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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Capitulo 5

Tudo está em silêncio, as luzes estão apagadas. Estou muito cômoda 

e aquecida nesta cama. Que bom... Abro meus olhos, por um momento estou 

tranquila e serena, desfrutando do ambiente, que não conheço. Não tenho

nenhuma ideia de onde estou. O travesseiro da cama tem a forma de um sol 

enorme. Parece-me estranhamente familiar. O quarto é grande e está 

luxuosamente decorado em tons marrons, dourados e bege. Já a vi isso 

antes. Onde? Meu ofuscado cérebro procura entre suas lembranças 

recentes. Droga! Estou no hotel, em Heathman... em uma suíte. Estive em 

uma parecida junto com Kate. Esta parece maior. Oh, droga. Estou na suíte 

de Christian Grey. Como cheguei até aqui? 

Pouco a pouco, as imagens fragmentadas da noite começam a me 

torturar. A bebedeira. — OH, não, a bebedeira. A ligação. —OH, não, a 

ligação, meu vômito. — OH, não, eu vomitei... José e depois Christian. OH, 

não. Morro de vergonha. Não recordo como cheguei aqui. Estou vestindo 

uma camiseta, o sutiã e a calcinha. Sem as meias três quartos e nem o 

jeans. Droga. 

Observo uma mesinha do quarto. Há um copo de suco de laranja e 

dois comprimidos. Ibuprofeno. Sua obsessão por controle está em todos os 

lugares. Levanto-me da cama e tomo os comprimidos. A verdade é que não 

me sinto tão mal, certamente estou muito melhor do que mereço. O suco de 

laranja está delicioso. Tira-me a sede e me refresca. 

Ouço uns golpes na porta. Meu coração bate tão forte e minha voz 

quase não sai por minha boca, mas mesmo assim, Christian abre a porta e 

entra. 

 Ah, ele estava fazendo exercício. Veste uma calça de moletom cinza 

que lhe cai ligeiramente sobre os quadris e uma camiseta cinza de ginástica, 

empapada de suor, assim como seu cabelo. Christian Grey estava suado. A 

ideia me parece estranha. Eu respiro profundamente e fecho os olhos. Sinto-
me como uma menina de dois anos. 

— Bom dia, Anastásia. Como se sente? 

— Melhor do que mereço — eu murmuro. 

Levanto o olhar para ele. Ele larga uma bolsa grande, de uma loja de 

roupas, em um divã e pega ambos os extremos da toalha que tem ao redor 

dos ombros. Seus impenetráveis olhos cinza me olham fixamente. Não tenho 

nem ideia do que está pensando, como sempre. Ele sabe esconder o que 

pensa e o que sente. 

— Como cheguei até aqui? — pergunto-lhe em voz baixa, 

constrangida. 

Ele senta-se num lado da cama. Está tão perto de mim que poderia 

tocá-lo, poderia cheirá-lo. Minha nossa... Suor, gel e Christian. Um 

coquetel embriagador, muito melhor que as margaritas, agora sei por 

experiência. 

 — Depois que você desmaiou não quis pôr em perigo o tapete de pele 

de meu carro te levando para a sua casa, assim te trouxe para este local. — 

Respondeu-me sem se alterar. 

— Você me colocou na cama? 

— Sim. — ele respondeu-me impassível. 

— Voltei a vomitar? — pergunto-lhe em voz mais baixa. 

— Não. 

— Tirou-me a roupa? — eu sussurro. 

— Sim. — Ele olha-me elevando uma sobrancelha e me ponho mais 

vermelha que nunca.

— Não fizemos...? — Eu sussurro, com a boca seca, de vergonha, 

mas não posso terminar a frase. Eu olho para as minhas mãos. 

— Anastásia, você estava quase em coma. Necrofilia não é a minha 

área. Eu gosto que minhas mulheres estejam conscientes e sejam receptivas, 

— ele me responde secamente. 

— Sinto muito. 

Seus lábios esboçam um sorriso zombador. 

