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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Capitulo 06

Christian abriu a porta do passageiro do seu Audi SUV preto, e eu 

subi. É um carro legal. Ele não mencionou a explosão de paixão que eclodiu 

no elevador. Devo fazer isso? Deveríamos falar sobre o assunto ou fingir que 

não aconteceu? Não pareceu real, meu adequado primeiro beijo sem 

restrição. Com o passar do tempo, atribuí-o um caráter mítico como a lenda 

do rei Artur ou a Cidade Perdida de Atlantis. Nunca aconteceu, nunca 

existiu. Talvez eu tenha imaginado tudo. Não. 

Eu toquei meus lábios, estavam inchados de seu beijo. 

Definitivamente, aconteceu. Sou uma mulher mudada. Eu quero este 

homem, desesperadamente, e ele me quer.

Olho-o. Christian está como de costume: correto, educado e um 

pouco distante. 

Tão confuso. 

Ele liga o motor e abandona sua vaga no estacionamento. Liga o leitor 

de MP3. O interior do carro foi preenchido pela mais doce e mais mágica 

música que duas mulheres cantavam. Uau... todos os meus sentidos estão 

em desordem, por isso estou duplamente afetada. Enviou arrepios deliciosos 

a minha coluna vertebral. Christian se dirigiu para SW Park Avenue, e guiou 

com uma fácil e preguiçosa confiança. 

— O que estamos ouvindo? 

— É o Dueto das Flores de Delibes, da ópera Lakmé. Você gostou? 

— Christian, é maravilhoso. 

— É, não é? 

Ele sorriu enquanto olhava para mim. E por um momento aparentou 

sua idade, jovem, despreocupado e bonito até perder o sentido. É esta a 

chave para chegar a ele? A música? Sento-me e ouço as vozes angélicas, 

sussurrantes e sedutoras. 

— Pode voltar a tocá-la? 

— Claro. 

Christian apertou um botão, e a música voltou a me acariciar. 

Invadiu meus sentidos de forma lenta, suave e doce. 

— Você gosta de música clássica? — Perguntei-lhe tentando 

descobrir algo de suas preferências pessoais.

— Meu gosto é eclético, Anastásia. De Thomas Talis a Kings of Leon. 

Depende de meu estado de ânimo. E o seu? 

— O meu também. Embora não conheça o Thomas Talis. 

Voltou-se em minha direção, me olhou um instante e voltou a fixar os 

olhos na estrada. 

— Algum dia te mostrarei algo dele. É um compositor britânico do 

século XVI. Música coral eclesiástica da época dos Tudor. —Ele sorriu-me. —

Parece muito esotérico, eu sei, mas é mágico, Anastásia. 

Pressionou um botão e começou a soar os Kings of Leon. Este eu 

conheço. "Sex on Fire." Muito oportuno. Repentinamente, o som de um 

celular interrompeu a música. Christian apertou um botão do volante. 

— Grey. — Respondeu bruscamente. 

— Sr.Grey, sou Welch. Tenho a informação que pediu. 

Uma voz áspera e imaterial chegou através dos alto-falantes. 

— Bom. Mande-me por e-mail. Algo mais? 

— Nada mais, senhor. 

Apertou o botão, a chamada encerrou e voltou a tocar a música. Nem 

adeus, nem obrigado. Estou tão feliz que eu nunca seriamente considerei 

trabalhar para ele. 

Estremeço sozinha só de pensar. É muito controlador e frio com seus 

empregados. O telefone voltou a interromper a música. 

— Grey. 

— Mandou-lhe por e-mail uma informação confidencial, Sr. Grey. 

Era uma voz de mulher. 

— Bom. Isso é tudo, Andrea. 

— Tenha um bom dia, senhor. 

Christian desligou ao pressionar um botão do volante. Logo que a 

música recomeçou, o telefone voltou a tocar. Nisto consistia sua vida, em 

constantes telefonemas irritantes? 

 — Grey. — Disse bruscamente. 

 — Olá, Christian. Relaxou? 

 — Olá, Eliot... Estou no viva voz e não estou sozinho no carro. 

Christian suspirou. 

— Quem está contigo? 

Christian balançou a cabeça. 

— Anastásia Steele. 

— Olá, Ana! 

— Ana! 

— Olá, Eliot. 

— Falaram-me muito de ti. — Eliot Murmurou com voz rouca. 

Christian franziu o cenho. 

— Não acredite em uma palavra do que Kate te contou. — Ana disse. 

Eliot riu. 

— Estou levando Anastásia para casa. — Christian disse usando meu 

nome completo. — Quer que te apanhe? 

— Claro. 

— Vejo você mais tarde. 

Christian desligou o telefone e a música voltou a tocar. 

— Por que você insiste em chamar-me Anastásia? 

