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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pare de se levar a sério e amadureça!



Algo muito interessante aconteceu às vésperas do prêmio
VMB. Fui chamado pela MTV para gravar uma chamada do programa junto com
a Preta Gil, que atendi de forma positiva imediatamente.
Na cena, eu começava a reclamar e a Preta utilizava um controle remoto para
apertar o botão do “mute” em mim, nitidamente me sacaneando e me chamando
de chato para todos que assistissem à premiação, mas achei extremamente
divertido e comprei a brincadeira. Contudo, a noite acabou tendo uma revelação
da própria Preta Gil.
Eu já havia falado sobre tantas coisas que esquecera completamente que, no
vídeo sobre “Sub-Celebridades”, eu havia dito a seguinte frase:
“Se você é do fã-clube da Preta Gil, tu já tá fudido na vida.”
Pois é, foi a própria Preta que me lembrou, enquanto conversávamos a minutos
de começar a rodar a gravação.
Aquela foi a primeira vez em que fui confrontado pessoalmente por alguém
criticado no Não Faz Sentido. Contudo, Preta carregava um ar de simpatia e não
falou de modo prepotente. Foi até mesmo sutil quando relatou que pensou
seriamente em me processar pela frase, mas acabou desistindo por saber que
poderia destruir minha vida caso o fizesse (e era verdade). No final, ainda elogiou
meu trabalho, disse que não perdia um vídeo e pediu uma foto para publicar em
seu Twitter.
Relato esse caso como exemplo de que um artista deve saber quando não se
levar a sério. Preta poderia ter ido até as últimas consequências, mas desistiu e
acabou virando fã dos meus vídeos. Eu poderia ter negado o convite da MTV,
que me chamou de chato e fez com que Preta calasse minha boca em rede
nacional, mas achei divertido e até hoje dou risada do quadro quando vejo no
YouTube. Não se levar a sério é a chave para qualquer pessoa pública. Ninguém
enxerga mais carisma em um indivíduo do que o ato de ele mesmo se sacanear
publicamente e aceitar as brincadeiras dos outros. Esse encontro com Preta serviu
para que eu melhorasse ainda mais meu espírito na hora de lidar com as críticas,
mesmo quando recheadas de presunções mentirosas. Deveria tratá-las com bom
humor, pois somente assim seria capaz de vencê-las e, principalmente, de não cair
em estereótipos contra o qual eu tanto lutava. O caminho era o oposto: quanto
mais brincasse com os estereótipos, menos as pessoas me considerariam como
um. Exatamente a mesma lógica que deve ser aplicada no grupo de colégio, com
os colegas de trabalho ou em qualquer outro tipo de interação social passível de
“bullying” na vida.
Quando voltei para o Rio de Janeiro, já depois de ter recebido o prêmio, acabei
me confrontando com outra situação delicada, dessa vez por parte do meu próprio
público. Tudo em função de uma publicação no Twitter que fiz, ainda durante a
festa do VMB, em que comentei sobre a simpatia de Christian Chávez e a forma
como havíamos tentado conversar e falhado miseravelmente por um não falar a
língua do outro.
“Ah, tá elogiando ex-integrante da novela Rebelde, Felipe? Arregão!”
“Agora tá conhecendo a galera e mudando de opinião, né?”
“Tá elogiando ex-Rebelde? Esperava mais de você.”
Explico: Christian Chávez tinha ficado mundialmente conhecido por ser um
integrante do grupo mexicano Rebelde, algo bem adolescente e que meu público
detestava no mesmo grau de Restart e Crepúsculo. Eu, contudo, nunca tinha
assistido à novela Rebelde na vida.
Fiquei profundamente incomodado com aquilo. Não pela crítica em si, mas
pelo fato de que muitas pessoas que acompanhavam meu trabalho estavam
entendendo a mensagem do Não Faz Sentido de forma totalmente errada. Pior
que isso, por mais que o canal estivesse ajudando a influenciar jovens a serem
mais questionadores, estava também influenciando outra meia dúzia de pessoas a
inflamarem o ódio de forma exagerada contra indivíduos e não seus projetos.