— Foi uma noite muito divertida. Demorarei para esquecê-la. 

Eu também... OH, ele estava rindo de mim, e muito... Eu não lhe pedi 

que viesse me buscar. Não entendo por que tenho que acabar me sentindo 

como a vilã do filme. 

— Não tinha por que seguir meu rastro, com algum equipamento 

pertencente ao James Bond, que está desenvolvendo em sua companhia, — 

eu digo bruscamente. 

Ele me olha fixamente, surpreso e, se eu não me equivoco, um pouco 

ofendido. 

— Em primeiro lugar, a tecnologia para localizar celulares está 

disponível na internet. Em segundo lugar, minha empresa não investe em 

nenhum aparelho de vigilância, nem os fabrica. E em terceiro lugar, se não 

tivesse ido te buscar, certamente você teria despertado na cama do fotógrafo 

e, se não estou esquecido, você não estava muito entusiasmada com os 

métodos dele de te cortejar. — Ele disse de forma mordaz. 

Métodos de me cortejar! Levanto o olhar para Christian, que me olha 

fixamente com olhos brilhantes, ofendidos. Eu tento morder meus lábios, 

mas não consigo reprimir a risada. 

— De que texto medieval você tirou isso? Parece um cavaleiro 

andante. 

Vejo que seu aborrecimento se vai. Seus olhos se adoçam, sua 

expressão se torna mais cálida e em seus lábios parece esboçar um sorriso. 

— Não acho, Anastásia. Um cavaleiro negro, possivelmente. — Ele me 

diz com um sorriso zombador. — Jantou ontem? 

Seu tom é acusador. Nego com a cabeça. Que grande pecado cometi 

agora? Ele tem a mandíbula tensa, mas seu rosto segue impassível. 

— Tem que comer. Por isso você passou mal. De verdade, é a 

primeira norma quando se bebe. 

Passa a mão pelo cabelo, mas agora está muito nervoso. 

— Vai seguir brigando? 

— Estou brigando?

— Acredito que sim. 

— Tem sorte que só estou falando. 

— O que quer dizer? 

— Bom, se fosse minha, depois do que fez ontem, não se sentaria 

durante uma semana. Não jantou, embebedou-se e se pôs em perigo. 

Ele fecha os olhos. Por um instante o terror se reflete em seu rosto e 

ele estremece. Quando abre os olhos, me olha fixamente. 

— Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido. 

Eu o fito com uma expressão carrancuda. O que lhe passa? Porque se 

importa? Se eu fosse dele... Bem, não sou. Embora possivelmente eu 

gostaria de sê-lo. A ideia abre caminho entre meu aborrecimento por suas 

palavras arrogantes. Ruborizo-me por culpa de meu caprichoso 

subconsciente, que dá saltos de alegria com uma saia havaiana vermelha, só 

de pensar que poderia ser dele. 

— Não teria me acontecido nada. Estava com Kate. 

— E o fotógrafo? — pergunta-me bruscamente. 

Mmm... José. Em algum momento terei que conversar com ele. 

— José simplesmente passou da conta. 

Encolho meus ombros. 

— Bem, na próxima vez que ele passar da conta, alguém deveria lhe 

ensinar algumas maneiras.

— É muito partidário da disciplina. — digo-lhe entre dentes. 

— OH, Anastásia, não sabe o quanto. Fecha um pouco os olhos e ri 

perversamente. 

Deixa-me desarmada. De repente, estou confusa e zangada, e ao 

mesmo tempo estou contemplando seu precioso sorriso. Uau... Estou 

encantada, porque eu não estou acostumada ao seu sorriso. Quase esqueço 

o que está me dizendo. 

— Vou tomar banho. Se você não preferir tomar banho primeiro... 

Ele inclina a cabeça, ainda sorrindo. Meu coração bate acelerado e o 

cérebro se nega a fazer as conexões oportunas para que eu respire. Seu 

sorriso se faz mais amplo. Aproxima-se de mim, inclina-se e me passa o 

polegar pelo rosto e pelo lábio inferior. 

