Meu telefone tocou naquele momento, me salvando do embaraço de descobrir o que fazer com Jill. Eu respondi sem me preocupar em verificar o identificador de chamadas. –Miss Melbourne? Seus serviços são necessários imediatamente. – –Senhora?– perguntei surpresa. A voz frenética de Ms. Terwilliger não era o que eu estava esperando. –O que há de errado?– –Eu preciso que você me vá buscar um cappuccino com molho de caramelo para o Spencer. Não há absolutamente nenhuma maneira de eu poder concluir a tradução deste documento, se você não o faz. – Havia um milhão de respostas que eu poderia dar, nenhum das quais era muito educada, então eu dei a resposta mais lógica. –Eu não acho que posso–, disse. –Você tem privilégios fora do campus, não tem?– –Bem, sim, senhora, mas é quase hora de recolher do campus. Eu não sei onde Spencer esta, mas eu não acho que posso fazê-lo a tempo. – –Tolices. Quem está a administrar o seu dormitório? Aquela mulher Weathers? Vou ligar para baixo e conseguir-lhe uma excepção. Estou trabalhando em um dos escritórios da biblioteca. Encontre-me lá. – Apesar da minha devoção pessoal ao café, receber uma –excepção– para o recolher da escola parecia um tipo de exagero para um recado como este. Eu não gostava de quebrar
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as regras. Por outro lado, eu era assistente da Ms. Terwilliger. Isto não fazia parte da minha descrição de trabalho? Todos os velhos instintos de Alquimista para seguir as ordens levaram a melhor. –Bem, sim, minha senhora, eu suponho que eu…– Ela desligou, e eu olhei para o telefone espantada. –Eu tenho que ir–, disse a Jill. – Espero que esteja de volta cedo. Talvez muito cedo, uma vez que me surpreenda se ela se lembrar de telefonar a Sra. Weathers.– Ela não olhou para cima. Com um encolher de ombros, eu arrumei o meu laptop e alguns deveres de casa, apenas no caso de Ms. Terwilliger pensar em outra coisa para eu fazer. Com o café á vista, a memória da minha professora era boa, e eu descobri que, de fato, tinha autorização para sair quando desci. Mrs. Weathers deu-me mesmo indicações para ir ao Spencer, uma loja de café que estava a poucos quilómetros de distância. Eu peguei o cappuccino, me perguntando se eu seria reembolsada, e peguei algo para mim também. Quando regressei o pessoal da biblioteca de Amberwood me deram uma dificuldade de entrar por levar bebidas, mas quando eu expliquei o meu recado, eles acenaram-me para os escritórios lá atrás. Aparentemente, o vício de Ms. Terwilliger era bem conhecido. A biblioteca estava surpreendentemente ocupada e eu rapidamente deduzi o porquê. Depois de um certo ponto da noite, rapazes e raparigas eram proibidos estar nos dormitórios uns dos outros. A biblioteca estava aberta até mais tarde, assim este era o lugar para sair com o sexo oposto. Muitas pessoas também iam lá só para estudar, incluindo Julia e Kristin. –Sydney! Aqui! – Chamou Kristin num nível sussurrante. –Liberte-se de Terwilliger–, acrescentou Julia. –Você pode fazê-lo. – Eu levantei o café enquanto passava por elas. –Você deve estar brincando? Se ela não conseguir ter a sua cafeína em breve, não haverá fuga possível dela. Eu volto se puder. – Enquanto eu continuava a andar, vi um pequeno grupo de estudantes reunidos em torno de alguém e ouviu uma voz familiar e irritante. Greg Slade. Curiosidade se apoderou de mim mesma e fui até a borda da multidão. Slade estava mostrando algo em seu braço: uma tatuagem. O projecto em si não era nada especial. Era uma águia em voo, o tipo de arte genérica que todas as lojas de tattoo tinham em estoque e copiadas em massa. O que me chamou a atenção foi a cor. Era tudo feito numa rica prata metálica. Metálicos como aquele não eram fáceis de retirar, não com aquele brilho e intensidade. Eu sabia que produtos