Não era aquilo que eu pretendia. Nunca, em nenhum vídeo do Não Faz
Sentido, ataquei a vida pessoal das pessoas. Sempre julguei atitudes,
comportamentos, máscaras midiáticas e resultado do trabalho, mas nunca precisei
falar “O Fiuk é um ser humano desprezível” pois não era isso o que eu queria
dizer. Afinal, sequer conhecia pessoalmente os alvos de minhas críticas.
Na mesma hora peguei minha câmera e gravei um vídeo para o meu segundo
canal (felipenetovlog, um canal onde eu colocava vídeos sem interpretação,
apenas sendo eu mesmo, como forma de interagir com meu público e mostrar a
diferença entre o personagem do Não Faz Sentido e quem eu era na vida real).
No vídeo, discorri sobre o tema, dizendo coisas como:
“Quer dizer então que porque o cara fez Rebelde, quer dizer que pelo resto da
minha vida eu tenho que tratar o cara mal e falar que ele é um bosta, é isso? Esse
é o raciocínio da galera? Se é esse o tipo de gente que eu estou cultivando nas
críticas que faço e estou trazendo como fãs, desculpa, mas é uma decepção pra
mim, porque em momento algum eu defendi esse discurso e em momento algum
eu vou defender esse discurso.”
Dentro do raciocínio desse público, se eu encontrasse com Fiuk em uma festa
ou até mesmo andando na rua, seria minha obrigação tratá-lo mal, xingá-lo, dar
um tapa em sua cara e ainda filmar tudo pra colocar no YouTube. Fiz o vídeo e
deixei claro que não era aquilo que eles deveriam esperar de mim. Aliás, não era
aquilo que eles deveriam esperar de qualquer ser humano decente.
O vídeo foi muito bem recebido e acabou servindo como um impulsionador
ainda maior da ideia de que eu não era igual ao personagem que interpretava no
Não Faz Sentido. Eu não usava óculos escuros dentro de casa e não saía pelas
ruas xingando as pessoas. Por mais que isso pudesse ser decepcionante para
alguns fãs, era melhor deixar a verdade para todos poderem ver, do que ter de
lidar com a expectativa de ter que ser revoltado o tempo inteiro.
Mais uma vez eu constatava que minha própria personalidade estava de fato
voltando a tomar as rédeas da minha vida, sem me importar com o que o público
pensaria, a imprensa diria ou os “haters” fariam. Estava me sentindo mais
confiante, disposto a me posicionar da forma como considerava adequada,
mesmo que isso significasse uma perda de público. No final das contas, por mais
que alguns fãs possam ter ido embora, um número muito maior começou a gostar
cada vez mais, justamente pelo fato de sentir honestidade em meu discurso dentro
e fora do Não Faz Sentido.
Algumas confusões começaram a surgir nesse período e permanecem até hoje.
Recentemente, li o comentário de uma pessoa que tentava me defender: “Cara,
você não entende que o Não Faz Sentido é só um ator fazendo um trabalho? Ele
tá falando um texto escrito por outra pessoa, idiota.” Puta merda... Pior que uma
pessoa te defender escrevendo com um português terrível, é a pessoa te defender
utilizando os argumentos errados. Mas não adiantava mais ficar me preocupando
com esse tipo de coisa, era (e é) inevitável. Ficar se explicando repetidamente fica
chato e mais uma vez remete ao fato de se levar a sério demais. Passei a lidar com
isso utilizando do bom humor, respondendo coisas como: “Isso aí! Explica pra ele
que quem escreve meus textos é o Jim Carrey, o cara não sabe de nada!”
Funciona.
Passei os dias seguintes sentindo mais paz do que jamais sentira desde a
explosão do Não Faz Sentido. Estava tudo entrando nos eixos, minha depressão
parecia ter ido embora e eu sentia entusiasmo com a ideia do que viria a seguir, de
qual seria meu próximo passo. O medo do Não Faz Sentido acabar de uma hora
para a outra foi embora, pois o canal já tinha provado sua força e mostrado que
tinha vindo para ficar. O número de assinantes subia vertiginosamente e cada vez
mais os vídeos eram exibidos em salas de aula e publicados nas redes sociais.
