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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 12

Estar com Lissa me deixou com mais perguntas do que respostas, e sem um plano de ação, eu simplesmente continuei a ficar com os Belikov nos próximos dias. Eu cai numa rotina normal, de novo surpresa por quão fácil era. Eu me esforcei para me fazer ser útil, fazendo qualquer tarefa que eles me deixassem fazer indo até cuidar do bebê (algo que eu não estava inteiramente confortável fazendo, já que como guardiã em treinamento não tinha sobrado muito tempo para trabalhos depois da escola, como por exemplo o de babá). Yeva me observou o tempo todo, sem nunca dizer nada mas sempre parecendo como se ela estivesse desaprovando. Eu não tinha certeza se ela queria que eu fosse em embora ou se era assim que ela sempre parecia. Os outros, no entanto, não me questionaram. Eles ficaram felizes por me ter por perto e deixaram óbvio a cada movimento. Viktoria estava especialmente feliz.

“Eu queria que você pudesse voltar para a escola conosco,” Viktoria disse desejosa uma tarde. Ela e eu estivemos passando muito tempo juntas. “Quando você volta?”

“Domingo, logo depois da páscoa.”

Eu senti um pouco de tristeza. Independente de eu ainda estar aqui ou não, eu iria sentir falta dela. “Oh, cara. Eu não percebi que já era tão logo.”

Um pequeno silêncio caiu entre nós; então ela me deu um olhar de lado. “Você pensou... bem, você pensou em talvez voltar para St. Basil conosco?”

Eu encarei. “St. Basil? Sua escola também tem o nome de um santo?” Nem todas tinham. Adrian tinha freqüentado uma escola na costa leste chamada Alder.

“O nosso é um santo humano,” ela disse com um sorriso. “Você poderia freqüentar lá. Você poderia terminar seu último ano – tenho certeza que eles vão receber você.”

De todas as opções malucas que eu tinha considerado nesta viagem, e acreditei em mim – eu considerei um monte de coisas malucas – coisas que nunca passaram pela minha cabeça. Eu saí da escola. Eu tinha a certeza que não havia mais nada que eu pudesse aprender – bem, após encontrar Sydney e de Mark, se tornou óbvio que ainda havia ainda mais algumas coisas.

Considerando o que eu queria fazer com minha vida, no entanto, eu não achei que outro semestre de matemática e ciência faria muito para mim. E quanto ao treinamento para guardião, na maior parte tudo que eu tinha que fazer era me preparar para os testes do fim de ano. Eu de alguma forma duvidava que esses testes e desafios chegariam sequer remotamente perto do que eu já experimentei com os Strigoi.

Eu balancei a cabeça, “Acho que não. Acho que terminei a escola. Além do mais, tudo será em russo.”

“Eles traduzem para você.” Um sorriso travesso se acendeu no rosto dela. “Além do mais, chutar e socar se traduz em qualquer língua.” O sorriso dela desapareceu um pouco com a expressão pensativa dela. “Mas sério. Se você não vai terminar a escola, e você não vai ser um guardião... bem,

porque você não fica aqui? Eu quero dizer, em Baia. Você poderia viver conosco.”

“Não vou ser uma meretriz de sangue,” eu disse imediatamente. Um olhar estranho cruzou o rosto dela. “Não é o que eu quis dizer.”

“Não deveria ter dito isso. Desculpe.” Eu me senti mal pelo comentário. Enquanto eu continuava a ouvir rumores sobre meretrizes de sangue na cidade, eu só tinha visto uma ou duas, e certamente as mulheres Belikov não estavam entre elas. A gravidez de Sonya era um mistério, mas trabalhar numa farmácia não parecia tão sórdido. Eu soube um pouco sobre a situação de Karolina. O pai dos filhos dela era um Moroi que ela aparentemente tinha uma conexão genuína. Ela não tinha se banalizado para ficar com ele, e ele não a usou. Depois que o bebê nasceu, os dois decidiram se separar, mas foi amigável. Karolina agora estava aparentemente saindo com um guardião que a visitava sempre que podia.

As poucas meretrizes de sangue que eu vi na cidade se encaixavam no estereótipo. Suas roupas e maquiagem gritavam sexo fácil. Os machucados em seus pescoços claramente mostrava que elas não tinham problema em deixar seus parceiros beber sangue durante o sexo, o que era a coisa mais baixa que um Dhampir poderia fazer. Só humanos davam sangue para os Moroi. Minha raça não. Permitir isso – particularmente durante a atividade sexual – bem, como eu disse, era baixo. A coisa mais suja das sujas.

