Eu não reconheci o cara que Sydney mandou para me encontrar quando chegamos em Novosibirsk, mas ele tinha a mesma tatuagem dourada que ela. Ele tinha um cabelo cor de areia e estava perto dos 30 – e era humano, é claro. Ele parecia competente e de confiança, e enquanto eu estava inclinada contra o carro, ele riu e falou com o casal de idosos como se eles fossem melhores amigos. Havia um ar profissional e tranqüilizador nele, e logo eles estavam sorrindo também. Eu não tenho certeza do que ele disse a eles, talvez que eu era a sua filha desobediente ou algo assim, mas eles aparentemente se sentiram bem o bastante para me deixar nas mãos dele. Eu suponho que com o trabalho deles, o encanto alquimista estava em ação.
Quando o senhor e a mulher partiram, o comportamento dele mudou levemente. Ele não parecia tão frio quanto Sydney inicialmente havia sido, mas não havia risadas ou piadas comigo. Ele se tornou distante e pronto para negócios, e eu não pude me impedir de pensar nas histórias dos homens de preto, as pessoas que limpavam depois de encontrar extraterrestres para manter o mundo ignorante da verdade.
“Você pode andar?” ele perguntou, me olhando de cima abaixo.
“Neste momento isso é incerto,” eu respondi.
Acabou que eu conseguia, só não muito bem. Com a ajuda dele, eu eventualmente acabei em um condomínio na parte
residencial da cidade. Eu estava com olho preto e mal era capaz de ficar de pé naquele ponto. Havia outras pessoas lá, mas nenhuma deles registradas. A única coisa que importava era o quarto que alguém pegou para mim. Eu tive força o bastante nesse ponto para me soltar do braço que me suportava e cair de cara no meio da cama. Eu adormeci instantaneamente.
Eu acordei com o sol claro enchendo meu quarto e vozes falando em tom baixo. Considerando tudo que passei, eu não ficaria surpresa de acordar e ver Dimitri, Tatiana, ou até mesmo a Dr. Olendzki da academia ali. Ao invés disso, era o rosto de Abe que olhava para mim, a luz fazendo todas as jóias dele brilharem.
“Saudações, Zmey,” eu disse fracamente. De alguma forma, ele estar aqui não me surpreendia. Sydney teria que contar a seus superiores sobre mim, que iriam contar a Abe. “Gentil da sua parte visitar.”
Ele balançou a cabeça, com um sorriso triste. “Eu acho que você me superou quando se trata de passar de fininho por cantos escuros. Eu pensei que você estava a caminho de Montana.”
“Da próxima vez, se certifique de escrever alguns detalhes a mais em sua barganha. Ou só arrume minhas coisas e me mande para os EUA de verdade.”
“Oh,” ele disse, “é exatamente isso que pretendo fazer.” Ele continuou sorrindo enquanto falou isso, mas de alguma forma, eu tive o pressentimento que ele não estava brincando. E de repente, eu não temia mais esse fato. Ir para casa parecia muito bom.
Mark e Oksana andaram para parar ao lado dele. A presença deles era inesperada mas bem vinda. Eles sorriam também, rostos melancólicos mas aliviados. Eu sentei na cama, surpresa por conseguir me mexer.
“Você me curou,” eu disse a Oksana. “Ainda dói, mas não parece que vou morrer, o que eu tenho que pensar que é uma melhora.”
Ela concordou. “Eu fiz o bastante para me certificar que você não estivesse em perigo imediato. Eu achei que poderia fazer o resto quando você acordasse.”
Eu balancei a cabeça. “Não, não. Vou me recuperar por conta própria.” Eu sempre odiava quando Lissa me curava. Eu não queria que ela desperdiçasse sua força comigo. Eu também não queria que ela convidasse o efeito colateral do espírito. Lissa...
Eu tirei as cobertas de cima de mim. “Oh meu Deus! Eu preciso ir para casa. Agora mesmo.” Imediatamente, três pares de braços bloquearam meu caminho.
