O sucesso da Parafernalha era evidente. O crescimento do canal
se tornou exponencial. Mesmo com apenas um vídeo no ar, em poucas semanas
ele entrou na lista dos 30 canais com maior número de inscritos do Brasil.
Visando o crescimento da empresa, investi mais e contratei nosso segundo editor
e diretor de vídeos, Daniel Curi, que também havia saído de seu emprego
recentemente, o mesmo de Osiris. Era a dupla dinâmica que por tanto tempo tinha
trabalhado nos bastidores dos meus programas de TV. A dupla ideal para um
projeto como a Parafernalha. Espíritos jovens, motivados e com um grande desejo
de provar suas capacidades. Essas características são essenciais para qualquer
start-up que envolva a criatividade e a inovação. Como eu não tinha dinheiro o
suficiente para pagar altos salários e também não podia oferecer parte da empresa
em troca da dedicação, a grande dificuldade era a de justamente motivar os
integrantes que fossem entrando na Parafernalha. Por isso, mostrava a todo o
momento a importância que eles teriam para uma possível revolução do
entretenimento brasileiro. O quanto poderíamos estar escrevendo a história
naquele momento e como era importante a dedicação incondicional de quem
fizesse parte disso, mesmo sabendo que a grana era pouca. O resultado foi visível,
trabalhávamos mais do que provavelmente havíamos trabalhado na vida e
ninguém encontrava motivos para reclamar.
Enfim, mesmo trabalhando mais que elástico de cueca de blogueiro, voltei a
pensar no Não Faz Sentido, que já completava a alarmante marca de dois meses
sem vídeos. As reclamações já eram constantes, mesmo explicando que a
ausência de vídeos era algo planejado, justamente para que o canal não caísse na
rotina. Não importa, se o Não Faz Sentido conseguiu atingir um estilo de público:
é o do tipo fiel e bastante passional. Se eu lançasse um vídeo, era o herói da
humanidade. Se não lançasse, era pior que Hitler.
Como não queria ficar sendo comparado a Hitler (ainda bem que não segui
com a ideia idiota de colocar o nome da Parafernalha de “ParaFornalha”),
comecei a planejar o novo vídeo do canal. Dessa vez fiz de maneira bem simples,
joguei no meu Twitter:
“Que tema vocês gostariam de ver no Não Faz Sentido?”
As respostas foram chegando.
Funk – Não, era fácil demais. Um tema sobre o qual todo mundo já fala mal
não tem necessidade de aparecer no Não Faz Sentido.
Geisy Arruda – Não queria dedicar um vídeo do Não Faz Sentido a alguém
que ficou famoso por usar um minivestido na faculdade.
Preta Gil – Não. Ela era superlegal.
Mulheres vagabundas – Já conseguia imaginar as mulheres do Femen tirando a
roupa e fazendo protesto na frente do meu prédio.
Mídias sociais – TAÍ!
Eu até o momento não tinha falado sobre o fenômeno das mídias sociais, que
já se alastrava no Brasil de forma avassaladora. O Facebook havia praticamente
destruído o Orkut. O Twitter crescia cada vez mais. As pessoas estavam cada vez
mais conectadas nos sites que dispunham de ferramentas para elas se conectarem.
Como o tema não era tão “condenável”, visto que eu também era viciado em
redes sociais, optei pela direção do texto estilo stand-up. Reuni todas as coisas
mais engraçadinhas que envolviam as redes sociais e elaborei tiradas sarcásticas e
críticas com uma pegada humorística em cima delas.
Falei sobre o botão “cutucar” no Facebook, que na época era uma febre. Tirei
um sarro das fotos padronizadas que a maioria tirava (mulher tirando foto de cima
pra baixo pra mostrar o decote, homem tirando foto sem camisa em frente ao
espelho, mulher tirando foto antes de sair pra balada com a mão na cintura, entre
tantas outras). Sacaneei a presença dos pais nas redes sociais, comentando coisas
como “que orgulho do meu filho lindão” nas fotos dos filhos. Entre várias outras
coisas, finalizei o vídeo mostrando como 99,9% de todas as tuitadas poderiam ser
respondidas com um simples “foda-se”.
