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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 9

FELIZMENTE, ERAM ROSTOS DE MOROI. Aquilo não me impediu de erguer minha estaca e me mover para mais perto de Sydney. Ninguém estava nos atacando, então me mantive na minha posição — não que isso provavelmente importasse. Enquanto eu observava mais e mais o cenário, eu vi que nós estávamos completamente rodeados por dez pessoas. Nós dissemos a Sydney que éramos bons, e isso era verdade: Dimitri e eu provavelmente poderíamos vencer um grupo como esse, embora as instalações pobres fossem dificultar. Eu também percebi que o grupo não era só de Moroi. Os mais próximos de nós eram, mas aqueles ao redor deles eram dhampirs. E a luz que eu pensei

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que vinha de tochas ou lanternas, na verdade vinha de uma bola de fogo nas mãos de um Moroi.

Um homem Moroi se aproximou um passo, quase da idade de Abe, com uma longa barba marrom e uma estaca de prata em sua mão. Uma parte de mim notou que a estaca foi rudemente feita se comparada à minha, mas representava a mesma ameaça.

O olhar do homem passou por mim e pelo Dimitri, e a estaca foi abaixada. Sydney se tornou o objeto de minucioso exame do cara, e ele de repente aproximou-se dela. Dimitri e eu nos movemos para pará-lo, mas outras mãos nos pararam. Eu poderia ter lutado contra elas, mas congelei quando a Sydney soltou um estrangulado, — Esperem. —

O Moroi barbudo agarrou seu queixo e virou sua cabeça de forma que a luz alcançasse sua bochecha, iluminando a tatuagem dourada. Ele a soltou e deu passos para trás.

— Garota Imaculada. — ele grunhiu.

Os outros relaxaram um pouco, embora mantivessem as estacas posicionadas e ainda parecessem prontos para atacar se provocados. O lider Moroi voltou sua atenção de Sydney para Dimitri e eu.

— Vocês estão aqui para se juntar a nós? — ele perguntou cautelosamente.

— Nós precisamos de abrigo, — disse Sydney, tocando levemente sua garganta. — Eles estão sendo perseguidos pelos… pelos Impuros. —

A mulher segurando o fogo parecia cética. — Mais como espiões do que Impuros. —

— A Rainha Impura está morta, — disse Sydney. Ela acenou com a cabeça na minha direção. — Eles acham que ela fez isso. —

A parte indiscreta de mim começou a falar, mas imediatamente se calou, sábia o bastante para saber que essa bizarra virada de eventos deveria ser deixada por conta da Sydney. Eu não entendia o que ela estava dizendo. Quando ela disse que os Impuros estavam nos perseguindo, eu achei que ela estava querendo fazer com que o grupo pensasse que os Strigoi estavam atrás de nós. Agora, depois que ela mencionou a rainha, eu não estava tão certa. Eu também não estava tão certa de que me identificar como uma assassina em potencial fosse inteligente. Até onde eu sabia, Barba Marrom me entregaria em troca de

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uma recompensa. Pela aparência de suas roupas, ele poderia usar alguma.

Para minha surpresa, isso o fez sorrir. — E então, outro usurpador passou. Já existe outro? —

— Não, — disse Sydney. — Eles logo terão as eleições para escolher. —

Os sorrisos do grupo foram substituídos por expressões de desdém e desaprovação mudos sobre as eleições. Eu não pude evitar. — De que outra forma eles escolheriam um novo rei ou rainha? —

— No jeito verdadeiro, — disse um dhampir próximo. — No jeito que costumava ser, há muito tempo atrás. Numa batalha até a morte. —

Eu esperei pelo fim da piada, mas o cara estava claramente falando sério. Eu quis perguntar a Sydney no que ela nos meteu, mas nesse ponto, nós tinhamos aparentemente passado na inspeção. Seu líder virou e começou a andar para o pátio. O grupo o seguiu, movendo-nos com eles enquanto o faziam.

Ouvindo a conversa deles, eu não pude evitar franzir um pouco o cenho — e não apenas porque nossas vidas poderiam correr risco. Eu estava intrigada com o sotaque deles. O recepcionista do Motel tinha um pesado acento sulista, exatamente como você esperaria nessa parte do país. Esses caras, enquanto soando similares, tinham algumas outras pronuncias misturadas. Quase me lembrou do sotaque do Dimitri.

