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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 13

O dia seguinte era páscoa. Todo mundo estava de pé e andando, se aprontando para ir para igreja. A casa toda tinha um cheiro delicioso, cheio dos temperos da culinária de Olena. Meu estômago roncou, e eu me perguntei se eu ia agüentar esperar até o enorme jantar que ela preparou. Embora eu nem sempre tivesse certeza sobre Deus, eu fui a igreja a minha vida toda. Na maior parte, era uma cortesia aos outros, uma forma de ser educada e social. Dimitri ia porque ele encontrava paz lá, e eu estava me perguntando se ir hoje fosse me oferecer uma dica do que eu deveria fazer.

Eu me sentia um pouco mal arrumada acompanhando os outros. Todos eles se vestiram bem, mas eu não tinha nada a não ser jeans e camiseta. Viktoria, notando meu horror, me emprestou uma blusa branca que era um pouco apertada mas ainda sim caia bem. Assim que sentei com a família em um banco, eu olhei ao redor, me perguntando como Dimitri tinha conseguido consolo na capela da Academia quando ele cresceu nesse lugar.

Era enorme. Cabiam quatro capelas. O teto era mais alto e mais elaborado, e decorações douradas e ícones de santos pareciam cobrir todas as superfícies. Era incrível, deslum-brante para os olhos. O cheiro de incenso estava pesado no ar, tanto que eu podia até mesmo ver a fumaça.

Haviam várias pessoas ali, humanos e Dhampir, e fiquei surpresa por ver até alguns Moroi. Aparentemente, os

Moroi que visitavam a cidade eram devotos o bastante para virem a igreja, apesar das atividades sórdidas que eles possivelmente estavam procurando aqui. E falando em Moroi...

“Abe não está aqui,” eu disse para Viktoria, olhando ao redor. Ela estava na minha esquerda; Olena estava na direita. Embora ele não tivesse me parecido o tipo religioso, eu meio que esperava ele me seguir para cá. Eu esperava que talvez a ausência dele significasse que ele deixou Baia. Eu ainda estava agitada com nosso último encontro.

“Ele saiu da cidade?”

“Eu acho que ele é mulçumano,” Viktoria explicou. “Mas pelo que eu soube, ele ainda está por ai. Karolina o viu hoje de manhã.”

Maldito Zmey. Ele ainda não tinha partido. O que ele tinha dito? Bom amigo horrível inimigo.

Quando não disse nada, Viktoria me deu um olhar preocupado. “Ele nunca fez nada realmente ruim. Ele normalmente tem reuniões e então desaparece. Eu falei sério antes quando disse não achava que ele iria te machucar, mas agora você está me preocupando. Você está em algum tipo de problema?”

Excelente pergunta. “Eu não sei. Ele simplesmente parece interessado em mim, só isso. Eu não sei por quê.”

O franzido dela se aprofundou. “Não vamos deixar nada acontecer com você,” ela disse ferozmente.

Eu sorri, tanto da preocupação dela como por causa da semelhança dela com Dimitri naquele momento. “Obrigado. Tem algumas pessoas em casa que podem estar procurando

por mim, e eu acho que Abe está apenas... me checando.” Esse era um ótimo jeito de descrever que iria me arrastar de volta para os EUA chutando e gritando – ou ia simples-mente me fazer desaparecer de vez. Viktoria para sentir que eu estava suavizando a verdade. “Bem, falei sério. Não vamos deixar nada acontecer com você.”

A missa começou, cortando a conversa. As palavras do padre eram lindas, mas significou ainda menos para mim do que as missas normalmente significavam. Ela era toda em russo, como no funeral, e ninguém iria se incomodar em traduzir para mim hoje. Não importava. Falando na beleza dos arredores, eu encontrei minha mente divagando. A esquerda do altar, um anjo com cabelos dourados olhava para mim em um ícone a quatro metros de altura.