“Espera aí,” disse Mark. “Você não vai a lugar nenhum. Oksana só curou você um pouco. Você está longe de se recuperar.”
“E você ainda não nos contou o que aconteceu,” disse Abe, os olhos mais astutos do que nunca. Ele era alguém que precisava saber tudo, e os mistérios ao meu redor provavelmente deixavam ele maluco.
“Não há tempo! Lissa está com problemas. Eu preciso voltar para a escola.” Tudo estava voltando para mim. O comportamento instável de Lissa e as coisas malucas, impulsionadas por algum tipo de compulsão – ou super
compulsão, eu suponho, já que Avery foi capaz de me empurrar da cabeça de Lissa. “Oh, agora você quer voltar para Montana?” exclamou Abe. “Rose, mesmo que houvesse um avião esperando por você no outro quarto, é uma viagem de 24 horas, no mínimo. E você não está em condições de ir a parte alguma.”
Eu balancei a cabeça, ainda tentando levantar. Depois do que enfrentei ontem a noite, esse grupo não era uma ameaça – bem, talvez Mark fosse – mas eu poderia começar a dar socos. E yeah, eu ainda não sabia o que Abe poderia fazer.
“Você não entende! Alguém está tentando matar Lissa, ferir ela ou...”
Bem, eu não entendia o que Avery queria. Tudo o que eu sabia era que Avery tinha estado de alguma forma compelindo Lissa a fazer todo tipo de coisa imprudente. Ela tinha que ser incrivelmente forte no espírito não só para conseguir aquilo mas também para esconder de Lissa e Adrian. Ela até criou uma aura falsa para esconder a dourada dela. Eu não fazia idéia de como essa magnitude de poder era possível, particularmente considerando a personalidade amor-diversão de Avery dificilmente poderia ser chamada de insana. Qualquer que fosse o esquema dela, Lissa estava em risco. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Removendo Abe da equação, eu olhei para Mark e Oksana implorando. “É a minha parceira de laço,” eu expliquei. “Ela está com problemas. Alguém está tentando machucar ela. Eu tenho que ir até ela – vocês entendem porque eu preciso.”
E eu vi no rosto deles que eles entendiam. Eu também sabia que em minha situação, eles tentariam fazer exatamente a mesma coisa um pelo outro.
Mark suspirou. “Rose... vamos te ajudar a chegar até ela, mas não podemos fazer isso agora.”
“Vamos contatar a escola,” disse Abe muito “por sinal”. “Eles vão cuidar disso.”
Certo. E como exatamente faríamos isso? Ligar para o diretor Lazar e dizer a ele que a sua filha festeira está na verdade corrompendo e controlando as pessoas com poderes psíquicos e que ela precisava ser presa pelo bem de Lissa e todo mundo? Minha falta de resposta pareceu fazer eles pensarem que me convenceram, Abe em particular. “Com a ajuda de Oksana, você provavelmente estará em condições boas o bastante para partir amanhã,” ele acrescentou. “Eu posso reservar um vôo matutino no dia seguinte.”
“Ela vai ficar bem até lá?” Oksana gentilmente me perguntou.
“Eu... eu não sei...” O que Avery poderia fazer nesses dois dias? Alienar e envergonhar Lissa ainda mais. Coisas horríveis, mas não eram permanentes ou caso de vida ou morte. Certamente, certamente... ela ficará bem esse tempo, certo? “Me deixe ver...”
Eu vi os olhos de Mark se alargarem levemente quando ele percebeu o que eu estava prestes a fazer. Então não vi mais nada no quarto porque eu não estava mais lá. Eu estava na cabeça de Lissa. Um novo conjunto de coisas estava ao meu redor, e por meio segundo, eu pensei que estava na ponte
de novo e estava olhando para baixo para as águas negras e uma fria morte. Então eu ganhei controle sobre o que vi – ou melhor, o que Lissa viu. Ela estava parada na beira de uma janela de algum prédio do campus. Era noite. Eu não sabia dizer que prédio era, mas não importava. Lissa estava no que parecia ser o sexto andar, parada ali de salto alto, rindo sobre algo enquanto o chão escuro ameaçava baixo. Atrás dela, eu ouvi a voz de Avery.
