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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 19

Se eu não conseguia dormir antes, o sonho do Adrian só piorou as coisas. Mesmo eu estando em segurança de volta á minha própria cama, eu não conseguia abalar o sentimento de violação. Eu imaginei que a minha pele estava formigando com a contaminação da magia. Eu estava tão ansiosa por sair do sonho que eu apenas reflecti metade do que eu estava concordando. Eu respeitava o desejo de Adrian ir para a faculdade, mas agora me perguntei se eu deveria realmente estar a ajuda-lo, após castigo do meu pai sobre ‘fazer amizade’ com vampiros. Eu não estava nos meus dias de humor quando finalmente me levantei algumas horas mais tarde. A tensão no nosso quarto estava densa enquanto Jill e eu nos preparávamos para a escola. O desafio de ontem da Jill tinha ido embora, e ela continuava me olhando nervosamente quando ela pensava que eu não estava atenta. Pelos vistos, a minha explosão de ontem à noite a fez ficar inquieta. Mas, enquanto saiamos do quarto para o pequeno almoço, eu sabia que havia mais do que aquilo. –O quê?– Eu perguntei sem rodeios, quebrando o silêncio por fim. –O que você quer me perguntar?– Jill deu-me um outro olhar cauteloso, quando nos juntamos ás outras raparigas pelas escadas abaixo.–Hum, ontem aconteceu uma coisa.– Um monte de coisas aconteceu ontem, pensei. Isto foi a minha exaustão, auto amarga a falar, e eu sabia que isto não era o que ela estava querendo dizer. –Tal como?– perguntei. –Bem… Eu ia te dizer que o Lee me levou para aquela loja. Aquela boutique de roupas em que ele conhecia o proprietário? O nome dela é Lia DiStefano. Nós falamos, e ela, hum, me ofereceu um emprego. Uma espécie de emprego.–

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–O trabalho de modelo?– Chegamos á fila dos alimentos no refeitório, embora eu tivesse pouco apetite. Eu escolhi um iogurte, que parecia triste e solitário no meio da minha bandeja vazia. –Nós conversamos sobre isso. E não é seguro.– Ainda assim, foi irónico que uma visita aleatória fez com que Jill conseguisse um trabalho, quando três entrevistas formais havia falhado para Adrian. –No entanto, não é para fotos que seriam colocadas numa revista ou qualquer coisa. É para um desfile de designers locais. Dissemos a ela essa história de que fazemos parte de uma religião que tem regras sobre fotos e identidade. Lia até disse que ela realmente tinha pensado em ter as suas modelos a usar máscaras. Do género que você usa num baile de máscaras? Entre isto e a iluminação e o movimento… bem, seria difícil de me identificar se algum candidato der o tiro fora. É apenas um evento único, mas eu tinha que ir ter com ela antecipadamente para os acessórios…e para praticar. Ela também me vai pagar, mas eu precisaria de carona para chegar lá e autorização dos pais.– Nós nos sentamos e eu passei uma quantidade desnecessária de tempo agitando o meu iogurte, enquanto reflectia as palavras dela. Eu podia sentir seu olhar em mim ao mesmo tempo que eu pensava. –É meio pateta, eu acho–, continuou ela quando eu não respondi. –Quero dizer, eu não tenho nenhuma experiência. E eu nem sei porque ela me quis. Talvez seja algum truque que ela esteja indo dar. Modelos estranhos ou alguma coisa.– Eu finalmente comi um pedaço de iogurte e depois olhei para dela. –Você não é estranha, Jill. Você realmente tem o corpo ideal para uma modelo. É difícil de encontrar isso. Pelo menos para os humanos.– Mais uma vez, tentei não pensar sobre como era difícil para nós humanos viver de acordo com a perfeição dos Moroi. Tentei não pensar em como, anos atrás, meu pai havia criticado a minha figura e disse: ‘Se esses monstros podem fazê-lo, por que não você?’ –Mas você ainda acha que é uma ideia terrível–, disse ela. Eu não respondi. Eu sabia o que Jill queria, mas ela não conseguiu levar-se a fazer-me a pergunta directamente. E eu ainda não poderia facilitar-lhe as coisas. Eu estava muito chateada sobre os acontecimentos de ontem e não me sentia gentil para fazer qualquer favor. Por outro lado, eu não poderia dizer-lhe que não. Ainda não. Apesar da forma irresponsável com que ela se comportou, as suas palavras sobre o quão miserável era a sua vida aqui, me tinha tocado duro. Aquilo era algo positivo e bom que iria preencher o seu tempo. Era também um impulso muito necessário para o seu ego. Laurel tinha desenvolvido o uso das características incomuns de Jill contra ela; aquilo faria bem a