— Respire, Anastásia, — sussurra-me. E logo se levanta e se afasta. 

—Em quinze minutos trarão o café da manhã. Deve estar morta de fome. Ele 

entra no banheiro e fecha a porta. 

Solto o ar que estava segurando. Por que é tão alucinantemente 

atraente? Agora mesmo, me meteria na ducha com ele. Nunca havia sentido 

algo assim por alguém. Ele ativou meus hormônios. Arde-me a pele por onde 

ele passou seu dedo. Uma incômoda e dolorosa sensação me faz retorcer. 

Não entendo esta reação. Mmm... Desejo. É desejo. Assim se sente alguém 

quando se deseja. 

Deixo-me cair sobre os travesseiros suaves de plumas. Se fosse 

minha... Ai, o que estaria disposta a fazer para ser dele? É o único homem 

que conseguiu acelerar o sangue em minhas veias. Mas também me põe os 

nervos em pé. É difícil, complexo e pouco claro. De repente, me rechaça, 

mais tarde, me manda livros que valem quatorze mil dólares, depois me 

segue no bar como se fosse um perseguidor. E no fim de tudo, passei a noite 

na suíte de seu hotel e me sinto segura. Protegida. 

Preocupo lhe o suficiente para que venha me resgatar, de algo que 

equivocadamente acreditou que fosse perigoso. E ainda é um cavaleiro. É um 

cavaleiro branco, com armadura brilhante, resplandecente. Um herói 

romântico. Sir Gawain ou sir Lancelot. Saio de sua cama e procuro 

freneticamente meu jeans. Abro a porta do banheiro e aparece ele, molhado 

e resplandecente por causa da ducha, ainda sem se barbear, com uma 

toalha ao redor da cintura, e ali estou eu... De calcinhas, olhando-o 

boquiaberta e me sentindo muito incômoda. 

Surpreende-lhe que eu esteja em pé. 

— Se está procurando seu jeans, mandei-o à lavanderia. — Ele me 

fala com um olhar impenetrável. — Estava salpicado de vômito. 

— Ah. — Fico vermelha. Por que diabos, tenho sempre que sentir-me 

tão deslocada? 

— Mandei Taylor comprar outro e umas sapatilhas esportes. Estão 

nessa bolsa. 

Roupa nova. Isso era realmente inesperado. 

—Bom... Vou tomar banho, — eu murmuro. —Obrigada. — Que 

outra coisa posso dizer? Pego a bolsa e entro correndo no banheiro para me 

afastar da perturbadora proximidade de Christian nu. David de Michelangelo 

não é nada, comparado com ele. O banheiro está branco de vapor. Dispo-me 

e entro rapidamente na ducha, impaciente por sentir o jorro de água quente 

sobre meu corpo. 

Levanto a cara para a desejada corrente. Desejo Christian Grey. 

Desejo-o desesperadamente. É sincero. Pela primeira vez em minha vida 

quero ir para cama com um homem. Quero sentir suas mãos e sua boca em 

meu corpo. Ele me disse que gosta que suas mulheres estejam conscientes. 

Então certamente ele se deita com mulheres. Mas não tentou me beijar, 

como Paul e José. Não o entendo. Deseja-me? Não quis me beijar na semana 

passada. Pareço-lhe repulsiva? Mas estou aqui, ele me trouxe. Não entendo 

seu jogo. O que pensa? Dormi em sua cama a noite toda, parece-me meio 

doido. Tire suas conclusões, Ana. Meu subconsciente aparece com sua feia e 

insidiosa cara. Não dou a mínima importância. A água quente me relaxa. 

Mmm... Poderia ficar debaixo do jato, neste banheiro, para sempre. Pego o 

gel, que cheira a Christian. É um aroma delicioso. Esfrego todo o meu corpo, 

imaginando que é ele quem o faz, que ele esfrega este gel pelo meu corpo, 

pelos seios, pela barriga e entre as coxas, com suas mãos, com seus dedos 

longos. Minha nossa. Meu coração dispara. E é uma sensação muito... muito 

prazerosa. 

