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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 2: Exposição

Minha respiração ficou presa e meu corpo congelou. Por um momento de pânico, eu pensei que eu iria desaparecer, mas o rei correu os olhos entre eu e meu pai, tentando avaliar as nossas reações. Felizmente para mim, meu véu obscureceu o choque que consegui esconder rapidamente. A tensão na mão do meu pai não mostrava nada em seu rosto. Ele deu ao rei um sorriso tenso.

— E quanto tempo você vem planejando isso, grande rei? — Meu pai perguntou educadamente, mas eu poderia dizer que ele estava fervendo.

Meu estômago torceu dolorosamente, uma indicação de que ele estava juntando seu poder ao seu redor. Eu nunca havia sentido o poder emanar dele com tanta força antes. Eu quase podia sentir a escuridão se aglutinando em seu interior. Fervia e se agitava, erguendo-se como um vulcão prestes a entrar em erupção. Ele conseguir contê-lo no final me surpreendeu.

— Oh, durante as últimas várias semanas. Eu tenho que admitir, estou satisfeito com a resposta. Parece que o interesse de muitos homens poderosos foi aguçado. Eu estive muito ocupado alimentando seu desejo de ter como esposa a filha de meu conselheiro militar infame. Muitos vieram e é um tributo à nossa reputação mútua e as incursões feitas em nome de meu reino, meu amigo. Sem mencionar os rumores descarados e verdadeiros da sua grande beleza, minha querida.

O rei acrescentou as palavras finais como uma tentativa de embelezar, mas suas palavras me gelaram. Eu sabia que nada poderia convencer meu pai a me casar com ninguém, nem mesmo um homem que ele poderia ganhar algo. O fato era que eu pertencia a ele e ele não tinha nenhuma intenção de me deixar ir embora. Ele deixou esse fato muito claro para mim ao longo dos anos.

Finalmente, meu pai falou. Dando ao rei um sorriso de chacal, ele disse:

— Como somos felizes por ser de utilidade para a casa real. Minha filha está... honrada em atender os pretendentes que você trouxe para o nosso reino.

Eu não deixei de notar o uso de "nosso", quando ele falou do reino. Por outro lado, o que ele disse me surpreendeu. Quando ele não tinha encontrado uma maneira educada e inteligente para rejeitar a oferta do rei, eu não podia ajudar, mas me perguntei qual seria sua estratégia.

Certamente ele poderia ter argumentado que eu era muito jovem, que eu era a única mulher a cuidar da casa desde o falecimento de minha querida mãe, uma mentira que poderia ser facilmente aceita por alguém tão ingênuo como o rei, ou apenas não era o momento certo. Eu poderia achar mais de uma dúzia de razões para rejeitar tranquilamente a oferta do rei.

Talvez meu pai simplesmente não queria embaraçar o rei. Talvez ele tivesse sido pego de surpresa e ainda não tinha achado uma alternativa. Arriscando um olhar sobre o homem de pé ao meu lado, eu podia ver que ele estava mais uma vez sob controle. Ele estava brincando de ser diplomata enquanto se virava para um homem e depois outro. O crescente poder que eu tinha sentido diminuiu novamente, ocultando-se de todos.

Por mais que eu tentasse não permitir que esperança florecesse no meu coração que a oferta do rei poderia realmente vir a ser concretizada, ela floreceu. Mesmo o mais vil dos homens na festa era uma melhor opção do que ficar com meu pai. Tudo o que precisaria era um lapso na segurança, um pequeno momento de complacência, um fragmento de confiança e eu poderia fugir com Isha. Talvez este esquema chocante seria minha saída.

O rei fez o anúncio imediatamente, convidando o meu pai e eu para ficar com ele no palanque.

— Meus amigos! Juntem-se. Como vocês sabem, eu não fui abençoado com um filho e não tenho sucessor real, mas isso não quer dizer que o meu reino não tem joias premiadas. Na verdade, meu conselheiro militar inteligente e mais leal tem uma filha, na verdade, ela que é mais bonita do que uma deusa e ele gentilmente me permitiu a oportunidade de entregá-la em casamento como se fosse minha filha. O que buscamos é uma união. A combinação perfeita. Ela deseja se juntar com um noivo adequado, é claro, mas isso vai ser uma fusão e não apenas de pessoas, mas das nações, de poder e de riqueza. Venham! Olhem mais de perto. Seu decoro é sem manchas. Sua inocência e juventude permitiria que o homem a molde no tipo de companheira que seria melhor para ele. Vocês não poderiam desejar mulher mais perfeita.