Eu estava tão tensa e ansiosa que eu dificilmente consegui me concentrar em quanto nós caminhamos. Eventualmente, o pátio nos levou para o que parecia como uma área de acampamento bem escondida. Uma enorme fogueira brilhava numa clareira com pessoas sentadas ao redor.

Ainda, havia estruturas dispersas de um lado, alcançando as árvores ao redor do pátio. Ainda não era uma estrada, mas me deu a ilusão de uma cidade, ou ao menos de um vilarejo. As construções eram pequenas e esfarrapadas, mas aparentavam ser permanentes. Do outro lado do fogo, a terra aumentou acentuadamente nos Apalaches, bloqueando as estrelas. Na luz tremulante, eu pude ver que a superfície da montanha estava misturada com pedras rústicas e árvores cortadas, com pontos aqui ou lá como buracos negros.

Minha atenção voltou para os vivos. A multidão junta ao redor do fogo — duas dúzias mais ou menos — ficou quieta enquanto nossa escolta nos levava. No começo, tudo o que eu vi eram números. Esse

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era o guerreiro em mim, contanto oponentes e planejando o ataque. Então, assim como mais cedo, eu realmente olhei para os rostos. Mais Moroi misturados com dhampirs. E — o que eu fiquei chocada em descobrir — humanos.

Eles também não eram alimentadores. Bem, não no sentido em que eu conhecia alimentadores.

Mesmo no escuro, eu podia ver marcas de mordidas nos pescoços de alguns humanos, mas julgando por suas expressões curiosas, eu poderia dizer que essas pessoas não davam sangue regularmente. Eles não estavam drogados. Eles estavam misturados entre os Moroi e dhampirs, sentados, em pé, conversando, atraindo — o grupo todo claramente estava unido em algum tipo de comunidade. Eu me perguntava se esses humanos eram como os Alquimistas. Talvez eles tenham algum tipo de relação de negócios.

A formação firme ao nosso redor começou a se dispersar, e eu fui para perto da Sydney. — O que, em nome de Deus, é tudo isso? —

— Os Protetores,5 — ela disse baixo.

— Protetores? O que isso significa? —

— Significa, — disse o Moroi barbudo, — que ao contrário de seu povo, nós ainda mantemos os dias antigos, do jeito que realmente deveria ser. —

Eu encarei esses — Protetores — em suas roupas gastas e as crianças sujas e descalças. Refletindo sobre quão longe estávamos da civilização — e baseado em quão escuro estava longe do fogo — eu estava apostando que eles não tinham eletricidade. Eu estava a ponto de dizer que não achava que era assim que alguém deveria realmente viver. Então, lembrando-me do jeito casual que essas pessoas tinham falado de lutas até a morte, eu decidi manter meus pontos de vista para mim.

— Por que eles estão aqui, Raymond? — perguntou uma mulher sentada ao redor do fogo. Ela era humana, mas falava com o Moroi barbudo num jeito perfeitamente comum e familiar. Não era a forma sonhadora que um alimentador normalmente usava com um Moroi. Não era nem mesmo como as conversas afetadas que minha raça tinha com os Alquimistas. — Eles vão se juntar à nós? —

Raymond negou com a cabeça. — Não. Os Impuros estão atrás dela por matar a rainha deles. —

5 No original, Keepers.

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Sydney me deu uma cotovelada antes que eu pudesse negar. Eu rangi meus dentes, esperando para ser maltratada. Ao invés disso, fiquei surpresa ao encontrar a multidão me olhando com uma mistura de respeito e admiração, assim como havia sido em nossa facção de boas vindas. —

— Nós estamos dando refúgio a eles, — explicou Raymond. Ele sorriu para nós, embora eu não soubesse se sua aprovação vinha de nós sermos assassinos ou simplesmente porque ele gostava da atenção que estava ganhando. — Embora, vocês sejam bem vindos a se juntar a nós e viver aqui. Nós temos espaço nas cavernas. —

Cavernas? Eu olhei em direção aos penhascos além do fogo, percebendo agora o que eram os buracos negros. Mesmo enquanto eu assistia, algumas pessoas se retiraram para a noite e escalaram até desaparecerem nos pedaços escuros da montanha.

Sydney respondeu enquanto eu mantinha a expressão horrorizada no rosto. — Nós apenas precisamos ficar aqui... — ela vacilou, considerando quão incompletos nossos planos se tornaram. — Uns dois dias, provavelmente. —

— Você pode ficar com a minha família, — disse Raymond. — Mesmo você. — Isso foi direcionado para Sydney, e ele faz isso soar como um favor.