Ele bate na porta e levo um susto. 

— Chegou o café da manhã. 

— Va... valeu, — o susto me arrancou cruelmente de meu sonho 

erótico. 

Saio da ducha e pego duas toalhas. Com uma envolvo o cabelo ao 

estilo Carmen Miranda, e com a outra me seco a toda pressa evitando a 

prazerosa sensação da toalha esfregando minha pele hipersensível. Abro a 

bolsa. Taylor me comprou não só um jeans, mas também uma camisa azul 

céu, meias três quartos e roupas íntimas. Minha Nossa! 

Sutiã e calcinha limpos... Descrevê-los de maneira mundana, não 

lhes faz justiça. São de uma marca de lingerie europeia de luxo, com 

desenho delicioso. Renda e seda azul celeste. Uau. Fico impressionada e um 

pouco intimidada. E, além disso, é exatamente do meu tamanho. Com 

certeza. Ruborizo-me pensando no rapaz, em uma loja de lingerie, 

comprando estes objetos. Pergunto-me a que outras coisas ele se dedica em 

suas horas de trabalho. Visto-me rapidamente. O resto da roupa também 

fica perfeito. Seco o cabelo com a toalha e tento desesperadamente controlá-

lo, mas, como sempre, nega-se a colaborar. Minha única opção é fazer um 

acréscimo, mas não tenho secador de cabelo. Devo ter algo na bolsa, mas 

onde está? Respiro fundo. Chegou o momento de enfrentar o senhor 

Perturbador. Alivia-me encontrar o quarto vazio. Procuro rapidamente 

minha bolsa, mas não está por aqui. Volto a respirar fundo e vou à sala de 

estar da suíte. É enorme. Há uma luxuosa zona para sentar-se, cheia de 

sofás e grandes almofadas, uma sofisticada mesinha com uma pilha grande 

de livros ilustrados, uma zona de estudo com o último modelo de 

computador e uma enorme televisão de plasma na parede. Christian está 

sentado à mesa de jantar, no outro extremo da sala, lendo o jornal. A sala é 

mais ou menos do tamanho de uma quadra de tênis. Não que eu jogue tênis, 

mas fui ver Kate jogar, várias vezes. Kate! 

— Merda, Kate! — digo com voz rouca. 

Christian eleva os olhos para mim. 

— Ela sabe que está aqui e que está viva. Mandei uma mensagem 

pelo Eliot. — Ele diz com certa ironia. 

OH, não. Recordo de sua ardente dança ontem, tirando proveito de 

todos os seus movimentos, exclusivamente, para seduzir o irmão de 

Christian Grey, nada menos. O que vai pensar sobre eu estar aqui? Nunca 

passei uma noite fora de casa. Está ainda com o Eliot. Ela só fez algo assim 

duas vezes, e nas duas vezes, foi meio doido para mim aguentar o espantoso 

pijama cor de rosa durante uma semana, quando terminaram. Ela vai 

pensar que eu também me enrolei com Christian. 

Christian me olha impaciente. Veste uma camisa branca de linho, 

com o peito e os punhos desabotoados. 

— Sente-se. — ordena, assinalando para a mesa. 

Cruzo a sala e me sento na frente dele, como me indicou. A mesa está 

cheia de comida. 

— Não sabia do que você gosta, assim pedi um pouco de tudo. 

Dedica-me um meio sorriso, como desculpa. 

— É um esbanjador, — murmuro atrapalhada pela quantidade de 

pratos, embora tenha fome. 

— Eu sou, — diz em tom culpado. 

Opto por panquecas, xarope de arce, ovos mexidos e bacon. Christian 

tenta ocultar um sorriso, enquanto volta o olhar a sua panqueca. A comida 

está deliciosa. 

— Chá? — ele pergunta-me. 

— Sim, por favor. 