— Porque é seu nome. 

— Prefiro Ana. 

— De verdade? 

Quase chegamos a minha casa. Não demoramos muito. 

— Anastásia... — Disse-me pensativo. 

Olhei-o com uma expressão má, mas ele não se importou. 

— O que aconteceu no elevador... não voltará a acontecer. Bom, a 

menos que seja premeditado. — Ele disse. 

Parou o carro em frente a minha casa. Dei-me conta, de repente, que 

não me perguntou onde eu vivia. Já sabia. Claro que sabia onde vivo, pois 

me enviou os livros. Como não o faria um caçador, com um rastreador de 

celular e proprietário de um helicóptero? 

Por que não vai voltar a me beijar? Faço um gesto de desgosto ao 

pensar nisso. Não o entendo. Honestamente, seu sobrenome deveria ser 

Enigmático, não Grey. Ele saiu do carro, andando com facilidade, suas 

pernas longas deram a volta com graça ao redor do carro para o meu lado a 

fim de abrir a porta. Sempre é um perfeito cavalheiro, exceto, possivelmente, 

em estranhos e preciosos momentos nos elevadores. Ruborizei-me e o 

pensamento que eu tinha sido incapaz de tocar adentrou na minha mente. 

Queria deslizar meus dedos por seu cabelo alvoroçado, mas não podia mover 

as mãos. Senti-me frustrada ao lembrar. 

— Gostei do que aconteceu no elevador. — Murmurei ao sair do 

Não estou segura se ouvi um ofegar afogado, mas escolhi fazer caso 

omisso e subi os degraus da entrada. 

Kate e Eliot estavam sentados à mesa. Os livros de quatorze mil 

dólares não estavam ali, felizmente. Tenho planos para eles. Kate mostrou 

um sorriso ridículo e pouco habitual, e sua juba despenteada lhe dava um ar 

muito sexy. Christian me seguiu até a sala de estar, e embora Kate sorrisse 

com uma expressão de ter passado uma grande noite, o olhou com 

desconfiança. 

— Olá, Ana. 

Levantou-se para me abraçar e no momento que me separou um 

pouco, me olhou de cima a baixo. Franziu o cenho e se voltou para 

— Bom dia, Christian! — Disse-lhe em tom ligeiramente hostil. 

— Senhorita Kavanagh — Respondeu em seu endurecido tom formal. 

— Christian, seu nome é Kate, — Eliot resmungou. 

— Kate. 

Christian assentiu com educação e encarou Eliot, que riu e se 

levantou para também me abraçar. 

— Olá, Ana. 

Sorri e seus olhos azuis brilharam. Fiquei bem imediatamente. É 

óbvio que não tinha nada a ver com Christian, mas, claro, são irmãos 

— Olá, Eliot. 

Sorri para ele e me dei conta de que mordia meus lábios. 

— Eliot, temos que ir. — Christian disse em tom suave. 

— Claro. 

Virou-se para Kate, abraçou-a e lhe deu um interminável beijo. 

Jesus... Arrumem um quarto! Olhei para meus pés, incômoda. 

Levantei a visão para Christian, que me olhava fixamente. Sustentei-lhe o 

olhar. Por que não me beija assim? Eliot continuou beijando Kate, 

empurrou-a para trás e a fez dobrar-se de forma tão teatral que o cabelo dela 

quase toca o chão. 

— Até mais, querida! — Disse-lhe sorridente. 

Kate se derreteu. Nunca antes a tinha visto derretendo-se assim. 

Veio-me à cabeça as palavras "formosa" e "complacente". Kate, complacente. 

Eliot deve ser muito bom. Christian revirou os olhos e me olhou com 

expressão impenetrável, embora possivelmente a situação o divertisse um 

pouco. Apanhou uma mecha de meu cabelo que escapou do meu rabo de 

cavalo e o pôs atrás da orelha. Minha respiração entrecortou e ele inclinou 

minha cabeça com seus dedos. Seus olhos se suavizaram e passou o polegar 

por meu lábio inferior. O sangue queimou através das minhas veias. E 

imediatamente retirou a mão. 

— Até mais, querida. — Murmurou. 

Não pude evitar rir, porque a frase não combinava com ele. Mas 

embora saiba que está esquivando-se, aquelas palavras ficaram cravadas 

dentro de mim. 

— Passarei para te buscar as oito. 

Deu meia volta, abriu a porta da frente e saiu para a varanda. Eliot o 

seguiu até o carro, mas se voltou e lançou outro beijo para Kate. Senti uma 

inesperada pontada de ciúmes. 

— E então? — Kate perguntou-me com evidente curiosidade 

enquanto os observamos subir no carro e afastar-se.

