Lissa não tinha que falar nada para expressar seu choque. Os sentimentos de absoluta surpresa se derramando em mim diziam mais do que qualquer palavra poderia ter dito. Eu, contudo, tinha uma palavra mais importante para ela.
Abaixa!
Eu acho que foi a sua surpresa que a fez responder tão rápido. Ele se jogou no chão. O movimento era desajeitado, mas removeu seu corpo da direção do ataque de Reed e a colocou (principalmente) fora do alcance da janela. Ele ainda colidiu com ela no ombro e com o lado da cabeça, mas isso apenas a chocou e causou-lhe um pouco de dor.
Claro, “um pouco de dor” significava coisas totalmente diferentes para nós. Lissa tinha sido torturada algumas vezes, mas a maioria das batalhas dela eram mentais. Ela nunca tinha estado em uma confrontação física um-a-um. Ser jogada contra uma parede era uma ocorrência normal para mim, mas para ela, uma pequena batida na cabeça era monumental.
Engatinhe para longe, eu ordenei. Vá para longe dele e da janela. Se encaminhe para a porta se possível.
Lissa começou a se mover pelas suas mãos e pés, mas ela era muito lenta. Reed conseguiu agarrá-la pelo cabelo. Eu meio que senti como se estivéssemos participando do jogo do telefone. Com a demora entre eu dando as direções e ela tentando entender como responder, eu poderia muito bem estar passando a mensagem por cinco pessoas antes
de chegar nela. Eu queria poder controlar o corpo dela como um fantoche, mas eu não era um usuário de Espírito. Isso vai doer, mas se vire da melhor forma que puder e bata nele.
Oh, isso doeu. Tentar girar seu corpo significava que o aperto dele nos cabelos dela puxava muito mais dolorosamente. Ela ministrou isso razoavelmente bem, entretanto, e deu um soco em Reed. Os socos dela não eram assim tão coordenados, mas eles o surpreenderam o suficiente que ele largou o cabelo dela e tentou se defender. Foi aí que eu percebi que ele também não era tão coordenado assim. Ele era mais forte do que ela, verdade, mas ele obviamente não tinha nenhum treinamento de combate além de socos básicos e lançar seu corpo como arma. Ele não tinha vindo aqui para uma luta de verdade; ele tinha vindo só para empurrá-la pela janela e pronto.
Saia daí se você conseguir; saia daí se você conseguir.
Ela se levantou do chão, mas infelizmente seu caminho de fuga não dava a ela acesso a porta. Ao invés, ela se moveu cada vez mais para dentro do quarto até suas costa baterem em uma cadeira com rodinhas.
Pegue isso. Bate nele com isso.
Mais fácil falar do que fazer. Ele estava bem ali, ainda tentando pegá-la e tirá-la do chão. Ela segurou a cadeira e tentou afastá-lo com isso.
Eu queria que ela pegasse a cadeira e batesse nele com ela, mas isso não era tão fácil assim para ela. Ela conseguiu, no entanto, ficar de pé e colocar a cadeira entre eles. Eu mandei ela continuar batendo nele com ela em um esforço
de fazer ele se retirar. Isso funcionou um pouco, mas ela não tinha força o suficiente para machucá-lo. Enquanto isso, eu meio que esperava Avery se juntar a luta. Não teria sido muito esforço para ela ajudar Reed a subjugar Lissa. Ao invés, pelo canto do olho de Lissa, eu vi Avery sentada perfeitamente parada, seus olhos desfocados e levemente vidrados. Ok. Isso era estranho, mas eu não tinha nenhuma reclamação sobre ela estar fora do conflito.
Sendo assim, Lissa e Reed estavam em um beco sem saída, um que eu tinha que tirá-la. Você está na defensiva, eu disse. Você precisa tirar o ataque dele.
Eu finalmente consegui uma resposta direta. O que? Eu não consigo fazer algo assim! Eu não tenho idéia de como fazer isso! Eu mostrarei a você. Chute ele – preferencialmente entre as pernas. Isso derruba a maioria dos caras.
Sem palavras, eu tentei mandar a sensação para ela, ensinando a ela o modo certo de tencionar os músculos e golpear. Se preparando, ela jogou a cadeira para longe assim não teria nada entre ela e Reed. Isso o pegou de surpresa, dando a ela uma momentânea abertura. A perna dela golpeou. Errando o lugar de ouro, mas acertando o joelho dele. Aquilo era quase tão bom quanto. Ele tropeçou para trás enquanto a sua perna desmoronava embaixo dele mas conseguiu agarrar a cadeira para suportá-lo. Ela rolou, o que não o ajudou muito.