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Jill, para que ela reparasse que outras pessoas viam de forma positiva as suas características. Ela precisava perceber que ela era especial e maravilhosa. Eu não sabia se amaldiçoava ou agradecia a Lee por esta oportunidade. –Eu não acho que possamos decidir nada até que conversemos com a Sra. Weathers,– disse a ela por fim. Olhei para um relógio próximo. –Na verdade, precisamos de nos encontrar com ela agora.– Eu levei algumas mais mordidas do meu iogurte antes de jogá-lo fora. Jill pegou num donut. Quando voltamos para a nossa entrada, descobrimos que chegou uma entrega para Jill: um perfeito buquê de rosas vermelhas e um bilhete a pedir desculpas de Lee. Jill derreteu-se, seu rosto se encheu de adoração com o gesto. Mesmo eu admirei o romance dele, embora uma parte de mim, sarcasticamente disse que as flores talvez devessem ter sido enviadas para o Eddie e para mim. Era a nós que ele devia se desculpar. Independentemente disso, as flores foram rapidamente esquecidas quando nos sentamos no escritório da Sra. Weathers e instruiu o veredicto sobre Jill. –Falei com o director. Você não está sendo suspensa–, ela disse a Jill. –Mas até o próximo mês, você está restrita ao seu dormitório quando não estiver em aula. Você virá me informar imediatamente que está aqui, após o final das aulas. Você pode ir ao refeitório para as refeições - mas apenas do seu dormitório. Não a do Campus Oeste. As únicas excepções a esta política são se uma tarefa ou professor exigir que você vá para outro lugar fora do horário escolar, como a biblioteca.– Nós duas balançamos a cabeça, e por um momento, eu estava simplesmente aliviada por Jill não ter sido expulsa ou algo parecido. Então o problema real me atingiu como um tapa no rosto. Eu disse a Jill que esta reunião teria impacto em qualquer decisão sobre ser modelo, mas havia algo muito pior no caminho. –Se ela está de castigo no dormitório, então ela não pode deixar a escola,–disse. Sra. Weathers me deu um sorriso irónico. –Sim, senhorita Melrose. Isso é o que geralmente significa aqui na ‘terra’.– –Ela tem que sair, minha senhora–, argumentei. –Temos reuniões de família duas vezes por semana.– Idealmente, nós tínhamos mais do que isso, mas eu estava esperando que um número baixo pudesse nos comprar a liberdade. Era absolutamente necessário que Jill conseguisse sangue e dois dias por semana era o mínimo que um vampiro poderia aguentar para sobreviver. –Sinto muito. Regras são regras, e ao quebrá-las, a sua irmã perdeu o privilégio de funções como isso.–