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químicos entravam na minha própria tatuagem de ouro, e a fórmula era complexa e composta por vários ingredientes raros. Slade fez um esforço tímido para manter a voz baixa - tatuagens eram proibidas por aqui, afinal de contas - mas ficou claro que ele estava gostando da atenção. Eu observei em silêncio, outros felizes estavam perguntando algumas das minhas perguntas por mim. Claro, essas perguntas só me deixaram com mais perguntas. –Isso é mais brilhante do que as que costumavam fazer–, um de seus amigos observou. Slade inclinou seu braço para que a luz se reflectisse. –Algo novo. Eles dizem que estes são melhores do que os do ano passado. Não tenho certeza se isso é verdade, mas não foi barato, eu posso te dizer isso. – O amigo que havia falado sorriu. –Você vai descobrir nos testes. – Laurel – a rapariga de cabelos vermelhos que tinha se interessado por Micah, estendeu a perna ao lado de Slade, revelando um tornozelo fino adornada com uma tatuagem desbotada de uma borboleta. Não era metálica. –Eu poderia ter a minha trocada até, talvez quando for para casa se eu conseguir o dinheiro dos meus pais. Você sabe se os celestiais são melhores este ano também? –Ela jogou o cabelo para trás enquanto falava. Do que eu tinha observado no meu breve tempo em Amberwood, Laurel era muito vaidosa com o seu cabelo e fazia questão de jogá-lo para trás pelo menos a cada dez minutos. Slade encolheu os ombros. –Não perguntei–. Laurel me notou a assistir. –Oh, hey. Você não é a irmã da rapariga vampiro? – Meu coração parou. –Vampiro?– –Vampiro?– Ecoou Slade. Como ela descobriu? O que eu vou fazer? Eu estava apenas a começar a fazer uma lista dos Alquimistas que eu tinha que chamar quando um dos amigos de Laurel riu. Laurel olhou para eles e riu arrogantemente, então se virou de volta para mim. –Isso é o que nós decidimos chamá-la. Nenhum humano pode ter uma pele tão pálida. – Eu quase afundei de alívio. Era uma brincadeira - uma dolorosamente acerta perto da verdade, mas mesmo assim uma piada. Ainda assim, Laurel não parecia alguém para se atravessar e que seria melhor para todos nós se essa brincadeira fosse esquecida em breve. Eu admito que deixei escapar o primeiro comentário de distracção que me veio à cabeça. –Hey, coisas estranhas acontecem. Quando eu te vi pela primeira vez, eu não achei que alguém pudesse ter cabelos tão longos ou tão vermelhos. Mas você não me ouviu falar sobre extensões ou corantes. –
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Slade quase se dobrou de tanto rir. –Eu sabia disso! Eu sabia que era falso! – Laurel corou quase tão vermelha quanto os seus cabelos. –Não é! É real! – –Miss Melbourne?– Eu saltei com a voz atrás de mim e encontrei Ms. Terwilliger lá, me olhando com estupefacção. –Você não está recebendo crédito para conversar, especialmente quando o meu café está aí. Vamos lá. – Eu afastei sem ser vista, embora quase ninguém notou. Os amigos de Laurel estavam se divertindo muito a provoca-la. Eu esperava que eu tivesse apagado as piadas de vampiro. Enquanto isso, eu não conseguia tirar a imagem da tatuagem de Greg fora da minha mente. Eu deixei meus pensamentos vaguearem no mistério dos componentes que seriam necessários para a cor prata. Eu quase que a descobriu - pelo menos, eu tinha uma possibilidade de descobri - e desejei ter acesso aos ingredientes dos Alquimistas para fazer algumas experiências. Ms. Terwilliger tomou o café com gratidão quando chegamos a um pequeno escritório. –Graças a Deus–, disse ela, depois de tomar um longo gole. Ela acenou com a cabeça na minha. –Esse atras é outro? Excelente pensamento. – –Não, senhora–, eu disse. –É meu. Você quer que eu comece sobre aqueles? – uma familiar pilha de livros estavam sobre a mesa, as que eu tinha visto na sala de aula. Eles eram peças fundamentais para a sua pesquisa, e ela me disse que eventualmente ia precisar que eu os delineasse e os documentasse para ela. Alcancei o do topo, mas ela parou me. –Não–, ela disse, movendo-se em direcção a uma mala grande. Ela vasculhou os documentos e vários materiais de escritório, finalmente ela pegou num livro de couro velho. –Vai pegar neste em vez. – Peguei o livro. –Posso trabalhar lá fora?– Eu esperava que eu pudesse voltar para a área principal de estudo, eu poderia conversar com Kristin e Julia. Ms. Terwilliger considerou. –A biblioteca não vai deixar você ter o café. Você provavelmente deve deixá-lo aqui–. Eu não sabia o que fazer, debatendo-me se o meu desejo de falar com Kristin e Julia superava a probabilidade de a Ms.Terwilliger quiser beber o meu café antes que eu voltasse. Eu decidi assumir o risco e ofereci o meu café com uma dolorosa despedida enquanto arrastava os meus livros e materiais de volta para a biblioteca. Julia olhou para o surrado livro de Ms. Terwilliger com desdém. –Supostamente isso não está em algum lugar na internet?–