Lissa não precisou de nenhuma persuasão para correr para a porta naquele momento – exceto que ela estava bloqueada. Simon tinha acabado de entrar. Por um
momento, Lissa e eu nos sentimos aliviadas. Um guardião! Guardiões eram seguros.
Guardiões nos protegiam. A coisa era que, esse guardião trabalhava para Avery, e logo se tornou claro que os seus serviços iam além de meramente manter Strigoi longe dela. Ele se apressou para dentro, e sem hesitação agarrou Lissa e a arrastou severamente de volta para a janela.
Meus comandos hesitaram naquele momento. Eu tinha sido uma boa treinadora em mostrá-la como se defender de um adolescente mal humorado. Mas um guardião? E ainda esse adolescente mal humorado tinha se recuperado e se juntado a Simon para terminar o trabalho.
Use a compulsão nele!
Essa era minha última tentativa desesperada. Esta era a força de Lissa. Infelizmente, enquanto a recente bebedeira dela já tinha sido metabolizada o suficiente para a coordenação dela ter melhorado, isso ainda estava afetando o controle do Espírito. Ela conseguia tocar no poder – mas não muito dele. Seu controle também não era muito bom.
Todavia, sua determinação era grande. Ela concentrou o quanto de Espírito que ela pode, canalizando isso na compulsão. Nada aconteceu. Então, eu senti aquele estranha sensação em minha cabeça. Primeiramente eu pensei que Avery estava de volta a ação, só que ao invés de estar tentando me alcançar, isso estava tentando alcançar Lissa através de mim. O poder surgiu em Lissa, e eu percebi o que aconteceu. Oksana ainda estava lá, em algum lugar no plano de fundo, e ela estava emprestando sua força
novamente, canalizando ela através de mim e para dentro de Lissa. Simon congelou, e isso foi quase engraçado. Ele se contraiu levemente, balançando para frente e para trás enquanto ele tentava avançar nela para finalizar a sua mortal tarefa. Era como se ele estivesse suspenso em gelatina.
Lissa estava hesitante em se mover, por medo de quebrar o controle dela. Havia também o detalhe que Reed não estava sob compulsão, mas naquele momento, ele parecia muito confuso sobre o que estava acontecendo com Simon para reagir.
“Você não pode apenas me matar!” Lissa gritou. “Você não acha que as pessoas vão fazer perguntas quando eles encontrarem meu corpo jogado pela janela?”
“Eles não vão perceber,” disse Simon rigidamente. Mesmo para falar requeria esforço. “Não quando você for ressuscitada. E se você não puder ser, então isso será apenas um trágico acidente que aconteceu com uma garota problemática.”
Lentamente, lentamente, ele começou a se libertar da compulsão dela. O poder dela, mesmo ainda ali, estava enfraquecendo um pouco – havia um vazamento em algum lugar, e isso estava sugando o poder para fora. Eu suspeitava que isso pudesse ser a influencia de Avery ou simplesmente a fadiga mental de Lissa. Talvez ambos. Um olhar de total satisfação cruzou as feições de Simon enquanto ele se lançava para frente, e aí –
Ele congelou de novo.
Uma brilhante aura dourada iluminou a visão periférica de Lissa. Ela olhou para lá só o suficiente para ver Adrian na entrada. A expressão em seu rosto era cômica, mas chocado ou não, ele tinha entendido o suficiente para mirar em Simon. Era a compulsão de Adrian que estava segurando o guardião no lugar agora. Lissa se retorceu para longe, ainda tentando se manter fora da maldita janela aberta.
“Segure ele!” gritou Lissa.
Adrian fez uma careta. “Eu... não consigo. Que inferno? É como se houvesse mais alguém aqui...”
“Avery,” disse Lissa, jogando um breve olhar para a outra garota. O rosto de Avery estava pálido mesmo para um Moroi. A respiração dela estava pesada, e ela estava suando ainda mais. Ela estava lutando contra a compulsão de Adrian. Alguns segundos depois, Simon se libertou novamente. Ele avançou para Lissa e Adrian, apesar de seus movimentos parecerem lentos.