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–Eles são religiosos,– eu disse. Eu odiava jogar a cartada da religião, mas isto era algo que a escola não se oponha. E hey, aparentemente tinha resultado com a designer de moda. –Nós vamos á Igreja em família, nesses dias - nós e nossos irmãos.– O rosto da Sra. Weathers mostrou-me que tinha de fato ganho o terreno. –Nós precisaríamos de uma carta assinada pelos seus pais.– disse ela finalmente. Óptimo. Isso tinha funcionado tão bem em EF. –E sobre o nosso irmão? Ele é o nosso guardião legal aqui.– Certamente, mesmo Keith não conseguia arrastar os pés sobre isso, não com o sangue pelo meio. Ela considerou isso. –Sim. Isso pode ser aceitável.– –Sinto muito–, disse a Jill, quando saímos para pegar o ônibus. –Sobre a ideia de modelo. Vamos ter um tempo suficientemente difícil para arranjar permissão para você poder sair e se alimentar.– Jill concordou com a cabeça, não fazendo nenhum esforço para esconder a sua decepção. –Quando é o show?– perguntei, pensando que talvez ela poderia faze-lo quando terminasse o seu castigo. –Daqui a duas semanas.– Tanto por essa ideia. –Sinto muito–, repeti. Para minha surpresa, Jill acabou por se rir. –Você não tem nenhuma razão para estar. Não depois do que eu fiz. Eu sou a única que está arrependida. E eu também sinto muito por Adrian – sobre as entrevistas.– –Isso é algo que você não tem nenhum motivo para se arrepender.– Mais uma vez, me pareceu fácil com que todos inventavam desculpas para ele. Ela provou isso com o seu próximo comentário. –Ele não pode evitar. É como ele é.– ‘Ele não pode evitar’, pensei. Em vez disso, eu disse: –Segue apenas em frente, ok? Vou buscar o Keith para assinar as nossas experiências religiosas.– Ela sorriu. –Obrigado, Sydney.– Nós geralmente nos separávamos quando o ônibus chegava ao Campus Central, mas ela reteve-se uma vez que saímos. Eu podia ver que ela, mais uma vez, queria me dizer algo, mas estava tendo problemas para arranjar coragem. –Sim?–, perguntei. –Eu… só queria dizer que eu realmente sinto muito por lhe dar tanta preocupação. Você faz um monte de coisas por nós. Serio. E você estar chateada, é porque…bem, eu sei

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que você se importa. Que é mais do que eu posso dizer sobre as outras pessoas lá da Corte.– –Isso não é verdade–, disse. –Eles se preocupam. Eles entraram num monte de problemas para te trazer aqui e manter-te segura.– –Eu ainda me sinto como se fosse mais para Lissa do que para mim–, ela disse tristemente. –E minha mãe não se colocou muito na luta quando eles disseram que me iam mandar para longe.– –Eles querem você segura–, disse a ela. –Isso significa fazer escolhas difíceis - difíceis para eles também.– Jill concordou com a cabeça, mas eu não sei se ela acreditou em mim. Eu dei ao Eddie o relatório dos acontecimentos desta manhã, quando cheguei á aula de história. Seu rosto exibia uma variedade de emoções a cada novo desenvolvimento na história. –Você acha que Keith vai escrever a carta?–, ele perguntou em voz baixa. –Ele tem que escrever. A finalidade de estarmos aqui é mantê-la viva. Mata-la á fome seria tipo anular o objectivo de tudo isto.– Eu não o incomodei dizendo que eu estava com problemas com o meu pai e com os alquimistas e, que dali a duas semanas havia uma boa chance de eu não poder estar por perto. Eddie já estava claramente chateado com situação de Jill, e eu não queria que ele tivesse mais uma coisa com que se preocupar. Quando me encontrei com a Ms. Terwilliger no final do dia, eu me dediquei às últimas notas que fiz dos livros antigos para ela. Enquanto estava envolvida numa mesa, notei uma pasta de artigos em cima da mesa. Faculdade de Carlton estava impressa em gordas letras douradas na pasta. Naquele momento me lembrei porque eu achava o nome familiar, quando Adrian o mencionou no sonho. –Ms. Terwilliger…Você não disse que conhecia pessoas da faculdade de Carlton?– Ela olhou para cima de seu computador. –Hmm? Oh sim. Eu acho que disse isso. Eu jogo poker com metade da faculdade de história. Eu até ensino lá no verão. História, isto é. Não poker.– –Eu suponho que você não conhece ninguém nas admissões, certo?– perguntei. –Não muitas. Acho que conheço pessoas que conhecem as pessoas de lá.– Ela voltou sua atenção para a tela. Eu não disse mais nada e vários momentos depois ela olhou para mim. –Por que você pergunta?– –Nenhuma razão.– –É claro que há uma razão. Você está interessada em participar? Deus sabe que você

