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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Capitulo 10

Ele puxa para fora de mim, de uma vez. Eu estremeço. Senta-se na 

cama, tira a camisinha usada e joga em um cesto de papéis. 

 — Vamos, temos que nos vestir... se quiser conhecer minha mãe. — 

Ele sorri, levanta-se da cama e veste o jeans, sem cuecas! Tento me levantar, 

mas continuo amarrada. 

 — Christian... não posso me mover. 

 Seu sorriso se acentua, inclina-se e desamarra a gravata, que me 

deixou a marca do tecido nos pulsos. Isto é... sexy. Observa-me divertido, 

com olhos dançarinos. Beija-me rapidamente na testa e me sorri. 

 — Outra novidade, — ele reconhece, mas não tenho ideia do que está 

falando. 

 — Eu não tenho roupa limpa. — De repente, estou cheia de pânico, 

considerando a experiência que acabo de viver, o pânico me parece 

insuportável. Sua mãe! Caramba. Não tenho roupa limpa e ela praticamente 

nos pegou em flagrante delito. —Talvez devesse ficar aqui. 

 — Oh, não, você não vai, — Christian ameaça. — Pode vestir algo meu. 

— Ele veste uma camiseta branca e passa a mão pelo cabelo revolto. Embora 

esteja muito nervosa, fico embevecida. Será que vou me acostumar a olhar 

para este homem? 

 Sua beleza é desconcertante. 

 — Anastásia, você ficaria bonita até com um saco. Não se preocupe, 

por favor. Eu gostaria que conhecesse minha mãe. Vista-se. Vou acalmá-la 

um pouco. — Aperta os lábios. — Espero você no salão, dentro de cinco 

minutos, caso contrário, eu virei e a arrastarei para fora daqui, com 

qualquer coisa que esteja vestindo. Minhas camisetas estão nessa gaveta. As 

camisas estão no closet. Sirva-se. — Olha-me um instante, inquisitivo e sai 

do quarto. 

Caramba. A mãe de Christian. É muito mais do que esperava. Talvez 

conhecê-la me permita colocar algumas peças no quebra-cabeça. Poderia me 

ajudar a entender por que Christian é como é... De repente, quero conhecê-

la. Recolho minha blusa do chão e me alegro por descobrir que sobreviveu a 

noite sem estar muito amassada. Encontro o sutiã azul debaixo da cama e 

me visto rapidamente. Mas se há algo que odeio é usar calcinhas sujas. 

Dirijo-me à cômoda de Christian e procuro uma de suas cuecas. 

Ponho-me uma cueca cinza da Calvin Klein, o jeans e meu Converse. 

 Puxo a jaqueta, corro ao banheiro e observo meus olhos muito 

brilhantes, minha cara vermelha... e meu cabelo. Caramba... as tranças 

estão desfeitas. Procuro uma escova, mas só encontro um pente. Ele terá 

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que servir. Um rabo de cavalo é a única resposta. Eu me desespero com 

minhas roupas. Talvez devesse aceitar a oferta de roupas de Christian. 

Meu subconsciente franze os lábios e articula a palavra "vadia". Não faço 

conta. Ponho a jaqueta e me alegro de que os punhos cubram as marcas da 

gravata. Nervosa, me olho pela última vez no espelho. É o que posso fazer. 

Dirijo-me ao salão. 

 — Aqui está. — diz Christian levantando do sofá. 

 Olha-me com expressão cálida e apreciativa. A mulher loira que está 

ao seu lado se vira e me dedica um amplo sorriso. Levanta-se também. Está 

impecavelmente vestida, com um vestido estilo camisa, castanho claro, com 

sapatos combinando. Está arrumada, elegante, bonita, e me mortifico um 

pouco pensando como estou um desastre. 

 — Mamãe, apresento-lhe Anastásia Steele. Anastásia, esta é Grace 

Trevelyan-Grey. 

A doutora Trevelyan-Grey me estende a mão. T... de Trevelyan? 

 — Prazer em conhecê-la, — ela murmura. Se não estou enganada, há 

espanto e alivio, talvez atordoamento em sua voz e um brilho quente em 

seus olhos cor de avelã. Aperto-lhe a mão e não posso evitar de sorrir, 

retornando o seu calor. 

 — Doutora Trevelyan-Grey, — eu murmuro. 

 — Chame-me de Grace. — Sorri, e Christian franze o cenho. — 

Usualmente sou chamada de doutora Trevelyan, e a senhora Grey é minha 

sogra. — Ela pisca um dos olhos. — Então, como se conheceram? — 

pergunta olhando para Christian, incapaz de ocultar sua curiosidade. 

 — Anastásia me entrevistou para a revista da faculdade, porque esta 

semana vou entregar os diplomas de graduação. 

 Dupla merda. Tinha-o esquecido. 

 — Então, você vai se graduar esta semana? — Grace pergunta. 

 — Sim. 

 Meu celular começa a tocar. Kate, eu aposto. 

 — Desculpem-me. O telefone está na cozinha. Aproximo-me e o pego 

do balcão sem checar o número. 

— Kate. 

 — Meu Deus! Ana! – Que merda, é José. Parece desesperado. — Onde 

está? Já liguei umas vinte vezes. Tenho que ver você. Quero te pedir perdão 

pelo que aconteceu na sexta-feira. Por que não me respondeu as ligações? 

 — Olhe, José, agora não é um bom momento. 

 Olho muito nervosa para Christian, que me observa atentamente, com 

rosto impassível, enquanto murmura algo para sua mãe. Dou-lhe as costas. 

 — Onde você está? Kate está muito evasiva, — ele queixa-se. 

 — Estou em Seattle. 

 — O que você faz em Seattle? Está com ele? 

 — José, eu ligo para você mais tarde. Não posso falar agora. E desligo. 