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–Provavelmente não. Eu estou supondo que ninguém olhou sequer para isto desde antes da internet ser inventada.– Eu abri a capa e poeira voou para fora. –Muito antes–. Kristin tinha os deveres de matemática aberta na frente dela mas não parecia particularmente interessada nele. Ela bateu uma caneta distraidamente contra a capa do compêndio. –Então você viu a tattoo do Slade?– –Dificilmente não–, disse tirando o meu laptop. Eu olhei para além do ecrã. –Ele ainda a esta a mostrar.– –Ele queria uma há algum tempo mas nunca teve dinheiro –, explicou Julia. –No ano passado, todos os grandes atletas tinham uma. Bem, excepto Trey Juarez –. –Trey quase que não precisa de uma–, destacou Kristin. –Ele é muito bom.– –Ele vai agora - se ele quiser igualar-se com Slade,– disse Julia. Kristin balançou a cabeça. –Ele ainda não vai fazê-lo. Ele é contra isso. Ele tentou denunciá-los ao Mr.Green no ano passado, mas ninguém acreditou nele.– Olhei para trás e para frente entre elas, mais perdida do que nunca. –Ainda estamos conversando sobre as tatuagens? Sobre Trey 'precisar' de uma ou não? – –Você realmente ainda não descobriu?–, perguntou Julia. –É meu segundo dia,– eu indiquei com frustração. Lembrando que eu estava numa biblioteca, falei mais suavemente. –As únicas pessoas que realmente falaram sobre elas foram o Trey e vocês - e não disseram muita coisa sobre isso. – Pelo menos, eles tiveram a graça de parecerem envergonhadas com aquilo. Kristin abriu a boca, fez uma pausa e depois pareceu mudar o que ela ia dizer. –Você tem certeza que a sua não faz nada?– –Afirmativo–, menti. –Como isso é possível?– Julia deu uma olhada ao redor da biblioteca e torceu-se na cadeira. Ela puxou um pouco a sua camisa, expondo a parte inferior das costas - e uma tatuagem desbotada de uma andorinha a voar. Convencida de que eu a tinha visto, ela recompôs-se. –Eu tive ela nas ultimas ferias de primavera - e foram as melhores ferias de sempre.– –Por causa da tatuagem?– perguntei céptica. –Quando a tive, ela não se parecia com isto. Era metálica…não como a tua. Ou do Slade. Mais tipo…– –Cobre–, completou Kristin. Julia pensou sobre isso e concordou. –Sim, como ouro avermelhado. A cor só durou uma semana e os efeitos que fez durante esse mesmo tempo foram incríveis. Tipo, eu nunca me senti tão bem. Era desumanamente bom. A melhor alta de sempre.–
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–Eu juro, há algum tipo de droga nessas celestiais,– disse Kristin. Ela estava tentando soar em desaprovação, mas eu pensei ter detectado uma nota de inveja. –Se você tivesse uma, você entenderia,– Julia disse a ela. –Celestiais…Eu ouvi a menina lá a falar sobre elas–, disse. –Laurel?– perguntou Julia. –Sim, isso é o que eles chamam às de cobre. Porque elas fazem você se sentir fora deste mundo.– Ela olhou quase com vergonha do seu entusiasmo. –Nome estúpido, né?– –É isso que faz a de Slade?– perguntei, chocada com o que se estava a desenrolar diante de mim. –Não, ele tem uma de aço–, disse Kristin. –Aquelas dão-lhe um grande impulso atlético. Tipo, você fica mais forte, mais rápido. Coisas assim. Elas duram mais do que as celestiais - pelo menos duas semanas. Às vezes três, mas o efeito de desvanece. Eles a chamam de aço, porque eles são resistentes, eu acho. E, talvez, porque há aço nelas.