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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capítulo Bônus 1: Origem

- vida de Yuvakshi -


A menina trêmula puxou com força o xale sobre os ombros, como se ao fazer isso, ela seria capaz de proteger-se, mas o tecido agrupado fez uma espécie de armadura e em seu frágil coração ela sabia que nunca iria se sentir segura novamente, mesmo se ela tivesse sido envolvida da cabeça aos pés com o mais forte dos aços. A menina de 17 anos de idade estava no quarto do comandante e ponderou o que a levou a esse destino.

O servo de seu pai a tinha deixado sem a menor cerimônia na porta do chefe militar do rei, um homem, ainda mesmo o mais poderoso dos amigos de seu pai, só se atreveria a sussurrar sobre isso apenas atrás de suas mãos. Ela sabia que seu pai, um comerciante nato, tinha recentemente feito alguns novos amigos influentes. De que outra forma ele tornou-se tão bem sucedido de repente? Mas ela não tinha ideia que suas ligações eram tão altas.

Eles sempre foram bem financeiramente, mas Yuvakshi era a filha mais velha de sete filhos e com tantas bocas para alimentar, ela esperava que seus pais fariam um acordo para ela ainda muito jovem. Ela tinha esperança de que o homem para quem seria dada pelo menos seria mais próximo da sua idade, se não um dos jovens da cidade que tinha mostrado interesse no passado.

Tinha um bom número para escolher, o passatempo favorito de Yuvakshi enquanto trabalhava com sua mãe ou organizava o estoque na loja, ela sonhava com o que sua vida poderia ser se ela casasse com um deles. Ela tinha seus favoritos, é claro, a maioria daqueles que tinham uma forma bonita ou uma carteira considerável, ou, se tivesse sorte, ambos. E seu pai era um homem inteligente que mantinha sua bela filha à vista de todos os que agraciavam o seu negócio, então ela teve muitas oportunidades para considerar o que poderia ser uma parte de seu futuro.

Todos que colocavam os olhos em Yuvakshi concordavam que ela era uma beleza rara, que qualquer jovem ficaria orgulhoso de tê-la como esposa. Mesmo se ela não fosse graciosa, os filhos de famílias mais pobres teriam a visitado muitas vezes, na esperança de chamar sua atenção e ganhar não só uma parte, mas uma participação no negócio do comerciante. Qualquer um desses meninos esperançosos, mesmo o gordo com a pele avermelhada cujo hálito fedia a cebolas teria sido uma opção melhor do que esta.

Yuvakshi esperava que, quando ela deixasse sua casa como uma adulta, ela teria pelo menos uma união honrosa com um homem que iria levá-la como sua esposa. Nem em suas imaginações mais terríveis ela esperava que seu pai iria usá-la de forma tão vergonhosa. Para entregá-la a alguém que pretendia roubar o futuro que ela sonhou.

Nada poderia ser pior.

Quando seu pai anunciou suas intenções, não havia nada que a mãe de Yuvakshi pudesse fazer para detê-lo. Nenhuma quantidade de lágrimas mudaria a ideia dele.


— Uma barganha é uma barganha. — Ele disse, jogando a mão no ar para parar a discussão antes de sair abruptamente depois de emitir as instruções enigmáticas para preparar sua filha para partir.

Quando a jovem foi levada para fora com apenas seus dois melhores vestidos em um pequeno saco, sua mãe torceu as mãos e murmurou baixinho para o marido sobre coisas obscuras que Yuvakshi não queria ouvir, mas mesmo ela podia ver o medo nos olhos de seu pai quando sua mãe pediu-lhe para considerar uma alternativa ou, pelo menos, negociar a possibilidade de um casamento oficial antes.

Sem sequer um adeus, seu pai tomou conta de sua esposa em lágrimas, apertando-a contra seu peito enquanto ele assentiu abruptamente para o servo que levou a menina para fora do mercado. Seus passos eram lentos, enquanto seguia o homem pelo caminho através das lojas ocupadas e até a estrada principal. Ela ficou surpresa quando o lado comercial da cidade deu lugar a casas que eram mais ricas e, em seguida, eles passaram as residências de vários diplomatas e políticos. Ainda assim, o homem continuou.

Yuvakshi começou a se perguntar sobre suas circunstâncias. Talvez sua mãe estivesse errada. Talvez seu pai tinha escolhido bem para ela, afinal. Talvez alguém de substância tinha decidido se comprometer com um líder da cidade. A menina mordeu o lábio. Mesmo que o homem fosse mais velho, ele poderia não ser tão ruim.

