As coisas não aconteceram exatamente como o planejado. Hajari e alguns dos homens de meu pai me roubaram do palácio na noite seguinte e me levaram de volta para Bhreenam, onde Kishan me recebeu de braços abertos.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
— Ren está dificultando. Ele não iria cooperar, então ele está sendo trazido para cá. Vamos encontrá-lo no salão principal quando ele chegar. Não é o que nós pretendíamos que acontecesse, mas Ren nos deixou sem qualquer outra opção. Seu pai disse que nós vamos ter que enfrentá-lo de forma aberta e que acredita que Ren será mais favorável se ele ver nós três como uma frente unida. Meu irmão é tecnicamente prisioneiro de seu pai, mas ele me garantiu que só prentede ameaçar Ren até que nos dê o que ele quer, então ele vai assinar um novo acordo de noivado.
— Mas ...
— Ah, aí está você, minha querida. Se você nos der licença, Kishan, vou acompanhar minha filha para seu quarto para descansar e se trocar antes de seu irmão chegar — Claro. — Kishan disse e apertou minha mão quando meu pai me puxou para longe.
Quando chegamos no meu quarto, deixei escapar um pequeno grito quando vi Isha esperando por mim. Ela estava muito mais magra e seu rosto parecia cansado, mas ela estava viva e naquele momento, ela estava abençoada o suficiente.
Apontando para a cama, meu pai disse:
— Você vai vestir esta peça. Eu espero que você apresente a sua melhor forma, e como tal, você não vai se adornar com o seu típico véu. Eu quero que você seja uma distração para os dois irmãos. Se você tiver muita sorte, eu vou deixar um deles viver. Mas se meus planos falharem — ele andou e segurou meu rosto, me forçando a olhar em seus olhos — todos que você ama irão sofrer. Você entendeu, Yesubai?
— Eu entendi.
— Bom. Vou enviar Hajari para buscá-la. Faça seus preparativos.
Quando a porta se fechou, Isha correu.
— Oh, minha querida menina.
— Isha, eu estou com tanto medo! Ele vai matá-los!
— Não pense sobre isso. Apenas se concentre em uma coisa de cada vez. Vamos vesti-la.
Duas horas mais tarde, eu varri o longo corredor com sinos tilintando na minha cintura e tornozelos. Meu cabelo estava enrolado com ouro e joias. Eu nunca tinha usado meu cabelo exposto antes e me senti nua sem meu véu, mas eu mantive meus ombros para trás e cabeça erguida. Kishan saiu de trás de um pilar.
— Yesubai. — Ele suspirou. — Você está ... você está linda! — Obrigada. Meu pai escolheu minhas roupas.
— Talvez ele pretenda nos permitir casar imediatamente.
Eu dei-lhe um pequeno sorriso.
— Talvez.
— Eu prometo a você, Yesubai, vamos encontrar uma maneira de ficarmos juntos. Não há nada que eu não faria por você.
Ele tocou sua testa na minha e eu corajosamente segurei seu rosto com a palma da mão.
— Eu sei. — Eu sussurrei suavemente.
Mesmo que meu pai permitisse Kishan viver, eu sabia que era só uma questão de tempo até que ele destruisse e aniquilasse a pequena e frágil centelha do amor que tinha crescido entre nós. Quando eu peguei o braço de Kishan e ele me levou para a sala do trono, eu sabia que seria apenas uma questão de tempo até que ele soubesse o que eu tinha feito e ele me odiaria por isso. Na tentativa de salvar os membros da família Rajaram, eu só acabei os acorrentando em mim, então eles sofreriam o mesmo destino que eu.
Não havia nenhuma maneira de fugir. Enquanto eu caminhava em direção ao trono onde meu pai estava sentado, eu me senti como se estivesse caminhando para a forca. O brilho reluzente de esperança tinha me cegado a realidade e agora eu estava sentada ao lado de meu pai, sendo engolida por isso.
Quando Dhiren foi trazido, a certeza da minha situação desesperadora praticamente me esmagou. Ele tinha sido duramente espancado, mas isso não me surpreendeu. Se Kishan ficou chocado, ele não registrou em seu rosto. Ren foi interrogado, ridicularizado e menosprezado por meu pai. Ele estava permitindo que sua verdadeira natureza se mostrasse no lugar da face diplomata cuidadosamente planejada que ele preferia exibir, o que significava que ele realmente não tinha a intenção de deixar os príncipes sobreviverem.
Fui tomada por vergonha e embora partisse meu coração assistir a tragédia se desenrolar diante dos meus olhos, eu era incapaz de fazer algo para detê-lo. Meu pai não podia ser derrotado. Eu sabia e ainda assim eu tinha me enganado em pensar que eu poderia encontrar um meio. Eu era uma tola.
Por meio de um nevoeiro mental, ouvi meu pai dizer:
— Talvez você precise de uma demonstração do meu poder. Yesubai, venha!