— Nada. — Respondi bruscamente, com a esperança de que isso a 

impedisse de continuar com as perguntas. 

Entramos em casa. 

— Mas é evidente que sim! — Disse-me. 

Não posso dissimular a inveja. Kate sempre consegue enredar os 

homens. É irresistível, bonita, sexy, divertida, atrevida... Justamente o 

contrário de mim. Mas o sorriso com o qual me respondeu é contagioso. 

— Vou vê-lo novamente esta noite. 

Aplaudiu e pulou como uma menina pequena. Não pode reprimir seu 

entusiasmo e sua alegria, e eu não pude evitar me alegrar. Era interessante 

ver Kate contente. 

— Esta noite Christian vai levar-me a Seattle. 

— A Seattle? 

— Sim. 

— E possivelmente ali...? 

— Assim espero. 

— Então você gosta dele, não é? 

— Sim. 

— Você gosta o suficiente para...? 

— Sim. 

Ergueu as sobrancelhas. 

— Uau. Por fim Ana Steele se apaixona por um homem, e é Christian 

Grey, o bonito e sexy multimilionário. 

— Claro, claro, é apenas pelo dinheiro. 

Sorri afetadamente até que ao final tivemos ambas, um ataque de 

— Essa blusa é nova? — Perguntou-me.

Deixei que ela soubesse todos os detalhes desinteressantes sobre a 

minha noite. 

— Já te beijou? —Perguntou-me enquanto preparava um café. 

Ruborizei-me. 

 — Uma vez. 

 — Uma vez! — Exclamou. 

Assenti bastante envergonhada. 

— É muito reservado. 

Kate franziu o cenho. 

— Que estranho. 

— Não acredito, na verdade, que a palavra seja "estranho". 

— Temos que nos assegurar de que esta noite esteja irresistível. —

Disse-me muito decidida. 

OH, não... Já vejo que vai ser um tempo perdido, humilhante e 

— Tenho que estar no trabalho em uma hora. 

— Pode trabalhar nesse tempo. Vamos. 

Kate segurou em minha da mão e me levou para casa. 

Embora houvesse muito trabalho no Clayton's, as horas passaram-se 

lentamente. Como estamos em plena temporada do verão, tenho que passar 

duas horas repondo as estantes depois de ter fechado a loja. É um trabalho 

mecânico que me deixava tempo para pensar. A verdade é que em todo o dia 

não pude fazê-lo. 

Seguindo os conselhos incansáveis e francamente impertinentes de 

Kate, depilei minhas pernas, axilas e sobrancelhas, assim fiquei com a pele 

toda irritada. Era uma experiência muito desagradável, mas Kate me 

assegurou que era o que os homens esperavam nestas circunstâncias. Que 

mais esperará Christian? Tenho que convencer Kate de que quero fazê-lo. 

Por alguma estranha razão, ela não confiava nele, possivelmente porque 

fosse tão tenso e formal. Avisei-a que não saberia dizer como, mas prometi 

que lhe enviaria uma mensagem assim que chegasse a Seattle. Não falei 

nada sobre o helicóptero para que não enlouquecesse. 

Também havia a questão sobre José. Havia três mensagens e sete 

chamadas perdidas suas no meu celular. Também ligou para casa, duas 

vezes. Kate tem sido muito vaga a respeito de onde eu estou. Ele vai saber 

que ela me encobre. Kate sempre era muito franca. Mas decidi deixá-lo sofrer 

um pouco. Ainda estou zangada com ele. 

Christian comentou algo sobre uns papéis, e não sei se estava de 

brincadeira ou se ia ter que assinar algo. Desesperei-me por ter que andar 

conjecturando todo o tempo. E para o cúmulo das desgraças, estou muito 

nervosa. Hoje é o grande dia. Estou preparada por fim? Minha deusa interior 

me observava golpeando impaciente o chão com um pé. Faz anos que está 

preparada, e está preparada para algo com alguém como Christian Grey, 

embora ainda não entenda o que vê em mim... a pacata Ana Steele... Não 

fazia sentido. 

Era pontual, é obvio, e quando saí do Clayton's já me esperava, 

apoiado na parte de trás do carro. Abriu a porta para mim e sorriu 

cordialmente. 

— Boa tarde, senhorita Steele. — Disse-me. 

— Sr. Grey. 

Inclinei a cabeça educadamente e entrei no assento traseiro do carro. 

Taylor estava sentado ao volante. 

— Olá, Taylor, — Disse-lhe. 

— Boa tarde, Srta. Steele. — Respondeu-me em tom educado e 

profissional. 

Christian entrou pela outra porta e brandamente me apertou a mão. 

Um calafrio percorreu todo meu corpo. 

— Como foi o trabalho? — Perguntou-me. 