“Mamãe adoraria que você ficasse. Você poderia conseguir um trabalho também. Só ser parte da nossa família.”

“Não posso tomar o lugar de Dimitri, Viktoria,” eu disse suavemente.

Ela estendeu a mão e deu um aperto tranqüilizador. “Eu sei. Ninguém espera que você o substitua. Gostamos de você, Rose. Você estar aqui parece o certo – tem um motivo do porque Dimka escolheu ficar com você. Você se encaixa aqui.”

Eu tentei imaginar a vida que ela descrevia. Soava... fácil. Confortável. Nenhuma preocupação. Só viver com uma família adorável, rindo e ficar juntos a noite. Eu poderia viver minha própria vida, sem ter que seguir alguém o dia todo. Eu teria irmãs. Não haveria lutas – a não ser que fosse para defender. Eu poderia desistir desse plano de matar Dimitri – que eu sabia que me mataria também, tanto física quanto espiritualmente. Eu poderia escolher o caminho racional, deixar ele ir e aceitar sua morte. E, ainda sim... se eu fizesse isso, porque não voltar para Montana? Voltar para Lissa e a Academia?

“Eu não sei,” eu disse finalmente a Viktoria. “Não sei o que vou fazer.”

Era logo depois da janta, e ela olhou hesitante para o relógio. “Eu não quero deixar você já que não temos muito tempo juntas, mas... eu fiquei de encontrar alguém...”

“Nikolai?” eu provoquei.

Ela negou, e eu tentei esconder meu desapontamento. Eu o vi algumas vezes, e ele pareceu cada vez mais confiável. Era uma pena que Viktoria não sentia nada por ele. Agora, eu me perguntei se haveria algo impedindo ela – ou melhor, alguém.

“Oh, desembucha,” eu disse com um sorriso. “Quem é ele?”

Ela manteve seu rosto em branco numa boa imitação de Dimitri. “Um amigo,” ela disse evasivamente. Mas pensei ter visto um sorriso nos olhos dela.

“Alguém da escola?”

“Não,” ela suspirou. “E esse é o problema. Vou sentir tanto a falta dele.”

Meu sorriso sumiu. “Posso imaginar.”

“Oh.” Ela parecia envergonhada. “Isso foi idiota da minha parte. Meus problemas... bem, eles não são nada comparado aos seus. Eu quero dizer, não vou ver ele por um tempo... mas vou ver ele. Mas Dimitri se foi. Você não vai ver ele de novo.”

Bem, isso não era inteiramente verdade. Mas eu não disse isso a ela. Ao invés disso eu só disse, “Yeah.”

Para minha surpresa, ela me deu um abraço. “Eu sei como é o amor. Perder isso... eu não sei. Não sei o que dizer. Tudo que posso te dizer é que estamos aqui por você. Todos nós, ok? Você não pode substituir Dimitri, mas você parece ser nossa irmã.”

Ela me chamar de irmã tanto me atordoou quanto aqueceu. Ela teve que ir se preparar para seu encontro afinal de contas. Ela rapidamente trocou de roupa e colocou maquiagem – definitivamente mais do que um amigo, eu decidi – e saiu pela porta. Eu fiquei meio feliz porque eu não queria que ela visse as lágrimas que as palavras dela trouxeram para meus olhos. Eu passei minha vida toda como filha única.

Lissa era o mais perto que eu tinha de uma irmã. Eu sempre pensei em Lissa como uma; uma que agora eu perdi. Ouvir Viktoria me chamar de irmã agora... bem, ligou algo em mim. Algo que me disse que eu realmente tinha amigos e não estava sozinha.

Eu fui até a cozinha depois disso, e Olena logo se juntou a mim. Eu estava procurando comida.

“Foi Viktoria que ouvi sair?” ela perguntou.

“Yeah, ela foi ver um amigo.” Para crédito meu, eu mantive minha expressão neutra. De jeito nenhum eu iria dedurar Viktoria. Olena suspirou. “Eu queria que ela fizesse umas coisas na cidade.”

“Eu faço,” eu disse ansiosa. “Depois que eu pegar algo para comer.”