Estende um pequeno bule cheio de água quente, na xícara há uma 

saquinho do Twinings English Breakfast. Ele lembrou-se do chá que eu 

gosto. 

—Tem o cabelo muito molhado. 

— Não encontrei o secador, — sussurro incômoda. Não o procurei. 

Christian aperta os lábios, mas não diz nada. 

— Obrigada pela roupa. 

— É um prazer, Anastásia. Esta cor te cai muito bem. 

Ruborizo-me e olho fixamente para meus dedos. 

— Sabe? Deveria aprender a receber galanteios, — ele me diz em tom 

fustigante. 

— Deveria te dar um pouco de dinheiro pela roupa. 

Ele me olha como se estivesse ofendendo-o. Sigo falando. 

— Já me deste os livros, que não posso aceitar, é obvio. Mas a 

roupa... Por favor, me deixe que lhe pague isso, — digo tentando convencê-lo 

com um sorriso. 

— Anastásia, eu posso fazer isso, acredite. 

— Não se trata disso. Por que teria que comprar esta roupa? 

— Porque posso. 

Seus olhos despedem um sorriso malicioso. 

— O fato de que possa não implica que deva, — respondo 

tranquilamente. 

Ele me olha elevando uma sobrancelha, com olhos brilhantes, e de 

repente me dá a sensação de que estamos falando de outra coisa, mas não 

sei do que. E isso me recorda... 

— Por que me mandou os livros, Christian? — pergunto-lhe em tom 

suave. 

Deixa os talheres e me olha fixamente, com uma insondável emoção 

ardendo em seus olhos. Maldito seja... Ele me seca a boca. 

 — Bom, quando o ciclista quase te atropelou... e eu te segurava em 

meus braços e me olhava me dizendo: "me beije, me beije, Christian"... Ele 

encolhe os ombros. — Bom, acreditei que te devia uma desculpa e uma 

advertência. — passou uma mão pelo cabelo. — Anastásia, eu não sou um 

homem de flores e corações. Não me interessam as histórias de amor. Meus 

gostos são muito peculiares. Deveria te manter afastada de mim. — Fecha os 

olhos, como se negasse a aceitá-lo. — Mas há algo em ti que me impede de 

me afastar. Suponho que já o tinha imaginado. 

De repente, já não sinto fome. Não pode afastar-se de mim! 

— Pois não te afaste — eu sussurro. 

Ele ficou boquiaberto e com os olhos nos pratos. 

— Não sabe o que diz. 

— Pois me explique isso. 

Olhamo-nos fixamente. Nenhum dos dois toca na comida. 

— Então, sei que sai com mulheres... — digo-lhe. 

Seus olhos brilham divertidos. 

— Sim, Anastásia, saio com mulheres. — Ele faz uma pausa para que 

assimile a informação e de novo me ruborizo. Tornou-se a romper o filtro que 

separa meu cérebro da boca. Não posso acreditar que disse algo assim em 

voz alta. 

— Que planos tem para os próximos dias? — Ele me pergunta em 

tom suave. 

— Hoje trabalho, a partir do meio-dia. Que horas são? — exclamo 

assustada. 

— Pouco mais de dez horas. Tem tempo de sobra. E amanhã? 

Colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiou o queixo em seus compridos e 

finos dedos. 

— Kate e eu vamos começar a empacotar. Mudamos para Seattle no 

próximo fim de semana, e eu trabalho no Clayton's toda esta semana. 

— Já têm casa em Seattle? 

— Sim. 

— Onde? 

— Não recordo o endereço. No distrito de Pike Market. 

— Não é longe de minha casa, — diz sorrindo. — E no que vais 

trabalhar em Seattle?

Onde quer chegar com todas estas perguntas? O santo inquisidor 

Christian Grey é quase tão pesado como a Santa inquisidora Katherine 

Kavanagh. 

— Mandei meu curriculum para vários lugares para fazer estágio. 

Ainda espero resposta. 

— E a minha empresa, como te comentei? 

Ruborizo-me... Claro que não. 