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Volto com toda tranquilidade para Christian e sua mãe. Grace está em pleno 

falatório. 

 — ... e Elliot me ligou para dizer que você estava por aqui... Faz duas 

semanas que não vejo você, querido. 

 — Elliot sabia? — Christian pergunta me olha com expressão 

indecifrável. 

 — Pensei que poderíamos comer juntos, mas já vejo que tem outros 

planos, assim não quero lhes interromper. — Ela agarra seu comprido 

casaco de cor creme, vira-se para ele, oferecendo o rosto para ele. Ele a beija 

rapidamente com suavidade. Ela não toca nele. 

 — Tenho que levar Anastásia para Portland. 

 — É claro, querido. Anastásia, foi um prazer lhe conhecer. Espero que 

voltemos a nos ver. 

 Ela estende-me a mão, com olhos brilhantes e nós sacudimos. 

 Taylor aparece procedente de... onde? 

 — Senhora Grey? — Ele pergunta. 

 — Obrigado, Taylor. — Ele a segue pelo salão e atravessam as portas 

duplas que vão para o vestíbulo. Taylor esteve aqui o tempo todo? Por 

quanto tempo esteve aqui? Onde esteve? 

 Christian me olha. 

 — Então o fotógrafo ligou para você? 

 Merda. 

 — Sim. 

 — O que queria? 

 — Só me pedir perdão, já sabe... por sexta-feira. 

 Christian aperta os olhos. 

 — Eu vejo, — ele diz simplesmente. 

 Taylor volta a aparecer. 

 — Senhor Grey, há um problema com o envio de Darfur. 

 Christian acena bruscamente para ele com a cabeça. 

— O Charlie Tango voltou para o Boeing Field? 

 — Sim, senhor. 

 Taylor sacode a cabeça para mim. 

— Senhorita Steele. 

 Eu sorrio timidamente para ele, que se vira e sai. 

 — Taylor vive aqui? 

 — Sim. — responde-me cortante. Qual o problema agora? 

 Christian vai à cozinha, pega o seu BlackBerry e dá uma olhada aos e-
mails, suponho. Está muito sério. Ele faz uma ligação. 

 — Ros, qual é o problema? — pergunta bruscamente. Escuta sem 

deixar de me olhar com olhos interrogativos. Eu estou no meio do enorme 

salão me sentindo extraordinariamente auto-consciente e deslocada. 

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 — Não vou pôr a tripulação em perigo. Não, cancele-o... Lançá-lo-emos 

do ar... Bom. 

 Desliga. A suavidade em seus olhos desapareceu. Parece hostil. Lança-
me um rápido olhar, dirige-se para seu escritório e volta um momento mais 

tarde. 

 — Este é o contrato. Leia e o comentaremos no fim de semana que 

vem. Sugiro que pesquise um pouco, para que saiba do que estamos falando. 

— Para por um momento. —Bom, se aceitar e espero realmente que aceite. 

— acrescenta em tom mais suave, nervoso. 

 — Pesquisar? 

 — Você pode ficar surpresa com o que pode encontrar na internet — 

ele murmura. 

 Internet! Não tenho computador, só o notebook de Kate, e, é obvio, não 

posso utilizar o do Clayton's para este tipo de "pesquisa", certo? 

 — O que acontece? — pergunta-me inclinando a cabeça. 

 — Não tenho computador. Estou acostumada a utilizar os da 

faculdade. Verei se posso utilizar o notebook de Kate. 

 Ele me entregou um envelope pardo. 

 — Estou certo que posso... err, lhe emprestar um. Recolha suas 

coisas. Voltaremos para Portland de carro e comeremos algo pelo caminho. 

Vou vestir-me. 

 — Tenho que fazer uma ligação, — eu murmuro. Só quero ouvir a voz 

do Kate. Ele franze o cenho.

 — Para o fotógrafo? — Suas mandíbulas se apertam e os olhos ardem. 

Eu pisco para ele. — Eu não gosto de compartilhar, senhorita Steele. 

Lembre-se disso. — Seu tom de voz calmo, é um arrepiante aviso e dando 

um olhar muito frio para mim, ele volta para o quarto. 

Caramba. Eu só queria ligar para a Kate. Quero ligar diante dele, mas sua 

repentina atitude distante me deixou paralisada. O que aconteceu com o 

homem generoso, depravado e sorridente que me fazia amor faz apenas meia 

hora? 

 — Pronta? — Christian me pergunta junto à porta dupla do vestíbulo. 

 Eu concordo, incerta. Ele recuperou seu tom distante, educado e 

convencional. Voltou a colocar a máscara. Leva uma bolsa de couro sobre o 

ombro. Para que a necessita? Talvez ele fique em Portland. Então recordo a 

entrega dos diplomas. Sim, claro... Estará em Portland na quinta-feira. 

Está vestindo uma jaqueta negra de couro. Vestido assim, sem dúvida não 

parece um multi milionário. Parece um menino extraviado, possivelmente 

uma rebelde estrela de rock ou um modelo de passarela. Suspiro por dentro, 

desejando ter uma décima parte de sua elegância. É tão tranquilo e 

controlado... Franzo o cenho ao recordar seu arrebatamento com a ligação de 

José... Bom, ao menos parece que o é. 

 Taylor está esperando ao fundo. 

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 — Amanhã, então, — ele diz para Taylor, que concorda. 

 — Sim, senhor. Que carro vai levar, senhor? 

 Lança-me um rápido olhar. 

 — O R8. 

 — Boa viagem, senhor Grey. Senhorita Steele. — Taylor me olha com 

simpatia, embora possivelmente no mais profundo de seus olhos esconda 

um pingo de lástima. 