Uma memória inesperada veio até mim. Dimitri uma vez conseguiu permissão para acompanhar ele numa rápida viagem de fim de semana para Idaho para encontrar alguns outros guardiões. Idaho não era um lugar que eu estava ansiosa para ir, mas eu dei boas vindas ao tempo com ele, e ele convenceu os oficiais da escola que era uma “experiência de aprendizado”. Isso foi logo depois da morte de Mason, e depois da onda de choque que aquela tragédia enviou pela escola, eu acho que eles teriam me permitido fazer qualquer coisa, para ser honesta.

Infelizmente, tinha pouco de romance ou lazer na viagem. Dimitri tinha um trabalho para fazer, e ele tinha que fazer rapidamente. Então fizemos o melhor tempo que pudemos, parando somente quando era absolutamente necessário. Considerando nossa última viagem que envolveu encontrar

um massacre Moroi, essa provavelmente seria melhor. Como sempre, ele não me deixou dirigir, apesar de eu ter alegado que eu poderia chegar lá na metade do tempo. Ou talvez fosse por isso que ele não me deixou dirigir.

Paramos em certo ponto para colocar gasolina e pegar comida em uma loja. Estávamos nas montanhas em algum lugar, em uma pequena cidade que rivalizava St. Vladimir na localização remota. Eu podia ver montanhas, em um dia limpo, da escola, mas era uma experiência totalmente diferente estar nelas. Elas nos cercavam e estavam tão perto que parecia que você poderia simplesmente saltar e pousar em uma delas. Dimitri estava terminando com o carro. Segurando meu sanduíche, eu fui até o posto para olhar melhor.

Qualquer que fosse a civilização que o posto de gasolina oferecia desapareceu assim que eu cheguei. Pinheiros cheios de neve se estendiam infinitamente diante de mim, e tudo estava parado e quieto, a não ser o som distante da estrada atrás de mim. Meu coração doía pelo que tinha acontecido com Mason, e eu ainda estava tendo pesadelos com os Strigoi que tinham nos mantido em cativeiro. A dor estava muito longe de desaparecer, mas alguma coisa sobre este cenário pacífico me acalmou por um momento.

Olhando para a neve intocada, um pensamento maluco me ocorreu. Eu me permiti cair no chão. A neve grossa me abraçou, e eu fiquei ali por um momento, me confortando em ficar deitada. Então movi minhas pernas e braços para frente e pra trás, fazendo novos buracos na neve. Quando

terminei, eu não levantei imediatamente. Eu simplesmente continuei deitada, olhando para o céu azul.

“O que,” perguntou Dimitri, “você está fazendo? Fora esfriar seu sanduíche.”

A sombra dele caiu em mim, e eu olhei para a forma alta dele. Apesar do frio, o sol estava alto, e seu raios iluminavam o cabelo dele. Ele mesmo poderia ter sido um anjo.

“Estou fazendo um anjo de neve,” eu respondi. “Você não sabe o que é isso?”

“Sim, eu sei. Mas por quê? Você deve estar congelando.”

Eu estava usando um casaco de inverno, chapéu, luvas, e todos os acessórios necessários para um tempo frio. Ele tinha razão sobre o sanduíche. “Nem tanto, na verdade. Meu rosto está um pouco, eu acho.”

Ele balançou a cabeça e me deu um sorriso torto. “Você vai ficar com frio quando estiver no carro e toda essa neve começar a derreter.”

“Eu acho que você está mais preocupado com o carro do que comigo.”

Ele riu. “Estou mais preocupado com você pegar pneumonia.”

“É isso? Isso não é nada.” Eu bati no chão ao meu lado. “Vem. Faça um também, e então poderemos ir.”

Ele continuou a olhar para mim. “Para que eu possa congelar também?”

“Para que você se divirta. Para que você deixe sua marca em Idaho. Além do mais, não deveria te incomodar, certo?

Você não tem algum tipo de super resistência ao frio por causa da Sibéria?”

Ele suspirou, um sorriso ainda em seus lábios. Foi o bastante para me esquentar até com esse tempo. “Aí vai você de novo, convencida que a Sibéria é como a antártica. Sou da parte sul. O tempo é quase o mesmo que o daqui.”