Até hoje recebo pelo menos dois “foda-se” a cada tuitada minha.
O vídeo, lançado dia 29 de junho de 2011, mais uma vez tornou-se um
fenômeno de audiência, chegando a 2 milhões de visualizações em pouquíssimo
tempo e colocando o “botão cutucar” como a bola da vez de ser zoado na
internet, além da quantidade acachapante de “foda-se” no Twitter. Se tinha algum
engenheiro do site analisando no momento, ele deve ter se assustado e até hoje
não deve ter entendido a quantidade de repetições do palavrão por minuto na
época. Não que isso me deixe com muito orgulho, fazer com que milhares e
milhares de pessoas falem um palavrão numa rede social não é lá bem uma... Ah,
quer saber? Me deixa com um certo orgulho, sim.
Pausa para reflexão. Acabei de começar uma frase, ali em cima, com “Me
deixa com um certo”, sendo que eu lembro de ter aprendido em alguma aula de
português que não se pode começar frases com pronomes oblíquos (no caso, o
“me”). Contudo, é absolutamente ridículo que este livro, que nada tem de
genialidade escrita, comece uma frase com “Deixa-me com um certo orgulho,
sim”. Portanto, fica relatado que muitos erros foram cometidos em busca da
perfeição da erroinedade, que eu também não sei se é escrito “erroneidade” ou
“erroniedade”. Obrigado.
Com o vídeo estourando de acessos, recebi um alerta do Flávio Augusto,
presidente da Wise Up, de que a segunda campanha publicitária da Wise Up
aconteceria nos próximos dias e que eu deveria participar de uma reunião por
Skype com ele e representantes do marketing da empresa.
O problema, contudo, veio na reunião.
Tudo começou normalmente, um “olá” bastante entusiasmado, o relato de que
a minha primeira campanha havia dado um resultado estrondoso para a empresa,
que inúmeros adolescentes de todo o país estavam dizendo a seus pais que
queriam “fazer o curso de inglês do Felipe Neto”. Não sabia daquilo até então,
achei espetacular. Mas, na sequência, a coisa toda deu uma minguada.
– Então, Felipe – começou Flávio –, agora a gente vai fazer a segunda
campanha e decidimos fazer um comercial só, pra dar mais força e aparecer muito
mais vezes.
Na hora entendi o que ele queria dizer e ainda bem que a conferência por
Skype era só por áudio, pois minha cara foi de pura frustração.
– Por isso, a gente precisa saber se tá tudo bem você aparecer no mesmo
comercial que o Fiuk. Vão estar você, o Fiuk, o Fábio Porchat e o Rodrigo
Santoro. Mas já sabe, né? A imprensa vai toda em cima de você e do Fiuk, o que
vai ser bom pra gente, mas quero saber o que você acha.
Pensei por alguns segundos. Não tinha a menor possibilidade de recusar,
aquilo configuraria uma quebra de contrato, que causaria não só a perda do valor
pago mensalmente pela Wise Up como eu provavelmente teria de pagar algum
tipo de multa. O Flávio mais uma vez mostrava sua genialidade. Sabendo que eu
não tinha opção, ele não impôs, não me comunicou que eu simplesmente teria de
fazer o comercial e ponto final. Ele perguntou o que eu achava, quis ouvir minha
opinião, me incluiu no próprio planejamento da campanha.
A briga toda já tinha acontecido havia quase um ano, mas ainda assim eu sabia
que o simples fato de estar na mesma propaganda que o Fiuk geraria um
burburinho chato pra cacete tanto na internet quanto fora dela. Não tinha jeito, eu
teria de passar por aquilo.
– Flávio, vambora. Não é meu sonho fazer uma campanha junto do Fiuk, mas
você me contratou para representar sua marca, então é claro que eu vou fazer –
respondi.