O rei levantou-se e andou ao meu redor. Meu pai, relutantemente soltou meu braço. O fato de que eu estava sendo exposta era humilhante, mas o pior era saber que meu pai de alguma forma me culparia pelas ações do rei. Não só ele iria me bater severamente, mas agora não havia nenhuma maneira dele deixar a cidade. Não com o meu futuro incerto.

Desfrutando de sua arrogância, o rei continuou com um floreio. Cada afirmação que ele fazia agitava a multidão ainda mais.

— Na verdade eu nunca vi uma flor de tal beleza. Ela é como uma jóia rara, é preciosa. Eu gostaria de saber como eu sou um dos poucos privilegiados por tê-la visto sem o véu.

Neste momento meu pai olhou para mim, seus olhos brilhando como punhais afiados. Ele tinha há muito tempo insistido que eu me mantesse velada quando em público e eu sempre me mantive. O rei nunca tivera a oportunidade de ver meu rosto. Pelo menos eu não acreditava que ele poderia ter visto. O único lugar que eu ficava sem véu era dentro do meu próprio quarto.


— Devo confessar, meu amigo. — O rei, bateu nas costas do meu pai — Eu estava passando pela sua casa e vi sua filha com a janela aberta, o rosto dela ficou radiante com o luar. Fiquei fascinado por seu belo rosto.

Meu coração se afundou. Eu geralmente era tão cuidadosa em me esconder do mundo exterior, mas quando a lua estava cheia, alguns meses atrás, eu não conseguia dormir. Estava quente e eu rastejei para minha janela, permitindo que a brisa doce e a luz fria da lua cheia banhassem minha pele quente. Foi quando o rei deve ter me visto.

Agora, graças à confissão do rei, eu seria movida. Não haveria mais flores, porque não haveria mais janelas. Isha e eu seríamos alojadas em uma masmorra murada e alta em um espaço sem luz, sem ar, sem sequer um vislumbre do mundo exterior.

Abatida, emprestei apenas metade de uma orelha ao rei.

— Embora eu seja um homem velho — disse ele — fiquei impressionado com sua grande beleza. Meu conselheiro militar a manteve só para si ao longo dos anos, mas esconder um tesouro do mundo é um desserviço. Portanto, esta noite o meu presente para vocês é permitir que todos vocês partilhem do
esplendor de meu palácio, desfrutem os frutos suculentos de meu jardim e aqueçam-se pela perfeição de nossas mulheres.

Eu não sabia o que o rei ia fazer até ele estar atrás de mim. Desajeitadamente, ele puxou meu véu, puxando-o para longe do meu rosto. As presilhas foram arrancadas dolorosamente do meu cabelo e vários fios pretos longos caíram com o véu dourado. Me senti nua e exposta, mas eu me mantive ereta, sabendo instintivamente que me encolher não seria a coisa certa a fazer.

Por alguma razão, o meu pai permitiu que isso acontecesse. Talvez fosse para me ensinar uma lição ou para me colocar no meu lugar. Seja qual for a razão, eu senti a necessidade inerente de me proteger e proteção, quando vinha de meu pai, significava apenas uma coisa. Então, eu levantei meus ombros, arrumei minha expressão e baixei os olhos.

O rei colocou a mão embaixo do meu queixo e levantou minha cabeça:

— Deixe todos eles verem você, minha querida.

Eu lhe dei um sorriso educado e olhei em volta para as pessoas olhando para mim. Houve alguns suspiros audíveis, vários homens lascivos e algumas mulheres que me olhavam com inveja visível. Outros me deram olhares de piedade ou me olhavam de cima a baixo de maneira fria, calculista, mas qualquer que seja a resposta de cada pessoa, não parecia haver nenhuma alma na sala que não estivesse olhando para mim.

Mas então eu encontrei um. Um único homem estava na parte de trás estudando a estátua da deusa Durga. Ele encheu um prato e estava de costas para nós, enquanto ele comia, parecia totalmente desinteressado no anúncio do rei.

O homem era jovem, talvez apenas alguns anos mais velho do que eu. Ele usava um casaco preto com detalhes dourados que acentuou seus ombros poderosos e cintura fina. Seu cabelo era espesso, na altura dos ombros enrolados nas extremidades e fiquei surpresa ao descobrir que eu queria ver o rosto dele. Por que um homem viria para a festa e não iria querer participar dela? Talvez ele não tivesse interesse em ter uma noiva. Quando ele tocou o mesmo ponto na mão da deusa que eu tinha tocado antes, a minha curiosidade foi provocada. Quem era ele?