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provavelmente aprenderia mais lá do que aqui. Minha classe é uma excepção, claro.– –Não, senhora–, disse. –Mas o meu irmão quer participar. Ele ouviu dizer que as aulas ainda não começaram, mas ele não tem certeza se consegue entrar num prazo tão curto.– –Num estreito curto prazo–, concordou Ms. Terwilliger. Ela me examinou com cuidado. –Você gostaria que eu fizesse algumas averiguações?– –Oh. Oh não, minha senhora. Eu estava apenas esperando conseguir alguns nomes com quem eu pudesse entrar em contacto. Eu nunca lhe pedir para fazer algo como isso.– Ela levantou as sobrancelhas. –Por que não?– Eu estava perdida. As vezes, ela era tão difícil de entender. –Porque… você não tem nenhuma razão para fazer isso.– –Eu faria isso como um favor a você.– Eu não conseguia elaborar uma resposta para aquilo e simplesmente pasmei. Ela sorriu e empurrou os óculos para cima do nariz. –Isto é impossível de acreditar para você, não é? Que alguém poderia fazer um favor para você.– –Eu… bem, isto é….– Eu parei, ainda não tinha certeza do que dizer. –Você é minha professora. Seu trabalho é, bem, me ensinar. Só isso.– –E o seu trabalho–, disse ela, –é - durante este último período - relatar nesta sala qualquer tarefa mundana que dou para você e depois entregar um papel no final do semestre. Você não está de forma alguma obrigada a buscar-me café, aparecer após o horário, organizar a minha vida, ou reorganizar completamente a sua própria para atender aos meus pedidos ridículos.– –Eu… Eu não me importo–,disse. –E todas as necessidades se pode fazer.– Ela riu. –Sim. E você insiste em estar acima dalém de suas tarefas, não é? Não importa o quão inconveniente seja para você.– Dei de ombros. –Eu gostaria de fazer um bom trabalho, minha senhora.– –Você faz um excelente trabalho. Muito melhor do que você precisa. E você faz isso sem reclamar. Portanto, o mínimo que eu posso fazer é fazer alguns telefonemas em seu nome.– Ela riu de novo. –Isto assusta você mais do que tudo, não é? Ter alguém elogiar você.– –Oh não–, disse sem muita convicção. –Quero dizer, isso acontece.– Ela tirou os óculos para olhar para mim com mais atenção. O riso foi embora. –Não, eu estou pensando que não. Eu não conheço a sua situação particular, mas eu conheci um

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monte de estudantes como você - aqueles cujos pais os enviam para fora. Embora eu aprecie a preocupação com o ensino superior, acho que cada vez mais os estudantes vêm para aqui, porque os pais simplesmente não têm tempo ou inclinação para se envolver – ou até mesmo prestar atenção - com a vida das suas crianças.– Estávamos lidando com uma dessas áreas interpessoais que me deixavam desconfortável, sobretudo porque havia um inesperado componente de verdade naquilo. –É mais complicado do que isso, minha senhora.– –Tenho certeza que é–, respondeu ela. Sua expressão virou feroz, fazendo-a parecer muito mais diferente da professora dispersa que eu conhecia. –Mas ouve o que te digo. Você é uma excepcional, talentosa e brilhante jovem mulher. Não deixe que ninguém a faça sentir que é inferior. Não deixe que ninguém a faça sentir invisível. Não deixe que ninguém - nem mesmo um professor que constantemente a envia para buscar café – a empurre por aí.– Ela colocou seus óculos de volta e começou a levantar aleatoriamente pedaços de papéis. Por fim, ela encontrou uma caneta e sorriu triunfante. –Por tanto. Qual é o nome do seu irmão?– –Adrian, senhora.– –Certo então.– Ela pegou um pedaço de papel e com cuidado escreveu o nome. –Adrian Melbourne.– –Melrose, senhora.– –Certo. É claro.– Ela reescreveu o seu erro e murmurou para si mesma: –Estou feliz por seu primeiro nome não ser Hobart.– Quando ela terminou, ela recostou-se casualmente na sua cadeira. –Agora que você mencionou-o, há uma coisa que eu gostaria que você fizesse.– –Diga–, disse. –Eu quero que você faça um dos feitiços do primeiro livro.– –Desculpe. Você disse, fazer um feitiço?– Ms. Terwilliger acenou com a mão. –Oh, não se preocupe. Eu não estou pedindo para você acenar uma varinha ou fazer um sacrifício animal. Mas estou terrivelmente intrigada com o quão complexo algumas fórmulas e passos de magias são. Eu tenho que saber, será que as pessoas realmente seguiam-nas ao mínimo detalhe? Alguns destes são bastante complicados.– –Eu sei–, disse secamente. –Eu digitei todas elas.– –Exactamente. Por tanto, eu quero que você faça uma. Siga os passos. Ver quanto tempo leva. Ver se metade das medições que eles pedem são ainda possíveis. Então