– Que bom – disse Flávio. – Eu acho que a presença do Santoro e do Porchat
vão ajudar a suavizar isso. Não é só você e o Fiuk, são todos os garotospropaganda
deste ano juntos.
Com toda a problemática envolvendo o Fiuk, eu tinha até me esquecido de que
o Rodrigo Santoro, um dos meus grandes ídolos, estaria no set junto comigo para
gravar. Sem dúvida seria uma honra incrível.
Nessa hora, o diretor de marketing começou a falar:
– Felipe, a gente acha que não é legal simplesmente ignorarmos o fato de que
você e o Fiuk têm um histórico ruim. Então a gente teve a ideia de fazer um vídeo
extra, lá no dia da filmagem, que mostraria vocês nos bastidores, um alfinetando o
outro, falando bobagem, pode até rolar uma briga mesmo, só pra gente mostrar
que sabemos da coisa e que vocês estão dispostos a brincar com o tema, um
sacaneando o outro.
Achei a ideia genial. Sempre acho maravilhoso quando uma marca se dispõe a
sacanear coisas internas, sem medo. Além disso, eu sabia que o Fiuk não
aguentaria cinco segundos de improvisação comigo.
Favor, ler a frase acima estilo playboy porradeiro falando “tu não guenta 10
minuto de porrada comigo, rapá”.
Claro que estou brincando. Aliás, uma preocupação chegou a nascer: na hora
de editar esse vídeo sacaneando uma possível briga, e se a galera lá decidisse
montar de modo a favorecer o Fiuk, que era mais famoso e muito mais caro que
eu? Mas, ao mesmo tempo, o vídeo seria publicado no YouTube, que era meu
território e onde inclusive eu tinha mostrado um resultado muito maior de
engajamento e visualizações, então provavelmente manteriam o vídeo imparcial.
Deixei isso de lado e comecei a me preparar psicologicamente para o que viria.
Alguns dias depois eu já estava em um avião a caminho de Curitiba, onde
passaria um dia inteiro dentro do set de filmagem, gravando alucinadamente para
no final apenas trinta segundos de cena irem para o ar. É impressionante a
quantidade de takes necessários para se filmar um comercial, parece que vai sair
um longa do James Cameron.
Ao chegar, fui imediatamente para o camarim... E adivinhem quem estava se
maquiando?
O Santoro. Estava lá, tranquilão, passando maquiagem.
Enfim, foi um dia incrível, de muitas risadas, muita tiração de sarro e bastante
trabalho. Nenhuma polêmica rolou, muito pelo contrário, o dia foi pautado por
piadas do Porchat referindo-se a uma possível relação amorosa entre mim e o
Fiuk.
Toda essa situação “Felipe Neto e Fiuk” era tão comentada, que a Wise Up fez
um acompanhamento minuto a minuto de todo o dia de filmagem, publicando em
um hotsite criado especialmente para que as pessoas soubessem o que estava
acontecendo nos bastidores do dia de gravação. Nunca tinha visto um simples
comercial de TV ser tratado daquela forma, e o site, por sinal, bombou de
acessos. A imprensa imediatamente começou a dizer o que estava acontecendo e
eu e Fiuk aproveitamos para tirar algumas fotos de sacanagem.
Quero dizer, algumas fotos sacaneando a situação. Nós não tiramos fotos do
nosso momento de sacanagem, isso foi só entre nós.
Ajudamos a incentivar o clima de tensão, só pela diversão. Tiramos uma foto
onde eu aparecia no fundo fazendo o movimento de que iria socar Fiuk. Em
outra, o Porchat segurava cada um pelo casaco como se estivesse nos apartando.
Além de várias outras provocativas. O Fiuk ainda tentava pregar o sinal de “paz e
amor”, mas eu sabia que tirar uma foto feliz ao lado do Fiuk seria um prato cheio
pra imprensa e péssimo pra minha imagem com meus fãs. Por isso, até mesmo na
foto “blasé” dos dois se abraçando pra câmera, saí com uma expressão
comumente conhecida como “cara de bunda”.
