Sem surpresa nenhuma, acordei com dor de cabeça.
Por alguns segundos, eu não fazia idéia do que tinha acontecido e onde eu estava.
Enquanto a sonolência passava, os eventos na rua voltaram para mim. Eu sentei direito, todas as minhas defesa prontas, apesar da leve tontura. Hora de descobrir onde eu estava agora.
Eu sentei na enorme cama no quarto escuro. Não – não era só um quarto. Era mais como uma suíte ou um estúdio. Eu pensei que o hotel em São Petersburgo era majestoso, mas isso me surpreendeu. O meio estúdio em que eu estava continha uma cama e os acessórios normais de um quarto: uma cômoda, bidês, etc. A outra metade parecia como uma sala, com sofá e televisão. Prateleiras estavam nas paredes, cheias de livros. A minha direita tinha um curto corredor com uma porta. Provavelmente o banheiro. Do meu outro lado tinha uma grande janela, escura, como as janelas dos Moroi normalmente eram. Essa era mais escura do que qualquer um que eu já tenha visto. Era de um preto quase sólido, quase impossível de se ver através dela. Só o fato de que eu podia diferenciar o céu no horizonte – depois de muito esforço – me avisou que era dia.
Em saí da cama, meus sentidos alertas enquanto eu tentava avaliar meu perigo.
Meu estômago estava bem; não haviam Strigoi na área. Isso não necessariamente excluía alguma outra pessoa. Eu não
podia tomar nada como garantido – fazer isso foi o que me meteu em problemas na rua. Mas não havia tempo para ponderar isso.
Ainda não. Se eu fizesse, minha decisão iria sumir.
Saindo da cama, eu procurei minha estaca no bolso do casaco. Não estava ali, é claro. Eu não vi mais nada por perto que pudesse ser uma arma, o que significava que eu iria ter que confiar em meu próprio corpo para lutar. Com o canto do olho, eu vi um interruptor na parede. Eu o liguei e congelei, esperando ver o que – ou quem – as luzes revelariam.
Nada estranho. Não havia mais ninguém. Imediatamente, eu fiz a primeira coisa óbvia e fui checar a porta. Estava trancada, como eu esperava, e o único jeito de abrir era por uma tranca com teclado numérico. Além disso, ela era pesada e parecia ser feita de aço. Me lembrava de uma porta de incêndio. Não havia como abrir, então eu voltei para continuar minha exploração. Era meio irônico. Muitas das minhas aulas tinham sido para detalhar formas de checar um lugar. Eu sempre as odiei; eu queria aprender sobre luta. Agora parecia que aquelas aulas que pareceram inúteis naquela época tinham realmente algum propósito.
A luz deu mais relevo aos objetos da suíte. A cama estava coberta com um edredom de cetim marfim, preenchido com o máximo de fofura possível. Na sala, eu vi que a TV era boa – muito boa. Tela grande de plasma. Parecia ser novinha. Os sofás eram bons também, coberto com um couro verde. Era uma escolha incomum para o couro, mas funcionou bem. Todos os móveis do lugar – mesas,
escrivaninhas, cômoda – tudo era feito de uma suave e polida madeira preta. No canto da sala, eu vi um pequeno refrigerador. Me abaixando, eu o abri e encontrei uma garrafa de água e suco, algumas frutas, e um saco de queijo perfeitamente cortado. No topo do refrigerador eu vi salgadinhos: nozes, bolachas, e um tipo de pastel. Meu estômago roncou, mas de jeito nenhum eu iria comer nada desse lugar.
O banheiro era do mesmo estilo que o resto do estúdio. O chuveiro e a grande Jacuzzi eram feitas de mármore preto, e pequenos sabonetes e xampus se alinhavam no balcão. Um enorme espelho estava pendurado acima da pia, a não ser... que não estava pendurado. Estava embutido na parede e não havia como remover ele. O material era estranho. Parecia mais como um metal refletor do que vidro. A princípio eu pensei que isso era estranho, até que voltei para o quarto principal e olhei ao redor. Não havia nada aqui que pudesse virar uma arma. A TV era grande demais para mover ou quebrar, fora quebrar a tela, que parecia ser feita de um tipo high-tech de plástico.