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escrever os dados num relatório. Essa parte, eu sei que você é excelente.– Eu não sabia o que dizer. Ms. Terwilliger não estava realmente a pedir-me para usar magia, com certeza não da forma que os vampiros faziam. Tal coisa não era ainda possível. Magia não era do domínio dos humanos. Era não natural e ia contra as leis do universo. O que os Alquimistas faziam era baseado na ciência e na química. As tatuagens tinha magia, mas isso éramos nós a submeter a magia de vampiro as nossas vontades - não para usarmos nós próprios. O mais próximo que chegamos a alguma coisa sobrenatural era as bênçãos que rezávamos sobre as nossas poções. Ela apenas me tinha pedido para renovar um feitiço. Isso não era real. Não havia mal nenhum. E contudo….porque me sentia tão inquieta? Eu me sentia como se estivesse sendo solicitada a mentir ou roubar. –Qual é o problema?–, perguntou ela. Por um momento, pensei em usar a religião novamente mas pensei melhor não. Essa desculpa tinha sido usada até demais hoje, embora desta vez, fosse por auto defesa. –Nada, minha senhora. Isto só parece estranho.– Ela pegou o primeiro livro de couro e abriu no meio. –Aqui. Faça este - um amuleto de incineração. É complicado, mas pelo menos você terá arte e um projecto de artesanato quando estiver feito. A maioria destes ingredientes deve ser fáceis de encontrar, também.– Peguei no livro dela e fotocopiei-o. –Onde é que posso encontrar urtiga?– –Pergunte a Mr. Carnes. Ele tem um jardim fora da sua sala de aula. Tenho certeza que você pode comprar o resto. E você sabe, pode me dar os recibos. Eu vou pagar de volta sempre que eu te mandar conseguir alguma coisa. Você deve ter gasto uma fortuna com o café.– Eu me senti um pouco melhor quando vi que os ingredientes eram casuais. Urtiga. Ágata*. Um pedaço de seda. Não havia realmente nada inflamável. Isto era um disparate. Com um aceno de cabeça, eu disse a ela que ia começar em breve. Nesse meio tempo, eu digitei uma carta oficial para Amberwood em nome de Keith. Nela explicava que a nossa crença religiosa exigia a frequência à igreja em família duas vezes por semana e que Jill precisava ser dispensada da sua punição para sair durante esses tempos. Nela também prometia que Jill iria avisar a Sra. Weathers antes e depois das viagens de família. Quando terminei, eu estava bastante satisfeita com o meu trabalho e senti que tinha feito com que Keith soasse muito mais eloquente do que ele merecia.