Filha da mãe, eu pensei.
Agora o que? Exigiu Lissa.
Reed. Vá atrás de Reed. Tire ele de cena.
Reed tinha congelado durante a luta com Simon, assistindo com fascinação. E como com o guardião, as reações de Reed pareciam um pouco lentas. Ainda, ele estava indo em direção a Lissa de novo. Simon aparentemente tinha decidido que Adrian era a ameaça imediata e estava indo em sua direção. Hora de ver se dividir e conquistar daria certo. E quanto a Adrian? Perguntou Lissa.
Nós vamos ter que deixar ele por conta própria por um minuto. Vá atrás de Reed. Derrube ele.
O que???
Mas ela avançou para cima dele de qualquer maneira, movendo-se com uma determinação que me encheu de orgulho. O rosto dele se contorceu em um rosnado.
Ele estava furioso e super confiante, apesar de – não pensando claramente e ainda estar se movendo de uma forma desajeitada. Mais uma vez, eu tentei ensinar Lissa sem palavras. Eu não poderia fazer ela fazer nada, mas eu tentei fazê-la sentir como que era dar um soco em alguém. Como puxar o braço para trás, curvar seus dedos do modo apropriado e juntar força. Depois do que eu a tinha visto fazer mais cedo, o melhor que eu poderia esperar era por uma aproximação decente do que seria um soco, suficiente para mantê-lo longe dela e deixá-lo por um tempo fora da ação. E foi ai que algo realmente bonito aconteceu.
Lissa socou ele no nariz. Isso mesmo, socou. Nós duas ouvimos o impacto, ouvimos o nariz quebrando. Sangue começou a sair. Ele voou para trás, ele e Lissa se encarando com olhos arregalados. Nunca, nunca eu teria pensado que Lissa fosse capaz de algo como isso. Não a doce, delicada e bonita Lissa.
Eu queria gritar e dançar de felicidade. Mas isso ainda não estava acabado.
Não pare! Bata nele de novo. Você tem que derrubá-lo!
Eu consegui! Ela gritou, horrorizada pelo que tinha feito. O seu punho também estava com uma dor agonizante. Eu
realmente não tinha mencionado essa parte durante minha orientação.
Não, você tem que deixá-lo incapacitado, eu disse a ela. Eu acho que ele e Avery tem um laço, e eu acho que ela está pegando sua energia dele. Isso fazia sentido agora, porque ele tinha congelado enquanto Avery acumulava poder para usar a compulsão, porque ele sabia que tinha que aparecer quando ele apareceu. Ela tinha usado a ligação deles para chamá-lo.
E aí Lissa foi atrás de Reed de novo. Ela conseguiu dar mais dois socos, um dos quais fez a cabeça dele bater contra a parede. Os lábios dele se partiram e suas feições ficaram frouxas. Ele caiu no chão, olhos encarando o nada. Eu não tinha certeza se ele estava inteiramente inconsciente, mas ele estava fora disso por um momento. Do outro lado, eu ouvi um baixo lamurio de Avery.
Lissa se virou para Adrian e Simon. Adrian tinha cessado qualquer tentativa de compulsão, porque Simon estava ocupado atacando com tudo que tinha. O rosto de Adrian mostrava que ele tinha levado alguns socos, e eu percebi, assim como Lissa, que ele nunca tinha se comprometido nesse tipo de combate físico. Sem precisar de nenhuma instrução minha. Lissa marchou para lá e começou a usar a compulsão.
Simon sacudiu em surpresa, não parando o seu ataque, mas pego fora de guarda. Lissa ainda estava fraca, mas a proteção ao redor dele tinha diminuído um pouco, assim como eu tinha esperado que acontecesse.
“Me ajude!” Lissa gritou.
Com o momentâneo lapso da parte de Simon, Adrian tentou utilizar seu Espírito também. Lissa sentiu e viu a mudança na aura dele enquanto a mágica fluía por ele. Ela o sentiu juntar-se a ela no seu ataque psíquico a Simon, e um momento depois, eu senti Oksana se unindo a briga. Eu queria bancar a comandante e gritar ordens, mas essa não era mais minha batalha.