“Lissa, cuidado. Você não deveria estar aí.”
Mas tinha o mesmo significado duplo que permeava tudo o que Avery fazia. Mesmo enquanto ela dizia essas palavras de cuidado, eu podia sentir um impulso descuidado em Lissa, algo dizendo a ela que estava tudo bem estar onde ela estava e para não se preocupar muito. Então, eu senti aquele toque na minha mente, e aquela voz irritante.
Você de novo?
Eu fui forçada a sair, de volta no quarto em Novosibirsk. Abe estava surtando, aparentemente pensando que eu entrei em um estado catatônico, e Mark e Oksana estavam tentando explicar para ele o que tinha acontecido. Eu pisquei e esfreguei minha cabeça enquanto me recompunha, e Mark suspirou aliviado.
“É muito mais estranho ver alguém fazer do que eu mesmo fazer.”
“Ela está com problemas.” Eu disse, tentando levantar de novo. “Ela está com problemas... e eu não sei o que fazer...”
Eles tinham razão em dizer que não tinha como eu chegar até Lissa tão cedo. E mesmo que eu seguisse a sugestão de Abe e contatasse a escola... eu não tinha certeza de onde
Lissa estava ou sequer alguém acreditaria em mim. Eu pensei em voltar para a mente dela e tentar ver a localização de Lissa na mente dela, mas Avery provavelmente me expulsaria de novo. Pelo que eu brevemente senti, Lissa não estava com seu celular – o que não era surpresa. Haviam regras estritas sobre ter eles nas aulas, então ela normalmente deixava ele no dormitório.
Mas eu conhecia alguém que teria o seu. E que acreditaria em mim.
“Alguém tem um telefone?” eu perguntei.
Abe me deu o dele, e eu disquei o número de Adrian, surpresa por ter memorizado ele. Adrian estava bravo comigo, mas ele se importava com Lissa. Ele iria ajudar ela, não importava o sentimento dele em relação a mim,. E ele iria acreditar em mim quando eu tentasse explicar a trama de indução via espírito.
Mas quando a outra linha atendeu, foi a caixa de mensagens que respondeu, não ele próprio. “Eu sei o quão devastado você deve estar por sentir minha falta,” a voz alegre dele disse, “mas deixe uma mensagem, e eu vou tentar aliviar sua agonia assim que possível.”
Eu desliguei, me sentindo perdida. De repente, eu olhei para Oksana enquanto uma das minhas idéias malucas vinha a mente.
“Você... você pode fazer aquela coisa... onde você entra na cabeça de alguém e toca seus pensamentos, certo? Como você fez comigo?”
Ela fez uma leve careta. “Sim, mas não é algo que gosto de fazer. Eu não acho certo.”
“Você pode usar compulsão em alguém quando entra em sua cabeça?”
Ela parecia ainda mais enojada. “Bem, sim, é claro... as duas coisas são na verdade muito similares. Mas tocar na mente de alguém é uma coisa e forçar eles a realizar um comportamento indesejado é algo completamente diferente.”
“Minha amiga está prestes a fazer algo perigoso,” eu disse. “Pode matar ela. Ela está sendo compelida, mas eu não posso fazer nada. O laço não me permite atingir ela ativamente. Eu só posso observar. Se você alcançar a mente da minha amiga e compelir ela para fora do perigo...”
Oksana balançou a cabeça. “Supondo que moralidade não fosse o problema, eu não posso alcançar a mente de quem não está aqui – muito menos alguém que eu nunca conheci.”