— Bom... não. 

— O que tem de ruim com minha empresa? 

— Sua empresa ou sua "companhia"? — pergunto-lhe com uma 

risada maliciosa. 

— Está rindo de mim, senhorita Steele? 

Inclina a cabeça e acredito que parece divertido, mas é difícil sabê-lo. 

Ruborizo e desvio meu olhar para meu café da manhã. Não posso olhá-lo nos 

olhos quando fala nesse tom. 

— Eu gostaria de morder esse lábio — sussurra perturbadoramente 

Não estou consciente de que estou mordendo meu lábio inferior. 

Depois de um leve susto, fico boquiaberta. É a coisa mais sexy que me disse. 

Meu coração pulsa a toda velocidade e acredito que estou ofegando. Meu 

Deus! Estou tremendo, totalmente perdida e meio doida. Mexo-me na 

cadeira e procuro seu impenetrável olhar. 

— Por que não o faz? — o desafio em voz baixa. 

— Porque não vou te tocar, Anastásia... não até que tenha seu 

consentimento por escrito — diz-me esboçando um ligeiro sorriso. 

O quê? 

— O que quer dizer? 

— Exatamente o que falei. — Sussurra e move a cabeça divertido, 

mas também impaciente. 

— Tenho que lhe mostrar isso Anastásia. A que hora sai do trabalho 

esta tarde? 

— Às oito. 

— Bem, poderíamos ir jantar na minha casa em Seattle, esta noite ou 

no sábado que vem, onde lhe explicaria isso. Você decide. 

— Por que não me pode dizer isso agora? 

— Porque estou desfrutando o meu café da manhã e de sua 

companhia. Quando você souber, certamente não quererá voltar a me ver. 

— O que significa tudo isto? Trafica com meninos de algum recôndido 

fundão do mundo para prostituí-los? Faz parte de alguma perigosa gangue 

mafiosa? 

Isso explicaria por que é tão rico. É profundamente religioso? É 

impotente? Seguro que não... poderia me demonstrar isso agora mesmo. 

Incomodo-me pensando em todas as possibilidades. Isto não leva a nenhuma 

parte. Eu gostaria de resolver o enigma de Christian Grey, o quanto antes. 

Se isso implicar que seu segredo é tão grave que não vou querer voltar ou ter 

nada com ele, então, a verdade será um alívio. Não te engane!, grita o meu 

subconsciente. Terá que ser algo muito mau para que saia correndo. 

— Esta noite. 

— Esta noite. 

Levanta uma sobrancelha. 

— Como Eva, quer provar quanto antes o fruto da árvore da ciência. 

Solta uma risada maliciosa. 

— Está rindo de mim, senhor Grey? — pergunto-lhe em tom suave. 

Olha-me apertando os olhos e saca seu BlackBerry. Tecla um 

número. 

— Taylor, vou necessitar do Charlie Tango. 

Charlie Tango! Quem é esse? 

— Desde Portland. A... digamos às oito e meia... Não, fica na escala... 

Toda a noite. 

Toda a noite! 

— Sim. Até amanhã pela manhã. Pilotarei de Portland a Seattle. 

Pilotará? 

— Piloto disponível ás dez e meia. 

Deixa o telefone na mesa. Nem por favor, nem obrigado. 

— As pessoas sempre fazem o que lhes manda? 

— Eles devem fazê-lo, se não quiserem perder seu trabalho, — ele 

responde-me inexpressivo. 

— E se não trabalharem para ti? 

— Bom, posso ser muito convincente, Anastásia. Deveria terminar o 

café da manhã. Logo a levarei para casa. Passarei para te buscar pelo 

Clayton's as oito, quando sair. Voaremos à Seattle. 

— Voaremos? 

— Sim. Tenho um helicóptero. 

Olho para ele boquiaberta. Segunda entrevista com o misterioso 

Christian Grey. De um café a um passeio em helicóptero. Uau. 

— Iremos a Seattle de helicóptero? 

— Sim. 

