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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 20

Os dias depois disso foram como um sonho. Na verdade, eu honestamente não sei dizer quantos dias passaram. Talvez fosse um. Talvez fosse cem. Eu perdi a noção do dia e noite também. Meu tempo era dividido entre Dimitri e sem - Dimitri. Ele era meu mundo. Quando ele não estava lá, os momentos eram de agonia. Eu passava por eles o melhor que eu podia, mas eles pareciam se arrastar para sempre. A TV era minha melhor amiga durante esses tempos. Eu ficava deitada no sofá por horas, só seguindo pela metade o que estava acontecendo. Em sintonia com o resto da suíte, eu tinha acesso a televisão por satélite, o que significa que estávamos sintonizados em alguns programas americanos. Na metade do tempo, eu não tinha certeza se realmente fazia diferença para mim se a língua era russo ou inglês.

Inna continuou a periodicamente me checar. Ela me trazia refeições e lavava minha roupa – eu estava usando os vestidos agora – e esperava naquele jeito silencioso dela para ver se eu precisava de mais alguma coisa. Eu nunca precisei – pelo menos não dela. Eu só precisava de Dimitri. Cada vez que ela saia, uma parte distante de mim lembrava que eu deveria fazer algo... seguir ela, era isso. Eu tinha um plano de checar a saída e usar ela como um jeito de escapar, certo? Agora, esse plano não parecia mais tão bom. Parecia ser muito trabalho.

E então, finalmente, Dimitri visitava, e a monotonia se quebrava. Ficávamos deitados juntos na cama, um nos

braços do outro. Nunca transamos, mas nos tocamos e nos beijamos e nos perdemos na maravilha do corpo um do outro – as vezes com pouquíssima roupa. Depois de um tempo, eu achei difícil acreditar que eu tive medo da nova aparência dele. Claro, os olhos eram um pouco chocantes, mas ele ainda era lindo... ainda incrivelmente sexy. E depois que conversávamos e ficávamos por um tempo – horas, as vezes – eu deixava ele me morder. Então eu recebia aquela onda... aquela onda maravilhosa e intensa de químicos que me tiravam dos meus problemas.

Quaisquer que fossem as duvidas que eu tinha sobre a existência de Deus elas sumiam naqueles momentos porque certamente, certamente, eu estava tocando Deus quando eu me perdia naquela mordida. Isso era o paraíso.

“Me deixe ver o seu pescoço,” ele disse um dia.

Estávamos deitados juntos como sempre. Eu estava do meu lado, e ele nas minhas costas, o braço ao redor da minha cintura. Eu rolei e tirei meu cabelo de onde ele caia sobre meu pescoço e clavícula. O vestido que eu vestia hoje era azul marinho, feito de alguma matéria brilhante e pegajoso.

“Já?” eu perguntei. Ele normalmente não me mordia até o fim de suas visitas. Enquanto parte de mim ansiava por isso e esperava com antecipação sentir o alto de novo, eu meio que gostava desses momentos antes. Era quando as endorfinas no meu sistema estavam mais baixas, então eu era capaz de algum tipo de conversa.

Conversávamos sobre brigas que estivemos ou a vida que ele imaginava para nós quando eu fosse um Strigoi. Nada

muito sentimental – mas mesmo assim. Eu me preparei para a mordida agora, doendo de antecipação. Para minha

surpresa, ele não se inclinou e afundou seus dentes em mim. Ele pôs a mão no bolso e pegou um colar. Ele era ou de ouro branco ou de platina – eu não tinha as habilidades para dizer qual – e tinha três safiras azuis do tamanho de uma moeda de 25 centavos.

Ele me trouxe várias jóias essa semana, e eu juro que cada peça era mais bonita que a ultima.

Eu a olhei encantada com sua beleza, e o jeito que as pedras azuis brilhavam na luz. Ele colocou o colar contra minha pele e o prendeu atrás do meu pescoço. Passando seus dedos pelas beiradas do colar, ele acenou em aprovação.