Eu passei a mão pelo cabelo, o pânico aumentando. Eu queria que Oksana soubesse como andar por sonhos. Isso pelo menos daria a ela a capacidade de longa distância. E todos esses poderes de espírito pareciam ser um fora do outro, cada um com algumas nuances adicionais.
Alguém que podia andar por sonhos poderia dar o próximo passo e visitar alguém acordado.
Uma idéia ainda mais louca veio até mim. Esse era o dia de baixar a guarda. “Oksana... você pode alcançar minha mente, certo?”
“Sim,” ela reafirmou.
“Se eu... se eu estivesse na cabeça da minha parceira de laço na hora, você poderia me alcançar e então alcançar a mente dela? Eu poderia, tipo, ser o link entre vocês?”
“Eu nunca ouvi falar de nada assim,” murmurou Mark.
“Isso porque nunca tivemos tantos usuários de espírito e shadow-kissed por perto,” eu apontei.
Abe, compreensivelmente, parecia totalmente perdido.
Uma sombra caiu no rosto de Oksana. “Eu não sei...”
“Ou funciona ou não,” eu disse. “Se não funcionar, então nenhum mal foi feito. Mas se você puder alcançar ela através de mim... você pode compelir ela.” Ela começou a falar, e eu a cortei. “Eu sei, eu sei... você acha que é errado. Mas essa outra usuária de espírito? É ela que está errada. Tudo o que você tem que fazer é compelir Lissa para fora de perigo. Ela está pronta para pular pela janela! Impeça ela agora; então eu vou até ela em outro dia e conserto as coisas.”
E por consertar as coisas, eu me refiro a arruinar o rosto bonito de Avery com um olho roxo.
Em minha bizarra vida, eu me acostumei as pessoas – principalmente adultos – rejeitando minhas incríveis idéias e proclamações. Eu tive muitos problemas para convencer pessoas que Victor tinha seqüestrado Lissa e uma dificuldade igual de fazer os guardiões acreditarem que a escola estava sob ataque. Então quando situações como essa aconteciam, parte de mim quase esperava resistência. Mas o negócio era que, sendo tão estáveis, Oksana e Mark estiveram lutando com espírito por quase sua vida toda.
Loucura era um tipo de maldição para eles, e depois de um momento, ela não discutiu mais.
“Muito bem,” ela disse. “Me dê suas mãos.”
“O que está acontecendo?” perguntou Abe, ainda sem noção. Eu recebi uma certa quantidade de satisfação em ver ele fora da casinha para variar. Mark murmurou algo para Oksana em russo e a beijou na bochecha. Ele estava avisando ela para ter cuidado, não condenando ela por sua escolha. Eu sabia que ele iria querer a mesma coisa se ela estivesse no lugar de Lissa. O amor que passou entre eles era tão profundo e tão forte que eu quase perdi minha resolução nisso. Esse tipo de amor me lembrava Dimitri, e se eu me permitisse pensar por mesmo que um momento mais, eu iria reviver ontem a noite...
Eu peguei as mãos de Oksana, um nó de medo se formando no meu estômago. Eu não gostava da idéia de alguém estar na minha mente, embora esse fosse um sentimento hipócrita para alguém que estava constantemente viajando na mente da sua melhor amiga. Oksana me deu um pequeno sorriso, embora fosse óbvio que ela estava tão nervosa quanto eu.
“Sinto muito,” ela disse. “Eu odeio fazer isso com as pessoas...” E então eu senti, a mesma coisa que aconteceu quando Avery me expulsou. Era como uma sensação física de alguém tocando meu cérebro. Eu ofeguei, olhando nos olhos de Oksana enquanto ondas de frio e calor passavam por mim. Oksana estava na minha cabeça.
“Agora vá até sua amiga,” ela disse.