Contudo, ainda faltava o fator financeiro, que estava rendendo frutos, mas ainda
era frágil.
Na época eu ganhava 13 mil reais por mês do contrato da Wise Up e mais algo
em torno de 4 a 6 mil reais do próprio YouTube, pelas propagandas exibidas
automaticamente nos vídeos. Fora isso, ainda rolava uma festa ou outra dentro de
uma média de 8-12 mil. Era um valor exorbitante para qualquer jovem brasileiro e
até por isso já começava a planejar a segunda saída da casa de minha mãe, dessa
vez torcendo para ser definitiva. O que me segurava era o constante medo de
perder os contratos e me ver sem receita. Aquela segurança da Wise Up e do
YouTube não duraria para sempre e o Não Faz Sentido já estava grande o
suficiente para começar a mover quantias que pudessem estabelecer minha vida
em definitivo, além de render um valor alto o suficiente para que eu pudesse
investir em um novo negócio.
***
“Felipe, tá de sacanagem, né? Ganhando mais de 20 mil por mês e isso não era
o suficiente?”
Não se tratava de “ser o suficiente”. É claro que era o suficiente para eu ter
uma vida ótima, mas não era seguro. O contrato com a Wise Up não era um
trabalho de carteira assinada, ele deixaria de existir após 12 meses de
recebimento. Além disso, queria investir em um novo negócio (na época, já
praticamente decidira que o negócio seria a produtora de humor pro YouTube), o
que necessitaria de uma quantia muito alta para a compra de todos os
equipamentos, contratação de pessoal e manutenção de toda a infraestrutura até
que a própria empresa começasse a dar frutos.
***
Outra oportunidade de presença em festa apareceu, dessa vez com o valor
absurdo de 16 mil reais para duas horas no evento. Aceitei, mas já extremamente
contrariado. Meu monstro da vaidade já estava quase na jaula novamente e tudo o
que eu queria era ficar na paz do meu computador, meus filmes e seriados, sem
ter de passar por tudo aquilo novamente. Sabia que a melhor decisão seria ficar
em casa, mas contrariei meu instinto e peguei o avião rumo a São Paulo.
Quando cheguei no evento, o de sempre: gritos, fãs, loucura e seguranças
contendo a multidão enquanto me direcionavam ao camarote.
Só que dessa vez eu não estava sozinho.
Para meu espanto (e também da Andressa, que mais uma vez me
acompanhava) a festa promovia a presença de diversos “colírios da Capricho”
junto comigo.
A ficha caiu de vez.
Ao ir nessas festas, eu estava agindo exatamente igual a tantas coisas que havia
criticado. Uma postura babaca, um comportamento idiota, aceitando dinheiro para
aparecer em um local e fazer pessoas ficarem gritando meu nome. Não queria
mais fazer parte daquilo, não queria colaborar para esse tipo de coisa, mesmo que
isso significasse perder muitos milhares de reais.
Virei para Andressa e resumi em duas palavras: “Nunca mais.”
Não precisei falar mais do que isso e sequer ouvi um argumento contrário. A
DNA ganhava comissão em cima das minhas presenças em evento. Ou seja, era
importante para a agência que eu ganhasse dinheiro para poder sustentar o
escritório e a infraestrutura que disponibilizavam pra mim, mas eu não queria
saber. Se tivesse que ficar sem empresário, assim o faria. Aquilo ali não dava
mais pra mim.
No instante seguinte um Colírio se aproximou, pedindo foto. Como nunca
consegui ser rude o suficiente para negar um pedido como aquele, permiti que a
mulher em frente nos fotografasse. Contudo, quando ela se virou, vi que era da
imprensa. Fiquei puto.
– Vamos embora? – falei, puxando Andressa pela mão.
– Como assim, Fê? Você precisa cumprir o tempo ou não vão te pagar.
– Foda-se!