— Interminável. — Respondi-lhe com voz rouca, muito baixa e cheia 

— Sim, o meu também, pareceu muito longo. 

—O que tem feito? — Consegui perguntar. 

— Andei com Eliot. 

Seu polegar acariciava meus dedos por trás. Meu coração deixou de 

bater e minha respiração se acelerou. Como é possível que me afete tanto? 

Apenas tocou uma pequena parte de meu corpo, e meus hormônios 

dispararam. 

O heliporto estava perto, assim, antes que me desse conta, já 

havíamos chegado. Perguntei-me onde estaria o lendário helicóptero. 

Estamos em uma zona da cidade repleta de edifícios, e até eu sei que os 

helicópteros necessitam espaço para decolar e aterrissar. Taylor estacionou, 

saiu e abriu minha porta. Em um momento, Christian estava ao meu lado e 

pegou minha mão novamente. 

— Preparada? — Perguntou-me. 

Assenti. Queria lhe dizer: "Para tudo", mas estava muito nervosa para 

articular qualquer palavra. 

— Taylor. 

Fiz um gesto para o chofer, entramos no edifício e nos dirigimos para 

os elevadores. Um elevador! A lembrança do beijo daquela manhã voltou a 

me obcecar. 

Não pensei em nada mais por todo o dia. Mesmo no Clayton's não 

podia tirar tudo da cabeça. O Sr. Clayton precisou gritar comigo duas vezes 

para que voltasse para a Terra. Dizer que estive distraída era pouco. 

Christian me olhou com um ligeiro sorriso nos lábios. Ah! Ele também estava 

pensando no mesmo. 

— São apenas três andares. — disse-me com olhos divertidos. 

Tenho certeza que tem telepatia. É horripilante. 

Pretendi manter o rosto impassível quando entramos no elevador. As 

portas se fecharam e aí está a estranha atração elétrica, crepitando entre 

nós, apoderando-se de mim. Fechei os olhos em uma vã intenção de dissipá-

la. Ele apertou minha mão com força, e cinco segundos depois as portas se 

abriram no terraço do edifício. E lá estava, um helicóptero branco com as 

palavras GREY ENTERPRISES HOLDINGS, Inc. em cor azul e o logotipo da 

empresa de outro lado. Certamente que isto é esbanjar os recursos da 

Ele me levou a um pequeno escritório onde um velho estava sentado 

atrás da mesa. 

— Aqui está seu plano de vôo, Sr. Grey. Revisamos tudo. Está 

preparado, lhe esperando, senhor. Pode decolar quando quiser. 

— Obrigado, Joe. — Respondeu-lhe Christian com um sorriso quente. 

Ora, alguém que merecia que Christian o tratasse com educação. 

Possivelmente não trabalhava para ele. Observei o ancião assombrada. 

— Vamos. — Disse-me Christian. 

E nos dirigimos ao helicóptero. De perto era muito maior do que 

pensava. Supunha que seria um modelo pequeno, para duas pessoas, mas 

contava com, no mínimo, sete assentos. Christian abriu a porta e me indicou 

um assento na frente. 

— Sente-se. E não toque em nada. — Ordenou-me e subiu por trás 

Fechou a porta. Alegrei-me que toda a zona ao redor estivesse 

iluminada, porque do contrário, nada se veria na cabine. Acomodei-me no 

assento que me indicou e ele se inclinou para mim para me atar o cinto de 

segurança. É um cinto de quatro pontos com todas as tiras se conectando a 

um fecho central. Apertou tanto as duas tiras superiores, que eu não podia 

Ele estava tão próximo a mim, muito concentrado no que fazia. Se 

pudesse me inclinar um pouco para frente, afundaria o nariz em seu cabelo. 

Cheirava a limpo, fresco, divino, mas eu estava firmemente atada ao assento 

e não podia me mover. Levantou o olhar para mim e sorriu, como se lhe 

divertisse essa brincadeira que apenas ele entendesse. Seus olhos brilharam. 

Estava tentadoramente perto. Contive a respiração enquanto me aperta uma 

das tiras superiores. 

— Está segura. Não pode escapar. — Sussurrou-me. — Respira, 

Anastásia. — Acrescentou em tom doce. 

 Aproximou-se, acariciou meu rosto, correndo os dedos longos até 

meu queixo, que pegou entre o polegar e o indicador. Inclinou-se para frente 

e me deu um rápido e casto beijo. Fiquei impactada, me revolvendo por 

dentro ante o excitante e inesperado contato de seus lábios. 

— Eu gosto deste cinto. — Sussurrou-me. 

O que? 

Acomodou-se ao meu lado, atou-se ao seu assento e em seguida 

começou um processo de verificar medidores, virar interruptores e apertar 

botões do enorme gama de marcadores, luzes e botões na minha frente. 