Ela me deu um sorriso gentil e deu tapinhas na minha bochecha. “Você tem um bom coração, Rose. Posso ver porque Dimka amou você.”

Era tão maravilhoso, eu pensei, como foi aceita a minha relação com Dimitri por aqui. Ninguém mencionou idade ou a relação professor-aluno. Como eu tinha dito Sydney, era como se eu fosse a viúva dele ou algo assim, e as palavras de Viktoria sobre mim ficaram se repetindo na minha cabeça. A maneira como Olena olhava para mim me fez me sentir como se eu realmente fosse sua filha, e mais uma vez, experimentei aqueles sentimentos traidores em relação a minha própria mãe. Ela provavelmente teria zombado de mim e Dimitri. Ela o teria chamado de inadequado e dito que eu era muito jovem. Ou será que ela teria? Talvez eu estivesse sendo muito dura.

Me vendo na frente do armário aberto, Olena balançou a cabeça em reprovação.

“Mas você precisa comer primeiro.”

“Apenas um lanche,” assegurei ela. “Não vai ter nenhum problema.”

Ela acabou cortando pedaços grandes de pão preto que ela assou mais cedo naquele dia e colocou um monte de manteiga, porque ela sabia que eu gostava de uma quantidade generosa nas minhas fatias. Karolina tinha me provocado dizendo que os americanos ficariam chocados em saber o que tinha neste pão, por isso nunca fiz perguntas. Ele era, de alguma forma doce e picante ao mesmo tempo, e eu adorei.

Olena sentou na minha frente e ficou me olhando comer. “Este era o favorito dele quando ele era pequeno.”

“De Dimitri?”

Ela concordou. “Sempre que ele estava de férias da escola, a primeira coisa que ele pedia era esse pão. Eu praticamente tinha que fazer uma nova fornalha toda vez que ele comia. As garotas nunca comeram muito.”

“Caras sempre parecem comer mais.” Eu admito, eu posso acompanhar a maioria deles. “E ele era mais alto e maior que a maioria.”

“Verdade,” ela meditou. “Mas eu finalmente atingi um ponto em que eu fiz ele começar a assar ele mesmo. Eu disse a ele que se ele iria comer toda a minha comida, era melhor ele saber o trabalho que dava fazer.”

Eu ri. “Eu não consigo imaginar Dimitri assando pão.”

E, no entanto, logo que as palavras saíram, eu as reconsiderei. Minhas associações imediatas com Dimitri eram sempre intensas e ferozes; era sua personalidade “sexy”, deus de batalha que vinha a minha mente. No entanto, tinha sido a gentileza e ponderação misturada com aquela capacidade mortal que o faziam ser tão maravilhoso. As mesmas mãos que empalavam com tanta precisão cuidadosamente tiravam o cabelos do meu rosto. Os olhos que poderiam astutamente localizar qualquer perigo na área me olhava com admiração e adoração, como se eu fosse a mulher mais linda e maravilhosa do mundo.

Suspirei, consumida por aquela dor agridoce no meu peito, que se tornou tão familiar agora. Que coisa idiota, ficar agitada com uma fatia de pão entre todas as coisas. Mas era assim que era. Eu ficava emocional sempre que pensava em Dimitri. Os olhos de Olena estavam em mim, doces e compassivos. “Eu sei,” ela disse, adivinhando meus pensamentos. “Eu sei exatamente como se sente.”

“Fica mais fácil?” eu perguntei.

Diferente de Sydney, Olena tinha uma resposta. “Sim. Mas nunca será a mesma coisa.”

Eu não sabia se deveria ou não sentir conforto com aquelas palavras. Depois que terminei de comer, ela me deu uma breve lista de compras, e eu fui para o centro, feliz por estar em movimento lá fora. Inatividade não me caia bem.

Enquanto estava no mercado, fiquei surpresa por encontrar Mark. Eu tinha a impressão que ele e Oksana não vinham muito para a cidade. Eu não me surpreenderia com eles cultivando seu próprio alimento e viver da terra. Ele me deu

um sorriso quente. “Eu fiquei pensando se você ainda estava por aí.”

“Yeah.” Eu mostrei minha cesta. “Estou fazendo umas compras para Olena.”

“Fico feliz que você ainda esteja aqui,” ele disse. “Você parece mais... em paz.”