 Sem dúvida acredita que sucumbi aos dúbios hábitos sexuais do 

senhor Grey. Bom, aos seus excepcionais hábitos sexuais, ou possivelmente, 

o sexo seja assim para todo mundo? Franzo o cenho ao pensar nisso. Não 

tenho nada com o que compará-lo e pelo visto, não posso perguntar a Kate. 

Assim terei que falar do tema com Christian. Seria perfeitamente natural 

poder falar com alguém... mas não posso falar com Christian se ele se 

mostrar tão aberto num minuto e tão retraído no seguinte. 

 Taylor nos segura a porta para que saiamos. Christian chama o 

elevador. 

— O que foi, Anastásia? — pergunta-me. Como sabe que estou remoendo 

algo em minha mente? Ele chega mais perto e levanta o meu queixo. 

 — Pare de morder o lábio ou a foderei no elevador, e não vou me 

importar se entrar alguém ou não. 

 Ruborizo-me, mas seus lábios esboçam um ligeiro sorriso. Ao final 

parece que está recuperando o senso de humor. 

— Christian, tenho um problema. 

 — Oh, sim? — pergunta-me me observando com atenção. 

 Chega o elevador. Entramos e Christian aperta o botão marcado com 

um G. 

 — Bem, — eu ruborizo. Como posso dizer-lhe isso? — Preciso falar com 

a Kate. Tenho muitas perguntas sobre sexo, e você está muito 

comprometido. Se quiser que faça todas essas coisas, como vou saber...? — 

interrompo-me e tento encontrar as palavras adequadas. 

— É que não tenho pontos de referência. 

 Ele rola os olhos. 

— Fale com ela se for preciso. — responde-me zangado. — Mas se assegure 

de que não comente nada com o Elliot. 

 Não concordo com sua insinuação. Kate não é assim. 

 — Kate não faria algo assim, como eu não diria a você nada do que ela 

me conte sobre Elliot... se me contasse algo, — acrescento rapidamente. 

 — Bom, a diferença é que não me interessa sua vida sexual — 

murmura Christian em tom seco. — Elliot é um bastardo curioso. Mas lhe 

fale só do que temos feito até agora, — ele adverte. 

— Ela, provavelmente, me cortaria as bolas se soubesse o que quero fazer 

contigo, — ele acrescenta em voz tão baixa, que não estou segura de se 

pretendia que o ouvisse. 

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 — Ok, — concordo prontamente, sorrindo para ele, aliviada. Não quero 

nem pensar em Kate cortando as bolas de Christian. 

 Ele franze os lábios e sacode a cabeça. 

 — Quanto antes se submeta para mim melhor, assim acabamos com 

tudo isto — ele murmura. 

 — Acabamos com o que? 

 — Com seus desafios. — Passa-me uma mão pelo meu queixo e me 

beija rapidamente nos lábios. As portas do elevador se abrem. Agarra-me 

pela mão e me leva para a garagem no subsolo. 



Eu o desafio... como? 



 Perto do elevador vejo o Audi 4x4 negro, mas quando aperta o 

comando para que se abram as portas, acendem-se as luzes de um esportivo 

negro reluzente. É um desses carros que deveria ter uma loira de pernas 

longas, deitada no capô, vestida apenas com uma faixa. 

 — Bonito carro, — eu murmuro secamente. 

 Ele levanta o olhar e sorri. 

 — Eu sei, — responde-me, e por um segundo volta a ser o doce, jovem 

e despreocupado Christian. Inspira-me ternura. Está entusiasmado. Os 

meninos e seus brinquedos. Rolo os olhos, mas não posso ocultar meu 

sorriso. Abre-me a porta e entro. Uau... é muito baixo. Ele se move em volta 

do carro com graça fácil e dobra seu corpo longo elegantemente ao meu lado. 

Como ele faz isso? 

 — Então, que tipo de carro é esse? 

 — Um Audi R8 Spyder. Como faz um dia lindo, podemos baixar a 

capota. Há um boné de beisebol aí. Na verdade, deve haver dois. Ele aponta 

para uma caixa. — E óculos de sol se você quiser. 

 Ele dá partida na ignição, e o motor ruge a nossas costas. Deixa a 

bolsa entre os dois assentos, aperta um botão e a capota retrocede 

lentamente. Aperta outro, e a voz do Bruce Springsteen nos envolve. 

 — Vai ter que gostar do Bruce, — Sorri-me, e tira o carro do 

estacionamento e sobe a rampa, onde nos detemos, esperando que a porta 

levante. 

 E saímos para a ensolarada manhã de maio em Seattle. Abro a caixa e 

pego os bonés de beisebol. São da equipe dos Mariners. Ele gosta de 

beisebol? Passo-lhe um boné e ponho o outro. Eu passo o rabo de cavalo 

pela parte de trás do meu boné e puxo a viseira para baixo. 

 Pessoas nos olham quando nos dirigimos pelas ruas. Por um momento 

penso que olham para ele... e logo tenho um paranóico pensando que me 

olham porque sabem o que estive fazendo nas últimas doze horas, mas ao 

final, me dou conta de que o que olham é o carro. Christian parece alheio a 

tudo, perdido em seus pensamentos. 

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 Há pouco tráfico, assim não demoramos para chegar a interestadual 5 

em direção ao sul, com o vento soprando por cima de nossas cabeças. Bruce 

canta que arde de desejo. Muito oportuno. Ruborizo-me escutando a letra. 

Christian me olha. Com seus óculos Ray-Ban, não vejo sua expressão. 

Franze os lábios, apóia uma mão em meu joelho e me aperta suavemente. 

Minha respiração fica difícil. 

 — Tem fome? — pergunta-me. 

 Não de comida. 

 — Não especialmente. 

 Seus lábios voltam a apertar-se em uma linha firme. 