“Você está inventando desculpas,” eu disse a ele. “A não ser que você queira me arrastar de volta para o carro, você vai ter que fazer um anjo também.”

Dimitri me estudou por vários momentos, e eu pensei que ele realmente fosse me arrastar. Mas o rosto dele ainda estava leve e aberto, e sua expressão estava cheia de carinho o que fez meu coração bater forte. Então, sem aviso, ele caiu na neve ao meu lado, deitando ali em silêncio.

“Ok,” eu disse quando ele não fez mais nada. “Agora você tem que mover seus braços e pernas.”

“Eu sei como fazer um anjo de neve.”

“Então faça! Caso contrário, vai ser mais parecido com um contorno de giz numa cena de crime.”

Ele riu de novo, e o som era rico e quente no ar frio. Finalmente, depois de um pouco mais de incentivo da minha parte, ele moveu seus braços e pernas também, fazendo um anjo próprio. Quando ele terminou, eu esperava que ele levantasse e exigisse que voltássemos para a estrada, mas ao invés disso, ele ficou ali também, observando o céu e as montanhas.

“Bonito, huh?” eu perguntei. Minha respiração fazia nuvens no ar. “Eu acho que de certa forma, não é tão diferente

quanto a vista do resort de esqui... mas eu não sei. Eu e sinto diferente hoje.”

“A vida é assim,” ele disse. “Conforme crescemos e mudamos, às vezes as coisas que experimentamos antes adquirem um novo significado. Vai acontecer pelo resto da sua vida.”

Eu comecei a provocar ele sobre sua tendência de sempre dar essas lições profundas de vida, mas me ocorreu que ele tinha razão. Quando eu comecei a me apaixonar por Dimitri, os sentimentos me consumiram. Nunca senti nada assim antes. Estive convencida que não havia como eu amar ele ainda mais. Mas agora, depois do que testemunhei com Mason e os Strigoi, as coisas estavam diferente. Eu amava Dimitri mais intensamente. Eu amava ele de uma forma diferente, de uma forma mais profunda. Algo sobre ver como a vida era frágil me fez apreciar ele mais. Me fez perceber o quanto ele significava para mim e o quão triste eu ficaria se o perdesse.

“Você acha que seria bom ter uma cabana lá?” eu perguntei, apontando para o pico mais próximo. “Na floresta onde ninguém pudesse te encontrar?”

“Eu acho que seria bom. Eu acho que você ficaria entediada.” Eu tentei me imaginar presa naquela vastidão com ele. Um quarto pequeno, lareira, cama... eu não achava isso chato. “Não seria tão ruim se tivéssemos net. E

internet.” E calor corporal.

“Oh, Rose.” Ele não riu, mas eu pude ver que ele estava sorrindo de novo. “Eu não acho que você seria feliz em um lugar tranqüilo. Você sempre precisa de algo pra fazer.”

“Você está dizendo que tenho déficit de atenção?”

“De jeito nenhum. Estou dizendo que tem um fogo em você que comanda tudo que você faz, que te faz precisar ser a melhor do mundo para aqueles que você ama. Para defender aqueles que você puder. É um das coisas maravilhosas em você.”

“Uma, huh?” eu falei leve, mas as palavras dele me animaram. Ele falou sério sobre aqueles maravilhosos traços, e sentir o orgulho dele significava mais para mim do que qualquer coisa naquela época.

“Um de muitos,” ele disse. Ele sentou e olhou para mim. “Então, sem cabana pacifica para você. Não até que você seja uma mulher idosa.”

“O que, tipo 40?”

Ele balançou a cabeça em exaspero e levantou, sem responder minha brincadeira. Ainda sim, ele me olhou com a mesma afeição que eu ouvi em sua voz. Havia admiração também, e eu pensei que eu nunca seria infeliz enquanto Dimitri me achasse maravilhosa e bonita. Se abaixando ele estendeu sua mão. “Hora de ir.”

