preparado para a sua visita, minhas mãos ainda tremeram quando ele apareceu.
— Dhiren se aproxima e é esperado chegar dentro de alguns dias. Kishan declarou seus sentimentos por mim abertamente e eu acredito que não há muito que ele não faria para parar o casamento.
— Estou vendo. — Disse meu pai. — Por favor, continue.
— Se você o encorajasse em seu pedido, é muito provável que ele encontre uma maneira de lhe dar os itens que você procura. Talvez, então, eles não sejam mais uma ameaça para você e não haveria necessidade de destruí-los.
Obscuramente, meu pai riu.
— Você acha que todo esse plano é porque eu os vejo como uma ameaça? Não, minha filha ignorante. Eles são tão insignificantes quanto sua mãe fraca era. Nos anais do tempo, o cisco que eles fazem sobre a história será absolutamente indiscernível. Você acha que eu me importo que ele a ama? Você acha que eu não posso ver como você anseia por ele. Eu não sou nenhum tolo, Yesubai. Não se engane. Estou completamente no controle de todas e cada uma de suas pequenas vidas minúsculas. As ninharias que concedo a você é porque eu desejo isso. Você existir no final, é porque eu permiti. — Ele passou a mão sobre a barba do queixo — Ainda assim, há algo a ser dito sobre o jogo a ser jogado além de sua inevitável conclusão comovente. Muito bem. — Ele me deu um último olhar, em seguida, virou-se para a janela. — Diga ao príncipe mais novo que gostaria de me encontrar com ele amanhã ao anoitecer na fronteira entre nossas terras no espaço entre as colinas. Eu vou decidir, então, se o que lhe permite viver pode me fornecer entretenimento suficiente.
Eu balancei a cabeça, horrorizada com o que eu tinha feito e quando ele saiu, eu fiquei me perguntando se havia algo que eu poderia ter feito diferente. Mais uma vez o conforto silencioso do sono me fugiu e usei meu véu mais escuro para me esconder no dia seguinte. Não só para disfarçar meu estado sujo, mas senti que precisava encobrir todos os males que eu tinha participado. Não pela primeira vez, eu me perguntava se o mundo poderia ter sido melhor se eu não tivesse nascido.
Kishan prontamente concordou em se encontrar com meu pai e, sob o pretexto de um passeio ao pôr do sol, partimos para as fronteiras. Meu pai estava esperando por nós. Ele acenou para Kishan, que se aproximou vestindo apenas uma espada token e um peitoral. O fato de que ele estava lamentavelmente despreparado para entrar em conflito com o meu pai não passou despercebido por mim. Mordi o lábio até sangrar. Mesmo que Kishan estivesse devidamente vestido para a batalha e não fosse abordar um acordo de casamento, ele ainda não seria páreo para o meu pai.
Após que a genuflexão adequada foi feita, Kishan anunciou corajosamente que ele queria que o meu pai reconsiderasse ele. O brilho nos olhos de meu pai me disse que Kishan estava se comportando exatamente da maneira que ele esperava.
— E o que você vai me oferecer em troca da perda do título? — Perguntou meu pai. — Certamente você não espera que eu aceite a sua proposta simplesmente por bondade do meu coração?
Kishan fez várias ofertas de riquezas, belos cavalos, elefantes de batalha e quaisquer outras bugigangas que possuía, mas logo ficou claro que o meu pai estava ficando entediado.
— Eu não tenho nenhuma necessidade de tais coisas. — Ele afirmou categoricamente. — Kishan, eu sinto que você é um homem que pode tomar decisões difíceis, mesmo se isso necessitar de um sacrifício ou dois. Estou certo?
Kishan cruzou os braços sobre o peito.
— Eu sou conhecido por ser decisivo em batalha.