Eu fui. Eu foquei meus pensamentos em Lissa e encontrei ela ainda parada na beira da janela. Era melhor ela estar lá do que no chão, mas ainda queria ela fora dali e de volta para seu quarto antes que algo acontecesse. Mas não era eu que tinha que fazer isso. Eu era o táxi, por assim dizer. Oksana era quem tinha literalmente que convencer Lissa a sair dali. Só que eu não tinha indicações de que a outra mulher tinha vindo comigo. Quando eu pulei para a mente de Lissa, eu perdi os sentidos de Oksana. Mais nenhum formigamento na minha mente.
Oksana? Eu pensei. Você está aí?
Não houve resposta – não de Oksana, pelo menos. A resposta veio de uma fonte muito inesperada.
Rose?
Era a voz de Lissa que falava na minha mente. Ela congelou sua posição na janela e abruptamente cortou o que quer que fosse que ela estava rindo com Avery. Eu senti o terror e confusão de Lissa enquanto ela se perguntava se ela estava me imaginando. Ela olhou ao redor do quarto, os olhos dela passando por Avery.
Avery reconheceu que algo estava acontecendo, e o rosto dela endureceu. Eu senti o senso familiar da presença dela na mente de Lissa e não fiquei surpresa quando Avery tentou me expulsar de novo. Só que – não funcionou.
Avery me expulsar sempre pareceu como um empurrão de verdade. Eu tive a impressão que quando ela tentou agora, tinha parecido atingir uma parede de tijolos para ela. Não era mais tão fácil me expulsar. Oksana estava comigo de alguma forma, me emprestando sua força. Avery ainda
estava na linha de visão de Lissa, e eu vi aqueles adoráveis olhos azuis acinzentados se alargarem com choque que ela não podia me controlar.
Oh, eu pensei. Tá valendo, vadia!
Rose? Ali estava a voz de Lissa de novo. Estou ficando louca? Ainda não. Mas você tem que descer, agora. Eu acho que Avery está tentando matar você.
Me matar? Eu podia sentir e ouvir a incredulidade de Lissa. Ela nunca faria isso. Olha, não vamos discutir agora. Só saia da janela e dê boa noite.
Eu senti o impulso em Lissa, senti ela se mexer e começar a colocar um pé para baixo. Então foi como se um núcleo dela a tivesse feito parar. O pé dela ficou onde estava... e devagar começou a se firmar...
Era o trabalho de Avery. Eu me perguntei se Oksana, oculta no fundo dessa ligação, podia sobrepujar essa compulsão. Não, Oksana não estava ativa aqui. Os poderes de espírito dela tinham de alguma forma me feito comunicar ativamente com Lissa, mas ela estava impassiva. Eu esperava ser a ponte e através dela Oksana iria aparecer na mente de Lissa e compelir ela. A situação estava invertida agora, e eu não tinha poderes de compulsão. Tudo que eu tinha era um soco legendário e poderes de persuasão.
Lissa, você tem que lutar com Avery, eu disse. Ela é uma usuária de espírito, e ela está compelindo você. Você é uma das usuárias de compulsão mais forte que conheço. Você deveria ser capaz de lutar com ela.
Medo me respondeu. Eu não posso...eu não posso compelir agora.
Porque não?
Porque estive bebendo.
Eu mentalmente gemi. É claro. Era por isso que Avery era sempre tão rápida em fornecer álcool para Lissa. Ele amortecia o espírito, como demonstrado nas freqüentes indulgencias de Adrian. Avery tinha encorajado a bebida para que as habilidades de Lissa de usar espírito enfraquecessem e dessem a ela menos resistência. Houve várias vezes que Lissa não foi capaz de saber exatamente o quanto Avery esteve bebendo; em retrospectiva, Avery deveria estar fazendo uma bela quantidade de fingimento. Então use força de vontade normal, eu disse a ela. É possível resistir a compulsão.
Era verdade. Compulsão não era um bilhete automático para dominação mundial. Algumas pessoas eram melhores em resistir do que outras, embora um Strigoi ou usuário de espírito certamente complicassem as coisas.
