Seguindo o som da água, eu rastejei silenciosamente pelas escadas. Guardas estavam a postos sobre os parapeitos, mas eles nem sequer olharam na minha direção. A brita debaixo dos meus pés e a brisa em minha pele nua fizeram eu me sentir viva. Meu pulso acelerou quando subi ao nível dos guardas. Com um pouco de investigação, eu encontrei um outro conjunto de escadas não muito longe de onde o primeiro lance terminou. No lado da escada, uma pequena cachoeira caía da parede de cima. Eu sabia que devia ser proveniente do jardim suspenso, então eu subi mais alto.
Agora, três níveis acima do meu quarto, parei em uma ampla varanda e olhei para a cidade ao luar. A maioria das lâmpadas tinham sido extintas para a noite, mas havia luz suficiente provindas das tochas, fogueiras e velas ao redor dos edifícios da cidade e as estruturas escuras abaixo pareciam que estavam iluminadas com vaga-lumes. Apesar da vista ser tão bonita, eu estava atrás de outra coisa.
Silenciosamente fazendo meu caminho de volta pelo corredor, eu não encontrei nenhum outro conjunto de escadas. Em vez disso havia várias portas. Nervosa para testá-las, eu coloquei minha mão em cada uma e escutei em silêncio antes de abrí-las. A primeira tinha escadas que levavam para baixo. A segunda guardava várias armas - flechas, arcos, escudos e lanças. A terceira porta era a mais pesada e abriu com um rangido alto. Eu congelei, esperando que ninguém tivesse ouvido.
Quando não havia nenhum sinal revelador de botas pesadas no meu caminho, eu escorreguei dentro da entrada escura e encontrei um outro conjunto de escadas para cima. Eu hesitei, pensando que eu poderia perder meu caminho de volta, mas o meu desejo de ver o jardim me puxou para a frente e eu subi um degrau e outro, até que emergi no final de um túnel. O luar e o cheiro de água e de coisas verdes vivas me chamaram para seguir adiante.
Corri e dei um passo através de um arco que dava passagem para o paraíso. Durante o dia, o jardim deveria ser de tirar o fôlego, mas à noite, iluminado apenas pelas estrelas e luar, o jardim era mágico. Cada recanto escuro sussurrava segredos que esperavam serem descobertos por mim.
Os rumores eram de que o rei havia cortejado sua noiva a noite nos caminhos bem cuidados durante uma caminhada entre as folhagem murmurantes. Era fácil imaginar um casal de namorados andando sob as árvores, aproveitando a ocultação encantadora que elas ofereciam.
Movendo-me mais profundamente no jardim, notei os pilares de pedra que suportavam fileira após fileira de folhagens que pairavam acima de mim em etapas como um teatro. À esquerda havia um terraço trançado com videiras delicadas. À direita havia uma galeria de arte viva com portas em arco que levavam a outros níveis.
Em cada nível, havia estátuas esculpidas, fontes gotejantes, torres com plantas penduradas e esculturas feitas com vegetação. Embora não houvesse tochas para oferecer luz, os raios da lua penetravam na copa folhosa o suficiente para que eu pudesse observar quase todos os detalhes.
Um caminho de pedra apareceu para circunavegar o jardim inteiro. Em torno dele havia solo recentemente revirado escuro e rico em nutrientes. Agachando-me, eu pressionei a minha mão no material macio. Eu não consegui encontrar o chão de pedra que iria apoiar tal peso, mas a julgar pelo tamanho das árvores, as maiores delas tinham troncos maiores que eu, o teto que segurava o jardim deveria ser muito grosso na verdade, talvez com 20 pés ou mais.
No centro do jardim havia uma fonte maciça de tal magnificência. Passei a maior parte de uma hora passando minhas mãos sobre as figuras esculpidas e pela água. Curiosa, eu segui o caminho dos córregos. Eles surgiam de uma série de aquedutos que traziam água para o telhado da cidadela usando dezenas de cisternas que transportavam a água do rio.
Todos os níveis foram construídos em um pequeno ângulo, o que permitia que a água fluisse para baixo, irrigando todo o jardim. O que não era usado no jardim, era levado de volta para o rio quando a água caía ao lado do edifício em uma cachoeira. O projeto era genial.