“Seu anel está ajudando, eu acho. Pelo menos com a paz. Não fez muito no que se trata de decisões.”

Ele franziu, trocando de mão o leite que ele segurava. “Que decisão?”

“O que fazer agora. Aonde ir.”

“Porque não fica aqui?”

Era assustadoramente tão semelhante a conversa que tive com Viktoria. E minha resposta foi igualmente similar. “Não sei o que fazer se eu ficar aqui.”

“Arranje um trabalho. Viva com os Belikov. Eles te amam, sabe. Você se encaixa bem na família.”

Aquele sentimento quente voltou, e de novo eu tentei me imaginar junto com eles, trabalhando numa loja como essa ou atendendo mesas.

“Eu não sei,” eu disse. Eu era um disco arranhado. “Não sei se isso é o certo para mim.”

“Melhor do que a alternativa,” ele avisou. “Melhor do que fugir sem propósito, se jogando na cara do perigo. Essa não é uma escolha.”

E, no entanto, foi a razão de eu ter vindo para a Sibéria em primeiro lugar. Minha voz interior me repreendeu. Dimitri, Rose. Você esqueceu Dimitri? Você esqueceu de que você veio aqui para libertar ele, como ele teria querido? Ou era

isso realmente o que ele teria querido? Talvez ele quisesse que eu ficasse segura. Eu não sabia, e sem a ajuda de Mason, minhas escolhas ficaram ainda mais confusas. Pensar em Mason, de repente me lembrou algo que eu esqueci totalmente.

“Quando nós falamos antes... bem, nós conversamos sobre o que Lissa e Oksana podem fazer. Mas e você?”

Mark estreitou os olhos. “O que você quer dizer?”

“Você já... você já encontrou, um, fantasmas?”

Alguns minutos se passaram e então ele exalou. “Eu esperava que isso não acontecesse com você.”

Me surpreendeu o quão alivio eu senti ao saber que eu não estava sozinha nas minhas experiências fantasmagóricas. Embora agora eu entendesse que ter morrido e ido para o mundo dos mortos me fez um alvo para os espíritos, isso ainda era uma das coisas mais esquisitas de ser shadow-kissed.

“Aconteceu sem você querer?” Eu perguntei.

“A princípio. Então eu aprendi a controlar.”

“Eu também.” De repente, lembrei do celeiro. “Na verdade, isso não é inteiramente verdade.”

Abaixando minha voz ainda mais, eu recapitulei rapidamente o que tinha acontecido em minha viagem para cá com Sydney. Eu nunca tinha falado sobre isso com ninguém.

“Você nunca, nunca mais deve fazer isso de novo,” disse ele severamente.

“Mas eu não queria! Simplesmente aconteceu.”

“Você entrou em pânico. Você precisava de ajuda, e uma parte de você chamou os espíritos ao seu redor. Não faça isso. Não é certo, e é fácil perder o controle.”

“Eu nem sei como fiz isso.”

“Como eu disse, lapso de controle. Nunca deixe seu pânico tirar o melhor de você.”

Uma mulher mais velha passou por nós, um lenço na cabeça e um cesto de hortaliças em seus braços. Eu esperei até que ela se fosse antes de perguntar a Mark, “Porque eles lutam por mim?”

“Porque os mortos odeiam Strigoi. Os Strigoi não são naturais, nem vivo nem morto, só existem em meio termo. Assim como sentimos o mal, o mesmo acontece com os fantasmas.”

“Parece que eles poderiam ser uma boa arma.”

Aquele rosto, normalmente, fácil e aberto, franziu. “É perigoso. Pessoas como você e eu já estamos na beira da escuridão e da insanidade. Apelar para os mortos só nos traz mais perto de perder a cabeça.” Ele olhou para o relógio e suspirou. “Olha, eu tenho que ir, mas estou falando sério, Rose. Fique aqui. Fique longe de problemas. Lute com Strigoi se eles vierem até você, mas não vá atrás deles cegamente. E definitivamente deixe os fantasmas em paz.”

Foram vários conselhos para dar numa mercearia, vários conselhos que eu não tinha certeza de que eu poderia seguir. Mas eu agradeci e mandei lembranças a Oksana antes de pagar e sair. Eu estava voltando para a Olena quando eu virei uma esquina e dei um encontrão em Abe.