Incapaz de fazer mais do que abanar a cabeça, eu vi meu pai reunir o seu poder para atacar. Ele ia matar. Eu tinha que fazer alguma coisa, mas cada instinto que eu tinha me dizia para pisar com cuidado. Que meu pai não perdoaria qualquer forma de traição. Eu estava congelada no lugar de terror. Então Dhiren disse que o veneno de meu pai percorreu o meu sangue. Eu me perguntei se isso era verdade.
Eu não conspirei para roubar a família Rajaram? Eu não coloquei minhas próprias necessidades acima de um estranho? Eu não tinha escondido armas e venenos para matar o homem que eu aprendi a amar? Meu pai não era a víbora. Eu era. Eu tinha levado estes dois nobres príncipes para a morte. Lágrimas encheram meus olhos enquanto eu percebia que não havia como escapar da sua maldade. Ela corria em minhas veias.
O conhecimento do que eu era, quem eu era, me irritou. Eu não queria ser a filha de Lokesh por mais tempo. Eu queria ser alguém bom. Alguém corajoso e nobre. Alguém digno do amor que Kishan tinha oferecido. Um gemido patético ficou preso na minha garganta. Se eu não fizesse nada eles iriam morrer, mas Isha e eu poderiamos viver. Se eu confrontasse meu pai, ele me mataria junto com eles e, em seguida, se vingaria de uma forma terrível e lenta da minha babá.
Meu pai continuou:
— Você quer ouvi-la gritar? Eu prometo a você que ela faz isso muito bem. Eu ofereço-lhe uma escolha mais uma vez. Renuncie a sua peça para mim.
Foi a mentira que mudou tudo. Toda a minha vida eu tinha estado com muito medo do meu pai e seu poder. A todo momento, eu vivia com um medo mortal dele. Quando ele anunciou aos príncipes que invocaria tal terror para a vida de sua filha para fazê-la gritar, eu percebi que era exatamente isso que ele queria e eu nunca tinha dado a ele. Eu permanecia estoica e não afetada do lado de fora, como se o meu pai não fosse um monstro no final de tudo, mas um homem.
Embora tivesse realmente me traumatizado a ponto de me quebrar, ele não tinha. Ele nunca, nem uma vez em meus 16 anos, me fez gritar. A ideia me deu uma sensação de poder como eu nunca tinha sentido antes.
Lokesh - Eu jurei mentalmente nunca chamá-lo de pai novamente - tinha voltado a sua faca para Dhiren e estava tecendo um feitiço. Vi luz surgir ao redor deles. Antes que eu pudesse fazer um movimento, Kishan saltou. Ele colidiu com meu pai, que usou seu poder para empurrar o príncipe para longe. Enquanto ele torturava, Dhiren limitado tentou, em vão, chegar a seus pés, percebi que Kishan tinha arrancado com sucesso a faca de Lokesh.
Os gritos dos dois príncipes agitaram algo feroz dentro de mim. Algo precisava ser feito. Alguém precisava agir. Jurei então que seria esse alguém. Contra todos os instintos que eu tinha construído ao longo de meus 16 anos, eu agarrei os braços da cadeira dourada onde eu estava sentada e me levantei.
Sentindo-me liberta dos grilhões da opressão de Lokesh, eu levantei meus braços, murmurando um apelo aos deuses para que eu pudesse finalmente e realmente ser capaz de usar a minha capacidade de curar e proteger em outros. Como o peixe koi, eu empurrei o poder que eu carregava dentro de mim em direção aos dois príncipes.
Meu desejo secreto foi respondido. Eu podia sentir as feridas que meu pai tinha feito neles se fecharem. Lokesh berrou em frustração enquanto eu me movi silenciosamente, me tornando invisível e agarrei a faca de Kishan que havia caído no chão.
Eu não tinha experiência com luta como Deschen. Eu não tinha um plano. Mas eu tinha uma arma. Lokesh se inclinou para Dhiren, girando seu talismã e o acertei. Com toda a força que eu poderia reunir, afundei a faca profundamente nas costas de meu pai. Ele gritou de raiva e o som me deu satisfação por um momento, mas o momento não durou muito. Eu esperava que o meu ataque fosse distraí-lo o tempo suficiente para permitir que os irmãos fugissem, mas ele arrancou a faca das costas e ignorou a dor como se fosse a picada de uma abelha.
Ele se dirigiu para Kishan e me tornando visível, eu me posicionei na frente dele e empurrei minha mão contra o seu peito, gritando.
— Você não vai tocá-lo!
— Yesubai, não! — Kishan disse fracamente enquanto ele tentava me mover para o lado, mas Lokesh era um furacão de fúria.
Ele usou o poder do vento. Ele explodiu para fora de seu corpo em todas as direções e quando meu pai me levantou, me jogando para o lado para que ele pudesse chegar até Kishan, o vento levou meu corpo.
Quando caí, meu pescoço bateu no estrado e eu ouvi um estalo. Senti dor, mas apenas por um instante antes de um entorpecimento abençoado me sufucar. Imediatamente a respiração saiu do meu corpo. Tudo parou ao meu redor e o ambiente assumiu uma qualidade de sonho como um estranho silêncio.