Não havia vidro nas mesas. As prateleiras estavam presas. As garrafas no refrigerador eram de plástico. E a janela...
Eu corri até ela, sentindo suas beiradas. Como o espelho, ela estava perfeitamente colocada na parede. Não havia painéis. Era um pedaço grande.
Forçando os olhos de novo, eu finalmente consegui uma vista detalhada dos meus arredores e vi... nada. A terra parecia ser de planícies, com apenas algumas árvores espalhadas. Me lembrou do deserto enquanto eu viajava
para Baia. Eu não estava mais em Novosibirsk, aparentemente. E olhando, eu vi que estava em um lugar alto. Quarto andar, talvez. Onde quer que fosse, eu estava alto demais para pular sem quebrar uma perna. Ainda sim, eu tinha que fazer algo. Eu não poderia simplesmente ficar sentada aqui.
Eu peguei uma das cadeiras da escrivaninha e a bati contra a janela – e recuei um pouco por causa do efeito ou da cadeira ou do vidro. “Jesus Cristo,” eu murmurei. Eu tentei mais três vezes e não tive sorte. Era como se os dois fossem feito de aço. Talvez o vidro tivesse algum tipo de reforço aprova de balas. E a cadeira... bem, eu iria saber.
Era toda feita de madeira e não mostrava nenhum sinal de farpas, mesmo depois de toda a força que eu usei. Mas já que passei toda a minha vida fazendo coisas que não eram razoáveis eu continuei a tentar quebrar o vidro.
Eu estava na minha quinta tentativa quando meu estômago me avisou que um Strigoi se aproximava. Virando, eu continuei a segurar a cadeira e olhar para a porta. Ela se abriu, e eu bati no intruso, com a ponta da cadeira.
Era Dimitri.
Aqueles mesmos sentimentos conflitantes que eu senti na rua voltaram, amor misturado com terror. Dessa vez, eu ignorei o amor, sem recuar do meu ataque. Não que eu pudesse fazer muita coisa. Acertar ele era como acertar a janela. Ele me empurrou para trás, e eu me assustei, ainda segurando a cadeira. Eu mantive o equilíbrio e ataquei mais uma vez. Dessa vez, quando colidimos, ele segurou a cadeira e a tirou das minhas mãos. Ele então a jogou na
parede, como se não pesasse nada. Sem aquela miserável arma, eu tive que novamente confiar na força do meu corpo. Eu estive fazendo isso nas últimas semanas enquanto questionava os Strigoi; isso deveria ser a mesma coisa. É claro, eu tinha mais quatro pessoas para me ajudar. E nenhum daqueles Strigoi era Dimitri.
Mesmo quando Dhampir, ele era difícil de vencer. Agora que ele tão dotado quanto – só que mais rápido e mais forte. Ele também conhecia todos os meus golpes, já que foi ele quem me ensinou. Era quase impossível surpreender ele.
Mas como com a janela, eu não podia ficar inativa. Eu estava presa em um quarto – o fato de ser um quarto grande e luxuoso não importava – com um Strigoi. Um Strigoi. Era o que eu ficava me dizendo. Havia um Strigoi aqui. Não Dimitri. Tudo que eu disse a Denis e os outros se aplicava aqui. Seja inteligente. Seja vigilante. Se defenda.
“Rose,” ele disse, defendendo um dos meus chutes sem esforço. “Você está perdendo tempo. Pare.”
Oh, aquela voz. A voz que eu ouvia quando caía no sono a noite, a voz que uma vez havia me dito que me amava...
Não! Não é ele. Dimitri se foi. Isso é um monstro.