Pequenas esferas piscaram luzinhas, e todo o painel de comando estava 

— Ponha os fones de ouvido — Disse-me apontando uns fones na 

minha frente. 

Coloquei-os e o motor começou a girar. Era ensurdecedor. Ele 

também colocou os fones e seguiu movendo as alavancas. 

— Estou fazendo todas as comprovações prévias ao vôo. 

Ouvi a imaterial voz de Christian pelos fones. Virou-se para mim e 

— Sabe o que faz? — Perguntei-lhe. 

Voltou-se para mim e sorriu. 

— Fui piloto por quatro anos, Anastásia. Está a salvo comigo. — 

Disse sorrindo-me de orelha a orelha. — Bom, ao menos enquanto 

estivermos voando. — Acrescentou com uma piscadela. 

Piscando... Christian! 

— Pronta? 

Concordei com os olhos muito abertos. 

— De acordo, torre de controle. Aeroporto de Portland, aqui é Charlie 

Tango Golfe – Golf Echo Hotel, preparado para decolar. Espero confirmação, 

 — Charlie Tango, adiante. Aqui é aeroporto de Portland, avance por 

um-quatro-mil, direção zero-um-zero, câmbio. 

— Entendido, torre, aqui Charlie Tango. Câmbio e desligo. Em 

marcha. — Acrescentou dirigindo-se a mim. 

O helicóptero se elevou pelos ares lenta e brandamente. 

Portland desapareceu enquanto adentrávamos ao espaço aéreo, 

embora meu estômago ficasse ancorado no Oregón. Uau! As luzes se 

reduziram até converterem-se em uma ligeira piscada a nossos pés. É como 

olhar para o exterior de um aquário. Uma vez no alto, a verdade é que não se 

vê nada. Está tudo muito escuro. Nem sequer a lua iluminava um pouco 

nosso trajeto. Como poderia ver por onde vamos?

— Inquietante, não é? — Christian disse-me pelos fones. 

— Como sabe que vai na direção correta?

— Aqui. — Respondeu-me assinalando com seu comprido dedo um 

indicador com uma bússola eletrônica. — É um Eurocopter EC135. Um dos 

mais seguros. Está equipado para voar a noite. — Olhou-me e sorriu, — Em 

meu edifício há um heliporto. Dirigimo-nos para lá. 

Óbvio que em seu edifício havia um heliporto. Senti-me totalmente 

por fora. As luzes do painel de controle lhe iluminavam ligeiramente o rosto. 

Estava muito concentrado e não deixava de controlar os diversos 

mostradores situados em frente a ele. Observo seus traços com todos os 

detalhes. Tem um perfil muito bonito, o nariz reto e a mandíbula quadrada. 

Eu gostaria de deslizar a língua por sua mandíbula. Não se barbeou, e sua 

barba de dois dias fez a perspectiva duplamente tentadora. Mmm... 

Eu gostaria de sentir sua aspereza sob minha língua, meus dedos, 

— Quando voa de noite, não vê nada. Tem que confiar nos aparelhos. 

— Disse interrompendo minha fantasia erótica. 

— Quanto durará o vôo? — Consegui dizer, quase sem fôlego. 

Não estava pensando em sexo, de jeito nenhum... 

— Menos de uma hora... Temos o vento a favor. 

Menos de uma hora para Seattle... Nada mal. Claro, estávamos 

Eu tenho menos de uma hora antes da grande revelação. Sinto todos 

os músculos da barriga contraídos. Tenho um grave problema com as 

mariposas. Reproduzem-se em meu estômago. O que me terá preparado? 

— Está bem, Anastásia? 

— Sim. 

Respondi-lhe com a máxima brevidade porque os nervos me 

Acredito que sorriu, mas é difícil ter certeza na escuridão. Christian 

acionou outro botão. 

— Aeroporto de Portland, aqui Charlie Tango, em um-quatro-mil, 

Trocava informação com o controle de tráfego aéreo. Soou-me tudo 

muito profissional. Acredito que estamos passando do espaço aéreo de 

Portland para o do aeroporto de Seattle. 

— Entendido, Seattle, preparado, câmbio e desligo. 

Apontou um pequeno ponto de luz à distância e disse: 

— Olhe. Aquilo ali é Seattle. 

— Sempre impressiona assim às mulheres? "Venha dar uma volta em 

meu helicóptero"? — Perguntei-lhe realmente interessada. 

— Nunca trouxe a uma mulher ao helicóptero, Anastásia. Também 

isto é uma novidade. — Respondeu-me em tom tranquilo, embora sério. 

Ora, não esperava esta resposta. Também uma novidade? Ah, referia-
se a dormir com uma mulher? 

— Está impressionada? 

— Sinto-me sobressaltada, Christian. 