 — Você tem que comer, Anastásia, — ele repreende-me. — Conheço 

um lugar fantástico perto de Olympia. Pararemos ali. — Aperta-me o joelho 

de novo, sua mão volta a pegar no volante e pisa no acelerador. Vejo-me 

impulsionada contra o respaldo do assento. Caramba, como corre este carro. 

O restaurante é pequeno e íntimo, um chalé de madeira em meio de um 

bosque. A decoração é rústica: cadeiras diferentes, mesas com toalhas em 

xadrez e flores silvestres em pequenos vasos. Cuisine Sauvage, alardeia um 

pôster por cima da porta. 

— Fazia tempo que não vinha aqui. Não se pode escolher... Preparam o que 

caçaram ou recolheram. — Levanto as sobrancelhas fingindo horrorizar-se e 

não posso evitar de rir. A garçonete nos pergunta o que vamos beber. 

Ruboriza-se ao ver Christian e se esconde debaixo de sua comprida franja 

loira para evitar olhá-lo nos olhos. Ela gosta dele! Não acontece só comigo! 

 — Dois copos do Pinot Grigio, — diz Christian em tom autoritário. Eu 

aperto meus lábios, aborrecida. — O que? — pergunta-me bruscamente. 

 — Eu queria uma Coca-cola light, — eu sussurro. 

 Seus olhos cinza se apertam e ele sacode sua cabeça. 

 — O Pinot Grigio daqui é um vinho decente. Irá bem com a comida, 

tragam o que nos trouxerem, — diz-me em tom paciente. 

 — Tragam o que trouxerem? 

 — Sim. 

 Esboça seu deslumbrante sorriso inclinando a cabeça e faz um nó no 

meu estômago. Eu não posso deixar de devolver-lhe seu sorriso glorioso. 

 — Minha mãe gostou de você, — diz-me de repente. 

 — Sério? — Suas palavras me fazem ruborizar de alegria. 

 — Oh sim. Sempre pensou que eu fosse gay. 

 Abro a boca ao me lembrar daquela pergunta... na entrevista. Oh, não. 

 — Por que ela pensava que é gay? — pergunto-lhe em voz baixa. 

 — Porque nunca me viu com uma garota. 

 — Oh... com nenhuma das quinze? 

 Ele sorri. 

 — Tem boa memória. Não, com nenhuma das quinze. 

 — Oh. 

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 — Olhe, Anastásia, para mim também foi um fim de semana de 

novidades, — diz-me em voz baixa. 

 — Foi? 

 — Nunca tinha dormido com ninguém, nunca tinha tido relações 

sexuais em minha cama, nunca tinha levado uma garota no Charlie Tango e 

nunca tinha apresentado uma mulher para minha mãe. O que você está 

fazendo comigo? — A intensidade de seus olhos ardentes me corta a 

respiração. 

 A garçonete chega com nossos copos de vinho, e imediatamente dou 

um pequeno gole. Está sendo franco ou se trata de um simples comentário 

fortuito? 

 — Eu gostei muito deste fim de semana, — digo em voz baixa. Ele 

aperta os olhos para mim novamente. 

— Pare de morder o lábio, — ele grunhe. — Eu também, — ele acrescenta. 

— O que é sexo baunilha? — pergunto-lhe, embora só para me distrair do 

intenso olhar ardente e sexy que ele está me dando. Ele ri. 

 — Sexo convencional, Anastásia. Sem brinquedos, nem acessórios. — 

ele encolhe os ombros. — Você sabe... bom, a verdade é que não sabe, mas 

isso é o que significa. 

 — Oh. — Eu pensei que era sexo bolo de chocolate com uma cereja no 

topo, o que tivemos. Mas então, o que eu sei? 

 A garçonete nos traz sopa, que ambos olhamos com certo receio. 

 — Sopa de urtigas, — informa-nos a garçonete, dando meia volta e 

retornando zangada à cozinha. Não acredito que goste que Christian não lhe 

faça nem caso. Provo a sopa, que está deliciosa. 

Christian e eu olhamos um para o outro, aliviados. Dou uma risada e ele 

inclina a cabeça. 

— Que som adorável, — murmura. 

 — Por que você nunca fez sexo baunilha antes? Você sempre fez... err, 

o que faz? — pergunto-lhe intrigada. 

 Ele concorda lentamente. 

 — Mais ou menos. — Ele responde-me com cautela. Por um momento 

franze o cenho e parece liberar uma espécie de batalha interna. Logo levanta 

os olhos, como se tivesse tomado uma decisão. — Uma amiga de minha mãe 

me seduziu quando eu tinha quinze anos. 

 — Oh. Meu deus, tão jovem! 

 — Seus gostos eram muito especiais. Fui seu submisso durante seis 

anos. — Ele encolhe os ombros. 

 — Oh. — Meu cérebro congelou, atordoado por essa confissão. 

 — Então, eu sei o que isso implica, Anastásia. — Seus olhos brilham 

com a introspecção. 

 Observo-o fixamente, incapaz de articular uma palavra... Até meu 

subconsciente está em silêncio. 

134 



 — A verdade é que não tive uma introdução ao sexo muito corrente. 

 A curiosidade entra em ação. 

 — E alguma vez saiu com alguém na faculdade? 

 — Não. — responde-me, negando com a cabeça, para enfatizar sua 

resposta. 

 A garçonete chega para retirar nossos pratos e nos interrompe um por 

momento. 

 — Por quê? — pergunto-lhe, quando ela se vai. 

 Ele sorri sardonicamente. 

 — Você, realmente, quer saber? 

 — Sim. 

 — Porque não quis. Ela era tudo o que queria ou necessitava. Além 

disso, ela iria me castigar. — Ele sorri com carinho ao recordar. 