Desesperadamente, tentei pensar em como eu poderia ganhar. Eu até pensei em convocar os fantasmas que convoquei na estrada. Mark tinha me dito que eu poderia fazer isso em um momento de emoção descontrolada e que eles iriam lutar por mim.
Isso era o máximo de descontrole que eu poderia ter, e ainda sim eu não conseguia chamar eles. Eu honestamente
não fazia idéia de o que fiz antes, e todo o desejo do mundo não foi capaz de fazer isso acontecer agora. Merda. Para que serve poderes aterrorizantes se eu não podia usar eles para minha vantagem?
Ao invés disso, eu tirei o DVD player da prateleira, os fios saindo da parede. Não era muito uma arma, mas eu estava desesperada agora. Eu ouvi um estranho e primitivo grito de batalha, que uma parte de mim percebeu que eu o estava fazendo.
De novo, eu bati em Dimitri, balançando o DVD player com o máximo de força que eu pude. Provavelmente doeria um pouco – se tivesse acertado nele. Não acertei. Ele me interceptou de novo, o pegando de mim, e o jogando no chão. Ele quebrou em pedaços. No mesmo movimento, ele agarrou meu braço e me impediu de bater ou pegar outra coisa. O aperto dele era forte, como se fosse quebrar meus ossos, mas eu continuei lutando.
Ele tentou ser razoável de novo. “Não vou machucar você. Roza, por favor pare.”
Roza. O antigo apelido. O nome que ele me chamou pela primeira vez quando caímos no encanto de luxuria de Victor, nós dois nus nos braços um do outro...
Esse não era o Dimitri que eu conhecia.
Minhas mãos estavam incapacitadas, então eu o atingi com minhas pernas e pé da melhor forma que pude. Não fez muita coisa. Sem o uso total do resto do meu corpo para equilíbrio, eu não tinha força nos meus chutes. Quanto a ele, ele parecia mais incomodado do que preocupado ou irritado. Com um alto suspiro, ele me agarrou pelos ombros
e me virou, me pressionando contra a parede e me imobilizando com a força total do seu corpo. Eu lutei um pouco mas estava tão presa quanto os Strigoi tinha estado quando eu e os outros estávamos caçando. O universo tem um senso de humor doentio.
“Pare de lutar comigo.” O hálito dele era quente contra meu pescoço, seu corpo contra o meu. Eu sabia que a boca dele estava apenas alguns centímetros de distância.
“Não vou machucar você.”
Eu dei outro empurrão. Minha respiração estava ofegante, e a dor na minha cabeça dobrou. “Você tem que entender que eu tenho dificuldades em acreditar nisso.”
“Se eu quisesse você morta, você estaria morta. Agora, se você vai ficar lutando, vou ter que te amarrar. Se você parar, eu te deixo ficar solta.”
“Você não tem medo que eu fuja?”
“Não.” A voz dele era perfeitamente calma, e calafrios passaram por minha espinha. “Não tenho.”
Ficamos assim por quase um minuto, um impasse. Minha mente voava. Era verdade que ele provavelmente já teria me matado se fosse isso o que ele pretendia, mais ainda sim eu não tinha motivo para acreditar que eu estava segura. Mesmo assim, estávamos em um empate nessa luta. Ok, empate não era o certo. Eu estava num impasse. Ele estava brincando comigo. Minha cabeça estava doendo onde ele tinha me acertado, e essa luta sem sentido só aumentou a dor. Eu tinha que recuperar minhas forças para encontrar um jeito de escapar – se eu vivesse tanto tempo. Eu também precisava parar de pensar sobre o quão perto
nossos corpos estavam. Depois de meses tomando cuidado para não se tocar, tanto contato era inebriante.
Eu relaxei no aperto dele. “Ok.”