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Eu liguei para ele quando terminei a escola e dei um breve resumo sobre o que tinha acontecido com Jill. Naturalmente, eu tive a culpa. –É suposto você manter um olho nela, Sydney!– Keith exclamou. –É suposto eu também estar disfarçada de estudante aqui, e eu não posso estar com ela a cada segundo do dia.– Não valia a pena mencionar que eu realmente tinha saído com Adrian, quando Jill fugira - não que Keith pudesse fazer mais nada por mim. Ele já tinha feito o seu dano. –Por tanto, eu tenho que sofrer as consequências–, ele disse com uma voz cansada da vida. –Eu sou o único que fica a resolver a sua incompetência.– –Resolver? Você não precisa fazer nada, excepto assinar a carta que eu escrevi para você. Você está em casa, neste preciso momento? Ou você vai estar? Vou levá-la até você.– Imaginei que saltasse em cima da oferta, para mostrar o quanto ele estava irritado por se meter no assunto. Então, foi uma surpresa quando ele disse: –Não, você não tem que fazer isso. Eu vou ter com você.– –Não é um problema. Eu posso estar em sua casa em menos de dez minutos.– Eu não queria que ele tivesse mais alguma razão para alem do necessário para vir e falar sobre como eu estava incomodando ele - ou queixar-se aos Alquimistas. –Não–, disse Keith com uma intensidade surpreendente. –Eu vou ter com você. Estou saindo agora. Encontro você no escritório principal?– –Ok–, disse totalmente perplexa com essa mudança de afeição. Ele queria me examinar ou algo assim? Exigir uma inspecção? –Vejo você em breve.– Eu já estava no Campus Central, por isso não levou tempo nenhum para chegar ao escritório principal. Sentei-me lá fora, num banco de pedra com desenhos esculpidos nela, com uma boa visão do parque de estacionamento para os visitantes e esperei. Como de costume, estava calor, mas estar á sombra fez isto ser muito agradável mesmo. O banco estava situado numa pequena clareira cheia de plantas com flores e um letreiro que dizia Jardim Memorial Kelly Hayes. Parecia novo. –Hey, Sydney!– Kristin e Julia estavam caminhando para fora do prédio e acenaram para mim. Elas chegaram e sentaram-se ao meu lado perguntando o que eu estava fazendo. –Estou esperando pelo meu irmão.– –Ele é bonito?–, perguntou Kristin esperançada. –Não–, disse. –Nem um pouco.–

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–Sim, ele é–, respondeu Julia. –Eu o vi no seu dormitório no último fim de semana. Quando todos vocês saíram para almoçar.– Levei um segundo para perceber que ela estava falando de Adrian. –Oh. Irmão diferente. Eles não têm muito em comum –. –É verdade que sua irmã está em grandes sarilhos?–, perguntou Julia. Dei de ombros. –Um simples sarilho pequeno. Ela não pode deixar o campus, excepto para as coisas em família. Podia ser pior. Embora…isso custou-lhe um emprego de modelo, então ela está triste com isso.– –Modelo de quem?–, perguntou Kristin. Esgotei o meu cérebro. –Lia DiStefano. Há algum show daqui a duas semanas e ela queria Jill participar nele. Mas Jill não pode praticar, porque ela tem que ficar aqui.– Os olhos delas se arregalaram. –As roupas de Lia são incríveis!–, disse Julia. –Jill tem que ir. Ela pode conseguir roupas de graça.– –Eu disse a você. Ela não pode.– Kristin inclinou a cabeça pensativa. –Mas o que se for pela escola? Como uma espécie de carreira ou tipo por vocação?– Ela virou-se para Julia. –Ainda existe o clube de costura?– –Eu acho que sim–, disse Julia, abanando ansiosamente. –Isso é uma boa ideia. A Jill tem alguma actividade?– Junto com um esporte, Amberwood também requeria que os seus perfeitos alunos, participassem em passatempos e actividades extra-curriculares. –Há um clube de costura que ela podia participar…e aposto que ela poderia trabalhar com Lia contando como se fosse algum tipo de pesquisa especial.– No outro dia, numa tentativa de arranjar um fio solto do seu casaco de malha, Jill quase que destruía o casaco inteiro. –Eu não acho que isso seja realmente o estilo de Jill.– –Não importa–, disse Kristin. –A maioria das pessoas aqui não consegue costurar de qualquer maneira. Mas a cada ano, o clube se voluntaria com os designers locais. Miss. Yamani deixaria totalmente participar no show de forma voluntaria. Ela adora Lia DiStefano.– –E eles têm que deixá-la ir–, disse Julia com a face cheia de triunfo. –Porque seria para a escola.– –Interessante–, disse, reflectindo se havia alguma chance daquilo dar resultado. –Vou dizer a Jill–. Um carro azul familiar parou na calçada e eu me levantei. –Lá está ele.– Keith estacionou e saiu focando ao meu redor. Kristin deu um pequeno som de