 Oh, isso era muita informação... mas queria mais. 

 — Então, ela era uma amiga de sua mãe, quantos anos ela tinha? 

 Ele sorri. 

 — Tinha idade suficiente para saber o que fazia. 

 — Você ainda a vê? 

 — Sim. 

 — Ainda... bem...? — Ruborizo-me. 

 — Não. — Ele sacode a cabeça e com um sorriso indulgente. — Ela é 

uma boa amiga. 

 -Oh. Sua mãe sabe? 

 Ele me olha, como se dissesse para não ser idiota. 

 — Claro que não. 

 A garçonete retorna com carne de veado, mas meu apetite sumiu. Que 

revelação. 

Christian, um submisso... caramba. Eu dou um comprido gole no Pinot 

Grigio... Christian tinha razão, é obvio, está delicioso. Deus, tenho que 

pensar em tudo o que me contou. Necessito tempo para processá-lo quando 

estiver sozinha, porque agora sua presença me distrai. É tão irresistível, tão 

macho alfa, e de repente, lança esta bomba. Ele sabe o que é ser submisso. 

 — Mas não pode ter sido em tempo integral? — Estou confusa. 

 — Bem, era, apesar de não vê-la o tempo todo. Era... difícil. Afinal, eu 

ainda estava na escola e mais tarde, na faculdade. Coma, Anastásia. 

 — Não tenho fome, Christian, de verdade. Eu estou me recuperando da 

revelação. 

 Sua expressão se endurece. 

 — Coma, — diz-me em tom tranquilo, muito tranquilo. 

 Eu olho para ele. Este homem... abusaram sexualmente dele quando 

era adolescente... seu tom é ameaçador. 

 — Espere um momento, — eu murmuro. Ele pisca um par de vezes. 

— Ok, — ele murmura e segue comendo. 

135 



 Assim será a coisa se assinar. Terei que cumprir suas ordens. Franzo 

o cenho. É isso o que quero? 

Pego o garfo e a faca, e começo a cortar o veado. Está delicioso. 

 — Assim será a nossa... nossa relação? — Eu sussurro. — Estará me 

dando ordens todo o momento? — pergunto-lhe em um sussurro, sem me 

atrever a olhá-lo. 

 — Sim, - ele murmura. 

 — Já vejo. 

 — E o que mais que eu queira que faça, — acrescenta em voz baixa. 

 Eu sinceramente duvido disso. Eu corto mais um pedaço de veado e 

aproximo dos lábios. 

 — É um grande passo, — eu murmuro e como. 

— Sim, é. Ele fecha os olhos por um segundo. Quando os abre, está muito 

sério. 

 — Anastásia, tem que seguir seu instinto. Pesquise um pouco, leia o 

contrato... Não tenho problema em comentar qualquer detalhe. Estarei em 

Portland até na sexta-feira, se por acaso quiser que falemos sobre isso antes 

do fim de semana. — Suas palavras me chegam em uma corrida. — Ligue-
me ... talvez, pudéssemos jantar... digamos na quarta-feira? Na verdade, 

quero que isto funcione. Nunca quis tanto. 

 Seus olhos refletem sua ardente sinceridade e seu desejo. É 

basicamente o que não entendo. Por que eu? Por que não uma das quinze? 

OH, não... É nisso que vou converter-me? Em um número? 

A dezesseis, nada menos? 



 -O que aconteceu com as outras quinze? - pergunto-lhe, de repente. 

 Ele suspende as sobrancelhas, surpreso e move a cabeça com 

expressão resignada. 

 — Coisas distintas, mas ao fim e ao cabo se reduz a... — detém-se, 

acredito que tentando encontrar as palavras. 

— Incompatibilidade. — Ele encolhe os ombros. 

 — E acredita que eu poderia ser compatível contigo? 

 — Sim. 

 — Então, já não vê nenhuma de ex. 

 — Não, Anastásia. Eu não. Sou monógamo em meus relacionamentos. 

 Oh... isso é novidade. 

 — Já vejo. 

 — Pesquise um pouco, Anastásia. 

 Eu abaixo o garfo e a faca. Não posso continuar comendo. 

 — Só isso? Isso é tudo o que vai comer? 

Eu concordo. Ele franze o cenho, mas decide não dizer nada. Eu deixo 

escapar um pequeno suspiro de alívio. 

136 



Meu estômago está embrulhado com tantas informações e me sinto um 

pouco tonta pelo vinho. Observo-o devorando tudo o que tem no prato. Ele 

come como um cavalo. Deve fazer muito exercício para manter a boa forma. 

De repente, recordo como lhe cai bem o pijama. A imagem é totalmente 

perturbadora. Contorço-me desconfortavelmente. Ele me olha e eu ruborizo. 

 — Eu daria tudo para saber o que está pensando neste exato 

momento, — ele murmura. 

 Ruborizo ainda mais. 

 Ele sorri perversamente para mim. 

 — Eu posso imaginar, — provoca-me. 

 — Alegro-me de que não possa ler meus pensamentos. 

 — Seus pensamentos não, Anastásia, mas seu corpo... isso conheço 

bastante bem desde ontem. — Sua voz é sugestiva. Como pode mudar de 

humor tão rápido? É tão volátil... É tão difícil seguir seu ritmo. 

 Chama à garçonete e lhe pede a conta. Depois de pagar, levanta-se e 

me estende a mão. 

 — Vamos. — Agarra-me pela mão e voltamos para carro. O inesperado 

dele é este contato de sua pele, normal, íntimo. Não posso reconciliar este 

gesto corrente e tenro com o que quer faz naquele quarto... O Quarto 

Vermelho da Dor. 

 Fazemos a viagem de Olympia para Vancouver em silêncio, cada um 

afundado em seus pensamentos. Quando estaciona em frente à porta de 

minha casa, são cinco horas da tarde. 