Ele hesitou antes de me soltar, provavelmente se perguntando se poderia confiar em mim. Todo o momento me lembrou de quando ficamos juntos naquela pequena cabana na periferia do território da academia. Eu estava com raiva e chateada, transbordado de escuridão do espírito. Dimitri me segurou lá também, e me tirou daquele horrível estado. Nos beijamos, então as mãos dele ergueram minha camiseta, e – não, não. Aqui não. Eu não podia pensar nisso aqui.
Dimitri finalmente se acalmou, me soltando da parede. Eu virei, e todos meus instintos queriam atacar ele de novo. Firme, eu me lembrei de comprar tempo para que eu pudesse ganhar força e informação. Embora ele tenha me soltado, ele não tinha se afastado. Estávamos a um centímetro de distância. Contra meu julgamento, eu me encontrei absorvendo ele de novo, como eu tinha feito na rua. Como ele podia ser o mesmo e ainda sim tão diferente? Eu tentei o meu melhor para me focar nas similaridades – o cabelo, a diferença de altura, a forma do rosto dele. Ao invés disso, eu me concentrei nas feições de Strigoi, os olhos vermelhos e a pele pálida.
Eu estive tão fixada em minha tarefa que eu levei um segundo para perceber que ele também não estava dizendo nada. Ele estava me estudando intensamente, como se os olhos dele pudessem ver através de mim. Eu tremi. Quase – quase! – parecia como se eu o cativasse da mesma forma
que ele me cativava. Isso era impossível. Strigoi não possuíam esse tipo de emoções, e além do mais, a idéia dele ainda ter afeição por mim era provavelmente só um pensamento desejoso da minha parte. O rosto dele sempre foi difícil de se ler, e agora ele tinha uma máscara perspicaz e fria que deixou realmente impossível saber o que passava na cabeça dele.
“Porque você veio aqui?” ele perguntou finalmente.
“Porque você bateu na minha cabeça e me arrastou para cá.” Se eu iria morrer, ia ser no estilo Rose.
O velho Dimitri teria sorrido e dado um suspiro exasperado. Esse permaneceu impassivo. “Não é isso que quis dizer, e você sabe. Porque está aqui?” A voz dele era baixa e perigosa. Eu achava Abe assustador, mas não havia nenhuma competição Até mesmo Zmey teria se afastado.
“Na Sibéria? Vim te encontrar.”
“Eu vim aqui para ficar longe de você.”
Eu estava tão chocada que eu disse algo incrivelmente idiota.
“Porque? Porque eu posso te matar?”
O olhar que ele me deu mostrou que ele pensava que era de fato uma coisa ridícula de se dizer. “Não. Para que não ficássemos nessa situação. Agora estamos, e a escolha é inevitável.”
Eu não tinha certeza de que situação era. “Bem, você pode me soltar se quiser evitar.”
Ele se afastou e andou até a sala sem olhar para mim. Eu fiquei tentada em atacar ele, mas algo me disse que eu provavelmente iria conseguir dar apenas alguns passos
antes de sair voando. Ele sentou em um dos sofás luxuosos, dobrando seu 1,80m na moldura graciosa que ele sempre tinha. Deus, porque ele tinha que ser tão contraditório? Ele tinha os hábitos do velho Dimitri misturados com o de um monstro.
Eu fiquei onde estava, contra a parede.
“Não é mais possível. Não depois de te ver agora...” De novo, ele me estudou. Eu me sentia estranha. Parte de mim respondeu com excitação por causa do seu olhar, amando do jeito que ele olhava meu corpo da cabeça aos pés. A outra parte se sentia suja, como se lodo ou sujeira corressem sobre minha pele enquanto ele me estudava. “Você ainda é tão linda quanto me lembrava, Roza. Não que eu esperasse algo diferente.”