A sombra de enormes árvores estavam bem acima das paredes do edifício e isto me deu a sensação de estar no topo de uma grande montanha. Eu examinei o frágil crescimento de pequenas novas plantas molhadas com o orvalho da noite, arranquei um pequeno botão e o coloquei atrás da minha orelha e admirei uma seção de novas plantações que o cultivador do jardim tinha acabado colocar.
A brisa quente da noite levantou as folhas das árvores, fazendo-as dançar e suspirar como se estivessem vivas. O som provocou meus sentidos. Eu andei por um labirinto multi-nível só para emergir em um bosque de árvores frutíferas perfeitas, cheias de esferas maduras de todas as espécies. .
Além, havia um pequeno prado de grama viçosa, um lugar perfeito para fazer um piquenique. Como seria romântico jantar lá sob a sombra de uma árvore com o murmúrio da fonte e a vista da cidade. Deitei na grama com a mão atrás da minha cabeça e olhei para as inúmeras constelações que enchiam o céu da noite, pensando que se eu fosse incrivelmente sortuda, eu logo estaria olhando para o mesmo ponto no convés de um navio levando eu e Isha para outra terra.
Querendo explorar mais, deixei as lâminas de grama macia e continuei. Flores pareciam brotar de todos os pedaços de terra. Eu arranquei uma calêndula laranja e a joguei no fluxo de água, rindo baixinho enquanto eu a seguia. A pequena flor dançou e balançou até que cheguei à beira do jardim onde ela caiu por cima do muro e desapareceu.
Esta parte do jardim estava nivelada com o muro e eu tive uma visão clara das muralhas da cidadela e os soldados que estavam de guarda. Não querendo sair, mas sabendo que eu deveria fazer o meu caminho de volta para a minha cama, eu lentamente voltei os níveis, capturando cada visão, cheiro e som. Relutante em continuar, parei na fonte central uma vez mais e descobri uma flor aquática que eu nunca tinha visto antes.
Parecia uma flor de lótus, mas em vez do rosa comum ou a cor branca, a flor tinha tons de lavanda. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Tentada a arrancá-la da água mesmo sabendo que se meu pai encontrasse isso no meu quarto ele saberia o que eu tinha feito, eu a examinei de todos os ângulos, fixiando-a na memória.
Assim, eu estava tão atenta no meu estudo que eu não ouvi os passos até a pessoa se aproximando estar quase diretamente atrás de mim. Eu congelei e olhei para o meu braço, deixando escapar um pouco de alívio por eu ainda estar invisível. Ainda assim, a pessoa se aproximou e só parou pouco antes de correr para mim. Mordendo meu lábio, eu dei um passo cuidadoso, estremecendo quando meu pé bateu em uma pedrinha.
Rapidamente olhando para cima, me encontrei olhando nos olhos dourados do homem que eu tinha reparado antes na festa, o que estava aparentemente desinteressado no anúncio do rei em relação a minha elegibilidade para casar. Seus olhos se estreitaram quando ele olhou para o lugar onde a pequena pedra tinha rolado e então ele examinou as árvores que nos rodeavam. Depois de um momento, ele deixou escapar um pequeno suspiro e colocou as duas mãos na borda da fonte.
Ele olhou para a água, como se ele estivesse tentando adivinhar o seu futuro e não pareceu gostar do que viu. Então ele notou a flor roxa que eu recentemente examinava, a pegou em suas mãos e a levou para seu rosto. Ele respirou fundo e suspirou. Eu achei o cheiro do homem em pé ao meu lado mais inebriante do que o da flor. Ao contrário dos outros homens lá embaixo que levavam com eles o cheiro do álcool que tinham bebido ou o alho que tinham comido, este homem cheirava a sândalo almiscarado e o cheiro de grama doce aquecida pelo sol.
Satisfeito, ele gentilmente deixou cair a flor aquática de volta para dentro da fonte, onde se formou um círculo preguiçoso antes de flutuar novamente. Era como se houvesse algo magnético sobre o homem que atraiu a flor excepcional em sua direção. De repente, percebi que eu também tinha chegado perigosamente perto de tocá-lo.