Num rompante, desrespeitei a produção do evento e fui embora sem dar
explicações, quarenta minutos depois de ter chegado, descumprindo o contrato.
Eu não queria mais aquele dinheiro. Só queria voltar pra casa e ficar bem longe
da possibilidade de ser comparado a “colírios da Capricho”. Bem longe do
buraco de imbecilidade no qual havia me enfiado em função de grana. Senti
vergonha, mas finalmente amadureci e identifiquei mais um dos meus graves
erros.
No dia seguinte, vários sites de fofoca pululavam com a notícia: “Felipe Neto
em festa com Colírios? Não Faz Sentido.” Na matéria, relatavam minha saída,
dizendo: “A assessoria de Felipe Neto não o deixou conversar com ninguém.
Aliás, o rapaz ficou apenas cerca de 40 minutos no camarote para o qual foi
convidado e foi embora sem dar nenhuma declaração.” Alguns jornalistas ligaram
para a agência DNA buscando explicações, mas encontraram o silêncio. Não me
manifestei publicamente sobre o caso e deixei que morresse. O que poderia dizer?
Sentia mais vergonha ainda agora que novamente meu nome aparecia em
veículos como aqueles.
Pensei muito na atitude que havia tomado. Minha decisão era definitiva, não
queria receber para ir a uma festa nunca mais. As chefes da agência DNA,
Adriana Pires e Bruna Arilla, ao contrário do que imaginava, defenderam minha
decisão, dizendo que eu estava absolutamente certo, se era assim que me sentia.
Mais uma vez agradeci por estar com agentes que pensavam mais no artista do
que nos valores que ele poderia proporcionar para seus bolsos.
Contudo, a decisão trazia uma consequência difícil: a perda de uma fonte de
renda que poderia servir para que eu investisse em novos negócios. Precisava
descobrir uma forma de monetizar melhor o Não Faz Sentido, transformá-lo em
uma fonte sólida e mais segura, sem a dependência de fazer coisas que tanto me
desagradavam.
A resposta veio alguns dias depois, com um telefonema da Adriana.
– Fê, estamos fechando uma campanha publicitária pra colocar no próximo
vídeo do Não Faz Sentido.
Há um bom tempo Adriana vinha dizendo que estavam buscando uma
empresa que quisesse exibir sua marca ou produto dentro do canal, mas sempre
paravam na barreira do jurídico das agências e clientes. Eles não queriam ver suas
marcas em um vídeo com palavrões e críticas. Naquele dia, entretanto, a primeira
empresa decidiu arriscar, baseando-se nos números de acesso absurdos do canal.
– É aquela marca de chicletes, a Chiclets. Eles querem que você faça um vídeo
e encontre uma forma de colocar o novo chiclete que eles estão lançando, que
tem recheio. O cachê é de 35 mil. – Tirando o cachê da DNA mais os impostos,
eu ficaria com algo em torno de 26 mil reais.
A oportunidade era maravilhosa e arriscada ao mesmo tempo. O “merchan”
(merchandising) era algo absolutamente comum em todo tipo de entretenimento
ao redor do mundo. Televisão tem merchan em novelas (quando, por exemplo, o
personagem fala: “Deixa que eu pago a conta” e mostra o cartão do Itaú), cinema
tem merchan (quem não se lembra do filme Curtindo a vida adoidado e a épica
cena em que Ferris Bueller sai correndo e para pra tomar um gole de Pepsi?),
rádio tem merchan, as ruas têm merchan. TUDO tem merchan. Porém, até aquele
momento, canais do YouTube não tinham e eu sabia que isso causaria repúdio
por parte do público defensor de que “o amadorismo tem que ser pra sempre
amador”.
Ao mesmo tempo eu sabia que meu ato de incluir um merchan no meio de um
vídeo do Não Faz Sentido com certeza abriria diversas portas no Brasil. Outras
empresas veriam a ação da Chiclets e perceberiam que anunciar em vídeos do
YouTube era extremamente vantajoso. Isso poderia colaborar para a
profissionalização de um modelo de criação de conteúdo que tinha tudo para dar
certo, mas que necessitava de dinheiro. Quanto mais empresas começassem a
investir em canais, mais canais de extrema qualidade surgiriam, com profissionais
dispostos a largar seus empregos para dedicar suas vidas à produção de conteúdo.