 As luzes estão acesas, então Kate está em casa, sem dúvida, 

empacotando, a menos que Elliot ainda não tenha partido. Christian desliga 

o motor, então percebo que tenho que me separar dele. 

 — Quer entrar? — pergunto-lhe. Não quero que parta. Quero ficar 

mais tempo com ele. 

 — Não. Tenho trabalho para fazer, — ele diz simplesmente, me 

olhando com expressão insondável.

 Eu olho para baixo, para as minhas mãos e entrelaço os dedos. De 

repente, me sinto emotiva. Ele vai partir. Aproximando-se mais, ele pega 

uma de minhas mãos e lentamente a leva à boca e beija suavemente a 

palma, bem a moda antiga. Meu coração salta para minha boca. 

 — Obrigado por este fim de semana, Anastásia. Foi... estupendo. 

Quarta-feira? Passarei para lhe pegar no trabalho ou onde você quiser. — 

Ele diz suavemente. 

 — Quarta-feira, — sussurro. 

 Ele beija minha mão de novo e a coloca de volta em meu colo. Sai do 

carro, aproxima-se de minha porta e abre. Por que, de repente, me sinto 

desolada? Isso me dá um nó na garganta. Não quero que me veja assim. Fixo 

um sorriso em meu rosto, saio do carro e me dirijo para a porta, sabendo 

137 



que eu tenho que enfrentar Kate e não quero enfrentar a Kate. No meio 

caminho, eu giro e olho para ele. Levante o queixo, Steele, eu me repreendo. 

 — Oh... à propósito, vesti uma de suas cuecas. — Dou para ele um 

pequeno sorriso e puxo o elástico de sua cueca para que ele veja. Christian 

abre a boca, surpreso. O que é uma grande reação. Meu humor muda 

imediatamente, eu escorrego para dentro de casa, uma parte de mim 

querendo pular e dar socos no ar. SIM! A minha deusa interior está 

encantada. 

 Kate está na sala de estar, colocando seus livros em caixas. 

 — Você voltou. Onde está Christian? Como você está? — pergunta-me 

em tom febril, nervoso. Vem para mim, agarra-me pelos ombros e examina 

minuciosamente meu rosto antes mesmo de me dizer olá. 

 Merda... Tenho que lutar com a insistência e a tenacidade de Kate, e 

tenho na bolsa um documento legal assinado, que diz que não posso falar. 

Não é uma saudável combinação. 

 — Bem, como foi? Não deixei que pensar em ti por um momento, 

depois que Elliot partiu, claro. — Ela sorri maliciosamente. 

 Não posso evitar sorrir por sua preocupação e sua ardente 

curiosidade, mas de repente, me dá vergonha. 

Eu ruborizo. O que aconteceu foi muito íntimo. Tudo isso. Ver e saber o que 

Christian esconde. Mas tenho que lhe dar alguns detalhes, porque se não, 

não vai deixar-me em paz. 

 — Está tudo bem, Kate. Muito bem, eu penso, — digo-lhe em tom 

tranquilo, tentando ocultar meu sorriso. 

 — Você pensa? 

 — Não tenho nada com o que comparar, não é? — digo-lhe, 

encolhendo de ombros apologeticamente. 

 — Ele fez você gozar? 

 Caramba, como ela é direta. Eu fico vermelha. 

 — Sim, — eu murmuro, exasperada. 

 Kate me empurra até o sofá e nos sentamos. Ela agarra as minhas 

mãos. 

 — Isso é bom. — Olha-me como se não acreditasse. — Foi sua 

primeira vez. Uau, Christian deve saber o que se faz. 

 Oh, Kate, se você soubesse... 

 — Minha primeira vez foi terrível, — ela continua, fazendo uma cara 

triste e engraçada. 

 — Anh? — Isso me interessa, era algo que ela nunca tinha me contado 

antes. 

 — Sim. Steve Paton. No segundo grau. Um atleta babaca. — Encolhe 

os ombros. — Foi muito brusco, e eu não estava preparada. Estávamos os 

dois bêbados. Já sabe... o típico desastre adolescente, depois da festa de 

138 



formatura. Ugh, demorei meses para me decidir a voltar a tentar. E não com 

aquele inútil. Eu era muito jovem. Você fez bem em esperar. 

 — Kate, isso parece horrível. 

 Kate parece melancólica. 

 — Sim, demorei quase um ano para ter meu primeiro orgasmo com 

penetração, e aí está você... na primeira vez. 

 Concordo envergonhada. A minha deusa interior está sentada na 

postura do lótus e parece serena, embora tenha um ardiloso sorriso 

autocomplacente no rosto. 

 — Alegro-me de que tenha perdido a virgindade com um homem que 

sabe o que se faz. — Ele pisca para mim com um olho. — E quando volta a 

vê-lo de novo? 

 — Quarta-feira. Vamos jantar. 

 — Então você ainda gosta dele? 

 — Sim, mas não sei o que vai acontecer... no futuro. 

 — Por quê? 

 — É complicado, Kate. Você sabe... seu mundo é totalmente diferente 

do meu. 

 Boa desculpa. Aceitável também. Muito melhor que... ele tem um 

Quarto Vermelho da Dor e quer me converter em sua escrava sexual. 

 — Oh por favor, não permita que o dinheiro seja um problema, Ana. 

Elliot me disse que é muito estranho que Christian saia com uma garota. 

— Será que ele...? — pergunto-lhe, minha voz estava várias oitavas mais 

aguda. 

 Tão obvio, Steele! Meu subconsciente me olha movendo seu comprido 

dedo e logo se transforma na balança da justiça para me lembrar que 

Christian poderia me processar se eu revelasse demais. 