— Obrigada, — ela disse. — Somos gratos em passar a noite em sua casa. — A ênfase na ultima palavra era para mim, percebi. As estruturas de madeira ao longo do pátio árido não pareciam luxuosas em nenhum grau de imaginação, mas eu aguentaria uma caverna qualquer dia.

O vilarejo, ou comunidade, ou qualquer coisa, estava se tornando crescentemente excitante enquanto nossa novidade corria. Bombardearam-nos com perguntas, começando com coisas comuns como nossos nomes, mas se movendo rapidamente para detalhes especificos sobre como exatamente eu havia matado Tatiana.

Eu fui salva de ter que responder quando a mulher humana que havia conversado com Raymond mais cedo pulou e guiou nosso triu para longe. — Já chega, — ela disse, espantando os outros. — Está ficando tarde, e eu estou certa de que nossos hospedes estão com fome. —

Eu estava morrendo de fome, na verdade, mas não sabia se eu estava em grandes dificuldades o suficiente para comer ensopado de gambá ou o que passou como alimento por aqui. As palavras da mulher foram recebidas com desapontamento, mas ela os assegurou que

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poderiam falar conosco amanhã. Olhando ao redor, eu vi um fraco púrpura do que deve ter sido o céu oriental. Nascer do sol. Um grupo de Moroi desejando os jeitos — tradicionais — provavelmente teriam uma rotina noturna, significando que essas pessoas provavelmente só teriam mais algumas horas antes da hora de dormir.

A mulher disse que seu nome era Sarah e nos guiou pelo pátio árido. Raymond disse que nos veria em breve. Enquanto andávamos, nós vimos outras pessoas caminhando para as dispersas, casas em ruínas, indo para a cama ou possivelmente ficar acordados devido à comoção. Sarah olhou para Sydney.

— Você nos trouxe algo? —

— Não, — disse Sydney. — Estou aqui apenas para escoltá-los. —

Sarah parecia desapontada, mas assentiu. — Uma tarefa importante. —

Sydney franziu o cenho e aparentou estar mais desconfortável. — Faz quanto tempo desde que meu povo trouxe algo para vocês? —

— Alguns meses, — disse Sarah depois de um momento pensando.

A expressão da Sydney ficou obscura diante das palavras, mas ela não falou novamente.

Sarah finalmente nos levou para o interior da mais larga e de melhor aparência casa, mesmo que ainda fosse comum e feita de tábuas madeira não pintadas. O interior era de um preto escuro, e nós esperamos enquanto Sarah acendia lanternas antigas. Eu estava certa. Nada de eletricidade. Isso de repente me fez me questionar sobre o encanamento.

O chão era de madeira rígida assim como as paredes e cobertos por grandes e brilhantes tapetes. Aconteceu de estarmos em alguma híbrida cozinha-sala-de-estar-e-jantar. Havia uma grande lareira no centro, uma mesa de madeira e cadeiras de um lado, e grandes almofadas no outro, que eu presumi que servissem como sofás. Prateleiras de ervas de secagem estavam penduradas acima da lareira, enchendo a sala com um cheiro picante que se misturava com o cheiro de madeira queimada. Existiam três portas na parede do fundo, e Sarah assentiu para uma.

— Vocês podem dormir no quarto das meninas, — ela disse.

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— Obrigada, — eu disse, incerta sobre eu querer ver como nossas acomodações de hóspedes eram. Eu já estava sentindo falta do MOTEL. Eu estudei Sarah curiosamente. Ela parecia estar na idade de Raymond e vestia um vestido comum que ia até seus joelhos. Seu cabelo loiro estava preso, e ela parecia pequena para mim, assim como todos os humanos. — Você é a governanta do Raymond? — era o único papel que eu atribuiria a ela. Ela tinha algumas marcas de mordida, mas obviamente não era uma alimentadora. Pelo menos não em tempo integral. Talvez por aqui, alimentadores também ajudavam com os cuidados da casa.

Ela sorriu. — Sou esposa dele. —

Era uma marca do meu auto-controle eu ter conseguido soltar qualquer tipo de resposta. — Oh. —

O olhar afiado de Sydney caiu sobre mim, um alerta neles: Deixe para lá. E novamente eu apertei meu queixo e lhe dei um leve aceno de cabeça para deixá-la saber que eu havia entendido.