Em outras palavras: aceitar aquele trabalho ajudaria minha vida, a vida de outros
produtores de conteúdo e a vida do público, que teria mais opções de qualidade
na internet.
Aceitei, sob uma condição:
– Dri, eles não podem dizer o que eu tenho que falar ou a forma como tenho
que falar. Vou pensar em um tema que eu já falaria se não tivesse que fazer
propaganda e vou colocá-la durante o vídeo, não vou vender o canal para a
empresa fazer o que quiser.
Mais uma vez, Adriana me surpreendeu:
– Se eles não quiserem fazer assim, eu sequer vou cogitar fazer essa campanha.
A resposta era essa. O Não Faz Sentido era uma excelente vitrine para
qualquer marca ou produto, desde que utilizado da maneira certa. Eu não poderia
fazer um vídeo do Não Faz Sentido sobre “chicletes ruins” e em seguida mostrar
um exemplo de chiclete bom. Desde que eu me posicionasse de maneira rígida e
não deixasse as agências controlarem o conteúdo do vídeo, poderia monetizar o
canal de uma forma maravilhosa e não gerar o ódio do público ao mesmo tempo.
Mas não é bem assim que o mundo funciona. Não aconteceu com a Chiclets,
mas sofri muito com outras campanhas que vieram depois da primeira. Muitas
vezes as agências queriam controlar o vídeo, definindo o que eu poderia ou não
falar. Quase sempre pediam para remover os palavrões. Em outras oportunidades
ofereciam valores absurdos para que eu fizesse um vídeo falando única e
exclusivamente sobre a marca de forma positiva. Neguei diversas campanhas,
deixei de ganhar muito dinheiro em função de manter uma postura ética com
meus fãs. O Não Faz Sentido poderia ter publicidade, mas não poderia virar um
canal de propagandas.
Outra ideia surgiu no momento em que desliguei o telefone com a Adriana,
que ficou de me dar uma resposta nos próximos dias sobre a campanha acontecer
ou não. Pouco tempo antes de começar o Não Faz Sentido, como já relatei no
início deste livro, uma de minhas fontes de renda era um blog chamado Controle
Remoto. Por conta dele, eu tinha passado por todo o fenômeno de inserção de
publicidade em blogs no Brasil, que gerou muita polêmica e teve como resultado
um drástico sucateamento do modelo.
Explicando de forma mais simples: eram tantos blogs para se anunciar, que
algumas agências começaram a oferecer valores irrisórios para que estes veículos
fizessem o famoso “post pago” (um post no blog que fala sobre determinado
produto, normalmente sob a forma de sorteio ou promoção). Os blogueiros, sem
liderança, sem empresários e sem união entre si, aceitavam campanhas de 100
reais para fazer posts que valiam pelo menos 10 mil. Deste modo, o mercado dos
blogs foi sucateado e nivelado totalmente para baixo. Foram necessários vários
anos para que amadurecessem e começassem a cobrar aquilo que valem.
Contudo, hoje, início de 2013, os blogs ainda ganham muito menos do que
merecem.
No momento em que me lembrei de tudo isso, pensei que o mesmo poderia
acontecer com o formato de vídeos para a web. Só que dessa vez eu tinha uma
carta na manga: somente dois canais se destacavam o suficiente para receber
investimentos de publicidade, o Não Faz Sentido e o Mas Poxa Vida. Com PC
Siqueira sendo meu amigo, poderíamos nos unir para não permitir que aquilo
acontecesse com o mundo do YouTube no Brasil.
O que poderia ter acontecido? A mesma agência que fez o orçamento comigo
no valor de 35 mil, poderia chegar para o PC e dizer: “Ae, cara, lá no Não Faz
Sentido tão pedindo 35 mil, mas só temos 20, topa fazer?”