Eu senti Lissa aumentar sua resolução, senti ela repetir de novo e de novo minhas palavras, que ela tinha que ser forte e para sair da beira da janela. Ela trabalhou para mandar para longe aquele impulso que Avery tinha implantado, e sem saber como, eu de repente me encontrei sendo empurrada. Lissa e eu juntamos nossa força e começamos a empurrar Avery para fora.
No mundo físico, os olhares de Avery e Lissa estavam trancados enquanto a luta psíquica continuava. O rosto de Avery mostrava uma forte concentração que de repente ficou sobre esta com choque. Ela notou eu lutando com ela
também. Os olhos dela se estreitaram, e quando ela falou, ela se dirigiu a mim e não a Lissa.
“Oh,” Avery assoviou, “você não quer mexer comigo.”
Eu não queria?
Houve uma onda de calor e aquele sentimento de algo tocando minha mente. Só que não era Oksana. Era Avery, e ela estava fazendo uma séria investigação pelos meus pensamentos e memórias. Eu entendi agora o que Oksana quis dizer sobre ser invasivo e violador. Não era apenas olhar pelos olhos de alguém; era espionar seus pensamentos mais íntimos.
E então, o mundo ao meu redor se dissolveu. Eu estava em um quarto que eu não reconheci. Por um momento, eu pensei que estava de volta na propriedade de Galina.
Certamente tinha aquele ar rico e caro. Mas não. Depois de um momento de examinação, eu percebi que isso não era o mesmo. Os móveis eram diferentes. Até a vibração era diferente. A casa de Galina tinha sido linda, mas havia algo frio e impessoal nela. Esse lugar era convidativo e claramente bem amado. O sofá tinha uma colcha jogada no seu canto, como se alguém – ou talvez dois alguém – tivessem estado fazendo carícias debaixo dele. E embora o aposento não estivesse desarrumado, exatamente, haviam objetos espalhados – livros, fotos – que indicavam que esse lugar era usado e não era só para mostrar.
Eu andei até a pequena prateleira e peguei uma das fotos. Eu quase a soltei quando eu vi o que era. Era uma foto de Dimitri e eu – mas eu não tinha memória dela. Estávamos parados de braços dados, inclinando nossos rostos juntos
para se certificar que nós dois estivéssemos na foto. Eu estava sorrindo amplamente, e ele também usava um jovial sorriso, um que eu dificilmente via nele. Ele suavizava um pouco da protetora ferocidade que normalmente preenchia as feições dele e o fazia parecer mais sexy do que eu já tinha imaginado. Um pedaço daquele cabelo castanho se soltou do rabo de cavalo e estava na sua bochecha. Além de nós havia uma cidade que eu imediatamente reconheci: São Petersburgo. Eu franzi. Não, essa foto definitivamente não poderia existir.
Eu ainda estava examinando ela quando eu ouvi alguém entrar na sala. Quando eu vi quem era, meu coração parou. Eu coloquei a foto de volta na prateleira com mãos trêmulas e dei alguns passos para trás.
Era Dimitri.
Ele usava jeans e uma camiseta vermelha casual que cabia perfeitamente naquele corpo musculoso. O cabelo dele estava solto e levemente desalinhado, como se ele tivesse acabado de sair do banho. Ele segurava duas canecas e riu quando me viu.
“Ainda não está vestida?” ele perguntou, balançando a cabeça. “Eles vão chegar aqui a qualquer minuto.”
Eu olhei para baixo e vi que eu usava calça de pijama rosa e uma camiseta. Ele me entregou uma caneca, e eu fiquei muito atordoada para fazer qualquer coisa a não ser pegar ela. Eu olhei dentro dela – chocolate quente – e então olhei para ele. Não havia vermelho em seus olhos, nem maldade em seu rosto. Só um lindo calor e afeição. Ele era meu
Dimitri, o que me amava e me protegia. O que tinha um coração e alma puros.