Ele estava vestido de sua forma extravagante habitual, vestindo o casaco caro e um lenço amarelo-ouro que combinava com o ouro em suas jóias. Seus guardiões pairavam nas proximidades, e ele se inclinou casualmente contra a parede de um edifício de tijolos.

“Então é por isso que você veio para a Rússia. Para ir para o mercado como um camponês.”

“Não,” eu disse. “Claro que não.”

“Apenas passear então?”

“Não. Eu só estou sendo útil. Pare de tentar obter informações de mim. Você não é tão esperto quanto você pensa que é.”

“Isso não é verdade,” disse ele.

“Olha eu já te disse. Eu vim contar as novidades aos Belikov. Então volte e conte a quem quer que seja que você está trabalhando nisso.”

“E eu te disse para não mentir para mim,” ele disse. De novo, eu vi aquela estranha mistura de perigo e humor. “Você não faz idéia do quão paciente tenho sido com você. De qualquer outro, eu teria conseguido a informação que eu precisava na primeira noite.”

“Sorte minha,” eu surtei em resposta. “E agora? Você vai me levar para o beco e bater em mim até eu te dizer por que estou aqui? Estou perdendo o interesse na rotina de mafioso assustador, sabia.”

“E estou perdendo a paciência com você,” ele disse. Lá se foi o humor, e enquanto ele estava parado perto de mim, não pude deixar de notar inquieta que ele tinha mais músculos do que a maioria dos Moroi. Muitos Moroi

evitavam brigas, mas eu não ficaria surpresa se Abe tivesse brigado com tantas pessoas como seus guardiões. “E honestamente? Eu não me importo mais com o porquê de você estar aqui. Só vá embora. Agora.”

“Não me ameace, velhote. Eu vou embora quando quiser.” Era engraçado, eu tinha acabado de jurar para Mark se eu iria ficar em Baia, mas quando Abe me pressionou, eu só quis me segurar. “Eu não sei o que você está tentando fazer, mas não tenho medo de você.” Isso também não era inteiramente verdade.

“Você deveria ter,” ele respondeu agradável. “Posso ser um amigo muito bom ou um péssimo inimigo. Eu posso fazer com que valha a pena você partir. Podemos fazer um trato.”

Tinha um brilho excitante nos olhos dele enquanto ele falava. Eu lembrei de Sydney dizendo que ele manipulava os outros, e eu tinha o pressentimento que era para isso que ele vivia – negociar, fazer negócios para conseguir o que ele queria.

“Não,” eu disse. “Vou partir quando estiver pronta. E não tem nada que você ou pra quem quer que você esteja trabalhando possam fazer para mudar isso.”

Esperando parecer corajosa, eu virei. Ele me alcançou e agarrou meu ombro, me empurrando para trás, quase fazendo eu derrubar as compras. Eu comecei a entrar no modo de ataque, mas os guardiões dele estavam ali em um segundo. Eu sabia que não iria longe.

“Seu tempo aqui acabou,” assoviou Abe. “Em Baia. Na Rússia. Volte para os EUA. Eu vou te dar o que você precisa – dinheiro, passagem de primeira classe, tanto faz.”

Sai do alcance dele, me afastando com cuidado. “Não preciso da sua ajuda ou do seu dinheiro – que só Deus sabe de onde ele vem.” Um grupo de pessoas viraram no canto do outro lado da rua, rindo e conversando, e eu me afastei mais, certa que Abe não iria fazer uma cena com testemunhas presentes. Me fez sentir corajosa, o que provavelmente foi idiota da minha parte. “E eu já te disse: Eu vou quando quiser.”

Os olhos de Abe se ergueram para os outros pedestres, e ele também se afastou até seus guardiões. Aquele sorriso frio em seu rosto. “E eu te disse. Eu posso ser um amigo muito bom ou um terrível inimigo. Saia de Baia antes que você descubra qual deles sou.”

Ele virou e partiu, para meu alivio. Eu não queria que ele visse quanto medo as palavras dele trouxeram para meu rosto.