Na mesma hora abri o extinto MSN e conversei com PC sobre o fato, que
concordou inteiramente sobre a necessidade de impedirmos que isso acontecesse.
A partir daquele dia, começamos a falar um com o outro sobre todo pedido de
orçamento que surgia e o quanto estávamos cobrando. Decidimos que
cobraríamos sempre o mesmo valor, pelo menos durante um tempo, para não
permitir que as agências barganhassem. Mantivemos isso durante meses e
considero essa uma das atitudes mais inteligentes que tomamos desde a abertura
de nossos canais. Sem termos uma exata noção do quanto estávamos colaborando
para a internet brasileira, colocamos os valores dos vídeos em um patamar justo,
não permitindo que o mercado do YouTube no Brasil fosse desvalorizado.
É até engraçado lembrar. Éramos dois garotos agindo como gente grande.
Lembro de um caso específico, quando uma agência orçou com o Não Faz
Sentido uma campanha de valor muito alto e ouviu exatamente o mesmo valor
vindo do PC. O funcionário virou pra mim e perguntou: “Você e o PC estão
combinando valores? Tá impossível negociar com vocês!” Respondi: “Não, a
gente só sabe o quanto nosso produto vale.” No final, a agência assinou contrato
com ambos, sem redução do custo.
É claro que quando digo “patamar justo”, estou querendo dizer “mais justo do
que seria se não tivéssemos feito isso”. Se formos colocar em números exatos, o
valor pago para vídeos no YouTube ainda é imensamente menor do que seu real
valor. Afinal, vamos considerar o exemplo abaixo.
A maior revista do Brasil possui uma circulação líquida média de 1 milhão de
exemplares, com 922 mil assinantes. O anunciante compra UMA página no meio
de mais de 100 páginas por um valor que pode ser superior a 200 mil reais. Já o
Não Faz Sentido possui uma visualização média de 3 milhões por vídeo, com 1
milhão e 300 mil assinantes (atualizado no dia 14 de janeiro de 2013). O
anunciante compra um espaço de divulgação único, sem disputar com outras
páginas e com total absorção do público que assiste, mas o valor normalmente
não chega a 60% do cobrado pela revista.
Se você está lendo este livro em 2020, espero que as agências e principalmente
as grandes marcas já tenham percebido o tamanho de seus erros. E também
espero que a moda do momento não seja homens usando vestidos, isso seria
simplesmente terrível.
Voltando à nossa narrativa, Adriana retornou a ligação no dia seguinte com a
resposta positiva da agência e cliente. A campanha Chiclets iria rolar. Tudo o que
eu precisava agora era de um bom tema e um vídeo que realmente desse um bom
resultado para que outras empresas criassem o mesmo interesse e ajudassem a
mudar o cenário brasileiro de YouTube.
A resposta veio na mesma noite, mais ou menos da seguinte forma:
Estava vendo Friends – Passou uma cena do Ross dando um pulo em cima da
Rachel – Eu lembrei de macacos num circo – Pensei em trapézios – Lembrei do
bombadão de Curitiba “O maior trapézio de Curitiba” – Pensei em quem seria a
mulher que pegaria um cara daqueles – Lembrei das mulheres da festa do VMB –
Pensei em como seria legal se elas tivessem surgido quando eu era adolescente e
virgem – Lembrei de como foi meu primeiro beijo.
Ok, não foi assim, mas é incrível como nosso cérebro pode sair de “estava
vendo Friends” até “meu primeiro beijo”, passando por macacos de circo, claro.
Fato é que me lembrei da angústia do período da adolescência na hora de ter
que lidar com as primeiras experiências de coisas que se tornam totalmente
comuns depois de mais velho. O primeiro beijo, a primeira namoradinha, a
primeira transa... A família reagindo à primeira namorada, enfim, toda essa
piscina de inseguranças adolescentes e pré-adolescentes que tanta gente evita
comentar por saber o constrangimento causado nos jovens quando precisam ouvir
alguém falando sobre isso. Bem, eu queria mais era deixá-los constrangidos,
claro.