“Quem... quem está vindo?” eu perguntei.
“Lissa e Christian. Eles estão vindo para tomar café.” Ele me deu um olhar confuso. “Você está bem?”
Eu olhei ao redor, de novo me confortando no aposento. Através de uma janela, eu vi um quintal cheio de árvores e flores. O sol tocava no carpete. Eu voltei minha atenção de volta para ele e balancei minha cabeça. “O que é isso? Onde estamos?”
A expressão confusa dele se tornou um franzido. Dando um passo para frente, ele pegou minha caneca e colocou a minha e a dele na prateleira. As mãos dele pararam nos meus quadris, e eu recuei mas não me afastei – como eu poderia quando ele parecia tanto com meu Dimitri?
“Essa é nossa casa,” ele disse, me puxando para perto. “Na Pensilvânia.”
“Pensilvânia... estamos na Corte Real?”
Ele deu nos ombros. “Alguns quilômetros de distância.”
Eu balancei a cabeça. “Não... não é possível. Não podemos ter uma casa juntos. E definitivamente não tão próxima dos outros. Eles nunca permitiriam.”
Se em algum mundo maluco Dimitri e eu vivêssemos juntos, teríamos que fazer isso em segredo – em algum lugar remoto, como a Sibéria.
“Você insistiu,” ele disse com um pequeno sorriso. “E nenhum deles se importou. Eles aceitaram. Além do mais, você disse que tínhamos que viver perto de Lissa.”
Minha mente vacilou. O que estava acontecendo? Como isso era possível? Como eu poderia estar vivendo com Dimitri – especialmente tão perto dos Moroi? Isso não estava certo... e como eu poderia estar com Dimitri? Eu não deveria estar fazendo outra coisa? Eu não deveria estar com outra pessoa?
“Você é um Strigoi,” eu disse finalmente. “Não... você está morto. Eu matei você.” Ele passou seus dedos pela minha bochecha, ainda me dando aquele sorriso lamentável. “Eu pareço estar morto? Eu pareço um Strigoi?”
Não. Ele parecia maravilhoso e sexy e forte. Ele era todas as coisas que eu lembrava, e todas as coisas que eu amava. “Mas você era....” eu falei, ainda confusa. Isso não estava certo. Tinha algo que eu precisava fazer, mas eu ainda não conseguia lembrar. “O que aconteceu?”
A mão dele voltou para meu quadril, e ele me puxou em um apertado abraço.
“Você me salvou,” ele murmurou no meu ouvido. “Você me salvou, Roza. Você me trouxe de volta para que pudéssemos ficar juntos.”
Eu tinha? Eu não tinha memória disso também. Mas tudo isso parecia tão real, e eu o senti tão maravilhoso. Eu sentia falta dos braços dele ao meu redor. Ele me segurou quando Strigoi, mas nunca tinha parecido como isso. E quando ele se abaixou e me beijou, eu soube com certeza que ele não era um Strigoi. Eu não sei como posso ter me enganado na casa de Galina. Era o beijo de quando ele estava vivo. Ele queimou dentro da minha alma, e enquanto meus lábios se pressionavam mais ansiosamente nos dele, eu senti aquela
conexão, a que me disse que não havia mais ninguém no mundo a não ser ele.
Só que, eu não conseguia abandonar o sentimento de que eu não deveria estar aqui. Mas onde eu deveria estar? Lissa... algo com Lissa... Eu quebrei o beijo mas não o abraço. Minha cabeça descansou contra seu peito. “Eu realmente salvei você?”
“Seu amor foi forte demais. Nosso amor era muito forte. Nem mesmo os mortos vivos puderam nos manter separados.”
Eu queria acreditar nisso. Desesperadamente. Mas aquela voz ainda me importunando... Lissa. O que tinha com Lissa? Então, eu lembrei. Lissa e Avery. Eu tinha que salvar Lissa de Avery. Eu me afastei de Dimitri, e ele me olhou surpreso.