Parece bobagem, mas essa simples decisão de não tirar qualquer foto
“amigável” com Fiuk exemplifica todo um trabalho de assessoria de imprensa que
rola nos bastidores desse mundo alvo das fofocas. Dias antes isso já havia sido
combinado entre mim e a DNA. Sabíamos que uma simples foto feliz poderia
significar um terremoto na minha carreira, uma vez que com certeza a imprensa
escolheria aquela foto para publicar nas matérias. Se isso acontecesse, seria ótimo
para o Fiuk, que não tinha nada a perder, e péssimo pra mim, pois fortaleceria de
forma contundente a imagem de “vendido”. Já consigo até imaginar o título da
matéria: “Felipe Neto e Fiuk agora são amigos.”
Aproveitamos o dia também para filmar o tal do vídeo dos bastidores. Avisei
para o Fiuk: “Pega pesado, hein, viado.” Ele não parecia muito satisfeito com a
ideia, pois queria pregar a imagem do “paz e amor, sou feliz, só quero dizer que
amo a vida”, mas eu fiz meu papel e deixei o aviso antes de começarmos a
gravar.
Algumas semanas depois a campanha foi ao ar na Globo, gerando uma
repercussão estratosférica. Comentários em todos os cantos sobre a ação
envolvendo a minha pessoa e o filho do Fábio Junior na mesma cena. Alguns
interpretavam como mais uma jogada de mestre da Wise Up, outros aproveitavam
para inflamar uma guerra virtual, enquanto tias perguntavam: “Quem são essas
pessoas do lado do Santoro?”
Quando o vídeo da “briga” foi ao ar no YouTube, a coisa toda tomou uma
projeção muito maior do que eu imaginava. Em pouquíssimo tempo o vídeo bateu
mais de 1 milhão de exibições, provando que a estratégia da Wise Up tinha sido
acertadíssima. Nos comentários, enquanto as pessoas com menos capacidade de
interpretação achavam que a discussão era legítima, outras dividiam-se entre
aplaudir a ideia da empresa e criticar o oportunismo. Bem, chamar uma campanha
publicitária de oportunista não deixa de ser outro elogio.
“Gravar com o Felipe Neto pra mim foi uma novidade. Porque começou com
aquela briga no Twitter: ele fez um vídeo, de Fiukar e não sei o quê, inventou um
verbo com o meu nome. Aí, saiu uma briga no Twitter, a gente deu uma
discutida... E desde então a gente não aguenta se olhar na cara.”
O vídeo começava com esse discurso do Fiuk. Em seguida, cortava pra mim,
em outro lugar da gravação.
“Fiquei sabendo aí do lance de gravar com o Fiuk. Eu não sabia disso,
ninguém me falou por... caria nenhuma. To vendo ali como é o cenário... Eu só
peço pra ele não ficar do meu lado.”
Depois disso, os dois juntos, já com o fundo da Wise Up desfocado atrás.
Fiuk:
– Eu, graças a Deus, eu tenho um dom, assim, eu sei me controlar, não gosto
de falar mal de ninguém.
Eu:
– É verdade, eu só falo...
Fiuk:
– Tem gente que tem o dom de falar mal, né?
Eu:
– É claro... Mas tem gente que pede.
Enfim, são mais de três minutos de vídeo ao qual você provavelmente já deve
ter assistido. Caso não tenha, sugiro que assista. É um excelente exemplo de
como provocar o público, sem medo, para gerar burburinho ao redor de uma
marca. Mais um exemplo de como se pensar fora da caixa e utilizar o YouTube
como plataforma de mídia de forma eficiente.