Se ele fosse uma espécie passível, ele poderia até considerar o casamento se ela lidasse com a relação delicadamente. No mínimo, ela não passaria fome. Foi quando ela foi levada até os portões quase impenetráveis de fortaleza militar do rei, que ela começou a entender verdadeiramente o que estava acontecendo.

— Sou consorte de um soldado? — Perguntou ao homem caminhando ao lado dela.

Ele zombou.

— Não é um soldado. Seu pai não lhe daria para nada menos disso.

Ela piscou e refletiu sobre isso antes de dizer:

— O rei?

O homem riu abertamente.

— Você se acha bonita o suficiente para fazê-lo esquecer a mulher que ele amava?

Yuvakshi não tinha certeza de como responder a essa pergunta. Para dizer o que ela realmente pensou, ela iria ser considerada arrogante e, ainda assim, se havia uma coisa que ela era confiante, era sobre a sua aparência. Ela não precisou responder, porque no momento em que os pesados portões se abriram, o homem que a acompanhava deu-lhes uma saudação rápida antes de girar e ir embora enquanto eles foram em sua direção.

De repente cercada pela guarda do rei, Yuvakshi nunca se sentira tão sozinha. Ela perguntou para um deles o nome do homem para quem ela foi levada e não só eles não lhes responderam, mas nem sequer olharam em sua direção. Eram tão pedregosos e tão insensíveis como estátuas. Medo descontrolado se derramou na forma de lágrimas travessas.

Portas pesadas foram desbloqueadas com clanks estridentes que soavam a ela como o som de uma cela e até mesmo seu passo lento e pesado parecia como se seus tornozelos estivessem algemados e acorrentados a uma bola pesada.

Uma mulher com cara de severa a encontrou no topo de uma escada em espiral. Estando perto do palácio, e com o tamanho da casa sendo maior do que qualquer coisa que ela já tinha visto, Yuvakshi pensou que o interior deveria ser opulento e grandioso, mas, em vez disso, as passagens eram confusas e escuras. Havia uma nítida falta de janelas e as que podia ver eram intransitáveis com grossas barras de ferro.

O teto era baixo e havia tantas voltas e reviravoltas que ela sentiu como se estivesse presa no labirinto do jardim onde as plantas estavam crescendo ao seu redor tentando ultrapassar o caminho e sufocar aqueles que ousassem atravessar suas fronteiras. A mulher enviada para conduzi-la teve a cordialidade de uma bruxa por quem havia cruzado por engano.

Ela guiou Yuvakshi para um quarto que era, se não opulento, então, pelo menos melhor do que os corredores que ela percorreu. Rapidamente se tornou óbvio que este não era o espaço que ela iria morar quando a sua bolsa foi prontamente removida e um vestido branco fino foi colocado sobre a cama. A mulher saiu com um aviso de que seu mestre voltaria dentro de uma hora e se ela fosse inteligente, tentaria agradá-lo.

Antes, Yuvakshi perguntou:

— Quem é ele? O seu mestre?

O flash de pena que a menina viu nos olhos da mulher deve ter sido um truque da luz, uma vez que a senhora não estava lá para oferecer qualquer conforto. Pelo menos ela respondeu a pergunta.

— O nome dele é Lokesh. — Ela disse antes de sair do quarto, fechando a porta atrás dela.

— Lokesh? — Yuvakshi sussurrou.

Certamente a mulher estava enganada. O mercado zumbia com rumores sobre o líder militar que servia o rei. As atrocidades que diziam que ele tinha cometido variavam de traição à morte de inocentes. Uma parte dizia que ele ganhara o poder fazendo um pacto com um demônio, mas a maioria deles dizia que ele era o demônio. Como isso pode ser? Como poderia o pai ter-lhe dado para um homem assim?

Pelo menos agora o medo nos olhos de seu pai fazia sentido. Já que tinha negociado com um demônio alguém que era da sua própria família. E ela seria o única a sofrer por isso. Instintivamente, sabendo que seria mais sensato da parte dela jogar suas forças com o objetivo de ganhar qualquer bondade que o homem possuía no seu coração de demônio, Yuvakshi cuidadosamente vestiu o vestido dado a ela e seus dedos vasculharam seus cabelos escuros, retirando cuidadosamente as tranças até que seu cabelo caísse em ondas longas pelas suas costas.