Ah... O que pode fazer? Ficar com todo meu dinheiro? Tenho que me lembrar 

de procurar no Google "pena por descumprir um acordo de confidencialidade" 

quando fizer minha "pesquisa". É como se ele me tivesse me passado lição de 

casa. Talvez eu possa ganhar um diploma. Ruborizo me lembrando do meu 

A, esta manhã, no meu experimento na banheira. 

 — Ana, o que foi? 

 — Estava me lembrando de algo que Christian me disse. 

 — Você parece diferente, — Kate me diz com carinho. 

 — Eu estou diferente. Dolorida, — confesso-lhe. 

 — Dolorida? 

 — Um pouco. — Ruborizo-me. 

 — Eu também. Homens, — ela diz com uma careta de desgosto. — São 

como animais. — Nós duas começamos a rir. 

 — Você também está dolorida? — pergunto-lhe surpreendida. 

 — Sim... excesso de uso. 

 Eu começo a rir. 

139 



 — Fale-me mais sobre Elliot e seu excesso de uso, — pergunto-lhe 

quando paro por fim. Eu posso sentir que estou relaxando, pela primeira vez, 

desde que estava fazendo fila no banheiro do bar... antes da chamada de 

telefone que começou tudo isto... quando admirava o senhor Grey à 

distância. Dias felizes e sem complicações. 

 Kate se ruboriza. Oh, meu deus... Katherine Agnes Kavanagh se 

converte em Anastásia Rose Steele. Lança-me um olhar ingênuo. Nunca 

antes a tinha visto reagir assim por um homem. 

Meu queixo cai tanto que chega ao chão. Onde está Kate? O que fizeram com 

ela? 

— Oh, Ana, — ela me diz entusiasmada. — Ele é tão... tão... tudo. E quando 

nós... Oh... é fantástico. — Ela está tão alterada que logo não pode completar 

uma frase. 

 — Eu penso que você está tentando me dizer que você gosta dele. 

 Ela concorda com a cabeça, rindo como uma lunática. 

 — E vou vê-lo no sábado. Vai nos ajudar com a mudança. — Junta as 

mãos, levanta do sofá e se dirige à janela fazendo piruetas. A mudança. 

Merda, eu tinha esquecido disso, apesar de haver caixas por toda parte. 

 — Muito amável de sua parte, — digo-lhe. Assim o conhecerei também. 

Possivelmente possa me dar mais pistas sobre seu estranho e inquietante 

irmão. 

 — Então, o que fizeram ontem à noite? — pergunto-lhe. Ela inclina a 

cabeça para mim e levanta as sobrancelhas em um gesto que deve dizer: "O 

que te parece que fizemos, idiota?". 

 — Mais ou menos o mesmo que vocês fizeram, mas nós jantamos 

antes. — Ela sorri para mim. — Você realmente está bem? Parece um pouco 

sobrecarregada. 

 — Estou sobrecarregada. Christian é muito intenso. 

 — Sim, já faço uma ideia. Mas ele foi bom para você? 

 — Sim, — tranqüilizo-a. — Estou morta de fome. Quer que prepare 

algo? 

 Ela concorda e coloca um par de livros em uma caixa. 

 — O que quer fazer com os livros de quatorze mil dólares? — pergunta-
me. 

 — Vou devolvê-los. 

 — Realmente? 

 — É um presente exagerado. Não posso aceitá-lo, especialmente agora. 

— Sorrio, e Kate concorda com a cabeça. 

 — Eu entendo você. Chegou um par de cartas para você, e José não 

deixou de ligar. Parecia desesperado. 

 — Vou ligar para ele, — murmuro evasiva. Se contar para Kate sobre 

José, ela vai querer ele para o café da manhã. Recolho as cartas da mesa e 

as abro. 

140 



 — Ei, tenho entrevistas! Dentro de duas semanas, em Seattle, para 

fazer estágio. 

 — Em uma editora? 

 — Para duas delas! 

— Eu lhe disse que seu curiculum acadêmico lhe abriria portas, Ana. 

 Kate já tem seu posto para fazer as práticas no The Seattle Time, é 

obvio. Seu pai conhece alguém, que conhece alguém. 

 — Como Elliot se sente por você sair de férias? — pergunto-lhe. 

 Kate se dirige para a cozinha, e pela primeira vez desde que cheguei 

parece desconsolada. 

 — Ele entende. Uma parte de mim não quer partir, mas é tentador 

demais ficar tomando banho de sol um par de semanas. Além disso, minha 

mãe não deixa de insistir, porque acredita que serão nossas últimas férias 

em família, antes que Ethan e eu comecemos a trabalhar a sério. 

 Eu nunca saí dos Estados Unidos. Kate vai por duas semanas a 

Barbados, com seus pais e seu irmão, Ethan. Ficarei sozinha duas semanas, 

sem Kate, na casa nova. Será estranho. Ethan esteve viajando pelo mundo 

desde o ano passado, depois de graduar-se. Por um momento me pergunto 

se o verei antes que saiam de férias. É um tipo muito simpático. O telefone 

me tira de meu devaneio. 

 — Deve ser José. 

 Suspiro. Sei que tenho que falar com ele. Levanto o telefone. 

 — Alô. 

 — Ana, você voltou! — exclama José aliviado. 

 — Obviamente. — Respondo-lhe com certo sarcasmo e rolo os olhos 

para o telefone. 

 Ele fica em silencio por um momento. 

 — Posso ver você? Sinto muito sobre sexta-feira. Estava bêbado... e 

você... bem. Ana, me perdoe, por favor. 

 — Claro que te perdoo, José. Mas não repita isso de novo. Sabe quais 

são meus sentimentos por você. 

 Ele suspira profundamente, com tristeza. 