Só que eu não entendia. Dhampirs e Moroi transavam o tempo todo. Dhampirs precisavam disso. Ligações mais duradouras eram um escândalo — mas não completamente fora do leque de possibilidades.

Mas Moroi e humanos? Isso estava além da compreensão. Essas raças não ficavam juntas há anos. Eles produziram dhampirs há muito tempo, mas enquanto o mundo moderno progredia, os Moroi se afastaram completamente de se ligar (intimamente falando) com os humanos. Nós vivemos entre eles, é claro. Moroi e dhampirs trabalhavam entre os humanos pelo mundo, compravam casas em suas vizinhanças, e aparentemente tinham um regime com sociedades secretas como Alquimistas. E, é claro, Moroi se alimentavam de humanos — e isso era a coisa. Se você mantivesse uma humano perto de você, é porque ele era um alimentador. Esse era o nível de intimidade. Alimentadores eram comida, puro e simples. Comida bem tratada, sim, mas não comida com que você faz amizade. Moroi fazendo sexo com um dhampir? Picante. Um Moroi fazendo sexo com um dhampir e bebendo sangue? Sujo e humilhante. Um Moroi fazendo sexo com um humano — com ou sem sangue envolvido? Incompreensível.

Existiam poucas coisas que me chocavam ou ofendiam. Eu era bem liberal em meus pontos de vista quando se tratava de romance, mas a ideia de um casamento entre um humano e um Moroi me surpreendeu. Não importava se o humano era do tipo alimentador — como Sarah aparentava ser — ou alguém — acima — disso, como Sydney. Humanos e Moroi não ficavam juntos. Era primitivo e errado, e era por isso que já não era mais feito. Bem, pelo menos não de onde eu vim.

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Ao contrário de seu povo, nós ainda seguimos os velhos costumes.

A coisa engraçada era que não importava o quão errado eu achasse que isso era, Sydney sentia muito mais forte sobre isso com sua aversão à vampiros. Eu supus que ela já estava preparada, no entanto, por isso é que ela conseguiu manter a expressão fria dela. Ela não havia sido mantida no escuro como eu e Dimitri, porque eu senti com alguma certeza que ele compartilhava meus sentimentos. Ele só era melhor em esconder a surpresa.

Uma comoção na porta me tirou do meu choque. Raymond chegou e não estava sozinho. Um garoto dhampir de mais ou menos oito anos sentado em seus ombros, e uma garota Moroi mais ou menos da mesma idade perto deles. Uma bonita mulher Moroi que parecia ter seus vinte anos os seguiu, e atrás dela estava um atraente dhampir que não deveria ser mais do que dois anos mais velhos do que eu, se não tivesse exatamente a minha idade.

Apresentações se seguiram. As crianças era Phil e Molly, e a mulher Moroi se chamava Paulette. Todos eles pareciam morar aqui, mas eu não conseguia destinguir exatamente o relacionamento deles, exceto pelo garoto da minha idade. Ele era o filho de Raymond e Sarah, Joshua. Ele tinha um sorriso pronto para todos nós — especialmente para mim e Sydney — e os olhos que me lembravam dos olhos azuis cristalinos e penetrantes dos Ozeras. Só que, enquanto a família dos Ozeras tendiam a ter cabelo escuro, Joshua tinha um cabelo loiro cor de areia com luzes mais claras num tom de dourado. Eu tinha que admitir, era uma combinação atrativa, mas aquela parte chocada do meu cérebro me lembrou novamente que ele foi o resultado de uma transa entre humano e Moroi, não um dhampir e Moroi como eu. O produto final era o mesmo, mas o significado era bizarro.

— Estou colocando-os em seu quarto, — Sarah disse a Paulette. — O resto de vocês podem dividir o sótão. —

Demorou um momento preu perceber que — o resto de vocês — significava Paulette, Joshua, Molly e Phil. Olhando para cima, eu vi que realmente havia o que parecia ser um espaço de sótão cobrindo metade da vastidão da casa. Não parecia ser espaço o bastante para quatro pessoas.

— Nós não queremos ser inconvenientes, — disse Dimitri, dividindo meus pensamentos. Ele esteve quieto por quase toda a aventura nessa terra de madeira, guardando suas energias para ações, não palavras. — Nós ficaremos bem por aqui. —

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— Não se preocupe com isso, — disse Joshua, novamente me dando aquele bonito sorriso. — Não nos importamos. Angeline também não se preocupará. —

— Quem? — perguntei.