“Lindo.” Os dedos dele foram para uma das alças do vestido. Ele deslizou sua mão por dentro enviando excitação pela minha pele. “Combina.”

Eu sorri. Antigamente, Dimitri quase nunca me dava presentes. Ele não tinha como, e eu não os queria mesmo. Agora, eu ficava continuamente deslumbrada pelos presentes que ele parecia ter cada vez que visitava.

“Onde você conseguiu?” eu perguntei. O metal era frio contra minha pele corada mas não tão frio quanto os dedos dele. Ele sorriu. “Eu tenho minhas fontes.”

Aquela voz provocativa em minha cabeça que as vezes conseguia penetrar através da neblina que eu vivia, notou que eu estava envolvido com algum tipo de gangster vampiro. Seus avisos foram imediatamente esmagados e enviados de volta para minha nuvem de sonhos de

existência. Como eu poderia ficar chateada quando o colar era tão lindo? Algo de repente me pareceu engraçado.

“Você é como Abe.”

“Quem?”

“Um cara que conheci. Abe Mazur. Ele é algum tipo de chefe da máfia... ele ficava me seguindo.”

Dimitri endureceu. “Abe Mazur estava te seguindo?”

Eu não gostava do visual negro que repentinamente apareceu em suas feições.

“Yeah. E daí?”

“Porque? O que ele queria com você?”

“Eu não sei. Ele ficava querendo saber porque eu estava na Rússia mas finalmente desistiu e queria que eu fosse embora. Eu acho que alguém de casa o contratou para me encontrar.”

“Eu não quero você perto de Abe Mazur. Ele é perigoso.” Dimitri estava zangado, e eu odiava isso. Momento depois, a fúria enfraqueceu, e ele passou seus dedos pelo meu braço mais uma vez, empurrando a alça mais para baixo. “Claro, pessoas como essas não serão um problema quando você despertar.”

Em algum lugar, no fundo da minha mente, eu me perguntei se Dimitri tinha as respostas que eu queria sobre Abe – sobre o que Abe fazia. Mas falar sobre Abe tinha deixado Dimitri chateado, e eu temia isso, querendo trocar de tópico apressadamente.

“O você esteve fazendo hoje?” eu perguntei, impressionada com a minha habilidade de manter uma

conversa normal. Entre as endorfinas e o toque dele, coerência era difícil.

“Errantes para Galina. Jantar.”

Jantar. Uma vitima. Eu franzi as sobrancelhas. Os sentimentos inspirados em mim não eram tanto de repulsa quanto... ciúmes.

“Você bebeu deles... por diversão?”

Ele correu seus lábios ao longo do meu pescoço, dentes provocando minha pele mais não mordendo. Eu ofeguei e me pressionei mais perto dele.

“Não, Roza. Eles eram comida; isso é tudo. Acabou rápido. Você é a única com quem eu tenho prazer nisso.”

Eu senti uma satisfação presumida nisso, e aquela irritante voz mental apontou que essa era um inacreditavelmente nojento e retorcido ponto de vista para eu ter. Eu meio que esperava que ele fosse me morder logo. Isso geralmente calava a voz mental. Eu o alcancei o toquei o seu rosto, então passei minha mão por aquele cabelo maravilho e sedoso que eu sempre tinha amado. “Você continua esperando para me despertar... mas nós não seremos capazes de fazer mais isso. Strigoi não bebem um dos outros, não é?”

“Não,” ele concordou. “Mas isso valerá a pena. Nós poderemos fazer muito mais...”

Ele deixou o “muito mais” para a minha imaginação, e um calafrio agradável correu por mim. O beijo e o tirar sangue eram intoxicantes, mas haviam alguns dias que eu realmente queria, bem... mais. As memórias na vez que nós fizemos amor me assombravam quando estávamos tão

próximos um do outro, e eu freqüentemente desejava fazer isso de novo. Por qualquer razão, ele nunca foi na direção do sexo, não importava o quão as coisas estivessem quentes. Eu não tinha certeza se ele estava usando aquilo como uma isca para me transformar ou se havia alguma incompatibilidade entre um Strigoi e uma Dhampir. Poderiam os vivos e os mortos fazerem aquilo?