— Por quê? 

Ele sorri perversamente. 

— Porque posso. Termine o café da manhã. 

Como vou comer agora? Vou a Seattle de helicóptero com Christian 

Grey. E quer me morder o lábio... Estremeço só de pensar. 

— Coma, — ele diz bruscamente. — Anastásia, não suporto jogar 

comida fora... Coma. 

— Não posso comer tudo isto, — digo olhando o que ficou na mesa. 

— Coma o que há em seu prato. Se ontem tivesse comido como 

devido, não estaria aqui e eu não teria que mostrar minhas cartas tão cedo. 

Aperta os lábios. Parece zangado. 

Franzo o cenho e miro a comida que há em meu prato, já fria. Estou 

muito nervosa para comer, Christian. Você não entende? Explica meu 

subconsciente. Mas sou muito covarde para dizê-lo em voz alta, sobretudo, 

quando parece tão áspero. Mmm... como um menino pequeno. A ideia me 

parece divertida. 

— O que parece tão engraçado? — pergunta-me. 

Como não me atrevo a dizer-lhe, não levanto os olhos do prato. 

Enquanto eu como a última parte da panqueca, elevo o olhar. Observa-me 

com olhos escrutinadores. 

— Boa garota. Levar-te-ei para casa assim que tenha secado o cabelo. 

Não quero que fique doente. 

Suas palavras têm um pouco de promessa implícita. O que quer 

dizer? Levanto-me da mesa. Por um segundo me pergunto se deveria lhe 

pedir permissão, mas descarto a ideia. Parece-me que abriria um precedente 

perigoso. Dirijo-me a seu quarto, mas uma ideia me detém. 

— Onde dormiu?

Viro-me para olhá-lo. Está ainda sentado à mesa de jantar. Não vejo 

mantas nem lençóis pela sala. Possivelmente já os tenha recolhido. 

— Em minha cama, — responde-me, de novo, com olhar impassível. 

— OH. 

—Sim, para mim também foi uma novidade, — Ele diz sorrindo. —

Dormir com uma mulher... sem sexo. 

— Sim, "sexo", — digo e ruborizo, é obvio. 

—Não, — responde-me movendo a cabeça e franzindo o cenho, como 

se acabasse de recordar algo desagradável. — Sinceramente, só dormir com 

uma mulher. 

Agarra o jornal e segue lendo. 

Que significa isso? Alguma vez dormiu com uma mulher? É virgem? 

Duvido, de verdade. Fico olhando-o sem acreditar nisso. É a pessoa mais 

enigmática que já conheci. Dei-me conta de que dormi com Christian Grey. 

Quanto teria dado para estar consciente e vê-lo dormir? Vê-lo vulnerável. 

Custa-me imaginá-lo. Bom, supõe-se que o descobrirei esta mesma noite. 

 Já no quarto, procuro em uma cômoda e encontro o secador. Seco o 

cabelo como posso, lhe dando forma com os dedos. Quando terminei, vou ao 

banheiro. Quero escovar os dentes. Vejo a escova de Christian. Seria como 

colocar ele na boca. Mmm... Olho rapidamente para a porta do banheiro... 

me sentindo culpada. Está úmida. Deve tê-la utilizado. Agarro-a a toda 

pressa, coloco pasta de dente e me escovo rapidamente. Sinto-me como uma 

garota má. Resulta muito emocionante. 

Recolho a camiseta, o sutiã e a calcinha de ontem, meto-os na bolsa 

que me trouxe Taylor e volto para a sala de estar a procurar da bolsa e da 

jaqueta. Para minha grande alegria, tenho um elástico de cabelo na bolsa. 

Christian me observa com expressão impenetrável enquanto me arrumo. 

Noto como seus olhos me seguem enquanto me espera que eu termine. Está 

falando com alguém no seu celular. 

— Querem dois...? Quanto vai custar...? Bem, e que medidas de 

segurança temos ali...? Irã pelo Suez...? Ben Suam é seguro...? E quando a 

Darfur...? De acordo, adiante. Mantenha-me informado de como vão às 

coisas. 