— Minha irmã. —

Eu reprimi uma careta. Cinco deles encolhidos para que pudéssemos ter um quarto. — Obrigada, — disse Sydney. — Nós agradecemos. E nós realmente não vamos ficar muito tempo. — Mesmo com seu desgosto pelo mudo dos vampiros, Alquimistas podiam ser educados e charmosos quando queriam.

— Que pena, — disse Joshua.

— Pare de flertar, Josh, — disse Sarah. — Vocês três querem comer algo antes de dormir? Eu poderia aquecer um pouco de guisado. Nós comemos mais cedo com um pouco do pão da Paulette. —

Ao ouvir a palavra guisado, meus temores sobre gambás retornaram. — Não precisam, — eu disse rapidamente. — Eu fico bem só com o pão. —

— Eu também, — disse Dimitri. Perguntava-me se ele estava tentando diminuir o trabalho deles ou se compartilhava meus medos de comida. Provavelmente não é o segundo. Dimitri parecia ser o tipo de cara que você poderia jogar na selva e ele sobreviveria a qualquer coisa.

Paulette aparentemente tinha assado muito pão, e eles nos deixaram fazer um pic-nic na nossa pequena sala com muito pão e uma tigela de manteiga que provavelmente Sarah tinha feito sozinha. A sala tinha mais ou menos o tamanho do meu dormitório na St. Vladimir, com dois colchões cheios do não. Colchas ordenadamente os cobriam, colchas que provavelmente não eram usadas a meses com essas temperaturas. Mastigando um pedaço que pão, que era surpreendentemente bom, eu deslizei minha mão sobre uma das colchas.

— Lembra alguns designs que vi na Rússia, — disse.

Dimitri estudou a estampa também. — Parecido. Mas não é exatamente o mesmo. —

— É a evolução da cultura, — disse Sydney. Ela estava cansada, mas não o bastante para abandonar o modo enciclopédia. — As

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estampas Tradicionais Russas foram trazidas e eventualmente se fundiram com a colcha de estampa típica Americana. —

Uau. — Hum, bom saber. — A família nos deixou sozinhos enquanto se preparavam para dormir, e eu olhei para nossa porta quebrada cautelosamente. Com o barulho e atividade por aqui, parecia improvável sermos ouvidos, mas mesmo assim eu abaixei minha voz. — Está pronta para explicar que diabos são essas pessoas? —

Ela deu de ombros. — Os Protetores. —

— É, eu já entendi isso. E nós somos os Impuros. Soa como um nome melhor para Strigoi. —

— Não. — Sydney se encostou contra a parede de madeira. — Strigoi são Perdidos. Vocês são Impuros porque se juntaram ao mundo moderno e deixaram para trás o jeito primitivo deles pelos seus próprios costumes bagunçados. —

— Hey, — eu repliquei. — Não somos nós usando macacões e tocando banjos. —

— Rose, — brigou Dimitri, com um olhar que indicava a porta. — Seja cuidadosa. E além do mais, só vimos uma pessoa usando macacão. —

— Se te faz se sentir melhor, — disse Sydney, — Eu prefiro o jeito de você. Ver humanos misturados como tudo isso... — a expressão simpática e profissional que ela havia mostrado aos Protetores se fora.Sua natureza brusca estava de volta. — É nojento. Sem ofensa. —

— Não ofendeu, — eu disse com um arrepio. — Confie em mim, sinto-me da mesma forma. Não posso acreditar... Não posso acreditar que eles vivem dessa forma. —

Ela assentiu, parecendo grata por eu dividir a mesma opinião que ela. — Eu gosto de vocês estando com a própria espécie. Exceto... —

— Exceto que? — eu incitei.

Ela parecia timida. — Mesmo que do povo de onde vocês vêm não se casem com humanos, vocês ainda interagem com eles e vivem em suas cidades. Esses caras não. —

— O que os Alquimistas preferem, — adivinhou Dimitri. — Você não aprova os costumes desse grupo, mas você gosta de tê-los convenientemente fora da sociedade principal. —

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Sydney assentiu. — Quanto mais vampiros ficam na sua na mata, melhor — mesmo que o estilo de vida seja louco. Esses caras guardam pra eles mesmos — e deixam os outros de fora. —

— Através de meios hostis? — eu perguntei. Nós fomos encontrados através de uma festa de guerra, e ela tinha esperado por isso. Todos eles estavam prontos para lutar: Moroi, dhampir e humanos.