Eu não sabia o que responder. Eu nunca realmente conversei com um Strigoi, fora trocar alguns insultos e ameaças no meio de uma luta. O mais próximo que cheguei foi quando fui presa por Isaiah. Na verdade eu tinha ficado amarrada lá, e a maior parte da conversa foi sobre ele me matar. Isso... bem, não era assim, mas ainda era definitivamente assustador. Eu cruzei meus braços e me afastei contra a parede. Era o mais perto que eu poderia chegar de algum semblante de defesa.
Ele virou sua cabeça, me observando com cuidado. Uma sombra cruzou seu rosto de um jeito que fez seus olhos vermelhos difíceis de ver. Ao invés disso, eles pareciam escuros. Como costumavam ser, sem fim e maravilhosos, cheios de amor e bravura...
“Você pode sentar,” ele disse.
“Estou bem aqui.”
“Tem mais alguma coisa que você queira?”
“Você me soltar?”
Por um momento, eu pensei ter visto um pouco daquela velha ironia no rosto dele, do tipo que ele tinha quando eu fazia piadas. Estudando ele, eu decidi que eu imaginei.
“Não, Roza. Eu me refiro a você precisar de alguma coisa aqui? Comida diferente?
Livros? Entretenimento?”
Eu encarei incrédula. “Você faz soar como se fosse algum tipo de hotel de luxo!”
“E é, a uma certa extensão. Posso falar com Galina, e ela vai te conseguir o que você quiser.”
“Galina?”
Os lábios de Dimitri viraram em um sorriso. Bem, mais ou menos. Eu acho que os pensamentos dele eram afeiçoados, mas o sorriso não mostrou nada disso. Era gelado, negro, e cheio de segredos. Só minha recusa de mostrar fraqueza diante dele me impediam de me encolher.
“Galina é minha antiga instrutora, de quando eu ia para escola.”
“Ela é um Strigoi?”
“Sim. Ela foi acordada vários anos atrás, em uma luta em Praga. Ela é relativamente jovem para um Strigoi, mas ela tem poder. Tudo isso é dela.”
Dimitri gesticulou ao redor.
“E você vive com ela?” eu perguntei, curiosa. Eu me perguntei exatamente que tipo de relação eles tinham, e para minha surpresa, eu me sentia... com ciúmes. Não que
eu tivesse motivos. Ele era um Strigoi, além de mim. E não podia ser a primeira vez que um professor e aluno ficavam juntos...
“Eu trabalho para ela. Ela foi outra razão para mim voltar aqui quando fui acordado. Eu sabia que ela era um Strigoi, e eu queria a orientação dela.”
“E você queria se afastar de mim. Essa foi a outra razão, certo?”
Sua única resposta foi acenar com a cabeça. Não elaborou.
“Onde estamos? Estamos longe de Novosibirsk, certo?”
“Sim. A propriedade Galina é fora da cidade.”
“O quão longe?”
Aquele sorriso se torceu um pouco. “Eu sei o que você está fazendo, e não vou te dar esse tipo de informação.”
“Então o que você está fazendo?” eu exigi, todo meu medo explodindo como raiva. “Porque está me mantendo aqui? Me mate ou me solte. E se você vai me prender aqui e me torturar com jogos mentais ou algo assim, então eu prefiro que você me mate.”
“Palavras corajosas.” Ele levantou e começou a andar mais uma vez. “Eu quase acredito em você.”
“Elas são verdadeiras,” eu respondi desafiante. “Eu vim aqui para te matar. E se eu não posso fazer isso, então prefiro morrer.”
“Você falhou, sabe. Na rua.”
“Yeah. Eu meio que descobri isso quando acordei aqui.”
Dimitri virou abruptamente e estava de repente parado na minha frente, se movendo com a velocidade de raio de um Strigoi. Minha náusea de Strigoi nunca sumiu, mas quanto
mais tempo eu passava com ele, mais ela diminuía em um nível quase como um barulho de fundo que eu podia mais ou menos ignorar.