Uma vez, eu teria achado a idéia de sexo com um deles absolutamente repulsiva. Agora... eu apenas não penso muito sobre complicações...

Mas embora ele não tentasse o sexo, ele freqüentemente me provocava com suas caricias, tocando minhas coxas e esterno e outros lugares perigosos. E mais, ele me lembrava como tinha sido naquela única vez, o quão incrível tinha sido, como os nossos corpos se sentiram... a conversa dele sobre essas coisas era mais provocadora que afetuosa, entretanto.

Em meus momentos semi-lúcida, eu honestamente pensava que era estranho que eu ainda não tivesse consentido em me tornar Strigoi. A névoa da endorfina me fazia concordar com quase tudo que ele queria. Eu tinha acabado confortavelmente me vestindo para ele, ficando em minha prisão dourada, e aceitando que ele tomasse uma vitima entre os dias. Ainda mesmo em meus momentos mais incoerentes, mesmo quando eu queria tanto ele, eu não conseguia concordar em me transformar. Havia alguma parte intrínseca de mim que se recusava a ceder. A maioria do tempo, ele iria ignorar minha recusa, como se isso fosse uma piada. Mas de vez em quando, assim que eu recusava,

eu via uma faísca de raiva em seus olhos. Esses momentos me assustavam.

“Aqui vamos nós,” eu tesei. “Os lances do vendedor. Vida eterna. Invencibilidade. Nada ficará em nosso caminho.”

“Isso não é uma piada,” ele disse. Oops. Minha petulância tinha trazido aquela dureza de volta. O desejo e paixão que eu tinha acabado de ver agora quebraram em milhões de pedaços e evaporaram. As mãos que tinham acabado de me acariciar de repente agarravam meus pulsos e me seguravam no lugar enquanto ele se inclinava para baixo. “Nós não podemos ficar assim para sempre. Nós não podemos ficar aqui para sempre.”

Whoa, aquela voz disse. Cuidado. Isso não soa bem. O aperto dele machucava, e eu freqüentemente me perguntava se essa era sua intenção ou se ele apenas não conseguia segurar a sua violência.

Quando ele finalmente me libertou, eu entrelacei meus braços ao redor do pescoço dele e tentei beijá-lo. “Nós não podemos falar sobre isso depois?” Nossos lábios se encontraram, fogo aflorando entre nós fluindo urgentemente pelo meu corpo. Eu podia dizer que ele tinha o mesmo desejo, mas poucos segundos depois, ele se separou. O chateação fria ainda estava em seu rosto.

“Venha,” ele disse, se afastando de mim. “Vamos lá.”

Ele levantou, e eu encarei estupidamente. “Onde nós estamos indo?”

“Para fora.”

Eu sentei na cama, confundida. “Fora... lá fora? Mas... isso não é permitido. Não podemos.”

“Nós podemos fazer qualquer coisa que eu quiser,” ele rebateu. Ele estendeu sua mão e me ajudou. Eu o segui até a porta. Ele era tão habilidoso quanto Inna em me bloquear do teclado, não que isso importasse agora. Não havia nenhuma forma de eu lembrar aquela longa seqüência mais. A porta abriu, e ele me levou pra fora. Eu encarei em maravilha, meu cérebro ofuscado ainda tentando processar a liberdade. Como eu tinha notado naquele dia, a porta dava para um pequeno corredor bloqueado por outra porta. Essa também era pesada e tinha uma tranca teclado.

Dimitri a abriu, e eu estava querendo apostar que as duas portas tinham códigos diferentes.