Para coroar ainda mais, esse vídeo acabou vencedor do respeitado Prêmio
Colunistas Paraná 2012, na categoria Peça Publicitária Viral. O troféu foi para a
agência Yeah!, responsável pela campanha. Aliás, se alguém da agência está
lendo este livro, fiquem sabendo que nunca recebi meu trofeuzinho! Brincadeiras
à parte, até hoje, quando se entra no site da Yeah!, o case “Felipe Neto x Fiuk”
ainda aparece como um dos destaques da história da agência.
Todos esses acontecimentos envolvendo as duas campanhas que fiz para a
Wise Up na TV aberta e em outdoors acabou contribuindo bastante para que a
imagem do youtuber começasse a ser vista de forma mais profissional e menos
“moleque no quarto da mãe”.
Após minha ida pra TV, bem como a do PC Siqueira pra MTV e todas as
campanhas publicitárias que estrelamos, fosse na internet ou fora dela, o meio do
YouTube passou a ser visto com outros olhos no Brasil. O que antes era um lugar
de puro amadorismo, agora servia também para que profissionais surgissem,
trabalhos fossem realizados e grandes marcas se envolvessem. Esse foi o início de
uma nova era do entretenimento digital, e o surgimento da Parafernalha
impulsionou ainda mais todo esse ideal.
Centenas de novos canais surgiam a cada dia, inúmeros profissionais da
indústria do entretenimento começavam a planejar suas inserções nessa nova
forma de se fazer um trabalho sem depender de ninguém. Outros talentos
começavam a aparecer com bastante destaque, entre eles: Cauê Moura (Desce a
Letra), Vagazóides, NerdOffice, Kéfera (5inco Minutos) e o próprio Galo Frito,
que agora fazia vídeos constantes.
A imprensa cada vez mais tentava mostrar esse novo mundo, ainda
incompreensível aos olhos da maioria. Matérias ainda confundiam os termos,
chamando criadores de conteúdo para o YouTube de “blogueiros” ou
“webmakers”, tudo ainda era muito diferente, confuso. Por que diabos, da noite
para o dia, tantas milhões de pessoas haviam despertado um interesse louco de
ficar buscando por esse tipo de conteúdo no YouTube? De onde vinha esse
fenômeno? O que iria acontecer dali pra frente? E por que a TV estava buscando
ali uma possível solução de inovação?
Observando todo esse acontecimento, aprofundei-me de forma ferrenha cada
vez mais no estudo e no planejamento dos próximos anos. Imagine o Gandalf,
com sua barba cinzenta e cheiro de alface molhado, dentro de uma caverna com
dezenas de livros ao seu redor, fazendo rabiscos aqui e ali, fumando seu
cachimbo e em estado de quase transe enquanto lia e escrevia sem parar. Esse era
eu, durante o período que se seguiu ao comercial com Fiuk.
Uma obsessão louca tomava conta da minha mente, a certeza absoluta de que a
Parafernalha seria apenas o início de algo estupidamente maior que estava para
acontecer no país. E, quanto mais eu estudava, mais via que o cenário estava
inteiramente favorável para uma revolução que pegaria a todos de surpresa. Algo
que não acontecia desde a época em que a Tupi liderava a indústria do
entretenimento no Brasil. É claro que isso não aconteceria da noite para o dia,
estávamos falando de um movimento que levaria alguns anos para ser finalizado,
mas uma certeza era plena: os dias em que a arte era inteiramente controlada pelos
anunciantes e executivos estavam contados.
Em breve a internet engoliria as velhas mídias em termos de entretenimento,
oferecendo um serviço on-demand, no qual o usuário assiste ao que quer, na hora
que preferir, sem a necessidade de ficar gravando conteúdo. E um fator seria
determinante para isso no Brasil: o fato de que os nossos veículos de
entretenimento de massa eram (e são) estupidamente controlados pelo
politicamente correto.
Esse fenômeno é curioso de ser analisado, mas vamos lá.
Vamos colocar dois países como comparação: Estados Unidos e Brasil.