Inclinando-me para trás em um ângulo estranho, então ele não iria me sentir, eu me perguntava quanto tempo ele ficaria no meu espaço pessoal. Enquanto ele não se movia, o estudei da mesma maneira que eu fiz com o jardim. O fato de que ele era bonito era óbvio, mas eu tinha ficado perto de homens bonitos antes e sempre me mantive praticamente indiferente. Um homem bonito pode ser tão cruel quanto um feio. Eu tinha demasiadas experiências desagradáveis com os homens para simplesmente confiar em um baseando-me em sua aparência.
Ele ser o filho de um imperador significava que ele era poderoso, mas ele não usava o seu poder de uma forma óbvia como o meu pai fazia. Esse fato me fez gostar mais dele. Sua roupa era bem feita, mas não se vangloriava com ornamentos típicos que declaravam a todos que era um homem rico que as usava. Seu corpo era o de um guerreiro, não um rei, o que provavelmente significava que seu pai ainda estava vivo e, ainda mais, isso significava que ele era corajoso - um homem que estava ao lado de seus soldados, em vez de se por atrás deles.
Seus traços não eram típicos dos homens que tinha me deparado antes. A forma do seu rosto e boca pareciam diferentes de alguma forma e seus olhos dourados, com pequenas manchas que contrastavam com a cor da tinta henna recém-feita, eram tão raros quanto eram notáveis. Ele era tão exótico e raro como a flor que eu tinha acabado de encontrar - um encantador, fascinante e contraditório homem.
Ele era um soldado e ainda assim ele parecia ter um apreço por coisas belas. Um herdeiro de um grande império e ainda aqui ele estava sozinho, sem um guarda-costas ou uma comitiva. Ninguém estava prestes a limpar seus pés ou oferecer reverência.
Aqui havia um intitulado príncipe atraente que aparentemente não se importava em nada para festas, diplomacia ou mulheres elegíveis. E onde a maioria dos homens seria negligente, ele não foi apenas gentil, mas ajudou a serva - um gesto que poucos homens que eu conhecia iria ter, especialmente para aqueles que consideravam abaixo de sua posição.
Ao observá-lo passar seus dedos no lago de carpas, eu sorri e tive que parar de rir quando os peixinhos famintos levantaram as cabeças acima da água fazendo formas suplicantes com suas bocas. Eles estavam com fome e pediam o sustento que eles pensavam que ele poderia proporcionar.
— Sinto muito. Eu não trouxe para vocês qualquer pão. — Disse ele. — Se eu soubesse que vocês estavam aqui, eu teria trazido.
Minha diversão foi substituída por algo mais, algo quente, um sentimento que eu não conseguia descrever. Calor coloriu meu rosto e eu silenciosamente apertei minhas mãos contra ele. Espantada, percebi que eu estava corando de estar apenas na sua presença. Meu pulso acelerou quando eu olhei para seu rosto tão avidamente quanto os peixes coloridos. Na verdade, eu não conseguia desviar o olhar dele até que eu notei o sulco da sua testa se curvar em confusão e ele olhou em minha direção.
— O que foi? — Perguntou ele. — Que criatura etérea que vocês descobriram?
Olhei para baixo balancando a cabeça e coloquei as mãos na boca em horror quando eu percebi que os peixes tinham abandonado o rapaz bonito e agora estavam virados na minha direção. Eles viam através de qualquer feitiço que me deixava invisível para os outros.
Enquanto suas bocas largas abriam e fechavam, eles nadaram para mais perto, ele deu um passo em minha direção. Então nesse momento, um homem chamou.
— Aí está você. Obrigado por concordar em me ver.
O jovem príncipe parou; seu corpo ficou tenso quando ele se virou para reconhecer o recém chegado. Entrando na clareira ao redor da fonte, o homem caminhou para a frente com confiança, a máscara que ele usava era uma versão do seu eu anterior. Mais jovem que o enrugado diplomata que era tipicamente preferido de meu pai - um dom que ele só usava quando ele se encontrava com os muito mais jovens do que ele.