Sorriu. 

— Sobressaltada? 

Por um instante demonstrou ter sua idade. 

Assenti. 

— Faz tudo... tão bem. 

— Obrigado, Srta. Steele — Disse-me educadamente. 

Acredito que gostou de meu comentário, mas não estou segura. 

Durante um momento atravessamos a escura noite em silêncio. O 

ponto de luz de Seattle ficava cada vez maior. 

— Torre de Seattle ao Charlie Tango. Plano de vôo à Escala em 

ordem. Adiante, por favor. Preparado. Câmbio. 

— Aqui Charlie Tango, entendido, Seattle. Preparado, câmbio e 

— Está claro que você se diverte. — Murmurei. 

— O que? 

Encarou-me. A tênue luz dos instrumentos parecia zombador. 

— Voar. — Respondi-lhe. 

— Exige controle e concentração... como não iria me encantar? 

Embora o que mais gosto é planejar. 

— Planejar? 

— Sim. Vôo sem motor, para que me entenda. Planadores e 

helicópteros. Piloto as duas coisas. 

— Ah! 

Passatempos caros. Lembrei-me que me disse isso na entrevista. Eu 

gosto de ler e de vez em quando vou ao cinema. Nada de mais. 

— Charlie Tango, adiante, por favor, câmbio. 

A voz imaterial do controle de tráfego aéreo interrompeu minhas 

fantasias. Christian respondia em um tom seguro de si mesmo. 

Seattle estava cada vez mais perto. Agora estamos nos subúrbios. 

Uau! Era absolutamente impressionante. Seattle de noite, do céu... 

— É bonito, não é verdade? — Perguntou-me Christian em um 

Aquiesci entusiasmada. Parecia de outro mundo, irreal, e sinto como 

se estivesse em um gigante estúdio de cinema, possivelmente no filme 

favorito de José, Blade Runner. 

A lembrança de José tentando me beijar me incomodava. Começo a 

me sentir um pouco cruel por não ter respondido a suas chamadas. Tenho 

certeza que pode esperar até a manhã. 

— Chegaremos em alguns minutos. — Christian murmurou. 

E de repente senti meus ouvidos zumbirem, o coração disparar e a 

adrenalina percorrer meu corpo. Ele recomeçou a falar com o controle de 

tráfego aéreo, mas já não o escutava. Acreditava que iria desmaiar. Meu 

destino estava em suas mãos. 

Voamos entre edifícios, e em frente a nós vi um arranha céu com um 

heliporto no terraço. A palavra “Escala” estava pintada em branco no topo do 

edifício. Estava cada vez mais perto, ia aumentando... como minha 

ansiedade. Deus, eu esperava não decepcioná-lo. 

Ele vai me achar desprovida de alguma forma. Gostaria que tivesse 

atendido a Kate e tivesse posto um de seus vestidos, mas eu gostava de meu 

jeans negro, e vestia uma camisa verde e uma jaqueta negra de Kate. Estava 

bastante elegante. Agarrei-me à borda de meu assento cada vez com mais 

força. I posso fazer isso, eu posso fazer isso, repetia-me como um mantra 

enquanto nos aproximávamos do arranha céu.

O helicóptero reduziu a velocidade e ficou suspenso no ar. Christian 

aterrissou na pista do terraço do edifício. Tinha um nó no estômago. Não 

saberia dizer se eram nervos pelo que iria acontecer, ou alívio por termos 

chegado vivos, ou medo que a coisa não acontecesse bem. Desligou o motor, 

e o movimento e o ruído do rotor diminuiu até que, só o que se ouvia era o 

som da minha respiração entrecortada. Christian retirou os fones e se 

inclinou para tirar os meus. 

— Chegamos. — Disse-me em voz baixa. 

Seu olhar era intenso, a metade na escuridão e a outra metade 

iluminada pelas luzes brancas de aterrissagem. Uma metáfora muito 

adequada para Christian: o cavalheiro escuro e o cavalheiro branco. Parecia 

tenso. Cerrou a mandíbula e entrecerrou os olhos. Abriu seu cinto de 

segurança e se inclinou para abrir o meu. Seu rosto estava a centímetros do 

— Não tem que fazer nada que não queira fazer. Você sabe, não é? 

Seu tom era muito sério, inclusive angustiado, e seus olhos, 

ardentes. Pegou-me de surpresa. 

— Nunca faria nada que não quisesse fazer, Christian. 