Ela alisou as rugas imaginárias do vestido e entrou na luz solar, movendo seu corpo de modo que os raios do sol refletissem em seu rosto e acendessem seus olhos. A espera foi longa devido ao seu nervosismo, mas foi menor do que ela teria desejado. Com um barulho pesado, a porta se abriu e o objeto de seu medo ficou olhando imóvel para ela.

Yuvakshi não disse uma palavra, mas se endireitou em toda sua estatura, inclinando os ombros e arregalando os olhos antes de baixar os cílios recatadamente.

— Meu senhor. — Ela disse em voz baixa e inclinou a cabeça brevemente.

Corajosamente, Lokesh avançou, agarrou-lhe o queixo e levantou o rosto dela para que ele pudesse olhá-la. Seus olhos se estreitaram e suas narinas se alargaram.

— Qual é o seu nome? — Perguntou ele, sua respiração quente em seu rosto em chamas.

— Yuvakshi. — Disse ela. — Filha de...

Ele apertou sua maxilar, cortando suas palavras.

— Eu não me importo de quem você é filha. — Seu olhar quente arrastou para baixo pelo seu corpo e de volta para seu rosto. — Você é bonita o suficiente, eu acho.

— Obrigada ...

— Não fale.

Sabiamente, Yuvakshi segurou a língua.

Lokesh virou e começou a tirar sua capa. Em seguida, ele se sentou com raiva e fez um gesto para ela ajudá-lo com suas botas. Ela fez, mas quando ela se esforçou para tirá-las, ele a empurrou para o lado. Ela caiu contra uma mesa e a derrubou, machucando o quadril na queda. Sua mão mal tinha tocado nela e ainda a pressão era tão forte, que ela mal conseguia recuperar o equilíbrio.

No momento, Yuvakshi sabia duas coisas com certeza. Primeiro, o homem para quem tinha sido dada, era mais desafiador e mais poderoso do que os rumores somados e segundo, ele era um homem com um temperamento violento, que não tinha nenhuma suavidade em seu coração. Agradá-lo seria a única maneira que ela iria sobreviver, então ela fez da sobrevivência o propósito de sua vida.

Ela não teve nenhuma ilusão sobre o seu lugar na vida dele. Quando ela não era necessária, ela se tornava tão pequena e invisível possível, mas no momento em que ele tinha utilidade para ela, ela ia até ele e oferecia-lhe tudo o que ele queria. Não demorou muito antes de sua antiga vida parecer um sonho.

Houve um dia pessoas que a amavam? Quem queria fazê-la feliz? Parecia impossível.

Todo o seu mundo era agora este homem e a dor pairava em torno dele em uma nuvem negra. Não havia previsão de quando o relâmpago poderia surgir ou quão pesada e dolorida a punição seria. Se houvesse um padrão, ela poderia ter descoberto isso. Ela era boa nisso. Bom em sentir quando alguém ia comprar ou se estava apenas vagando no mercado à procura de roubar uma maçã ou tentando um negócio melhor.

Com este homem não havia como decifrá-lo. Ele era volátil. Zangado com o mundo. E, no entanto, havia uma incompletude sobre ele. Ele era ... fragmentado de alguma forma. Havia algo que ele queria e queria desesperadamente, mas mesmo com tanto cuidado que ela prestava atenção, ele nunca deu nenhuma pista.

Quando ela descobriu que estava grávida, ela hesitou em lhe dar a notícia. Por um lado, ele poderia se sentir como se seu objetivo já não servisse e ele a mataria. Por outro lado, ele poderia simplesmente trocá-la. Era possível que sua mãe poderia levá-la, mas era improvável. Ela estava envergonhada e com uma criança.

Havia lugares que tais mulheres poderiam ir, mas a vida de uma mulher contaminada e seu filho não era feliz. Ainda assim, a sobrevivência do lado de fora poderia ser mais fácil do que a vida com Lokesh. Ela estava se preocupando com suas opções, não encontrava um resultado que seria agradável para ela e seu bebê, quando seu mestre voltou para casa. Depois de ajudá-lo com suas botas e entregar-lhe uma bebida fria do jarro de água, ela decidiu simplesmente dizer a ele.

Quando ela pegou o copo vazio e se virou, colocando-o sobre a mesa, ela disse:

— Estou grávida.