Eu a peguei, deixando ele me ajudar a levantar. Uma vez de pé, nós ficamos de mãos dadas por um segundo mais do que necessário. Então nos soltamos e admiramos nosso trabalho.

Dois anjos de neve perfeitos – um muito, muito mais alto que o outro. Tendo cuidado para pisar dentro da linha, eu me inclinei e fiz uma linha horizontal acima deles.

“O que é isso?” ele perguntou, quando eu levantei ao lado dele de novo.

“Aureolas,” eu disse com um sorriso. “Para criaturas divinas como nós.”

“Isso pode ser um desenvolvimento.”

Nós estudamos nossos anjos por mais alguns momentos, olhando para onde tínhamos ficado lado a lado em um doce e quieto momento. Eu queria que o que eu tinha dito fosse verdade, que nós tivéssemos realmente deixado nossa marca na montanha. Mas eu sabia que depois da próxima nevasca, nossos anjos iriam desaparecer no nada e não seriam nada além de uma memória.

Dimitri tocou meu braço gentilmente, e sem outra palavra, viramos e voltamos para o carro.

Comparado com aquele momento e a forma que ele olhou para mim lá nas montanhas, eu pensei que o anjo olhando para mim na igreja parecia pálido e sem graça em comparação. Sem ofensas.

A congregação estava enchendo seus assentos depois de pegar o pão e o vinho. Eu fiquei sentada, mas eu entendi algumas das palavras do padre. Vida. Morte. Destruir.

Eterno. Eu sabia o bastante sobre tudo isso para juntar o significado. Eu apostaria um bom dinheiro que “ressurreição” era o assunto. Eu suspirei, desejando que fosse realmente assim tão fácil vencer a morte e trazer de volta aqueles que amamos. A missa terminou, e eu parti com os Belikov, me sentindo melancólica. Enquanto as pessoas passavam perto da entrada, eu vi alguns ovos sendo trocados.

Viktoria disse que isso era uma tradição grande por aqui. Algumas pessoas que eu não conhecia me deram alguns, e

me senti um pouco mal por não ter nada para dar em troca. Eu também me perguntei como eu iria comer todos eles. Eles estavam decorados de todo o tipo de forma. Alguns eram de cor simples; outros eram de um design elaborado.

Todos pareciam tagarelar depois da igreja, e ficamos todos do lado de fora. Amigos e familiares se abraçavam e ouviam as fofocas. Eu estava perto de Viktoria, sorrindo e tentando acompanhar as conversas que ocorriam freqüentemente em Inglês e Russo.

“Viktoria!”

Viramos e vimos Nikolai vir em nossa direção. Ele nos deu – pelo que, me refiro a ela – um brilhante sorriso. Ele se arrumou para o feriado e estava incrível em uma camisa e gravata verde escuro. Eu olhei para Viktoria, me perguntando se teria algum efeito nela. Nome. O sorriso dela era educado, genuinamente feliz por ver ele, mas não havia nada romântico ali. De novo, eu me perguntei sobre o misterioso “amigo” dela.

Ele tinha alguns caras com ele que eu não conhecia. Eles nos saudaram também.

Como os Belikovs, eles pareciam pensar que eu era um elemento permanente por aqui.

“Você ainda vai na festa da Marina?” perguntou Nikolai.

Eu quase tinha esquecido. Foi a festa que ele nos convidou para ir quando o conheci. Viktoria tinha aceitado, mas para minha surpresa, ela balançou a cabeça. “Não podemos. Temos planos familiar.”

Isso era novidade para mim. Havia uma possibilidade de algo ter surgido e eu ainda não saber, mas eu duvidava. Eu

tinha o pressentimento que ela estava mentindo, e sendo uma amiga leal, eu não disse nada para contradizer ela. Mas foi difícil ver o rosto de Nikolai cair.

“Verdade? Vamos sentir sua falta.”

Ela deu nos ombros. “Vamos nos ver na escola.”