“Estou um pouco desapontado. Você é tão boa, Rose. Tão, boa. Você e seus amigos derrubando Strigoi causou uma agitação, sabe. Alguns Strigoi estavam com medo.”
“Mas não você?”
“Quando ouvi que era você... hmmm.” Ele ficou pensativo, os olhos se estreitando.
“Não. Estava curioso. Cauteloso. Se alguém pode me matar, é você. Mas como eu disse, você hesitou. Foi seu teste final de minhas lições, e você falhou.”
Eu mantive meu rosto em branco. Por dentro, eu estava me xingando pelo momento de fraqueza na rua. “Não vou hesitar da próxima vez.”
“Não haverá uma próxima vez. E de qualquer forma, por mais desapontado que eu esteja, ainda estou feliz por estar vivo, é claro.”
“Você não está vivo,” eu disse através dos dentes cerrados. Deus, ele estava tão, tão perto de mim de novo. Mesmo com a mudança em seu rosto, aquele corpo musculoso era o mesmo. “Você está morto. Não é natural. Você me disse muito tempo atrás que você preferia morrer a ser assim. É por isso que vou te matar.”
“Você só está dizendo isso porque não sabe melhor. Eu não sabia também.”
“Olha, eu falei sério. Não vou jogar seu jogo. Se eu não posso sair daqui, então me mate, ok?”
Sem aviso, ele se entendeu e passou os dedos do lado do meu rosto. Eu ofeguei. A mão dele era fria como gelo, mas o jeito que ele me tocou... de novo, era o mesmo. Exatamente o mesmo que eu me lembrava. Como isso era possível? Tão similar... e ainda sim tão diferente. E de repente, outra de suas lições veio a minha mente, sobre como Strigoi pareciam tanto, tanto como aqueles que você conheceu. Era por isso que era tão fácil hesitar.
“Matar você... bem, não é tão simples,” ele disse. A voz dele caiu para um baixo sussurro de novo, como uma cobra deslizando em minha pele. “Existe uma terceira opção. Eu poderia despertar você.”
Eu congelei e parei de respirar.
“Não.” Era a única coisa que eu podia dizer. Meu cérebro não conseguia bolar nada mais complexo, nada espirituoso ou inteligente. As palavras dele eram muito aterradoras para sequer serem ponderadas. “Não.”
“Você não sabe como é. É... incrível. Transcendente. Todos os seus sentidos estão vivos; o mundo está mais vivo –”
“Yeah, mas você está morto.”
“Estou?”
Ele pegou minha mão e a colocou sobre seu peito. Nele, eu podia sentir uma firme batida. Meus olhos se alargaram.
“Meu coração bate. Estou respirando.”
“Yeah, mas...” Eu tentei desesperadamente pensar em tudo que eu aprendi sobre Strigoi. “Não é realmente estar vivo. É... magia negra reanimando você. É uma ilusão de vida.”
“É melhor que vida.” As duas mãos dele tocaram meu rosto. O batimento cardíaco dele podia ser firme, mas o meu
estava batendo forte. “É como ser um deus, Rose. Força. Velocidade. Capaz de perceber o mundo em formas que você nunca séria capaz de imaginar. E... imortalidade. Poderíamos ficar juntos para sempre.”
Uma vez, foi isso tudo o que eu quis. E profundamente dentro de mim, uma parte de mim ainda desejava isso, desejava desesperadamente ficar com ele para sempre. Ainda sim... não seria do jeito que eu queria. Não seria como costumava ser. Isso seria algo diferente. Algo errado. Eu engoli.
“Não...” eu mal podia ouvir minha própria voz, mal formei as palavras com ele me tocando daquele jeito. A ponta dos seus dedos eram tão leves e gentis. “Não podemos.”