— Esperançosamente não tão hostil, — ela disse evasivamente.

— Eles te deixaram passar, — disse Dimitri. — Eles conhecem os Alquimistas. Por que a Sarah te perguntou sobre trazer novas coisas? —

— Porque é o que fazemos, — ela disse. — De vez em quando, para grupos como esse, nós deixamos suprimentos — comida para todos, medicamentos para os humanos. — Novamente, eu ouvi aquele escárnio em sua voz, mas então ela se ficou desconfortável. — A coisa é, se Sarah está certa, eles estão esperando a visita de um Alquimista. Seria muita sorte nossa estar aqui quando acontecesse. —

Eu ia assegurá-la que nós só precisávamos ficar aqui por alguns dias quando uma frase impensada escapou. — Espera. Você disse ‘grupos como esse’. Quantas dessas comunidades existem por aí? — eu me virei para o Dimitri. — Isso não é como os Alquimista, né? Algo que só alguns de vocês sabem sobre e que vão guardar do resto de nós? —

Ele negou com a cabeça. — Estou tão abismado com tudo isso quanto você. —

— Alguns de seus lideres provavelmente sabem sobre os Protetores de uma forma vaga. — Disse Sydney. — Mas nada de detalhes. Nem localizações. Esses caras se escondem muito bem e podem se mudar numa fração de segundo. Eles ficam longe do seu povo. Eles não gostam do seu povo. —

Suspirei. — Motivo pelo qual não vão nos entregar. E é por isso que eles estavam tão animados que eu possa ter matado a rainha Tatiana. Obrigada por isso, aliás. —

Sydney não estava arrependida, no mínimo. — Nos deu proteção. Como isso. — Ela abafou um bocejo. — Mas por enquanto? Estou exausta. Não serei capaz de seguir os planos loucos de pessoa alguma — seus ou do Abe — se eu não dormir um pouco. —

Eu sabia que ela estava cansada, mas só agora a extensão disso me atingiu. Sydney não era como nós. Nós precisávamos dormir, mas tínhamos resistência para deixarmos isso de lado se precisássemos. Ela

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esteve acordada a noite toda e forçada a enfrentar situações que definitivamente estavam fora de sua zona de conforto. Ela parecia que estava a ponto de dormir encostada na parede aqui e ali. Virei-me para Dimitri. Ele já estava olhando para mim.

— Turnos? — perguntei. Sabia que nenhum de nós permitiria que nosso grupo ficasse sem guarda nesse lugar, mesmo que fossemos alegadamente heróis assassinos de rainha.

Ele assentiu. — Você vai primeiro, e eu vou — —

A porta foi aberta bruscamente e eu e Dimitri quase partimos pro ataque. Uma garota dhampir estava em pé ali, encarando-nos. Ela era uns dois anos mais nova do que, quase da idade de minha amiga Jill Mastrano, uma estudante da St. Vladimir que queria ser uma Moroi lutadora. Essa garota parecia querer ser uma também, começando por sua postura. Ela tinha o físico forte e esguio que a maioria dos dhampirs tinha, seu corpo todo preparado como se ela pudesse lidar com qualquer um de nós. Seu cabelo era liso até a cintura, um castanho-escuro que tinha luzes douradas e cobre do sol. Ela tinha os mesmos olhos azuis do Joshua.

— Então, — ela disse. — Vocês são os grandes heróis pegando meu quarto. —

— Angeline? — adivinhei, lembrando-me de Joshua mencionando sua irmã.

Ela estreitou os olhos, não gostando deu saber que ela era. — Sim. — Ela me estudou e não pareceu aprovar o que encontrou. O olhar afiado foi para o Dimitri em seguida. Eu esperei um suavizar, esperava que ela caísse por sua boa aparência como a maioria das mulheres faziam. Mas, não. Ele recebeu desconfiança também. Sua atenção se voltou para mim.

— Eu não acredito nisso, — ela declarou. — Vocês são suaves demais. Muito arrumados. —

Arrumados? Sério? Eu não me sentia dessa forma, não nos meus jeans surrados e camisetas de batalha. Olhando para seu vestuário, no entendo, eu talvez pudesse entender a atitude. Suas roupas eram limpas, mas seus jeans já eram bem usados, os dois joelhos desgastados. A blusa era comum, branca que parecia ter sido feita em casa. Eu não sabia se era originalmente branca. Talvez eu fosse arrumada em comparação. Claro, se alguém merecia o título de arrumada, seria a Sydney. Suas roupas teriam passado numa reunião de

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negócios, e ela não esteve em nenhuma luta ou fuga de prisão recentemente.