Os olhos de Simon se arregalaram, e ele caiu de joelhos. Lissa podia sentir os outros dois usuários de espírito – e estava um pouco surpresa pela presença de Oksana – e tinha uma vaga impressão que eles estavam fazendo coisas ligeiramente diferentes a Simon. Lissa estava tentando compeli-lo a parar o seu ataque, a simplesmente parar sentado. O breve encontro dela com a mágica de Adrian dizia que ele estava tentando fazer o guardião dormir, e Oksana estava tentando fazer Simon sair correndo do quarto.
As mensagens conflitantes e todo aquele poder foi demais. A última das defesas de Simon caiu enquanto todas aquelas mensagens misturadas explodiam dentro dele, criando uma onda devastadora de Espírito. Ele caiu no chão. Com toda a mágica deles combinada, os usuários de Espírito tinham deixado ele inconsciente. Lissa e Adrian viraram para Avery, se preparando, mas não havia precisão.
Logo que todo aquele Espírito tinha explodido dentro de Simon, Avery começou a gritar. E gritar e gritar. Ela agarrou os lados de sua cabeça, o som da voz dela era horrível e áspera. Lissa e Adrian olharam um para o outro, sem saber como lidar com esse novo acontecimento.
“Pelo amor de Deus,” ofegou Adrian, exausto. “Como nós calamos ela?”
Lissa não sabia. Ela considerou se aproximar de Avery e tentar ajudá-la, apesar de tudo que tinha acontecido. Mas alguns segundos depois, Avery ficou quieta. Ela não desmaiou como tinham seus companheiros. Ela apenas ficou ali sentada, encarando.
Sua expressão não mais assemelhando-se ao olhar ofuscado que ela tinha tido quando estava utilizando o Espírito. Ele era apenas... apagado. Como se não tivesse nada dentro dela afinal.
“O q-que aconteceu?” perguntou Lissa.
Eu tinha a resposta. O Espírito fluiu de Simon para ela. E a fritou. Lissa estava assustada. Como isso poderia ir de Simon pra ela?
Porque eles tinham uma ligação.
Você disse que ela era ligada a Reed!
Ela é. Ela tem uma ligação com os dois.
Lissa estava muito distraída enquanto lutava por sua vida, mas eu tinha sido capaz de notar a aura de todos através dos olhos dela. Avery – não mais mascarando a dela – tinha possuído uma dourada, assim como Adrian e Lissa. Simon e Reed tinha auras praticamente idênticas, com cores comuns – circuladas em preto.
Eles eram shadow-kissed, ambos foram trazidos de volta dos mortos por Avery. Lissa não perguntou mais nada e simplesmente desmoronou nos braços de Adrian. Não havia nada de romântico sobre isso, apenas uma necessidade
desesperada de ambas as partes de estar perto de um amigo.
“Porque você veio?” ela perguntou a ele.
“Você está brincando? Como eu não viria? Vocês eram como uma fogueira com todo o espírito que vocês estavam usando. Eu senti isso todo o caminho através do campus.” Ele olhou ao redor. “Cara, eu tenho um monte de perguntas.”
“Você e eu,” ela murmurou.
Eu tenho que ir, eu disse a Lissa. Eu me senti um pouco melancólica por ter que deixá-los.
Eu sinto sua falta. Quando você irá voltar?
Logo.
Obrigada. Obrigada por ter estado aqui por mim.
Sempre. Eu suspeito que eu estava sorrindo de volta em meu próprio corpo. Oh, e Lissa? Diga a Adrian que eu estou orgulhosa dele.
O quarto da academia desapareceu. Eu estava mais uma vez sentada na cama do outro lado do mundo. Abe estava me olhando com preocupação. Mark também estava preocupado, mas ele só tinha olhos para Oksana, que estava deitada ao meu lado. Ela parecia um pouco como Avery, pálida e suada. Mark batia na mão dela freneticamente, coberto de medo. “Você está bem?”
Ela sorriu. “Apenas cansada. Eu ficarei bem.”
Eu queria abraçá-la. “Obrigada,” eu respirei. “Muito obrigada.”
“Eu estou feliz por ter ajudado,” ela disse. “Mas eu espero não ter que fazer isso de novo. Foi... estranho. Eu não tenho certeza de que papel eu estava fazendo lá.”
“Eu também não.” Tinha sido estranho, as vezes era como se Oksana tivesse realmente estado lá, lutando ao lado de Lissa e os outros. Outras horas, eu sentia como se Oksana tivesse se fundido comigo. Eu estremeci. Muitas mentes ligadas juntas.