“Poderíamos.” Um dos seus dedos tracejou o lado do meu queixo e parou na artéria do meu pescoço. “Eu poderia fazer isso rapidamente. Não haveria dor. Acabaria antes de você perceber.” Ele provavelmente tinha razão. Se você era forçado a se tornar Strigoi, você tinha o sangue drenado de você. Então o Strigoi normalmente se cortaria e colocaria sangue em seus lábios. De alguma forma, eu imaginava que iria desmaiar antes de ser drenada pela metade.
Juntos para sempre.
O mundo se borrou um pouco. Eu não sei se foi por causa do meu ferimento na cabeça ou por causa do terror passando pelo meu corpo. Eu tinha imaginado centenas de cenários quando saí atrás de Dimitri. Me tornar um Strigoi não tinha sido um deles.
Morte – a minha ou a dele – foi o único pensamento que me consumiu, o que foi idiota da minha parte.
Meus pensamentos lentos foram interrompidos quando a porta de repente se abriu. Dimitri virou me empurrando com tanta força que ele ficou protetoramente na minha frente. Duas pessoas entraram, fechando a porta antes que eu pudesse sequer considerar correr até ela. Um deles era um Strigoi, um cara. O outro era uma humana carregando uma bandeja, a cabeça dela virada para baixo.
Eu reconheci o Strigoi imediatamente. Era difícil não reconhecer; o rosto dele assombrava meus sonhos. Cabelo loiro, mais ou menos do tamanho de Dimitri, estavam do lado de um rosto que parecia ter seu início dos 20 anos quando ele foi transformado. Ele aparentemente conheceu Lissa e eu quando éramos mais novas, mas eu só o vi duas vezes antes. Uma vez quando lutei com ele na Academia. A outra quando encontrei com ele na caverna que os Strigoi estavam usando para ficar.
Foi ele que mordeu e transformou Dimitri.
O cara mal me olhou e ao invés disso voltou toda sua raiva para Dimitri. “O que diabos está acontecendo?” Eu não tinha problemas em entender ele. Ele era americano. “Você está mantendo um bicho de estimação aqui?”
“Não é da sua conta, Nathan.” A voz de Dimitri era gelada. Mais cedo, eu pensei que ele escondia nenhuma emoção em suas palavras. Agora eu percebi que era apenas difícil de detectar. Havia um claro desafio em sua voz agora, um aviso para o outro cara se afastar. “Galina me deu permissão.”
Os olhos de Nathan foram de Dimitri para mim. A raiva dele se transformou em choque. “Ela?”
Dimitri se mexeu levemente, se colocando diretamente na minha frente. Uma parte rebelde queria dizer que eu não precisava de proteção de Strigoi, a não queria... bem, eu meio que precisava.
“Ela estava na escola em Montana... Nós lutamos...” Os lábios dele se curvaram para trás, mostrando suas presas. “Eu teria provado o sangue dela se aquele pirralho Moroi usuário de fogo não estivesse por perto.”
“Isso não tem nada a ver com você,” respondeu Dimitri.
Os olhos vermelhos de Nathan eram grandes e ansiosos. “Você está brincando?
Ela pode nos levar para a garota Dragomir! Se terminarmos com essa linhagem, nossos nomes serão legendários. Quanto tempo você vai manter ela?”
“Fora,” rosnou Dimitri. “Isso não é um pedido.”
Nathan apontou para mim. “Ela é valiosa. Se você vai ficar com ela como uma meretriz de sangue, pelo menos divida. Então, vamos conseguir a informação e terminar com ela.”
Dimitri deu um passo para frente. “Fora daqui. Se você colocar um dedo nela, eu vou destruir você. Vou arrancar sua cabeça com minhas mãos e observar ela queimar no sol.”
A fúria de Nathan cresceu. “Galina não irá permitir que você brinque de casinha com essa garota. Mesmo você não tem tanto favorecimento.”