Ele não parecia de bem com isso. “Yeah, mas –”

Os olhos de Nikolai de repente se ergueram do rosto dela e se focaram em algo atrás de nós. Ele franziu. Viktoria e eu olhamos para trás, e eu senti o humor dela mudar também.

Três caras estavam vindo em direção ao nosso grupo. Eles também eram Dhampir.

Não notei nada estranho neles – fora o sorriso – mas outros Moroi e Dhampir reunidos do lado de fora da igreja tinham expressões similares a dos meus companheiros. Problema. Preocupação. Desconforto. Os três caras pararam diante de nós, entrando no nosso circulo.

“Eu pensei que você estaria aqui, Kolya,” disse um. Ele falou um inglês perfeito, e eu levei um momento para perceber que ele estava falando com Nikolai. Eu nunca iria entender os apelidos russos.

“Eu não sabia que você estava de volta,” respondeu Nikolai duramente. Estudando os dois, eu podia ver uma distintiva semelhança. Eles tinham o mesmo cabelo bronze e corpo estrutural. Irmãos, aparentemente.

O olhar do irmão de Nikolai caiu em mim. Ele se alegrou. “E você deve ser a americana não prometida.” Eu não me surpreendi por ele saber quem eu era. Depois do funeral, a maior parte dos Dhampirs locais tinham contado histórias sobre a americana que lutou em batalha contra Strigoi mas

não carregava nem uma marca de promessa e nem uma marca de formatura.

“Sou Rose,” eu disse. Eu não sabia qual era a desses caras, mas eu certamente não iria mostrar medo entre eles. O cara pareceu apreciar minha confiança e apertou minha mão.

“Sou Denis.” Ele gesticulou em direção a seus amigos. “Artur e Lev.”

“Quando você chegou na cidade?” perguntou Nikolai, ainda não parecendo feliz com essa reunião.

“Essa manhã,” Denis virou para Viktoria. “Ouvi sobre seu irmão. Sinto muito.”

A expressão de Viktoria era dura, mas ela acenou educadamente. “Obrigado.”

“É verdade que ele caiu defendendo os Moroi?”

Eu não gostei da zombaria na voz de Denis, mas foi Karolina que deu voz a meus pensamentos raivosos. Eu não notei ela se aproximar do nosso grupo. Ela não parecia nem um pouco feliz de ver Denis.

“Ele caiu lutando com Strigoi. Ele morreu como um herói.”

Denis deu nos ombros, não afetado pelo tom raivoso na voz dela. “Ainda faz dele morto. Tenho certeza que os Moroi vão cantar o nome dele por anos.”

“Eles vão,” eu respondi. “Ele salvou um enorme grupo deles. E Dhampirs também.”

O olhar de Denis voltou para mim, seus olhos pensativos enquanto ele estudava meu rosto por alguns segundos. “Eu ouvi que você esteve lá também. Que vocês dois foram enviados para uma batalha impossível.”

“Não era impossível. Nós ganhamos.”

“Dimitri diria isso se ele estivesse vivo?”

Karolina cruzou os braços. “Se você só está aqui para começar algo, então você deve ir embora. Isso é uma igreja.” Era engraçado. Quando a conheci, eu pensei que ela parecia tão gentil e bondosa, como uma mãe jovem comum trabalhando para sustentar sua família. Mas nesse momento, ela parecia mais do que nunca com Dimitri.

Eu podia ver a mesma força nela, aquela ferocidade que levava ela a proteger quem ela amava e enfrentar seus inimigos. Não que aqueles caras fossem seus inimigos, exatamente. Eu honestamente não entendia quem eles eram.

“Estamos apenas conversando,” disse Denis. “Eu só quero entender o que houve com seu irmão. Acredite em mim, eu acho que a morte dele é uma tragédia.”

“Ele não teria se arrependido,” eu disse a ele. “Ele morreu lutando pelo o que acreditava.”

“Defender outros que o subestimavam.”

“Isso não é verdade.”