E enquanto lhe dizia, sentia que não estava de todo convencida, 

porque nestes momentos certamente faria algo pelo homem que estava 

sentado ao meu lado. Mas minhas palavras funcionaram e Christian se 

Encarou-me um instante com cautela e logo, apesar de ser tão alto, 

moveu-se com elegância até a porta do helicóptero e a abriu. Pulou, esperou-
me e agarrou minha mão para me ajudar a descer à pista. No terraço do 

edifício havia muito vento e me punha nervosa o fato de estar em um espaço 

aberto a uns trinta andares de altura. Christian passou o braço pela minha 

cintura e me puxou firmemente contra ele. 

— Vamos. — Gritou-me por cima do ruído do vento. 

Arrastou-me até um elevador, digitou um número em um painel, e a 

porta se abriu. No elevador, completamente revestido de espelhos, fazia 

calor. Podia ver Christian em quantidade, para onde quer que eu olhasse, e a 

coisa boa era que ele também podia ver várias de mim. Digitou outro código, 

e as portas se fecharam e o elevador começou a descer. 

Em poucos momentos estávamos em um vestíbulo totalmente 

branco. No meio havia uma mesa redonda de madeira escura com um 

enorme buquê de flores brancas. As paredes estavam cheias de quadros. 

Abriu uma porta dupla, e o branco se prolongou por um amplo corredor que 

nos levou até a entrada de uma sala palaciana. É o salão principal, de teto 

muito alto. Qualificá-lo de "enorme" seria pouco. A parede do fundo era de 

cristal e dava em uma sacada com uma magnífica vista da cidade. 

À direita havia um imponente sofá em forma de “U” que permitiam 

sentar-se comodamente dez pessoas. Frente a ele, uma lareira ultramoderna 

de aço inoxidável... ou, possivelmente, de platina. O fogo aceso iluminava 

brandamente. À esquerda, junto à entrada, estava a área da cozinha. Toda 

branca, com as bancadas de madeira escura e um bar em que podiam 

sentar-se seis pessoas. 

 Junto à área da cozinha, em frente à parede de cristal, havia uma 

mesa de jantar rodeada de dezesseis cadeiras. E no fundo havia um enorme 

piano negro e resplandecente. Claro... certamente também tocava piano. Em 

todas as paredes havia quadros de todo tipo e tamanho. Em realidade, o 

apartamento parecia mais uma galeria que uma moradia. 

— Dê-me a jaqueta? — Christian perguntou-me.

Nego com a cabeça. Ainda estava com frio da pista do helicóptero. 

— Quer tomar uma taça? — Perguntou-me. 

Pisquei. Depois do que se passou ontem? Está de brincadeira ou o 

que? Por um segundo pensei em lhe pedir uma marguerita, mas não me 

— Eu tomarei uma taça de vinho branco. Você quer uma? 

— Sim, obrigada. — Murmurei. 

Sentia-me incômoda neste enorme salão. Aproximei-me da parede de 

cristal e me dei conta de que a parte inferior do painel se abria a sacada em 

forma de acordeão. Abaixo se via Seattle, iluminada e animada. Volto para a 

área da cozinha, demorei uns segundos, porque estava muito longe da 

parede de cristal, onde Christian abria um vinho. Retirou sua jaqueta. 

— Acha que está bem um Pouily Fumei? 

— Não tenho a menor ideia sobre vinhos, Christian. Estou certa de 

que será perfeito. 

Falei em voz baixa e entrecortada. Meu coração batia muito depressa. 

Queria sair correndo. Isto era luxo de verdade, de uma riqueza exagerada, 

tipo Bill Gates. 

O que estava fazendo aqui? Sabia muito bem o que estava fazendo 

aqui, logrou meu subconsciente. Sim, quero ir para cama com Christian 

— Toma. — Disse-me ao estender uma taça de vinho. 

Até as taças são luxuosas, de cristais grossos e muito modernos. 

Tomei um gole. O vinho era ligeiro, fresco e delicioso. 

— Você está muito quieta, e nem mesmo está corada. A verdade é que 

acredito que nunca te vi tão pálida, Anastásia. — Murmurou. — Está com 

Neguei com a cabeça. Não de comida. 

— Que casa tão grande. 

— Grande? 

— Grande. 

— É grande. — Admitiu com um olhar divertido. 

Tomei outro gole do vinho. 

— Sabe tocar? — Perguntei-lhe apontando para o piano. 

— Sim. 

— Bem? 

— Sim. 

— Claro, como não. Há algo que não faça bem? 

— Sim... umas duas ou três coisas. 

Tomou um gole de vinho sem tirar os olhos de cima de mim. Sinto 

que seu olhar me seguia quando me virei e olhei o imenso salão. Mas não 

deveria chamar-lhe "salão". 

Não é um salão, a não ser uma declaração de princípios. 

— Quer te sentar? 

Concordei com a cabeça. Agarrou minha mão e me levou ao grande 

sofá de cor nata. Enquanto me sentava, assaltava-me a ideia de que pareço 

Tess Durbeyfield observando a nova casa do notário Alec d'Urbervile. A ideia 

me fez sorrir. 