— E então? Eu não disse que ela era bonita? — Perguntou o rei abertamente.

— De tirar o fôlego — um homem olhando maliciosamente nas proximidades murmurou enquanto me dava um sorriso sugestivo.

— Muito bonita — um homem mais velho complementou enquanto vinha para a frente e se apresentou para o meu pai e voltou-se para o rei.

O homem mais velho parecia rei. Talvez ele estivesse se oferecendo como noivo.

Eu nunca tinha me permitido cogitar a possibilidade de que eu teria a chance de me casar com alguém jovem e bonito - um homem que eu pudesse amar e vir a confiar. Para os meus propósitos, um homem mais velho poderia ser a melhor escolha. Ele provavelmente seria um meio mais fácil de escapar. Quando o senhor mais velho olhou na minha direção, dei-lhe um sorriso tímido.

Meu pai estava ocupado e não viu, mas Hajari viu e eu sabia que haveria um acerto de contas mais tarde, mas talvez a salvação poderia ser comprada com alguns sorrisos cuidadosos e algum interesse fingido. Quando o rei me apresentou formalmente ao velho sultão, eu bravamente o olhei com orgulho. Não me atrevi a olhar para o meu pai. Infelizmente a minha escolta estava me seguido de perto, pelas costas .

— Não se preocupe com meu segurança, Hajari — eu disse — meu pai adora garantir minha segurança.

— Claro. Eu entendo — o homem bem vestido respondeu. Enquanto ele servia um prato para nós, ele perguntou:

— Você acha que você poderia desfrutar da vida à beira-mar? — Você vive em Mumbai? — Eu perguntei com atenção.

— Não. Eu moro em Mahabalipuram. Você conhece a minha cidade?

— Confesso que não.

— Nossa cidade é agitada com um porto movimentado. Nós negociamos com muitas terras distantes e temos vários artesãos e escultores que fazem nossos templos e santuários bonitos. Talvez você considere visitar.

— Ela não gostaria de viver em uma cidade de marinheiros grosseiros, Devanand. Ela pertence a uma cidade de beleza. Permita-me apresentar-me, minha linda. Meu nome é Vikram Pillai.

— Beh, você é um comerciante! Seu título é comprado. Meu sangue é real!

— Seu sangue é velho. Ela precisa de um noivo que possa andar sem ajuda.

— Como se atreve! Por favor desconsidere suas explosões, minha querida. Uma jovem tão inocente e tão doce como você não deve ser submetida a tais perturbações inapropriadas.

— Sua juventude é o assunto em questão. Eu sou um pretendente muito melhor. E eu posso oferecer riqueza. Não há mais ninguém com caravanas comerciais mais rentáveis.

— Você pode ter mais riqueza à sua disposição, mas você esquece que eu tenho uma frota. Uma aliança com o meu reino seria uma decisão muito sábia.

— Nós vamos ver isso!

— Sim. Certamente iremos!

O homem mais jovem com um bigode caído nos deixou sozinhos e eu me senti grata, mas não foi a primeira ou última interrupção. Um círculo de homens tinha se formado ao redor, cada um clamando por atenção e oferecendo a sua riqueza, suas terras, seus títulos ou, em alguns casos, sua pessoa, em troca pela minha mão em casamento. Era esmagador.

Um pequeno agarrão pegou meu braço e me puxou não muito suavemente do círculo de homens.

— Senhores, minha filha vai voltar em breve. Por favor, permitam-me um momento para falar com ela em particular.

O aperto do meu pai no meu braço era absoluto e havia uma expressão estranha em seu rosto. Não havia dúvidas de que ele estava irritado com toda a situação e achou os homens desagradáveis. Ao mesmo tempo, havia algo por trás de seus olhos, um prazer inexplicável que fez o meu sangue gelar.

Ele acenou para um transeunte e esperou que ficassemos sozinhos, então disse calmamente:

— O rei é cortês. — Suas palavras pingavam sarcasmo — Nos convidou para passar a noite. Você vai se retirar para a ala feminina. Assim que o rei der boa noite aos seus convidados, Hajari vai acompanhá-la até a porta no lado de fora. Você vai se comportar com o decoro que eu espero e pela manhã eu vou chamar você. Se eu descobrir alguma coisa, qualquer coisa, em seu comportamento que eu considere inapropriado ou que não seja do meu agrado, Isha vai sofrer horrivelmente. Você entendeu?

— Sim, pai.

— Bom. Agora cubra seu rosto. Os homens aqui já cobiçaram você o suficiente esta noite, eu suponho.

— Claro.