“Oh?” Denis me deu um sorriso torto. “Então porque você não trabalha para os guardiões? Você matou Strigoi mas não tem marca da promessa. Nem mesmo uma marca de graduação, eu ouvi. Porque você não está lá fora se jogando na frente dos Moroi?”

“Denis,” disse Nikolai inquieto, “por favor vá embora.”

“Não estou falando com você, Kolya.” Os olhos de Denis ainda estavam em mim.

“Só estou tentando entender Rose. Ela mata Strigoi mas não trabalha para os guardiões. Ela claramente não é como o resto das pessoas nessa cidade. Talvez ela seja como nós.”

“Ela não tem nada a ver com você,” Viktoria respondeu.

Então entendi, e um calafrio passou pela minha espinha. Esses eram o tipo de Dhampir que Mark tinha falado. Eles eram os verdadeiramente não prometidos. Os vigilantes que caçavam Strigoi sozinhos, aqueles que nunca se assentavam e não respondiam a nenhum guardião. Eles não deveriam ter me irritado, não mesmo. De certa forma, Denis tinha razão... em termos simples, eu realmente era como eles. E ainda sim... tinha algo nesses caras que me parecia errado.

“Então porque você está na Rússia?” perguntou um dos amigos de Denis. Eu já não conseguia lembrar seu nome. “É uma longa viagem para você. Você não teria vindo para cá sem motivo.”

Viktoria estava ficando tão irritada quanto a irmão. “Ela veio nos contar sobre Dimka.”

Denis me olhou. “Eu acho que ela está aqui para caçar Strigoi. Tem mais para escolher na Rússia do que nos EUA.”

“Ela não estaria em Baia caçando Strigoi, seu idiota,” respondeu Viktoria. “Ela estaria em Vladivostok ou Novosibirsk, ou algo assim.”

Novosibirsk. O nome soava familiar. Mas onde eu tinha ouvido? Um momento depois a resposta veio até mim. Sydney tinha mencionado. Novosibirsk era a maior cidade da Sibéria.

Denis continuou. “Talvez ela esteja apenas de passagem. Talvez ela queira se juntar a nós quando formos para Novosibirsk amanhã.”

“Pelo amor de Deus,” eu exclamei. “Estou bem aqui. Parem de falar de mim como se eu não estivesse. E porque eu iria querer ir com você?”

Os olhos de Denis brilharam com uma luz intensa e febril. “Boa caça lá. Vários Strigoi. Venha conosco, e você pode ajudar a ir atrás deles.”

“E quantos de vocês voltam disso?” Karolina perguntou com uma voz dura. “Onde está Timosha? Onde está Vasily? Seu grupo de caçada diminui cada vez que você volta.

Qual de vocês vai ser o próximo? Qual família vai ser a próxima a ficar de luto?”

“Fácil falar,” respondeu o amigo. Lev, eu acho que esse era o nome dele. “Você fica aqui e não faz nada enquanto nós saímos e mantemos você segura.”

Karolina deu um olhar de nojo para ele, e eu lembrei que ela estava saindo com um guardião. “Vocês vão e se metem em situações sem pensar. Se querem nos manter seguros, então fiquei aqui e defendam suas famílias quando eles precisarem. Se querem ir atrás de Strigoi, vão se juntar aos guardiões e trabalhar com aqueles que tem algum senso.”

“Os guardiões não caçam Strigoi!” disse Denis. “Eles sentam e esperam e se acovardam diante dos Moroi.”

Infelizmente nessa parte ele tinha razão. Mas não totalmente.

“Isso está mudando,” eu disse. “Tem um movimento para começar a agir ofensivamente contra Strigoi. Também

existe uma conversa sobre deixar os Moroi aprenderem a lutar conosco. Você poderia ajudar sendo parte disso.”

“Como você?” ele riu. “Você ainda não nos disse por que está aqui e não com eles. Você pode dizer o que quiser para o resto desse grupo, mas sei por que você está aqui. Eu posso ver em você.” Aquele olhar maluco que ele me deu quase me fez pensar que ele podia. “Você sabe que o único jeito de livrar o mundo do mal é fazer você mesma. Procurar os Strigoi e matar eles, um por um.”