— O que te parece tão divertido? 

Estava sentado ao meu lado, me olhando. Descansava a cabeça sobre 

a mão direita e o cotovelo estava apoiado na parte de trás do sofá. 

— Por que me deu de presente precisamente Tess, de D'Urberville? — 

Perguntei-lhe. 

Christian me olhou fixamente um momento. Acredito que lhe 

surpreendeu minha pergunta. 

— Bom, disse-me que gostava de Thomas Hardy. 

— Só por isso? 

Até eu sou consciente de que minha voz soava decepcionada. Apertou 

— Pareceu-me apropriado. Eu poderia te empurrar para algum ideal 

impossível, como Angel Clare, ou te corromper completamente, como Alec 

d'Urbervile. — Murmurou. 

Seus olhos brilharam impenetráveis e perigosos. 

— Se apenas houver duas possibilidades, escolho a corrupção. —

sussurrei enquanto o encarava. 

Meu subconsciente me observava assombrada. Christian ficou 

boquiaberto. 

— Anastásia, deixa de morder o lábio, por favor. Desconcentra-me. 

Não sabe o que diz. 

— Por isso estou aqui. 

Franziu o cenho. 

— Sim. Desculpa-me um momento? 

Desapareceu por uma grande porta no outro extremo do salão. Voltou 

em dois minutos com uns papéis nas mãos. 

—Isto é um acordo de confidencialidade. — Encolheu os ombros e 

pareceu ligeiramente incômodo. — Meu advogado insistiu. 

Estendeu-me os papéis. Fiquei totalmente perplexa. 

— Se escolher a segunda opção, a corrupção, terá que assiná-los. 

— E se não quiser assinar nada? 

— Então fica com os ideais de Angel Clare, bom, ao menos na maior 

parte do livro. 

— O que implica este acordo? 

— Implica que não pode contar nada do que aconteça entre nós. 

Nada a ninguém. 

Observei-o sem dar crédito. Merda. Tem que ser ruim, ruim de 

verdade, e agora tenho muita curiosidade por saber do que se trata. 

— De acordo, assinarei. 

Estendeu-me uma caneta. 

— Nem sequer vai ler? 

— Não. 

Franziu o cenho. 

— Anastásia, sempre deveria ler tudo o que assina. — Arremeteu. 

— Christian, o que não entende é que em nenhum caso falaria sobre 

nós com ninguém. Nem sequer com Kate. Assim que dá no mesmo se 

assinar um acordo ou não. Se for tão importante para ti ou para seu 

advogado... que é óbvio que você falou de mim para ele, de acordo. 

Observou-me fixamente e assentiu muito sério. 

— Boa observação, Srta. Steele. 

Assinei as duas cópias com um grandiloquente gesto e lhe devolvi 

uma. Dobrei a outra, enfiei-a na minha bolsa e tomei um comprido gole de 

vinho. Parecia muito mais valente do que em realidade me sentia. 

— Quer dizer com isso que vais fazer amor comigo esta noite, 

Maldita seja! Acabei de dizer isso? Abri ligeiramente a boca, mas em 

seguida se recompus. 

— Não, Anastásia, não quer dizer isso. Em primeiro lugar, eu não 

faço amor. Eu fodo... duro. Em segundo lugar, temos muito mais papelada 

que arrumar. E em terceiro lugar, ainda não sabe do que se trata. Ainda 

poderia sair correndo. Veem, quero te mostrar meu quarto de jogos. 

Fiquei boquiaberta. Fodo duro! Minha mãe. Isso soa tão... quente. 

Mas por que vamos ver um quarto de jogos? Estou perplexa. 

— Quer jogar Xbox? — Perguntei-lhe. 

Riu às gargalhadas. 

— Não, Anastásia, nem Xbox, nem PlayStation. Venha. 

Levantou-se e me estendeu a mão. Deixei que me levasse de volta 

para o corredor. À direita das portas duplas, de onde viemos havia outra 

porta que dava a uma escada. 

Subimos ao andar de cima e viramos à direita. Retirou uma chave do 

bolsinho, virou a fechadura de outra porta e respirou fundo. 

— Pode partir em qualquer momento. O helicóptero está preparado 

para te levar aonde queira. Pode passar a noite aqui e partir amanhã pela 

manhã. O que disser, para mim, estará bem. 

— Abre a maldita porta de uma vez, Christian. 

Abriu a porta e se afastou a um lado para que eu entrasse primeiro. 

Voltei a olhá-lo. Queria saber o que havia ali dentro. Parei e entrei. 

E senti como se ele tivesse me transportado ao século XVI, à época da 

Inquisição espanhola. 

Puta merda.

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