“O que você está fazendo?”
“Isso não é real,” eu disse. “Isso é um truque. Você ainda é um Strigoi. Não podemos ficar juntos – não aqui, não entre os Moroi.”
“É claro que podemos.” Havia magoa naqueles olhos profundamente castanhos, e isso quebrou meu coração. “Você não quer ficar comigo?”
“Eu tenho que voltar para Lissa...”
“Deixe ela ir,” ele disse, se aproximando de novo. “Deixe tudo ir. Fique aqui comigo – podemos ter tudo o que sempre desejamos, Rose. Podemos ficar juntos todo dia, acordar juntos de manhã.”
“Não.” Eu me afastei ainda mais. Eu sabia que se eu não o fizesse, ele me beijaria de novo, e então eu realmente estaria perdida. Lissa precisava de mim. Lissa estava presa.
A cada segundo, os detalhes sobre Avery estavam voltando para mim. Isso tudo era uma ilusão.
“Rose?” ele perguntou. Havia tanta dor em sua voz. “O que você está fazendo?”
“Sinto muito,” eu disse, me sentindo prestes a chorar. Lissa. Eu preciso chegar até Lissa. “Isso não é real. Você se foi. Você e eu nunca poderemos ficar juntos, mas eu ainda posso ajudar ela.”
“Você ama ela mais do que a mim?”
Lissa tinha me perguntado quase a mesma coisa quando parti para caçar Dimitri. Minha vida estava fadada a sempre escolher entre eles. “Eu amo os dois,” eu respondi.
E com isso, eu usei toda minha vontade para voltar para Lissa, onde quer que ela estava, e me tirar dessa fantasia. Honestamente, eu poderia ter passado o resto dos meus dias naquele mundo de faz de conta, ficar com Dimitri naquela casa, acordando com ele a cada manhã como ele disse. Mas não era real.
Era fácil demais, e se eu aprendi alguma coisa, é que a vida não é fácil. O esforço foi excruciante, mas de repente, eu me encontrei olhando para o quarto em St. Vladimir. Eu me foquei em Avery que estava olhando para mim e Lissa. Ela pegou a memória que me atormentou mais, tentando me confundir e me tirar de Lissa com uma fantasia do que eu queria mais do que qualquer coisa no mundo. Eu lutei contra armadilha da mente de Avery e me senti orgulhosa disso – apesar da dor no meu coração. Eu queria poder me comunicar diretamente com ela e fazer alguns comentários sobre o que eu pensava sobre os jogos mentais dela. Isso
estava fora de cogitação, então ao invés disso, eu joguei minha vontade em Lissa mais uma vez, e juntas, saímos da beira da janela e pisamos no chão do quarto.
Avery estava visivelmente suando, e quando ela percebeu que perdeu sua guerra psíquica, o rosto bonito dela ficou muito feio. “Tudo bem,” ela disse. “Tem jeitos mais fáceis de te matar.”
Reed de repente entrou no quarto, parecendo mais hostil do que nunca. Eu não fazia idéia de onde ele tinha vindo ou como ele sabia que era para aparecer ali, mas ele foi direto em direção a Lissa, as mãos esticadas. Aquela janela aberta estava atrás dela, e não era preciso um gênio para adivinhar as intenções dele. Avery tentou fazer Lissa pular usando compulsão. Reed iria empurrar ela.
Uma conversa mental voou entre Lissa e eu no espaço de um segundo. Ok, eu disse a ela. A situação é a seguinte. Vamos ter que fazer uma pequena inversão de papéis.
Do que você está falando? Medo passou por ela, o que era compreensível, já que as mãos de Reed estavam a segundos de distância de agarrar ela.
Bem, eu disse, eu acabei de fazer a luta psíquica. O que significa que você vai ter que lutar. E eu vou te mostrar como.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 27
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às 20:41
Marcadores: Academia de Vampiros, Promessa de Sangue
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