“Sem um plano,” terminou Karolina. “Sem qualquer noção das conseqüências.”

“Somos fortes e sabemos como lutar. É só isso que é necessário para matar Strigoi.”

E foi então que entendi. Eu finalmente entendi o que Mark estava tentando me dizer. Denis estava dizendo exatamente o que estive pensando desde que saí da St. Vladimir. Eu fugi sem um plano, querendo me colocar em perigo porque eu sentia que tinha uma missão que ninguém mais poderia fazer. Somente eu poderia matar Dimitri.

Só eu poderia destruir o mal dentro dele. Eu não pensei sobre como fazer isso – já que Dimitri tinha me derrotado mais vezes numa luta quando ele ainda era Dhampir. Com a força e velocidade de um Strigoi agora? As chances estavam definitivamente contra mim. Ainda sim, eu não me importei. Estive obcecada, convencida de que tinha que fazer isso.

Em minha cabeça, o que eu tinha que fazer fazia sentido, mas agora… ouvindo esses sentimentos de Denis, soava loucura. Tão descuidado quanto Mark tinha avisado. Os

motivos deles poderia ser bom – assim como os meus eram – mas também eram suicidas. Sem Dimitri, eu honestamente não me importava muito com minha própria vida. Nunca tive medo de me arriscar antes, mas agora eu percebi que havia uma grande diferença entre morrer inutilmente e morrer por uma boa razão. Se eu morresse tentando matar Dimitri porque eu não tinha uma estratégia, então minha vida não teria significado nada.

Então, o padre chegou e disse algo para nós em russo. Pelo seu tom e expressão, eu acho que ele estava perguntando se estava tudo bem.

Ele se misturou com o resto da congregação depois da missa. Sendo humano, ele provavelmente não sabia as políticas dos Dhampir, mas ele sem dúvidas podia sentir problemas.

Denis deu a ele um simpático sorriso e deu o que soava como uma explicação educada. O padre sorriu em resposta, acenou, e saiu quando outra pessoa o chamou.

“Chega,” disse Karolina duramente, assim que o padre estava longe. “Você precisa ir. Agora.”

O corpo de Denis ficou tenso, e o meu respondeu, pronto para lutar. Eu pensei que ele fosse começar algo ali e agora. Alguns segundos depois, ele relaxou e virou em minha direção.

“Mostre elas para mim primeiro.”

“Mostrar o que?” eu perguntei.

“As marcas. Me mostre quantos Strigoi você matou.”

Eu não respondi imediatamente, me perguntando se era um truque. Os olhos de todos estavam em mim. Virando

devagar, eu ergui meu cabelo da nuca e mostrei minhas tatuagens. Pequenas marcas em forma de raio, as tatuagens Molnija estavam ali junto com a marca que eu recebi pela batalha. Pelo som do arfar de Denis, eu estava supondo que ele nunca tinha visto tantas mortes antes. Eu soltei meu cabelo e o olhei.

“Mais alguma coisa?” eu perguntei.

“Você está perdendo seu tempo,” ele finalmente disse, gesticulando para as pessoas atrás de mim. “Com eles. Com esse lugar. Você deveria vir conosco para Novosibirsk. Vamos fazer sua vida valer a pena.

“Eu sou a única que pode fazer qualquer coisa da minha vida.” Eu apontei para a rua. “Pediram para você partir. Vá agora.”

Eu segurei o fôlego, ainda pronta para uma luta. Depois de vários momentos tensos, o grupo se afastou. Antes de virar, Denis me deu uma última olhada.

“Não é isso que você quer e você sabe. Quando mudar de idéia, venha nos procurar na Kasakova 83. Partimos ao nascer do sol amanhã.”

“Vai partir sem mim,” eu disse.

O sorriso de Denis mandou outro calafrio pela minha espinha. “Veremos.”

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