Imediatamente eu comecei a arrumar o meu véu e quando ele ficou do agrado dele, ele me deixou sozinha novamente com Hajari, que sussurrou ardentemente em meu ouvido:

— Você acha que é a sua chance de fugir, mas você não vai a lugar nenhum. Vi você andar pomposa como se fosse o prêmio do rei quando nós dois sabemos que você não passa de um brinquedo. Uma bonequinha quebrada.

Hajari arriscou passar a mão pelo meu braço. Eu endureci, mas não disse nada.

— Você vê, eu sei o que todos esses outros homens não sabem. Que você gosta de apanhar e um dia, quando seu pai não estiver olhando com cuidado, eu vou lhe mostrar a maneira correta de brincar.

Felizmente, outro pretendente apareceu naquele momento e Hajari recuou. O resto da noite, eu me mantive ocupada sendo escoltada no braço de vários homens, cada um tentando me convencer, de uma forma ou de outra, apesar do fato de que todos nós sabíamos que a decisão estava nas mãos

do rei e de meu pai e não comigo. Se eu fosse capaz de escolher, eu provavelmente escolheria Devanand. A idéia de que Isha e eu poderíamos desaparecer em um navio para longe era atraente.

Durante a noite, eu peguei vislumbres do estranho quieto enquanto ele vagava pelo corredor. Não havia dúvida de que ele era um guerreiro. Sua forma poderosa e a maneira como ele se portava tornaram isso óbvio. Uma serva carregando uma bandeja de frutas cortadas tropeçou e ele não apenas a pegou, mas ajudou a mulher a se endireitar. Naquele momento, ele se virou e eu respirei fundo. Ele era o homem mais bonito que eu já tinha visto.

No braço de Devanand novamente, eu perguntei com cuidado:

— Quem é aquele rapaz? Aquele lá vestido de preto?

— Onde?

— Aquele falando com Vikram Pillai. — Disse baixinho.

— Ah, é o filho mais novo do Rajaram.

— Rajaram? — questionei.

— Sim. Seu irmão é o herdeiro do trono, então ele não é um bom pretendente para você, se é isso que você está pensando. Não me surpreende você ter perguntado sobre ele. Ele é jovem e eu acho que uma garota como você iria achá-lo atraente.

Eu rapidamente dei um tapinha no braço do rei de Mahabalipuram e o tranquilizei.

— Nem um pouco. Eu simplesmente não fui apresentada a ele ainda.

— É improvável que se case antes de seu irmão. Talvez ele esteja aqui para negociar o noivado em seu lugar.

— Ele não veio. Além disso, sendo tão jovem quanto eu, talvez seja melhor ficar com alguém com mais experiência. Um homem mais velho pode me ajudar a navegar pelas águas turbulentas da juventude. Você não concorda?

Ele riu, satisfeito com a minha referência a sua cidade e me apresentou a alguns outros homens que ele considerava aliados.

Finalmente, as festividades foram concluídas e aqueles que ficaram no palácio foram escoltados para vários quartos para descansar. Hajari e eu seguíamos atrás de uma serva que nos conduziu por uma série de corredores longos. Já era tarde e a lua cheia lançava sua luz suave sobre nós enquanto caminhávamos. A cada poucos passos, um arco aberto permitia que a brisa suave da noite balançasse os babados das minhas saias.

Quando chegamos a uma porta dupla talhada, a serva inclinou-se e a abriu, indicando que eu deveria entrar. Hajari estreitou os olhos em alerta, mas não disse nada. Depois que as portas foram fechadas atrás de mim, tirando a visão do homem do meu pai, eu respirei aliviada e segui a serva.

Ela me levou a uma câmara espaçosa, com uma cama enorme. Um banho tinha sido elaborado e ela ficou o tempo suficiente para me ajudar. Um vestido de dormir foi deixado para mim e depois que eu estava confortável, a serva partiu. Eu estava sozinha. Verdadeiramente só. Eu não sabia o que iria acontecer comigo quando o sol nascesse na manhã seguinte, mas no momento, eu estava fora de perigo.

Incapaz de dormir tanto quanto estava exausta, levantei da minha cama e saí para a varanda. A lua tinha se afastado, mas eu imaginei que havia se passado apenas uma hora desde que me recolhi. A brisa suave levou o perfume de jasmim e eu ouvi o som inconfundível de água. Uma série de passos soou acima da minha varanda e de repente eu percebi que o jardim suspenso do rei poderia estar a poucos metros de distância.

Olhando o redor, eu fiquei invisível e, com a lua iluminando o meu caminho, dei um passo, me escondendo na noite.

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