 — Eu sei, Ana. Mas pensei que se beijasse você, possivelmente seus 

sentimentos mudassem. 

 — José eu te amo fraternamente, você é muito importante para mim. É 

como o irmão que nunca tive. E isso não vai mudar. Você sabe disso. — Eu 

sei que o estou magoando, mas é a verdade. 

 — Então, você saiu com ele? — pergunta-me com desdém. 

 — José, não sai com ninguém. 

 — Mas você passou a noite com ele. 

 — Não é da sua conta! 

 — É pelo dinheiro? 

 — José! Como se atreve? — grito-lhe, atônita por seu atrevimento. 

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 — Ana, — ele diz com voz queixosa, em tom de desculpa. Eu não estou 

disposta a aguentar seus ciúmes mesquinhos. Sei que está machucado, mas 

já tenho bastante lutando com Christian Grey. 

 — Talvez possamos tomar um café amanhã. Ligarei para você, — digo-
lhe em tom conciliador. 

 Ele é meu amigo e lhe tenho muito carinho. Mas neste momento não 

estou precisando disso. 

 — Amanhã, então. Você me liga? — Sua voz esperançosa me comove. 

 — Sim... boa noite, José. — Desligo, sem esperar sua resposta. 

 — O que foi tudo isto? — Katherine pergunta-me com as mãos nos 

quadris. Eu decido que o melhor quer dizer a verdade. Parece mais 

obstinada que nunca. 

 — Ele tentou me beijar na sexta-feira. 

 — José? E Christian Grey? Ana, seus feromônios devem estar fazendo 

horas extras. No que estava pensando esse imbecil? — Ela sacode a cabeça 

zangada e segue empacotando. 

 Quarenta e cinco minutos mais tarde, fizemos uma pausa para 

degustar a especialidade da casa, minha lasanha. 

Kate abre uma garrafa de vinho e nos sentamos para comer entre as caixas, 

bebendo vinho tinto barato e vendo porcarias na televisão. Essa é a 

normalidade. É bem recebida e tranquilizadora depois das últimas quarenta 

e oito horas de... loucura. É minha primeira comida, em dois dias, sem 

preocupações, sem que insistam e em paz. Qual o problema que Christian 

tem com a comida? Kate recolhe os pratos enquanto eu acabo de empacotar o 

que fica na sala de estar. Só deixamos o sofá, a televisão e a mesa. O que 

mais poderíamos necessitar? Só falta empacotar o conteúdo de nossos 

quartos e a cozinha, e temos toda a semana pela frente. Resultado! 

 O telefone volta a tocar. É Elliot. Kate me pisca um olho e vai para o 

seu quarto, saltitando como se tivesse quatorze anos. Sei que deveria estar 

escrevendo seu discurso oficial, mas parece que Elliot é mais importante. O 

que acontece com os homens Grey? O que os faz tão absorventes, tão 

devoradores e tão irresistíveis? Tomo outro gole de vinho. 

 Faço uma rápida busca por algum programa de TV, mas no fundo sei 

que estou me demorando de propósito. O contrato está queimando dentro de 

minha bolsa. Terei forças para lê-lo esta noite? 

 Apoio à cabeça nas mãos. Tanto José como Christian querem algo de 

mim. Com José é fácil. Mas Christian... Christian tem um campeonato 

totalmente diferente, de manipulação, de entendimento. Uma parte de mim 

quer sair correndo e se esconder. O que vou fazer? Penso em seus ardentes 

olhos cinza, em seu intenso e provocador olhar e fico tensa. Ele nem está 

aqui, e eu estou ligada. Isso não pode ser só sobre sexo, pode? Lembro de 

sua conversa suave, esta manhã no café da manhã, a sua alegria com o meu 

142 



prazer com o passeio de helicóptero, ele tocando piano, essa música tão 

triste, doce e comovedora... 

Ele é uma pessoa muito complicada. E agora comecei a entender por 

que. Um menino privado de adolescência, sexualmente abusado por uma 

malvada senhora Robinson... não é estranho que pareça mais velho do que 

é. Meu coração se enche de tristeza ao pensar no que no que ele deve ter 

passado. Sou muito ingênua para saber exatamente do que se trata, mas a 

pesquisa deve me dar um pouco de luz. Embora de verdade, quero saber? 

Quero explorar esse mundo do qual não sei nada? 

É um passo muito importante.

 Se não o tivesse conhecido, seguiria tão feliz, alheia a tudo isto. Minha 

mente se translada para a noite de ontem e a esta manhã... a incrível e 

sensual sexualidade que experimentei. Quero dizer adeus a isso? Não! 

exclama meu subconsciente... Minha deusa interior concorda em um 

silêncio zen, para mostrar que está de acordo com ele. 

 Kate volta para a sala de estar, sorrindo de orelha a orelha. Talvez ela 

esteja apaixonada. Eu olho para ela, boquiaberta. Nunca se comportou 

assim. 

 — Ana, vou para cama. Estou muito cansada. 

 — Eu também, Kate. 

 Ela me abraça. 

— Alegro-me que tenha voltado sã e salva. Há algo estranho em 

Christian, — ela acrescenta em voz baixa, em tom de desculpa. Eu sorrio 

para tranquilizá-la, embora pense... Como diabos ela sabe? Por isso ela será 

uma jornalista tão boa, por sua infalível intuição. 

Pego a minha bolsa, vou para o meu quarto com passo desinteressado. Os 

esforços sexuais das últimas horas e o total e absoluto dilema que me 

enfrento me deixaram esgotada. Sento-me na cama, tiro da bolsa com 

cautela, o envelope de papel pardo e dou voltas com ele entre as mãos. Estou 

segura de que quero saber até onde chega à depravação de Christian? É tão 

assustador. Respiro fundo e com o coração na garganta, eu abro o envelope.





















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