Angeline não a deu, porém, nem um segundo olhar. Eu estava começando a sentir que os Alquimistas eram uma categoria estranha por aqui, um tipo diferente de humanos daqueles casados com os Protetores. Alquimistas traziam suprimentos e iam embora. Eles eram quase um tipo de Alimentador para essas pessoas, sério, o que confundia minha cabeça. Os Protetores tinham mais respeitos pelos tipos de humanos que minha cultura nem reparava.

Independentemente, eu não sabia o que dizer para Angeline. Eu não gostava de ser chamada de suave ou ter minha capacidade de luta colocada em dúvida. Uma faísca do meu temperamento foi acesa, mas eu me recusei a causar problemas por arranjar briga com a filha de nosso anfitrião, nem ia começar a inventar detalhes sobre o assassinato de Tatiana. Eu simplesmente dei de ombros.

— Aparências enganam, — disse.

— Sim, — Angeline disse friamente. — Enganam mesmo. —

Ela seguiu até um cofre no canto e tirou o que parecia como uma camisola. — É melhor você não bagunçar minha cama, — ela me alertou. Olhou para Sydney, sentada no outro colchão. — Não ligo para o que você fizer com o da Paulette. —

— A Paulette é sua irmã? — perguntei, tentando entender essa familia.

Não parecia haver uma coisa sequer que eu pudesse dizer que não ofendesse a garota. — Claro que não, — Angelina disse, batendo a porta quando saiu. Eu encarei, atónita.

Sydney bocejou e se esticou em sua cama. — Paulette provavelmente é a... ahn, não sei. Amante. Concubina do Raymond. —

— O que? — exclamei. Um Moroi casado com uma humana, tendo um caso com uma Moroi. Eu não sabia quanto mais eu aguentaria. — Vivendo com essa familia? —

— Não me peça para te explicar. Eu não quero saber mais sobre seus costumes perversos do que eu preciso. —

— Não são meus, — retorqui.

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Sarah veio um pouco depois para se desculpar por Angeline e ver se precisávamos de mais alguma coisa. Nós a asseguramos que estávamos bem e agradecemos por sua hospitalidade. Quando ela se foi, Dimitri e eu ajeitamos os turnos. Eu preferia que nós nos ficassemos alertas, particularmente desde que eu estava certa de que Angeline ia torcer a garganta de alguém em seu sono. Mas, precisavamos descansar e sabiamos que os dois iam reagir prontamente se alguém derrubasse a porta.

Então, eu deixei o Dimitri pegar o primeiro turno enquanto me encolhi na cama da Angeline, tentando não bagunçar. Era surpreendentemente confortável. Ou, talvez eu só estivesse cansada. Era capaz de deixar de lado minhas preocupações com execuções, irmãos perdidos e vampiros caipiras. Um sono profundo se apossou de mim, e eu comecei a sonhar... mas não qualquer sonhos. Era o meu mundo interior, o sentimento de estar dentro e fora da realidade. Eu estava sendo levada para um sonho induzido por espírito.

Adrian!

O pensamento me animou. Eu sentia falta dele e estava ansiosa para conversar com alguém diretamente depois de tudo o que aconteceu na Corte. Não houve muita conversa durante minha fuga, e depois de toda essa bizarrice de mundo escondido em que eu tropecei, eu realmente precisava de um pedaço de normalidade e civilização ao meu redor.

O mundo do sonho começou a se formar ao meu redor, ficando mais e mais claro. Era um lugar que eu nunca havia visto, uma sala de estar formal com cadeiras e sofás cobertos por almofadas com paisley cor de lavanda. Pinturas a óleo decoravam as paredes, e havia uma grande harpa no canto. Eu havia aprendido fazia tempo que não havia como prever para onde o Adrian ia me levar — ou o que ele me faria vestir. Felizmente, eu estava usando jeans e uma camiseta, meu nazar azul pendurado no meu pescoço.

Eu me virei ansiosamente, procurando por ele para dar um abraço gigante. Ainda assim, enquanto meus olhos procuravam pela sala, não foi o rosto de Adrian que eu de repente me vi olhando.

Era o de Robert Doru.

E Victor Dashkov estava com ele.

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