Eu fui para cama cedo aquela noite, de repente me sentindo anti social. Eu fiquei deitada ali por um tempo, folheando uma revista que eu não conseguia rir, e incrivelmente me encontrei ficando mais e mais cansada. Eu acho que o encontro com Mark e Abe me cansaram. As palavras de Mark sobre ficar tinham batido perto demais de casa depois da minha conversa com Viktoria. As ameaças de Abe ergueram todas as minhas defesas, me colocando em guarda contra quem quer que estivesse trabalhando com ele para me fazer ir embora da Rússia. Naquele ponto, eu me perguntei, ele realmente perderia a paciência e pararia de tentar negociar?

Cai no sono e um senso familiar de um Adrian sonho me envolveu. Fazia um longo tempo desde que isso aconteceu, e eu acho que ele me ouviu quando eu disse a ele para ficar longe antes. É claro, eu sempre dizia isso a ele. Esse tinha sido o maior período de tempo sem uma visita, e por mais que eu odiasse admitir, eu meio que sentia falta dele.

O lugar que ele escolheu essa vez ficava na propriedade da academia, uma área cheia de árvores perto de um lago. Tudo estava verde e florescendo, e o sol brilhava acima de nós. Eu suspeitei que a criação de Adrian não combinava de como o clima de Montana estava agora, mas de novo, ele estava no controle. Ele poderia fazer o que ele quisesse.

“Pequena Dhampir,” ele disse, sorrindo. “Há quanto tempo.”

“Eu pensei que você tinha terminado comigo,” eu disse, sentando numa enorme pedra.

“Nunca termino com você,” ele disse, enfiando as mãos nos bolsos e andando até mim. “Embora... para falar a verdade, eu pretendi ficar longe dessa vez. Mas, bem, eu tinha que me certificar que você estava viva.”

“Viva e saudável.”

Ele sorriu para mim. O sol brilhou no cabelo castanho dele, fazendo luzes douradas. “Bom. Você parece muito bem, na verdade. Sua aura está melhor do que nunca.” Os olhos dele desceram do meu rosto para onde minhas mãos estavam no meu colo. Franzindo, ele se abaixou e pegou minha mão direita. “O que é isso?”

O anel de Oksana estava nela. Apesar da falta de decoração do anel, o metal brilhava na luz. Os sonhos eram tão

estranhos. Mesmo que Adrian e eu não estivéssemos juntos, exatamente, o anel me seguiu e manteve seu poder forte o bastante para ele sentir.

“Um amuleto. Está fundido com espírito.”

Como eu, isso era aparentemente algo que ele nunca considerou. A expressão dele ficou ansiosa. “E ele cura, certo? É o que está mantendo a escuridão longe da sua aura.”

“Um pouco,” eu disse, agitada com a fixação dele. Eu o tirei e coloquei no meu bolso. “É temporário. Eu conheci outro usuário de espírito – e um Dhampir shadow-kissed.” Mais surpresa se registrou no rosto dele. “O que? Onde?”

Eu mordi meus lábios e balancei a cabeça.

“Merda, Rose! Isso é muito importante. Você sabe que Lissa e eu estivemos procurando por usuários de espírito. Me diga onde eles estão.”

“Não. Talvez mais tarde. Não quero vocês vindo atrás de mim.” Por tudo que sabia, eles já estavam atrás de mim, usando Abe como seu agente. Os olhos verdes dele ficaram irritados. “Olha, finja por um momento que o mundo não gira em torno de você, ok? Isso é sobre Lissa e eu, sobre entender essa magia maluca dentro de nós. Se você tem pessoas que podem nos ajudar, precisamos saber.”

“Talvez mais tarde,” eu repeti dura. “Estarei me mudando logo – então te conto.”

“Porque você é sempre tão difícil?”

“Porque você gosta de mim assim.”

“No momento? Nem tanto.”

Era o tipo de comentário de brincadeira que Adrian normalmente fazia, mas então algo me incomodou. Por alguma razão, eu tinha o menor, menor pressentimento que eu de repente não era tão simpática para ele, como de costume.

“Só tente ser paciente,” eu disse a ele. “Tenho certeza que vocês tem outras coisas para fazerem. E Lissa parece bem ocupada com Avery.” As palavras escaparam antes de eu impedir, e um pouco da amargura e da inveja que eu senti observando eles ontem a noite apareceu no meu tom.

Adrian ergueu uma sobrancelha. “Senhoras e senhores, ela admite. Você esteve espionando Lissa – e sabia.”

Eu desviei o olhar. “Eu só queria saber se ela estava viva também.” Como se eu pudesse ir a qualquer lugar no mundo e não saber disso.