– Não aço, pensei. Um composto de prata. A arte do uso do metal, para vincular certas propriedades na pele, era uma das coisas que os Alquimistas tinham aperfeiçoado há muito tempo. O ouro era absolutamente muito melhor, razão pela qual nos o usávamos. Outros metais - quando preparados em perfeitas maneiras - alcançavam efeitos semelhantes, mas nem prata, nem cobre, conseguiam fazer o que o ouro podia. A tatuagem de cobre era fácil de entender. Qualquer número de substâncias de prazer ou drogas poderiam ser combinadas com cobre, daí o efeito de curto prazo. A prata era mais difícil de eu entender - ou melhor, os efeitos das de prata. O que elas estavam descrevendo soava como algum tipo de esteróide atlético. Será que prata se misturava com isso? Eu teria que verificar. –Quantas pessoas têm elas?– Perguntei-lhes aterrada. Eu não conseguia acreditar que tatuagens tão complicadas eram tão populares aqui. Elas também começavam a afundar a rica saúde que os estudantes daqui tinham. Os materiais em si custavam uma fortuna, muito menos qualquer um dos supostos efeitos colaterais. –Todo mundo tem–, disse Julia. Kristin fez uma careta. –Nem todo mundo. Eu quase fui suficiente salva, no entanto.– –Eu diria que metade da escola, pelo menos tentou uma celestial–, disse Julia, olhando para a sua amiga com um olhar reconfortante. –Você pode retoca-la mais tarde - mas ainda custa dinheiro.– –Metade da escola?– repeti incrédula. Eu olhei em volta, imaginando quantas camisas e
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calças escondiam tatuagens. –Isso é loucura. Eu não posso acreditar que uma tatuagem pode fazer uma coisa dessas.– Eu esperava que estivesse a fazer um bom trabalho a esconder o quanto eu realmente sabia. –Arranje uma celestial–, disse Julia com um sorriso. –Então, você vai acreditar.– –Onde você a conseguiu?– –É um lugar chamado Nevermore–, disse Kristin. –Porém, eles são selectivos e não fazem elas facilmente.– Não tão selectivos, eu pensei, uma vez que metade da escola os tinha.– Eles têm sido muito mais cautelosos após Trey ter tentado denuncia-los.– Outra vez o nome do Trey. Agora fazia sentido do porque de ele ter sido tão desdenhoso com a minha tatuagem quando nos conhecemos. Mas eu me perguntava por que ele se importava tanto - o suficiente para tentar conseguir fechar o negócio. Aquilo não era apenas um desentendimento casual. –Eu acho que ele pensa que é injusto?– ofereci diplomaticamente. –Acho que ele apenas está com inveja de não poder pagar uma–, disse Julia. –Ele tem uma tatuagem, você sabe. É um sol nas suas costas. Mas é apenas uma normal tatuagem preta - não dourada como a sua. Eu nunca vi nada como a sua.– –Por isso é que você pensou que a minha me fazia inteligente–, disse. –Isso poderia ter sido muito útil no final do semestre–, Julia disse melancolicamente. –Você tem certeza que não é o porquê de você saber tanto?– Eu sorri, apesar de estar chocada com o que eu acabei de saber. –Quem me dera. Podia me ajudar a conseguir entender este livro mais facilmente. O que,– acrescentei olhando para o relógio. –Eu deveria estar a fazer.– Era sobre sacerdotes e mágicos greco-romanos, uma espécie de livro de magia, com detalhes de vários tipos de feitiços e rituais que eles já tinham experimentado. Não era uma leitura terrível, mas era muito longo. Eu pensei que a pesquisa de Ms. Terwilliger era mais focada sobre a religião dominante daquela Era, de modo que o livro parecia ser uma escolha estranha. Talvez ela tivesse esperanças de incluir uma secção sobre prática de magia alternativa. Independentemente disso, quem era eu para questionar? Se ela me pediu isto, eu iria fazer. Eu fiquei um pouco mais com Kristin e Julia na biblioteca, uma vez que eu tinha que ficar o tempo que a Ms. Terwilliger ficava, que durou até a biblioteca fechar. Ela parecia prazeirosa por eu ter chegado tão longe com as anotações e disse me que ela