Ela se manteve de costas para ele, o medo sobre a sua resposta transformando-a em uma covarde. Quando ele não disse nada, ela o encarou hesitante. Havia uma expressão de... não de alegria ou felicidade, mas ... de satisfação no rosto dele.

— Tem certeza? — Ele perguntou finalmente.

— Eu tenho. — Yuvakshi respondeu. — Eu acredito que é o terceiro mês.

— Grávida. — Ele pensou enquanto ponderava brevemente e, em seguida, deixou ao quarto.

Lokesh não retornou a noite toda. No dia seguinte, ele encontrou Yuvakshi e disse-lhe para se preparar para o casamento. Ele tinha arranjado um casamento para eles na semana seguinte. Yuvakshi não sabia o que pensar, mas a reação dele à sua notícia foi muito melhor do que ela poderia ter esperado. Ela consolou-se pensando que se ela tivesse que ser casada com um demônio, pelo menos, seu filho nasceria com honra. Essa ideia parecia estar refletida em Lokesh também. Ele frequentemente fazia menção de seu filho nascer legitimamente. Parecia importante para ele por algum motivo e Yuvakshi esperava que, se ele não tinha qualquer amor por ela, pelo menos ele poderia suavizar um pouco com seu filho. E o faria amolecer ... um pouco.

Após o casamento, uma pequena cerimônia onde seus pais lhe desejaram o melhor, mas evitaram olhar nos olhos dela, Yuvakshi foi para um quarto mais confortável, teve mais servas, e, o que era ainda melhor, Lokesh passava a maior parte de seu tempo com ela falando sobre o bebê e seu conforto, a consulta com as parteiras, e ganhando ainda mais prestígio e controle no reino do que ele já tinha. Ele disse que queria construir um legado para passar para o filho.

Embora Lokesh constantemente falasse de um filho, Yuvakshi ignorava as dúvidas pequenas que tinha sobre o que aconteceria se uma filha nascesse. Ela esperava que ele mimasse a filha, no entando, parecia um otimismo irreal quando considerava seu caráter. Certamente os deuses notariam seu sofrimento silencioso e abençoariam ela com um menino.

Infelizmente, não era para ser.

Quando suas angústias começaram, Yuvakshi saboreou a dor. Não era nada em comparação com os espancamentos que seu marido lhe dera antes que ela anunciasse sua gravidez. Ela sabia que, ao dar-lhe este presente precioso, ela garantiria um lugar para ela e seu filho. Talvez ela pudesse fazer este trabalho depois de tudo. Ela se esforçaria ainda mais para agradá-lo, moldaria-se no que ele queria que ela fosse.

A parteira disse que nunca tinha visto um trabalho de parto tão fácil. Quando a serva enxugou a testa e deu-lhe um copo de água, Yuvakshi pensou que os deuses tinham de fato a abençoado. Ela ouviu o grito e viu a parteira enrolar o pacote em um cobertor. Tudo o que Yuvakshi podia sentir era alívio e satisfação em dar ao marido o que ele tão desesperadamente queria.

As servas moveram-se após o nascimento e a nova mãe adormeceu com um sorriso, um reflexo amargo e quebrado da menina bonita e feliz que ela tinha sido uma vez. Que triste seria a pequena coisa que fez aquele sorriso possível, a pequena menina que descansava em um berço ao lado dela, seria o último sentido fugaz de felicidade na vida curta de Yuvakshi.

A menina adorável de apenas dezoito anos de idade, com cabelos longos, escuros e olhos brilhantes violeta, a esposa de um monstro, acordou de um sonho agradável para encontrar o marido pairando sobre ela, com o rosto roxo de raiva. Quando ele colocou suas mãos ao redor dela, esmagando sua garganta e roubando o fôlego de seu corpo, ela manteve-se alerta apenas o tempo suficiente para discernir as palavras ameaçadoras cuspidas em seu rosto que ela tivera uma menina.

No breve momento transitório encontrado entre a vida e a morte, Yuvakshi se perdeu em um pensamento. Não era sobre o que foi roubado dela, ou de seus pais decepcionantes, não de seu assassino e marido abusivo, e não sobre a dor em seus pulmões. Naqueles segundos demasiado curtos finais, Yuvakshi pensou na única coisa em sua vida que lhe deu a verdadeira felicidade - o amor que ela sentia pela pequena filha preciosa.

E ela estava contente.

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