Não era diferente o suficiente para que a maioria das pessoas pudessem notar. Na verdade, eu parecia ser a única que via o meu pai como ele realmente era - um decrépito, cadáver esquelético - um homem tão deteriorado do lado de fora quanto ele estava apodrecido no interior. O que ele poderia querer com esse rapaz? Eu me perguntava. Apesar do fato de que o meu instinto me dizia para fugir o mais rápido possível, uma outra parte de mim queria ficar, queria ficar entre o estranho bonito e meu pai e protegê-lo como eu fiz com Isha.
O jovem respondeu:
— Suas ... intimações não me deixaram negar o seu pedido. — E por que você negaria? Lhe garanto que este diálogo será de importância vital para o futuro de ambos os nossos reinos. — Meu pai sorriu de um modo encantador que me enraizou no lugar onde eu estava. — Talvez você permita me apresentar corretamente. — Ele se inclinou e estendeu a mão em um gesto de boa vontade. — Meu nome é Lokesh.
O jovem ignorou a mão estendida:
— Eu sei quem você é.
— Ah, eu posso ver que minha reputação me precede.
— De fato, precede. Embora eu espere que seja exagerada, a minha impressão é de que não é.
Meu pai estalou a língua.
— Certamente um guerreiro como você sabe que uma reputação reconhecidamente chocante muitas vezes pode servir para beneficiar muito seu portador, se não, talvez mais do que uma espada bem feita?
Cruzando os braços sobre o peito musculoso, o estranho respondeu:
— Sim. E também sei que o tipo de homem disposto a permitir que tal reputação exista, indepentende se é verdade ou não, é um homem que eu teria às minhas costas.
Lokesh riu em resposta. Eu nunca tinha ouvido ele rir antes, mesmo em tom de brincadeira, e tanto quanto eu poderia dizer, sua reação era genuína. Por alguma razão, a resposta do estranho encantou meu pai. O sentimento nervoso que eu tinha a respeito da segurança do jovem se intensificou em vários graus.
— Que inteligente. Mas, novamente, eu não esperaria nada menos de um Rajaram.
Os olhos do homem jovem se estreitaram.
— Sinto que o meu tempo aqui tem sido desperdiçado. Fomos informados de que esta reunião seria sobre as negociações do tratado. Em vez disso, eu me descubro convidado em uma festa no jardim das mulheres, onde eu sou obrigado a ver pavões pomposos pavonear por aí em toda sua nobreza enquanto eles adulam, se embonecam e se empinam por aí e felicitam um ao outro sobre a quantidade de ouro guardado em seus cofres. Está tarde e como minha intenção é sair com o nascer do sol, eu preferiria me retirar para o meu quarto para as poucas horas restantes até essa altura. Se você quer discutir o último conflito, então eu sugiro que você comece com ele. Se não, eu vou me despedir.
Os olhos de Lokesh brilharam.
— Kishan. Posso chamá-lo assim? — Meu pai não esperou pela aprovação, mas continuou. — Posso lhe assegurar que as recentes — ele fez uma pausa — pequenas brigas entre as nossas tropas, tão triviais como elas são, de fato estão em minha mente. O fato de que os nossos dois reinos foram criados em desacordo me dói e eu sinto que devo tentar persuadi-lo de que eu de forma alguma sou o instigador de tais atos traiçoeiros.
O estranho não disse nada, mas seus punhos se apertaram e os músculos de seus braços se flexionaram. Ele claramente não acreditou nas mentiras derramadas dos lábios de meu pai, pelo menos não completamente. Eu não tinha certeza do que Lokesh vinha fazendo em todas as suas campanhas secretas, mas agora estava claro que ele tinha objetivos maliciosos em relação a este jovem e sua família. O medo que eu sentia por ele quase me chocou. Meu corpo tremia e minha respiração se tornou irregular.
— Não, Kishan. Meu propósito hoje é colocar um fim a qualquer descontentamento e construir uma ponte entre o nosso povo.
— E como você propõe que façamos isso? — Perguntou o estranho.
Dando um passo para a frente e levantando a mão de tal forma que parecia suplicar para quem está de fora, mas obviamente estava ameaçando na minha perspectiva, ele disse: — Com a criação de uma aliança entre nossas famílias.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 3: Corar
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às 19:22
Marcadores: A Promessa do Tigre
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