Pegando meu braço, ele me guiou por essa porta em outro corredor. Apesar do seu aperto forte, eu não consegui evitar em ficar parada. Talvez eu não devesse ter ficado surpresa com a elegância que eu de repente me deparei. Depois de tudo, eu estava vivendo na suíte de um apartamento de cobertura. Mas o corredor que conduzia para fora do meu quarto era neutro e com aparência industrial, e de alguma forma eu tinha imaginado o resto da casa sendo igualmente institucional ou como uma prisão.

Não era. Ao invés, eu me senti como se estivesse em um filme antigo, do tipo onde pessoas tomam chá na sala.

O tapete de pelúcia era coberto por um padrão dourado corrido que se estendia de ambos os lados do corredor. Pinturas que pareciam antigas pontilhavam as paredes, mostrando pessoas de eras atrás em roupas elaboradas que faziam meus vestidos parecerem baratos e ordinários. O lugar todo era iluminado por candelabros que estavam

espaçados ao longo do teto a cada 2 metros ou algo assim. Os cristais em forma de lágrima pegavam a luz com suas facetas, espalhando pequenos borrões de arco-íris nas paredes. Eu olhei, encantada pelo brilho e pela cor, que provavelmente foi a causa de eu ter falhado em perceber outra figura no corredor.

“O que você esta fazendo?”

O som áspero da voz de Nathan me retirou da minha observação do cristal. Ele estava encostado contra a parede oposta a minha porta e se endireitou imediatamente quando nos viu. Ele tinha a mesma expressão cruel no seu rosto que era tão característica dos Strigoi, aquela que eu ocasionalmente via em Dimitri, não importa o quando charmoso e carinhoso ele parecesse as vezes.

A postura de Dimitri se tornou rígida e defensiva. “Estou levando ela para uma caminhada.” Ele meio que soou como se estivesse falando com um cachorro, mas meu medo por Nathan amorteceu qualquer ofensa que eu poderia considerar.

“Isso é contra as regras,” disse Nathan. “Já é ruim o suficiente que você ainda a mantenha aqui. Galina deu ordens para você mantê-la confinada. Nós não precisamos de uma Dhampir selvagem correndo por ai.”

Dimitri apontou na minha direção. “Ela parece como uma ameaça?’

Os olhos de Nathan voaram para mim. Eu não tinha certeza do que ele viu. Eu não achava que eu parecia muito diferente, mas um pequeno sorrisinho apareceu nos seus lábios e prontamente desapareceram quando ele se voltou

para Dimitri. “Não, mas eu fui ordenado a cuidar dessa porta, e eu não vou entrar em problemas para você ter um passeio no campo.”

“Eu irei lidar com Galina. Eu irei dizer a ela que dominei você.” Dimitri deu um sorriso com presas. “Isso não seria muito difícil de ela acreditar.”

O olhar que Nathan deu a Dimitri fez eu subconsciente-mente me afastar até atingir a parede. “Você é tão cheio de si. Eu não te despertei para que assim você pudesse agir como se você estivesse no comando por aqui. Eu fiz isso para que nós pudéssemos usar sua força e conhecimento interno. Você deveria responder a mim.”

Dimitri deu de ombros. Pegando minha mão, ele começou a virar. “Não é minha culpa se você não é forte o suficiente para me mandar fazer isso.”

Foi aí que Nathan se jogou em Dimitri. Dimitri respondeu tão rápido ao ataque que eu pensei que ele sabia que isso ia acontecer. Ele instantaneamente liberou minha mão, virou para segurar Nathan, e jogou o outro Strigoi na parede. Nathan imediatamente levantou – isso levava mais do que aquela batida para afetar alguém como ele – mas Dimitri estava pronto. Ele deu um murro no nariz de Nathan – uma vez, duas e então uma terceira, todas em uma rápida sucessão.

Nathan caiu, sangue cobrindo seu rosto. Dimitri o chutou forte no estômago e pairou em cima dele.