— Está pronta? — ele pergunta-me. 

Confirmo. Pergunto-me sobre o que era a conversa. Pega uma jaqueta 

azul marinho, agarra as chaves do carro e se dirige à porta. 

— Você primeiro, senhorita Steele, — murmura me abrindo a porta. 

Tem um aspecto elegante, embora informal. 

Fico olhando-o por um segundo mais. E pensando que dormi com ele 

esta noite, e que, fora às tequilas e o vômito, continua aqui. Não só isso, mas 

além disso quer me levar a Seattle. Por que a mim? Não o entendo. Cruzo a 

porta recordando suas palavras: "Há algo em ti...". Bom, o sentimento é 

mútuo, senhor Grey, e quero descobrir qual é seu segredo. 

Percorremos o caminho em silencio até o elevador. Enquanto 

esperamos, levanto um instante à cabeça para ele, que está me olhando. 

Sorrio e ele franze os lábios. 

Chega o elevador e entramos. Estamos sozinhos. De repente, por 

alguma inexplicável razão, provavelmente por estar tão perto em um lugar 

tão reduzido, a atmosfera entre nós muda e se carrega de elétrica e excitante 

antecipação. Acelera-me a respiração e o coração dispara. Ele olha um pouco 

para mim, com olhos totalmente impenetráveis. Olha-me o lábio. 

— Merda a papelada. Encosta-se em mim e me empurra contra a 

parede do elevador. Antes que me dê conta, me sujeita os dois pulsos com 

uma mão, levanta-os acima da minha cabeça e me imobiliza contra a parede 

com os quadris. Minha mãe. Com a outra mão me agarra pelo cabelo, puxa-o 

para baixo para me levantar o rosto e cola seus lábios aos meus. Quase me 

faz mal. Gemo o que lhe permite aproveitar a ocasião para colocar a língua e 

me percorrer a boca com perita perícia. Nunca me beijaram assim. Minha 

língua acaricia timidamente a sua e se une a uma lenta e erótica dança de 

sensações, de sacudidas e empurradas. Levanta a mão e me agarra a 

mandíbula para que não me mova. Estou indefesa, com as mãos unidas 

acima da cabeça, o rosto preso e seus quadris me imobilizando. 

Sinto sua ereção contra meu ventre. Meu deus... Deseja-me. 

Christian Grey, o deus grego, deseja-me, e eu o desejo, aqui... Agora, no 

elevador. 

— É... tão... doce, — ele murmura entrecortadamente. 

O elevador se detém, abre-se a porta, e em um abrir e fechar de olhos 

me solta e se separa de mim. Três homens trajados de ternos nos olham e 

entram sorridentes. Pulsa-me o coração a toda pressa. Sinto-me como se 

tivesse subido correndo por um grande morro. Quero me inclinar e me 

sujeitar às risadas, mas seria muito óbvio. 

Eu o olho. Parece absolutamente tranquilo, como se tivesse estado 

fazendo palavras cruzadas do Seattle Time. Que injusto. Não o afeta o 

mínimo a minha presença? Olha-me de esguelha e deixa escapar um ligeiro 

suspiro. Valeu, afeta-o, e a pequena deusa que levo dentro de mim, sacode 

os quadris e dança um SAMBA para celebrar a vitória. Os homens de 

negócios descem no primeiro andar. 

— Você escovou os dentes — ele fala me olhando fixamente. 

— Usei sua escova. 

Seus lábios esboçam um meio sorriso. 

— Ai, Anastásia Steele, o que vou fazer contigo? 

As portas se abrem no vestíbulo, agarra-me a mão e sai comigo. 

— O que terão os elevadores? — ele murmura para si mesmo, 

cruzando o vestíbulo em grandes pernadas. Luto por manter seu passo, 

porque todo meu raciocínio ficou esparramado pelo chão e as paredes do 

elevador número 3 do hotel Heathman.

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