“Na próxima vez, você tem que estar ao lado dela,” disse Oksana. “No mundo real.”
Eu olhei para as minhas mãos, confusa e incerta do que pensar. O anel de prata brilhou. Eu o tirei e ofereci a ela.
“Esse anel me salvou. Ele pode te curar mesmo que você o tenha feito?”
Ela o segurou em sua mão por um momento e então me deu de volta. “Não, mas como eu disse, eu vou me recuperar. Eu me curo depressa por conta própria.”
Era verdade. Eu vi Lissa se curar notavelmente rápido no passado. Era parte de sempre ter o Espírito em você. Eu olhei para o anel, e algo inquietante veio a minha mente. Era um pensamento que tinha me ocorrido enquanto estava no carro com o velho casal para Novosibirsk, enquanto minha consciência vinha e voltava.
“Oksana... um Strigoi tocou esse anel. E por alguns momentos – enquanto ele o segurava – foi como... bem, ele ainda é um Strigoi, sem dúvida. Mas enquanto ele o segurava, ele era quase como costumava ser também.”
Oksana não respondeu logo. Ela olhou para Mark, e eles seguraram o olhar um do outro por um longo tempo. Ele mordeu o lábio e balançou a cabeça.
“Não,” ele disse. “É um conto de fadas.”
“O que?” eu exclamei. Eu olhei de um para o outro. “Se você sabe de alguma coisa sobre isso – sobre Strigoi – você tem que me dizer!”
Mark falou severamente em russo, um aviso em sua voz. Oksana parecia igualmente determinada. “Não é nosso lugar reter informação,” ela respondeu.
Ela virou para mim, rosto sério. “Mark te contou sobre o Moroi que nós conhecemos a muito tempo atrás... o outro usuário de Espírito?”
Eu confirmei com a cabeça. “Yeah.”
“Ele costumava contar um monte de histórias – a maioria das quais eu não acho que fossem verdadeiras. Mas uma delas... bem, ele reivindicava que tinha restaurado a vida de um Strigoi.”
Abe, calado até agora, zombou. “Isso é um conto de fadas.”
“O que?” meu mundo inteiro girou. “Como?”
“Eu não sei. Ele nunca explicou muito, e os detalhes freqüentemente mudavam. A mente dele estava se acabando, e eu acho que metade do que ele dizia era imaginação,” ela explicou.
“Ele era louco,” Mark disse. “Não era verdade. Não se deixe levar pela fantasia de um homem louco. Não se apegue a isso. Não deixe isso se tornar sua próxima caçada. Você precisa voltar para a sua parceira de laço.”
Eu engoli, toda emoção do mundo se agitando no meu estômago. Era verdade? Um usuário de Espírito tinha restaurado a vida de um strigoi? Teoricamente... bem, se usuários de espírito podiam curar e trazer de volta os mortos, porque não os mortos vivos? E Dimitri... Dimitri definitivamente parecia alterado enquanto segurava o anel. O espírito tinha afetado ele e tocado em algum pedaço do seu eu-antigo? No hora, eu só assumi que eram recordações de afeto do carinho que a família tinha por ele...
“Eu preciso falar com esse cara,” eu murmurei.
Não que eu soubesse porque. Conto de fadas ou não, era tarde demais. Eu tinha feito. Eu tinha matado Dimitri. Nada poderia trazê-lo de volta agora, nenhum milagre do espírito. Meu coração bateu mais rápido, eu mal conseguia respirar. Em minha mente, eu o via caindo, caindo, caindo... caindo para sempre com uma estaca em seu peito. Ele teria dito que me amava? Eu me perguntaria isso pelo resto da minha vida.
Agonia e aflição me inundaram, entretanto ao mesmo tempo, também havia alivio. Eu tinha libertado Dimitri de ser algo do mal. Eu tinha trazido paz a ele, o enviando para a felicidade. Talvez ele e Mason estivessem juntos no céu em algum lugar, praticando alguns movimentos de guardião. Eu tinha feito a coisa certa. Não deveria haver nenhuma lamentação sobre isso.
Inconsciente a minhas emoções, Oksana respondeu a minha última declaração. “Mark não estava brincando. Esse homem é louco – mesmo se ele ainda estiver vivo. A última
vez que nós o vimos, ele mal conseguia continuar uma conversa ou mesmo usar sua mágica. Ele fugiu para se esconder. Ninguém sabe onde ele está – exceto talvez seu irmão.”