“Não tente,” disse Dimitri. “Você irá perder.” Ele limpou o sangue de Nathan de sua mão e então enlaçou seu dedos

nos meus de novo. “Eu te disse, eu lidarei isso com Galina. Mas obrigado pela preocupação.”

Dimitri se afastou de novo, aparentemente sentindo que não haveria mais ataques. Não houveram. Mas enquanto comecei a seguir ele, eu olhei rapidamente por sobre meus ombros para onde Nathan estava no chão. Os olhos dele atiravam adagas em Dimitri, e eu tinha certeza que nunca vi um olhar de ódio tão puro – pelo menos até ele olhar para mim. Eu senti frio por toda parte e tropecei para seguir Dimitri. A voz de Nathan correu atrás de nós. “Você não está seguro! Nenhum dos dois está. Ela é almoço, Belikov. Almoço.”

A mão de Dimitri apertou a minha mão, e ele continuou a andar. Eu podia sentir a fúria irradiando dele e de repente não tive certeza de quem eu deveria ter mais medo: Nathan ou Dimitri. Dimitri era foda, vivo ou morto vivo. No passado, eu vi ele atacar inimigos sem medo ou hesitação. Ele sempre foi magnífico, se comportando tão bravamente quanto eu contei a família dele. Mas todas aquelas vezes, ele teve uma razão legitima para lutar – normalmente pra se defender. Mas seu confronto com Nathan tinha sido sobre mais. Tinha sido um acerto de dominação e uma chance para tirar sangue. Dimitri pareceu gostar. E se ele decidisse se voltar contra mim daquele jeito? E se minha constante recusa o levasse a tortura, e ele me machucasse até que eu finalmente aceitasse?

“Nathan me assusta,” eu disse, sem querer que Dimitri soubesse que eu tinha medo dele também. Eu me sentia fraca e indefesa, algo que não acontecia comigo muito

freqüentemente. Normalmente, estou pronta para aceitar qualquer desafio, não importando o quão desesperado seja.

“Ele não vai tocar em você,” Dimitri disse duramente. “Você não tem nada para se preocupar.”

Alcançamos um lance de escadas. Depois de alguns degraus, se tornou claro que eu não iria ser capaz de lidar com 4 lutas. Fora meu estupor drogado que as mordidas dele me causavam, a freqüente perda de sangue estava me enfraquecendo e tendo seus efeitos. Sem dizer uma palavra, Dimitri me pegou em seus braços e me carregou para baixo sem esforço, me colocando gentilmente no chão quando alcançamos no fim da escada.

O salão principal da propriedade tinha o mesmo ar do que o salão do andar de cima. A entrada tinha um enorme teto arqueado com um elaborado lustre que era muito mais bonitos que os menores que eu vi. Portas duplas ornamentadas estavam na nossa frente, junto com vitrais. O que também estava na nossa frente era outro Strigoi, um homem sentado em uma cadeira e, aparentemente, vigiando. Perto dele havia um painel fixado na parede com botões e luzes piscando. Um moderno sistema de segurança entre todo o encanto deste mundo antigo. A postura dele endurecia conforme nos aproximávamos, e em um primeiro momento, pensei que era um instinto natural de guarda-costas – até que eu vi seu rosto. Era o Strigoi que eu havia torturado naquela primeira noite em Novosibirsk, o que eu tinha enviado para dizer a Dimitri que eu estava procurando por ele. Seus lábios se enrolaram um pouco para trás enquanto ele encontrava meus olhos.

“Rose Hathaway,” disse o Strigoi. “Eu lembrei do seu nome – como você me disse.”

Ele não disse mais que isso, mas eu apertei ainda mais a mão de Dimitri conforme passávamos. Os olhos do Strigoi nunca me deixaram até que saímos e a porta se fechou atrás de nós.

“Ele quer me matar,” eu disse a Dimitri.

“Todos os Strigoi querem matar você,” Dimitri respondeu.

“Ele realmente quer... eu torturei ele.”

Eu não achei isso reconfortante. Eu estava fazendo inimigos Strigoi demais – mas também, não era como se eu não pudesse realmente esperar fazer amigos Strigoi.