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aprovação. –Ele até que não é mau.– –Acredite em mim–, disse caminhando para a frente. –Você não quer ter nada com ele.– Keith deu às meninas o que, provavelmente, deve ter sido um sorriso encantador e até piscou para elas. No instante em que elas foram embora, o sorriso dele caiu. Impaciência irradiava fora dele e era uma maravilha ele não bater com o pé. –Vamos fazer isso rápido–, disse ele. –Se você está com tanta pressa, devia apenas ter dito para eu passar por aqui, quando você tivesse mais tempo.– Tirei uma capa contendo a carta e entreguei-a com uma caneta. Keith assinou sem sequer olhar para ela e devolveu-a. –Precisa de mais alguma coisa?–, perguntou ele. –Não.– –Não faça confusão novamente–, disse ele abrindo a porta do carro. –Eu não tenho tempo para cobrir sempre você.– –Será que isso importa?– Eu o desafiei. –Você já fez o seu melhor para se livrar de mim.– Ele me deu um sorriso frio. –Você não deveria ter cruzado comigo. Nem agora, nem naquela época.– Com uma piscada, ele se virou e começou a ir embora. Olhei, incapaz de acreditar na audácia. Foi a primeira vez que ele se referiu directamente ao acontecimento de anos atrás. –Bem, essa é a coisa,– gritei para a figura dele em retirada. –Eu não devia cruzar com você naquela época. Você se livrou fácil. Não vai acontecer novamente. Você acha que estou preocupada com você? Eu sou a única de quem você precisa ter medo.– Keith chegou a um impasse e então lentamente se virou em torno de si, seu rosto repleto de descrença. Eu não o culpo. Fiquei meio surpresa comigo mesma. Eu não conseguia mesmo me lembrar de ter combatido tão abertamente com alguém duma posição alta de autoridade, certamente não alguém que tinha tanto poder para afectar a minha situação. –Veja–, ele disse por fim. –Eu posso fazer a sua vida miserável.– Eu dei-lhe um sorriso gelado. –Você já fez e é por isso que eu tenho a vantagem. Você já fez o seu pior - mas você ainda não viu o que eu ainda posso fazer.– Foi um grande bluff da minha parte, especialmente porque eu tinha certeza de que ele ainda podia fazer pior. Daquilo que eu sabia, ele poderia trazer Zoe para aqui amanhã. Ele poderia me enviar para um centro de reeducação num piscar de olhos. Mas e se eu caísse? Então, ele também cairia. Ele me fitou por alguns momentos, como uma derrota. Eu não sei se realmente o

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assustei ou se ele decidiu não dignificar-me com uma resposta, mas ele finalmente virou-se e saiu por bem. Furiosa, entrei para entregar a carta no escritório. A secretária de recepção, Sra. Dawson, carimbou e depois fez uma cópia para eu dar a Sra. Weathers. Enquanto ela me entregava o papel, perguntei: –Quem é Kelly Hayes?– O rosto de Mrs. Dawson geralmente tinha covinhas, mas agora ficou triste. –Aquela pobre garota. Ela era uma estudante daqui alguns anos atrás.– Minha memória fez luz. –Ela é a rapariga que a Sra. Weathers mencionou? A que desapareceu?– Mrs. Dawson assentiu. –Foi terrível. Ela também era uma menina tão doce. Tão jovem. Ela não merecia morrer assim. Ela nem merecia morrer.– Eu odiava perguntar, mas tinha que fazer. –Como ela morreu? Isto é, eu sei que ela foi assassinada, mas eu nunca ouvi falar dos detalhes todos.– –Provavelmente por isso mesmo. É muito horrível.– Mrs. Dawson olhou ao redor, como se tivesse medo de entrar em problemas por fofocar com uma estudante. Ela se inclinou sobre o balcão com o rosto grave. –A pobre criatura sangrou até a morte. Ela teve a garganta cortada.– *é um mineral quartzo.

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