“Chega,” advertiu Mark.
A atenção de Abe no entanto, virou curiosidade. Ele se inclinou para frente, astuto como sempre. “Qual era o nome desse homem?”
“Robert Doru,” Mark disse depois de alguns momentos de hesitação.
Não era ninguém que eu conhecesse, e eu percebi como insensato tudo isso era. Esse cara era uma causa perdida e tinha provavelmente imaginado toda a coisa de ter salvado um Strigoi em um momento se insanidade. Dimitri se foi. Essa parte da minha vida estava terminada. Eu precisava voltar para Lissa. Aí então, eu percebi que Abe tinha ficado imóvel.
“Você o conhece?” eu perguntei.
“Não. E você?
“Não.” Eu examinei o rosto de Abe. “Você com certeza parece como se soubesse de alguma coisa, Zmey.”
“Eu sei sobre ele,” Abe clarificou. “Ele é uma realeza ilegítima. Seu pai teve um caso, e Robert foi o resultado. Seu pai na verdade o incluiu como parte da família.
Robert e seu meio-irmão tornaram-se bem próximos, porém poucos sabem sobre isso.” Claro que Abe saberia sobre isso. “Doru é o sobrenome da sua mãe.”
Sem surpresa. Doru não era um nome da realeza. “Qual era o sobrenome do seu pai?”
“Dashkov. Trenton Dashkov.”
“Este,” eu disse a ele, “é um nome que eu conheço.”
Eu tinha encontrado Trenton Dashkov anos atrás enquanto acompanhava Lissa e sua família a uma festa de férias de feriado real. Trenton era um velho e curvado homem até então, bondoso mais na beira da morte. Moroi freqüente-mente vivem até o cem anos, mas ele já tinha passado dos 120 – o que era velho mesmo para os padrões deles. Não havia tido nenhum sinal ou sussurro sobre ele ter um filho ilegítimo, mas o filho legítimo de Trenton estava lá. Esse filho tinha até dançado comigo, mostrando uma grande cortesia a uma humilde garota Dhampir.
“Trenton é o pai de Victor Dashkov,” eu disse. “Você está dizendo que Robert Doru é o meio irmão de Victor Dashkov.”
Abe confirmou com a cabeça, ainda me olhando de perto. Abe, como eu tinha notado, sabia de tudo. Ele provavelmente sabia da minha história com Victor. Oksana franziu a testa. “Victor Dashkov é alguém importante, não é?” Lá na cabana na Sibéria deles, ela foi afastada do tumulto das políticas dos Moroi, sem saber que o homem que teria sido rei estava trancado em uma prisão.
Eu comecei a rir – mas não porque eu achei alguma graça na situação. Essa coisa toda era inacreditável, e minha histeria era o único jeito de deixar sair todos os loucos sentimentos dentro de mim. Exasperação. Resignação. Ironia.
“O que é tão engraçado?” perguntou Mark, assustado.
“Nada,” eu disse, sabendo que se eu não parasse de rir, eu provavelmente começaria a chorar. “Essa é a coisa. Isso não é de forma nenhuma engraçado.”
Que maravilhosa reviravolta para a minha vida. A única pessoa viva que poderia saber algo sobre salvar Strigoi era o meio irmão do meu maior inimigo, Victor Dashkov. E a única pessoa que poderia saber onde Robert estava era o próprio Victor. Victor sabia muito sobre espírito, e agora eu tinha uma boa idéia de onde ela tinha começado a aprender sobre isso.
Não que isso importasse. Nada disso importava mais. O próprio Victor seria capaz de converter Strigoi por todo o bem que teria me feito. Dimitri foi morto pelas minhas mãos. Ele se foi, salvo pelo único jeito que eu sabia. Eu tinha escolhido entre ele e Lissa uma vez antes, e eu tinha escolhido ele. Agora não poderia haver duvida. Eu escolhia ela. Ela era real. Ela estava viva. Dimitri era o passado.
Eu estava encarando a parede de forma distraída, e agora olhando para cima eu encontrei diretamente com os olhos de Abe.
“Certo, velho,” eu disse. “Me empacote e me mande para casa.”
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 28
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às 20:42
Marcadores: Academia de Vampiros, Promessa de Sangue
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