“Não me faça repetir. Não estou em um humor paciente hoje.” Nathan não disse nada, e os dois Strigoi ficaram parados ali em um impasse. Eu sabia que a força e poder dos Strigoi eram parcialmente relacionadas a idade. Nathan
obviamente foi transformado antes. Eu não sabia por quanto tempo, mas observando eles, eu tive o pressenti-mento que Dimitri poderia ser mais forte ou que eles eram pelo menos, do mesmo nível. Eu podia jurar que eu vi um brilho de medo nos olhos vermelhos de Nathan. Mas ele se virou antes de eu dar uma boa olhada.
“Isso não acabou,” ele disse, se movendo em direção a porta. “Vou falar com Galina.”
Ele saiu, e por um momento, ninguém se moveu ou falou. Então Dimitri olhou para a humana e disse algo em russo. Ela estava parada ali, congelada. Se inclinando, ela cuidadosamente colocou a bandeja na mesa perto do sofá. Ela ergueu a tampa prateada, revelando um prato de pizza de peperoni com muito queijo. Sob quaisquer outras circunstâncias, alguém me trazer pizza na casa de um Strigoi poderia ter sido ridículo e engraçado. Agora, com a ameaça de Dimitri de me transformar em Strigoi e o desejo de Nathan de me usar para pegar Lissa, nada era engraçado. Até mesmo Rose Hathaway tem limites quando se trata de fazer uma piada. Perto da pizza estava um enorme brownie, cheio de cobertura. Comida que eu amava, como Dimitri sabia muito bem.
“Almoço,” ele disse. “Não envenenada.”
Tudo na bandeja parecia incrível, mas eu recusei. “Não vou comer.”
Ele arqueou uma sobrancelha. “Você quer outra coisa?”
“Não quero nada porque não vou comer nada. Se você não vai me matar então eu mesma vou fazer.” Me ocorreu que
a falta de armas provavelmente era para minha proteção e não a deles.
“Morrendo de fome?” Havia uma negra diversão em seus olhos. “Vou acordar você muito antes disso.”
“Porque você não está fazendo isso agora?”
“Porque eu prefiro esperar que você esteja disposta.” Cara, ele realmente soava como Abe, a não ser que quebrar as pernas de alguém parecia suave em comparação.
“Você vai esperar um longo tempo,” eu disse.
Dimitri riu alto. A risada dele era rara quando Dhampir, e a ouvir sempre me animava. Agora ela não tinha mais aquele rico calor que sempre me envolvia. Era fria e ameaçadora. “Veremos.”
E antes de eu responder, ele se moveu na minha frente de novo. As mãos dele passaram na minha nuca, me empurrando para perto dele, e ele ergueu meu rosto, pressionando seus lábios contra os meus. Eles eram tão frios quanto o resto da sua pele... e ainda sim havia algo quente neles também. Uma voz em mim gritou que isso era doentio e horrível... mas ao mesmo tempo, eu perdi noção do mundo ao meu redor enquanto nos beijávamos e eu pude quase fingir que estávamos de novo na cabana.
Ele se afastou tão rapidamente quanto tinha se aproximando, me deixando ofegando e de olhos chocados. Casualmente, como se nada tivesse acontecido, ele gesticulou em direção a mulher.
“Essa é Inna.” Ela olhou para cima ou ouvir seu nome, e eu vi que ela não era mais velha que eu. “Ela trabalha para Galina também e vai te checar. Se precisar de algo, avise
ela. Ela não fala muito inglês, mas ela vai dar um jeito.” Ele disse algo mais para ela, e ela o seguiu em direção a porta.
“Aonde você vai?” eu perguntei.
“Tenho coisas a fazer. Além do mais, você precisa de tempo para pensar.”
“Não tem nada para pensar.” Eu forcei o máximo de desafio em minha palavra quanto possível. Eu não devo ter soado muito feroz, porque tudo que meu discurso recebeu foi um sorriso zombador antes de ele sair com Inna, me deixando sozinha em uma luxuosa prisão.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 18
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às 19:46
Marcadores: Academia de Vampiros, Promessa de Sangue
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