Era noite, é claro. Dimitri não me traria para fora caso contrário. A sala me fez pensar que estávamos na frente da casa, mas o extenso jardim que se espalhava ao nosso redor me fez imaginar se estávamos na parte de trás agora. Ou talvez a entrada da casa estivesse envolvida nesse tipo de vegetação. Estávamos rodeados por um enorme labirinto de arbustos com lindos detalhes. Dentro do labirinto haviam pequenos pátios, decorados com fontes ou estátuas. E em toda parte havia flores e mais flores. O ar estava pesado com o seu cheiro, e eu percebi que alguém teria passado por muitos problemas para encontrar flores que se abrissem a noite. O único tipo que eu imediatamente reconheci foi a jasmim, sua longa, vinha de flores brancas subindo as grandes e estátuas do labirinto.

Andamos em silêncio por um tempo, e eu me encontrei perdida no romance de tudo. Todo o tempo que Dimitri e eu estivemos juntos na escola, eu fui consumida pelo medo

de como conciliar nossa relação e dever. Um momento como esse, andar em um jardim em uma noite de primavera iluminado pelas estrelas, parecia uma fantasia louca demais para sequer começar a considerar ela.

Mesmo sem a dificuldade das escadas, andar mais longo aumentou a exaustão do meu estado. Eu parei e suspirei. “Estou cansada,” eu disse.

Dimitri parou também e me fez sentar. A grama era seca e grossa contra minha pele. Eu deitei contra ela. E um momento depois, ele se juntou a mim. Eu tive um déjà vu, lembrando da tarde que fizemos anjos de neve.

“Isso é incrível,” eu disse, olhando para o céu. Ele estava claro, nenhuma nuvem a vista. “Como é para você?”

“Hmm?”

“Tem luz o bastante para mim conseguir ver claramente, mas ainda está escuro comparado ao dia. Seus olhos são melhores que os meus. O que você vê?”

“Para mim, tudo é tão claro quanto o dia.” Quando eu não respondi, ele acrescentou. “Poderia ser assim para você também.”

Eu tentei imaginar isso. As sombras pareceriam tão misteriosas? A lua e as estrelas brilhariam tão fortemente? “Eu não sei. Eu meio que gosto da escuridão.”

“Só porque você não conhece nada melhor.”

Eu suspirei. “É o que você me diz.”

Ele virou em minha direção e tirou o cabelo do meu rosto. “Rose, isso está me deixando louco. Estou cansado de esperar. Eu quero que fiquemos juntos. Você não gosta

disso? O que temos? Poderia ser ainda melhor.” As palavras dele soavam românticas, mas não o tom.

Eu gosto disso. Eu amava a neblina em que eu vivia, a neblina em que todas as preocupações desapareciam. Eu amava estar perto dele, amava o jeito que ele me beijava e me dizia que ele me queria...

“Porque?” eu perguntei.

“Porque o que?” ele soava intrigado, algo que eu não tinha ouvido de um Strigoi.

“Porque você me quer?” eu não fazia nem idéia do porque eu tinha perguntado isso. Ele aparentemente também não sabia.

“Porque eu não iria querer você?”

Ele falou de um jeito tão óbvio, como se fosse a pergunta mais idiota do mundo. Provavelmente era, eu percebi, e mesmo assim... eu de alguma forma estive esperando uma resposta diferente.

Então, meu estômago se apertou. Com todo o tempo que eu passei com Dimitri, eu realmente fui capaz de ignorar a náusea dos Strigoi. Mas a presença de outro Strigoi a aumentou. Eu a senti ao redor de Nathan e a senti agora. Eu sentei, e Dimitri também, quase ao mesmo tempo. Ele provavelmente foi alertado por sua audição superior.