“Ela está. Viva e bem, como você. Er... quase bem.” Adrian franziu. “As vezes eu recebo essa estranha vibração dela. Ela não parece muito certa ou a aura dela pisca um pouco. Nunca dura muito, mas ainda me preocupa.” Algo na voz de Adrian se suavizou. “Avery se preocupa com ela também, então Lissa está em boas mãos. Avery é incrível.”

Eu dei a ele um olhar ferido. “Incrível? Você gosta dela ou algo assim?” Eu não tinha esquecido o comentário de Avery sobre deixar a porta destrancada para ele.

“É claro que gosto. Ela é uma ótima pessoa.”

“Não, eu quero dizer gosta. Não gosta.”

“Oh, eu vejo.” Ele disse, virando os olhos. “Estamos lidando com a definição da escola de ‘gostar’.”

“Você não respondeu a pergunta.”

“Bem, como eu disse, ela é uma ótima pessoa. Inteligente. Extrovertida. Linda.”

Algo na forma como ele disse “Linda” me incomodou. Eu desviei os olhos de novo, brincando com o nazar azul ao redor do meu pescoço enquanto tentava entender meus sentimentos. Adrian entendeu a coisa primeiro.

“Você está com ciúmes, pequena Dhampir?”

Eu olhei para ele. “Não. Se eu fosse ter ciúmes de você, eu teria ficado louca há muito tempo, considerando todas as garotas que você mexe.”

“Avery não é o tipo de garota que você mexe.”

De novo, eu ouvi aquela afeição na voz dele, aquele devaneio. Não deveria ter me incomodado. Eu deveria ficar feliz por ele estar interessado em outra garota. Afinal de contas, eu estive tentando convencer ele a me deixar em paz a um bom tempo. Parte das condições dele me dar dinheiro para essa viagem tinha envolvido prometer a ele em lhe dar uma chance em sair quando – e se – eu voltasse para Montana. Se ele ficasse com Avery, seria uma coisa a menos para me preocupar.

E honestamente, se fosse qualquer outra garota a não ser Avery, eu provavelmente não teria me importado. Mas de alguma forma, a idéia dela encantando ele era demais. Já não era ruim o bastante eu estar perdendo Lissa para ela? Como era possível que uma garota pudesse tão facilmente me substituir? Ela roubou minha melhor amiga, e agora o cara que tinha jurado que eu era a única que ele queria estava considerando me substituir.

Você está sendo hipócrita, uma voz dentro de mim disse. Porque você deveria sentir tanto sobre outra pessoa entrar na vida deles? Você os abandonou. Lissa e Adrian. Eles tem o direito de seguir em frente.

Eu levantei com raiva. “Olha, chega de falar com você hoje. Você vai me deixar sair desse sonho? Não vou te dizer onde estou. Não estou interessada em ouvir sobre o quão maravilhosa Avery é e como ela é melhor do que eu.”

“Avery nunca agiria como um pirralha,” ele disse. “Ela não ficaria tão ofendida por alguém se importar o bastante para checar ela. Ela não me negaria a chance de saber mais sobre minha mágica porque ela não ficaria paranóica que alguém arruinasse a tentativa maluca dela de superar a morte do namorado dela.”

“Não fale comigo sobre ser uma pirralha,” eu respondi. “Você é tão egoísta e se importa só com você mesmo como sempre. Tudo é sempre sobre você – até esse sonho. Você me segura aqui contra a vontade, quer eu queira ou não, porque diverte você.”

“Tudo bem,” ele disse, a voz fria. “Vou terminar isso. E tudo entre nós. Eu não vou voltar.”

“Ótimo. Eu espero que você esteja falando sério dessa vez.”

Os olhos verdes dele foram a última coisa que eu vi antes de acordar na minha cama.

Eu levantei, ofegando. Meu coração parecia estar se quebrando, e eu quase pensei que iria chorar. Adrian tinha razão – eu fui uma pirralha. Eu briguei com ele quando ele não merecia. E ainda sim... eu não fui capaz de impedir. Eu sentia falta de Lissa. Eu sentia falta até de Adrian. E agora

outra pessoa estava tomando o meu lugar, alguém que não iria se afastar como eu o fiz.

Eu não vou voltar.

E pela primeira vez, eu tinha o pressentimento que ele não voltaria.

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