Eu podia ver que Kishan tinha caído, mas ele parecia congelado e eu me perguntava se era devido a algo Lokesh tinha feito. Então eu ouvi o tilintar de sinos e uma bela mulher apareceu diante de mim. Ela viu a cena sangrenta de traição que eu tinha iniciado e ajoelhou-se ao meu lado. Seus olhos eram gentis quando ela pegou a minha mão.
— Olá, Yesubai. — Ela disse. — Eu sempre quis conhecê-la.
Ela estava vestida com um vestido brilhante e seus olhos eram tão verdes quanto uma floresta profunda. Ela usava um bracelete dourado em seu braço na forma de uma cobra. Depois de passar a mão lentamente ao longo do meu pescoço, ela disse: — Você pode falar, se quiser.
— Quem ... quem é você? O que está acontecendo?
— Eu sou a deusa Durga.
— Uma deusa? — Lágrimas encheram meus olhos. Minhas orações aos deuses tinham sido de fato respondidas. — Então você está aqui para nos salvar?
Infelizmente, ela balançou a cabeça.
— Não. Esta não é a razão de eu ter vindo.
— Eu não entendo. Então, por que você está aqui?
— Como eu disse, eu queria conhecê-la.
— Por quê?
— Eu queria ter uma noção de quem você é. — Ela olhou para os homens congelados no lugar e disse calmamente. — Especificamente, eu queria saber se você o amava.
— Se eu amo quem?
— Kishan.
Talvez eu tivesse batido a cabeça com muita força e estivesse em uma espécie de sonho acordada, mas a visão da bela deusa parecia muito real para mim. E havia algo sobre ela que me fez querer confessar a verdade das coisas.
— Sim. — Respondi baixinho. — Eu o amo. Sinto muito sobre o que aconteceu com Dhiren. Ele é um bom homem. Ele não merecia ser abusado desta forma. Se eu pudesse voltar e fazer as coisas de maneira diferente, eu faria.
A deusa me estudou e depois assentiu.
— Eu acredito em você.
— Eles não merecem ter seus destinos amarrados ao meu.
— Eu não quero que você se preocupe sobre os seus destinos, Yesubai.
— Mas Lokesh ...
Ela tocou a mão na minha bochecha, inclinou-se e sussurrou:
— Seu pai vai ser derrotado, mas isso não vai acontecer neste momento.
— Será que vou viver para ver isso?
Ela fez uma pausa, considerou a questão e então disse, quase como se fosse contra o seu melhor julgamento:
— Eu não acho como os outros acham sobre alguém saber o seu futuro, por isso vou responder a sua pergunta. — Tomando minha mão na dela, ela a envolveu. Eu só tinha um momento para me perguntar por que eu não conseguia senti-la antes dela dizer —Você não vai sobreviver ao dia de hoje. A queda quebrou o seu pescoço.
— Mas eu posso me curar.
Ela balançou a cabeça.
— O dom de proteção e cura que você ofereceu aos irmãos veio com um grande custo. Ao defender os dois, o poder dentro de você foi consumido. Você tornou-se verdadeiramente mortal.
Lágrimas encheram meus olhos. Ela esperou pacientemente ao meu lado até que eu conseguisse falar.
— Eu me provei digna para você, então?
— Você não tem nada a provar para mim, Yesubai.
— Talvez não, mas Kishan disse que um dom seria concedido até mesmo a mais humilde das criaturas a quem os deuses considerasse digna.
A deusa hesitou, então assentiu levemente.
— Qual presente que você procura?
— Você pode ... cuidar dele?
Sóbria, com uma pitada de alívio, ela balançou a cabeça.
— Eu vou. Eu vou cuidar de ambos os príncipes. Isso eu prometo a você.
— Você pode também salvar Isha?
— Quem é Isha?
— Ela é minha serva. Lokesh vai se vingar em cima dela.
A deusa olhou brevemente, olhando para algo além do alcance da minha visão e depois assentiu.
— Sim. Vou oferecer a ela um lugar de refúgio.
— Então, o sacrifício valeu a pena.
— Sim. Descanse agora, pequena. Você é muito corajosa.
Em uma explosão de luz brilhante, a deusa desapareceu, e, mais uma vez, eu descobri que eu não conseguia respirar. Kishan me recolheu em seus braços, apertou os lábios na minha testa e confessou.
— Dayita, meu amor. Não me deixe.
O presente de seus sussurros e promessas sinceras era algo que eu não tinha certeza se merecia, mas o meu coração se encheu de gratidão por tudo mesmo assim.
O arrependimento final que capturou minha mente enquanto eu era varrida da vida mortal não era sobre Isha ou Dhiren, confrontar o meu pai ou até mesmo deixar Kishan para trás. As garantias da deusa tinham me dado um pouco de conforto em relação a todos eles.
Não, a única coisa que eu lamentava mais em estar morrendo era que quando Kishan finalmente apertou seus lábios contra os meus, algo que eu ansiava desde que eu estive ao lado dele no jardim do rei, eu não consegui senti-lo. A morte me roubou de experimentar o gosto requintado de seus lábios, mas pelo menos ele era a última coisa a envolver minha visão enquanto partia do mundo.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Epílogo: Desaparecer
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às 19:41
Marcadores: A Promessa do Tigre
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