Uma forma negra se aproximou de nós, apagando as estrelas. Era uma mulher, e Dimitri levantou. Eu fiquei onde estava, no chão. Ela era incrivelmente bonita, de um jeito duro e terrível. O corpo dela era similar ao meu, indicando que ela não era Moroi quando foi transformada. Isaiah, o Strigoi que me capturou, era muito velho e poder irradiava

dele. Essa mulher não esteve por ai há tanto tempo, mas eu podia sentir que ela era mais velha que Dimitri e muito mais forte.

Ela disse algo em russo para ele, e a voz dela era tão fria quanto bonita. Dimitri respondeu, seu tom confiante e educado. Eu ouvi o nome de Nathan ser mencionado algumas vezes enquanto eles conversavam. Dimitri se abaixou e me ajudou a levantar, e eu me senti envergo-nhada pela quantidade de vezes que precisei da ajuda dele,

quando eu costumava quase me comparar a ele.

“Rose,” ele disse, “essa é Galina. Foi ela quem foi gentil o bastante para deixar você ficar.”

O rosto de Galina não parecia tão gentil. Ele era vazio de emoções, e eu senti como se toda minha alma estivesse exposta a ela. Enquanto eu estava incerta sobre muitas coisas por aqui, eu peguei o bastante para perceber que minha residência contínua aqui era uma coisa rara e frágil. Eu engoli.

“Spasibo,” eu disse. Eu não sabia como dizer a ela que era um prazer conhecer ela – e honestamente, eu não tinha certeza se era – mas eu achei que um simples obrigado era bom o bastante. Se ela foi a antiga instrutora e treinadora dele em uma academia normal, ela provavelmente sabia inglês e estava fingindo como Yeva. Eu não fazia idéia do porque ela faria isso, mas se você poderia quebrar o pescoço de uma Dhampir adolescente, você poderia fazer o que quisesse.

A expressão de Galina – ou a falta dela – não mudou com meu obrigado, e ela voltou sua atenção de volta a Dimitri.

Eles conversaram sobre mim, e Dimitri gesticulou para mim algumas vezes. Eu reconheci a palavra forte.

Finalmente, Galina falou algo que soava como o ponto final e partiu sem dizer nenhum tipo de adeus. Nem Dimitri nem eu nos movemos até que eu senti a náusea sumir.

“Anda,” ele disse. “Devemos voltar.”

Andamos pelo labirinto, embora eu não fizesse idéia como ele sabia aonde ir. Era engraçado. Quando eu cheguei, meu sonho tinha sido sair e escapar. Agora aqui estava eu... bem, não parecia tão importante. A raiva de Galina parecia.

“O que ela disse?” eu perguntei.

“Ela não gosta que você ainda esteja aqui. Ela quer que eu acorde ou mate você.”

“Oh. Um, o que você vai fazer?”

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. “Vou esperar mais um pouco e então... vou fazer a escolha por você.”

Ele não especificou que escolha ele faria, e eu quase comecei meus apelos de morrer antes de me tornar Strigoi. Mas de repente, ao invés disso, eu disse, “Quanto tempo?”

“Não muito, Roza. Você precisa escolher. E fazer a escolha certa.”

“Que é?”

Ele ergue suas mãos. “Tudo isso. Uma vida juntos.”

Saímos do labirinto. Eu olhei para a casa – que era loucamente enorme quando vista do lado de fora – e o lindo jardim ao nosso redor. Era como algo saído de um sonho. Além disso, tufos do deserto rolavam para longe, eventualmente se perdendo na escuridão e se misturando com o céu negro – a não ser por uma pequena parte que

tinha um suave brilho púrpura no horizonte. Eu franzi, o estudando, então voltei minha atenção de volta a Dimitri.

“E então o que? Então vou trabalhar para Galina também?”

“Por um tempo.”

“Por quanto tempo?”

Paramos do lado de fora da casa. Dimitri olhou nos meus olhos, seu rosto tinha um olhar que fez eu me afastar. “Até matarmos ela, Rose. Até matarmos ela e pegarmos tudo isso nós mesmos.”

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