A TV americana se destaca pela presença de conteúdo inovador e
politicamente incorreto: programas como Family Guy, The Simpsons, South
Park, Saturday Night Live, seriados como Modern Family, Two and a Half Men,
entre tantos outros. A TV americana é o exemplo de como o humor e a diversão
devem ter passe livre para falar sobre o que quiser, da forma como quiser, sem
sofrer ameaças do Ministério Público, pressão dos anunciantes ou gritos histéricos
das mães dizendo que seus filhos não podem assistir àquilo.
Já a TV brasileira é pautada pelo politicamente correto. Palavrões são
proibidos. O humor é moldado da forma mais “dentro da caixinha” possível, com
bordões que já saíram de moda nos anos 1980 e continuam se repetindo. Todo
mundo está sempre preocupado em como a marca X vai se sentir anunciando em
um programa pesado, ou como a marca Y vai se sentir em um programa que
rompe barreiras. Ninguém quer romper barreiras, apenas adaptar o que funciona
com a massa para, a cada ano, termos as mesmas coisas com outras entrelinhas.
Agora analisemos o resultado disso.
Nos Estados Unidos, pelo fato de o politicamente incorreto e a crítica estarem
presentes no dia a dia do entretenimento do país, os maiores canais do YouTube
são: Ray William Johnson (que faz um show de humor sacaneando vídeos virais
da internet), Smosh (que faz vídeos mais infantis de forma bem escrachada sobre
temas como video games e filmes), CollegeHumor (um grupo que produz
sketches puramente de humor), Jenna Marbles (uma vlogueira bem-humorada
que fala principalmente para o público feminino mais jovem), entre tantos outros.
Agora vamos analisar os maiores canais do Brasil da época e que ainda são
destaque: Não Faz Sentido (discurso ácido criticando tudo e todos), Mas Poxa
Vida (PC Siqueira falando suas verdades absurdamente pesadas sobre o cotidiano
e também metendo o pau em tudo), Desce a Letra (Cauê Moura xingando com
todos os palavrões mais pesados possíveis os temas que ele aborda, de forma
extremamente crítica), Galo Frito (grupo de paródias que ficou famoso por descer
a lenha no Justin Bieber através de sua paródia da música “Baby”).
O que todos os canais que fizeram um sucesso monstruoso no Brasil têm em
comum? Todos faziam o extremo oposto do entretenimento disponível para os
jovens no país. Já nos Estados Unidos, nenhum da lista dos top 10 de canais tem
um discurso ofensivo ou crítico ofensivo sobre questões políticas, de mídia ou até
mesmo do dia a dia. Por quê? Porque o entretenimento americano já oferece isso
para a população. No Brasil, a crítica era uma puta novidade para uma sociedade
acostumada com o humor velado, velho e sem alfinetadas.
O YouTube tornou-se a única opção de humor pesado, com o linguajar jovem,
do entretenimento brasileiro. É claro que podemos dizer que o cinema também se
comunica de uma maneira muito melhor mas, assim como o cinema americano,
esbarra na questão da “classificação indicativa” (o cinema vive de bilheteria e, se
o filme recebe uma censura de 18 anos, ela despenca). Logo, se o jovem
brasileiro queria assistir a um conteúdo com o linguajar deles, o estilo deles e o
politicamente incorreto que eles tanto admiravam, a única opção era o YouTube.
E continua sendo até hoje.
Ainda sonho com o dia em que uma Rede Globo ou Rede Record colocará um
programa do nível de Family Guy em sua grade de programação, sem ser às 4 da
manhã (que é o horário em que a Globo exibe esse mesmo programa, mas com
uma dublagem que suaviza todos os palavrões e piadas mais pesadas).
O cenário estava montado, aquele era (e ainda é, no momento em que escrevo
este parágrafo) um dos momentos de transição mais importantes da história da
indústria do entretenimento no Brasil. E eu tracei meu objetivo: impulsionar,
definitivamente, essa revolução.
acesse o vídeo mencionado neste capítulo:
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