— Muito bom. Então eu vou ser o mais direto com você que eu puder. Minha filha, Yesubai, tentou deixar de lado seus sentimentos por você, para que ela possa tomar o seu lugar como a rainha e esposa de seu irmão. Infelizmente, ela parece ser incapaz de conter o amor de brotar em seu coração e escolheu você. Francamente, seria melhor para ambas as nossas famílias e reinos se vocês dois nunca tivessem se encontrado,
mas eu sou um homem delicado, que compreende as paixões dos jovens.
Eu levantei uma sobrancelha, mas não disse nada.
Lokesh continuou.
— Por ser solidário com o seu sofrimento, eu vou concordar em modificar os termos do compromisso.
Kishan riu e passou os braços em volta de mim, me apertando em um abraço apertado.
— Mas ... — disse meu pai, com a desaprovação sobre as ações de Kishan evidente em seu rosto. — Você deve concordar com meus termos.
Kishan se afastou de mim e o jovem apaixonado pareceu ter sido substituído pelo príncipe digno de ser filho de seu pai.
— Não há nada que eu possa lhe prometer em nome do meu pai. Eu só posso dar-lhe o que eu tenho. Se há algo mais que você deseja, você terá que levar até meus pais.
Lokesh colocou o braço em volta dos ombros de Kishan.
— Filho. Posso chamá-lo assim? — Ele não esperou pela resposta de Kishan. — Não vamos envolver Rajaram e Deschen ainda. Estas negociações estão em um rumo tão delicado, devemos proceder com cuidado? Hmm?
Kishan acenou timidamente.
— Quais são os seus termos, então?
— Oh, não muitos. Uma bagatela, realmente. Você vê, eu sou o que você poderia chamar de colecionador.
— Um colecionador de quê?
Lokesh riu.
— Muitas coisas, mas no seu caso, há algo em sua posse que pode desencadear o meu interesse suficiente para me fazer considerar que desistir de um título para Yesubai, é uma boa troca.
— E o que é?
— Há um amuleto na posse da sua família. Dois deles, na verdade.
— O amuleto Damon? O que você quer com eles? Eles não são de qualquer valor monetário. Eles são apenas bugigangas proferidas em minha família.
— Sim. Estou ciente de que não valem muito, mas você vê, eles são muito velhos. — Lokesh sorriu como um chacal. — E eu tenho uma afinidade especial por ... relíquias antigas.
— Estou vendo.
Kishan abaixou a cabeça, seu maxilar movendo-se enquanto ele examinava a proposta do meu pai. Finalmente, ele disse:
— Vou lhe dar a minha peça, mas Dhiren tem a outra. Eu duvido que ele iria considerar lhe dar sendo que eu poderia roubar sua noiva.
— Sim. Eu posso ver como isso pode ser um problema. Ainda assim, são ambas as peças ou não há negócio. Se não conseguirmos chegar a um acordo, então Yesubai irá casar com seu irmão. Independente se ela pode ser infeliz.
Kishan não disse nada, mas eu podia ver o desespero em seus olhos. Por mais que ele me quisesse, ele sabia que não havia maneira de Dhiren voluntariamente desistir de seu amuleto. Não se isso significasse me perder.
Atrás de Kishan eu podia sentir meu pai juntando seu poder ao seu redor. Se ele não poderia manipular o príncipe, ele o mataria.
— Kishan. — Eu propus. — Talvez haja outra maneira.
— Como? — Ele sussurrou. — Ren não vai nos ajudar.
— E se a gente o pegasse de surpresa?
— O que quer dizer?
— Sim, minha filha. O que você está dizendo? — Eu não perdi a ameaça implícita na voz de meu pai.
— E se a gente organizasse um roubo?
— Ren não guarda o amuleto com ele. E, mesmo assim eu não sei onde ele está.
— Então, meu pai poderia enviar soldados disfarçados para econtrar Dhiren em sua viagem de volta. Eles teriam instruções específicas para descobrir a localização de seu amuleto e então eles poderiam detê-lo, enquanto você vai e o pega. Ele nunca sequer saberia que estamos envolvidos.
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