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gostaria de ter o livro inteiro concluído em três dias. –Sim, minha senhora–, disse automaticamente, como se eu não tivesse quaisquer outras aulas nesta escola. Porque eu sempre concordava sem pensar? Voltei para o Campus Este, com os olhos turvos de tanto trabalhar e exausta só ao pensar nos deveres de casa que ainda tinha de fazer. Jill adormecia rápido, o que eu tomei como uma pequena bênção. Eu não teria que enfrentar o seu olhar acusador ou descobrir como lidar com o silêncio constrangedor. Eu me arrumei rapidamente para silenciosamente ir para a cama e adormecer logo que eu acertei com o travesseiro. Acordei por volta das três com o som de um choro. Sacudindo minha neblina sonolenta, eu consegui ver Jill sentada na sua cama, com o rosto enterrado nas suas mãos. Grandes soluços sacudiam o seu corpo torturando-o. –Jill?– perguntei, hesitante. –O que há de errado?– Na luz fraca vinda de fora, eu vi Jill levantar a cabeça e olhar para mim. Incapaz de responder, ela balançou a cabeça e começou a chorar uma vez mais, desta vez mais alto. Levantei-me e sentei-me na borda de sua cama. Eu não conseguia me levar a abraça-la ou tocá-la para a confortar. No entanto, eu me senti péssima. Eu sabia que aquilo era por culpa minha. –Jill, eu sinto muito. Eu nunca deveria ter ido ver Adrian. Quando Lee mencionou-te, eu deveria ter apenas parado por ali e dizer-lhe para falar com você se ele estivesse interessado. Eu deveria ter falado com você em primeiro lugar…– As palavras saíram numa confusão. Quando olhei para ela, tudo o que eu conseguia pensar era em Zoe e nas suas acusações horríveis na noite em que fui embora. De alguma forma, a minha ajuda sempre saia pela culatra. Jill fungou e conseguiu dizer algumas palavras antes de quebrar novamente. –Não é…não é isso…– Olhei impotente para as suas lágrimas, frustrada comigo mesma. Kristin e Julia pensavam que eu era sobredotada. Ainda assim, eu garantia a uma delas que era capaz de confortar Jill cem vezes melhor se eu pudesse. Estendi a minha mão e quase bateu no seu braço, mas recuei no último momento. Não, eu não poderia fazer isto. Aquela voz Alquimista em mim, a voz que sempre me alertava para manter distância dos vampiros, não me deixava tocar de forma tão pessoal. –Então o que é?– perguntei por fim. Ela balançou a cabeça. –Não é…Eu não posso dizer…você não entenderia.– Com Jill, pensei, qualquer número de coisas podia estar errada. A incerteza do seu
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status real. As ameaças contra ela. Ser mandada para longe de toda a sua família e amigos, presa entre os humanos num sol perpétuo. Eu realmente não sabia por onde começar. Ontem à noite, havia um terror, arrepiante e desesperado em seus olhos quando ela acordou. Mas isto era diferente. Isto era sofrimento. Isto vinha a partir do coração. –O que posso fazer para ajudar?– perguntei por fim. Levou alguns momentos para se recompor. –Você já está fazendo bastante–, ela conseguiu. –Nós todos apreciamos, realmente. Especialmente depois do que Keith disse a você.– Não havia nada que Adrian não tivesse contado a ela? –E eu sinto muito…sinto muito por eu ter sido tão cadela com você mais cedo. Você não merecia aquilo. Você apenas estava tentando ajudar.– –Não…não se desculpe. Eu errei.– –Você não precisa se preocupar, sabe–, acrescentou. –Acerca de Micah. Eu entendo. Eu só quero ser sua amiga.– Eu tinha certeza que ainda não estava fazendo um grande trabalho para fazê-la se sentir melhor. Mas tinha que admitir, desculpando-se pelo menos para mim parecia ter sido uma distracção para qualquer coisa que a tinha acordado com tanta dor. –Eu sei–, disse. –Eu nunca deveria ter-me preocupado sobre você.– Ela me garantiu novamente que estava bem, sem mais explicações sobre o porquê de ela acordar chorando. Senti como se eu devesse ter feito mais para a ajudar, mas em vez disso, eu voltei para minha própria cama. Eu não ouvi mais soluços o resto da noite, mas depois, quando acordei algumas horas mais tarde, eu roubei um olhar para ela. Suas feições estavam pouco discerníveis com a luz da manha. Ela estava lá, olhos bem abertos e olhando para o nada, um olhar assombrado em seu rosto.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 10
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às 11:50
Marcadores: Laços de Sangue
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