Além do mais, o vídeo encaixava perfeitamente com a possibilidade da
propaganda. Ora, na hora em que eu falasse sobre primeiro beijo era só falar
sobre o hálito e sugerir o Chiclets como solução. Dito e feito. Encaixou, não ficou
agressivo, a galera riu da forma como brinquei com a marca e a maioria adorou o
vídeo como um todo, que terminou de uma forma mais séria: “O segredo da vida
é você justamente juntar toda a sua coragem e fazer aquilo que você sempre
imaginou que teria medo demais pra fazer. Alguns conseguem, outros não. Quem
vai ser você?”
Depois do vídeo pronto me perguntei: “E se o que o moleque tem medo
demais pra fazer é botar fogo em uma escola?” Bom, o vídeo já estava pronto, o
jeito era torcer pra nenhum psicopata aparecer no dia seguinte com um bilhete
colocando toda a culpa em mim.
Nada disso aconteceu. O vídeo foi um grande sucesso de audiência e de
repercussão, principalmente por tratar de temas que muitos jovens consideram um
tabu de forma totalmente livre de preconceitos e com diálogo aberto. Falei sobre
camisinha, precaução, atitude e, principalmente, vencer os medos. Junto de tudo
isso, coloquei a marca Chiclets, que ficou extasiada com o resultado da
campanha: 1,5 milhão de visualizações em pouco mais de uma semana. Hoje,
dois anos e quatro meses depois, o vídeo já tem mais de 3 milhões, constatando
mais uma vantagem insuperável dos vídeos no YouTube: eles continuam sendo
vistos, diferentemente da revista, jornal ou capítulo da novela (exceto no “Vale a
Pena Ver de Novo”, que, por sinal, pra mim é uma afronta psicológica, não
bastasse uma vez, tem que passar duas).
Obviamente alguns comentários negativos começaram a aparecer:
“Vendido!”
“Agora o YouTube vai virar televisão!”
“Vai chupar um travesti suado!”
“Vendido!”
Os comentários eram minoria, mas estavam presentes, conforme previsto.
Muitas pessoas lutaram e ainda lutam contra a propaganda na internet. Instalam
programas que bloqueiam banners, impedem que vídeos publicitários apareçam.
O que essas pessoas não sabem é que, fazendo isso, estão ajudando a tirar o
ganha-pão de seus próprios ídolos, ou das pessoas que eles simplesmente curtem
acompanhar.
A internet, assim como qualquer outro veículo, necessita da propaganda para
sobreviver. Por isso, na próxima vez em que vir uma publicidade dentro de um
canal do YouTube que você acompanha, encha seu coração de alegria e grite
para o mundo: “VIVA!” Ou simplesmente não reclame, funciona também.
Comentários negativos à parte, a campanha foi um grande sucesso, assim
como todas as outras que se sucederam dentro do canal. A iniciativa da Chiclets
não passou despercebida. Algumas semanas depois os telefones da agência DNA
e do PC Siqueira não paravam de tocar com marcas interessadas em aparecer em
nossos vídeos. A partir daquele momento, muita coisa mudou e nós passamos a
ter o reconhecimento financeiro que merecíamos, podendo focar nossas vidas
inteiramente em criar vídeos, sabendo que estaríamos seguros por um bom tempo.
Sem ter pensado em dinheiro ou fama quando comecei o Não Faz Sentido,
ambos vieram como consequência de um trabalho feito com extrema paixão e
empenho, derrubando barreiras e vencendo obstáculos na base da cabeçada. Por
isso, se o seu interesse é começar um projeto na internet, saiba: sinta tesão pelo
que você vai fazer (o que não significa “comece um site pornô”). Apaixone-se
pelo conteúdo que você quer criar. Faça isso de corpo e alma, dedicando cada
segundo de seu tempo ao aprimoramento do que já foi feito e à correção dos erros
que você com certeza vai cometer ao longo do caminho.
Qualquer pessoa que comece a produzir conteúdo na internet, tendo como
objetivos únicos a fama e o dinheiro, já está fadada ao fracasso.


acesse o vídeo mencionado neste capítulo:

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