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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 20

Chegar a Trey era mais fácil falar do que fazer. Que uma garota entrasse no

dormitório dos garotos em horários normais já era difícil, mas depois do toque de

recolher? No meio da noite? Quase impossível. Tive que recorrer a opções mais

criativas e chamei Eddie enquanto levava Adrian para casa. Uma das coisas pela

qual eu nunca deveria me sentir culpada era por chamar Eddie a qualquer hora.

Mantinha seu telefone ligado (para deleite de Micah, sem dúvida) e suspeitava que

dormia com o telefone ao lado de seu travesseiro.

- Sim? - a voz de Eddie estava desperta e preparada, como se nem

estivesse dormindo. Assim era como ele era.

- Preciso que vá ver se pode acordar o Trey - eu disse. - Sequestraram

Sonya e eles a tem retida em um recinto que tem um logo como a tatuagem de

Trey. Preciso averiguar o que ele sabe.

Esta era a primeira vez que Eddie ouvia sobre o sequestro de Sonya, mas

não pediu mais informações, nem tampouco como eu sabia a sua localização.

Sabia que ela tinha estado em perigo recentemente e essa rápida mensagem foi o

suficiente para fazê-lo atuar. Não sabia o que aconteceria quando Eddie

encontrasse Trey, vendo que não havia maneira de que eu mesma falasse com

Trey a não ser pela manhã. Ainda assim, tinhamos que começar por alguma parte.

- De acordo - disse Eddie. - Estou nisso. Já te chamo.

Desliguei e contive um bocejo.

- Bom, aqui vamos. Esperemos que Eddie possa averiguar alguma coisa.

- Preferivelmente sem golpear Trey no processo. - disse Adrian. Se enrolou

no assento do passageiro, o único sinal de que também estava se sentindo

cansado por nossa noite. Ele tinha a um tempo se convertido do horário noturno

de um vampiro. “É suposto que isso limitaria o que podemos averiguar.

Fiz cara feia.

- Se Trey está metido nisso de alguma forma, não acredito que queira ser

suave com ele. E ainda assim...não posso acreditar que ele esteja.

- As pessoas se enganam o tempo todo. Olhe você. Você crê que Trey sabe

que é parte de uma sociedade secreta que ajuda a manter os vampiros ocultos

desse mundo?

- Sinceramente...sim. - Me detive em uma luz vermelha e pensei no estranho

comportamento de Trey. - Ele sabe que Jill é uma Moroi, estou segura. Não se

deu conta no início, mas quando fez, seguiu me dizendo para que a escondesse.

Logo depois que Sonya foi atacada, disse que me cuidasse. - Um horrível

descobrimento passou a surgir em meu interior. - Ele sabia. Ele sabia que eu era

amiga de Sonya. Provavelmente sabia do ataque e não disse nada!

- Não é surpreendente se o grupo dele está trabalhando contra o seu. - O

tom de Adrian abrandou. - Se te faz sentir melhor, parece como se de certo modo

ele tem estado em conflito sobre tentar te advertir.

- Não sei se ele fez. Oh Adrian. - Parei na frente de seu edifício e vi o

Mustang amarelo iluminado pela luz pública. - Deixou o carro fora, tem sorte que

não foi rebocado.

- Eu vou tirá-lo. - Disse. - E não me olhe assim. Está em torno de um

perímetro de meio quilômetro. Não estou rompendo as regras.

- Só tenha cuidado. - murmurei.

Abriu a porta do Latte e olhou para mim.

- Tem certeza que quer voltar ao colégio? Estará presa ali até de manhã.

- De todas as formas não terá muito que eu posso fazer até então. Quero

estar ali no instante em que eu puder ter acesso a Trey. Confiarei em Eddie por

agora.

Adrian parecia relutante em me deixar, mas finalmente assentiu.

- Ligue se precisar de algo. Vou continuar tentando ver se posso encontrar

Sonya em seus sonhos. Não tive muita sorte antes.

Um dos mais desconcertantes poderes do espírito era a habilidade de entrar

no sonho de outras pessoas.

- É porque ela não está dormindo?

- Isso, ou ela está drogada.

Nenhuma das opções fazia com que me sentisse melhor. Me deu uma última

e persistente olhada antes de ir. Voltei a Amberwood onde um guia sonolento de

estudantes me disse que seguisse, sem comentários. Havia muito que a Sra.

Weathers havia ido para casa, e seu substituto noturno não parecia se importar

com minhas idas e vindas. Enquanto subia as escadas meu telefone tocou. Eddie.

- Bom, levou uma eternidade, mas finalmente acordei seu companheiro de

quarto. - me disse.

- E?

- Não está aqui. Creio que tampouco esteve aqui pela noite. Algo sobre uma

emergência familiar.”

- Não sabe quando ele volta? - Estava começando a pensar que todos os

“assuntos familiares” de Trey eram mais insidiosos do que havia suposto. Também

estava tentada a apostar que ele não era o único com a tatuagem do sol.

- Não.

Fiquei acordando a todo instante durante a noite. Meu corpo estava exausto

devido a magia, mas também estava ao limite por causa de Sonya para sucumbir

ante a fadiga. Fiquei levantando e verificando meu celular, temendo perder alguma

chamada, sem importar se estava no volume máximo. Finalmente me rendi e saí

da cama horas antes de começar o café da manhã do colégio. Depois de ter

tomado um banho e me vestido – e colocado minha cafeteira no máximo – estava

de volta nas horas liberadas do campus. Não é que me fizesse muito bem.

Fiz duas chamadas depois disso, primeira para Spencer para ver se Trey

estava trabalhando. Não esperava que estivesse, mas era uma boa desculpa para

saber se ele havia estado por ali nos últimos dias. Não havia estado. Minha

próxima chamada foi para Stanton, reportando o desaparecimento de Sonya.

Disse a ela que tinhamos uma pista que conectava um de meus companheiros

com os caçadores de vampiros e que Sonya provavelmente estava sendo retida

em um recinto fora da cidade. Não mencionei como eu sabia e Stanton estava

suficientemente distraída com o sequestro para perguntar algo.

No café da manhã, encontrei minha “família” com Micah na cafeteria. Os

rostos preocupados de Eddie, Angeline e Jill me dizia que todos sabiam do

sequestro de Sonya. Micah falava feliz sobre algo, e tinha o pressentimento de

que sua presença estava impedindo os outros de discutir sobre o que realmente

queriam. Micah perguntou algo a Eddie e eu me inclinei e murmurei para Jill.

- Tire-o daqui.

- Digo a ele para ir?” sussurrou ela.

- Se for necessário. Ou vá com ele.

- Mas quero...

Mordeu o lábio quando Micah voltou sua atenção para ela. Ela estava infeliz

pelo que teria que fazer, mas em seguida colocou sua expressão de segurança

que tanto havia visto esses dias. Apontou para o prato de Micah.

- Já terminou? Preciso perguntar algo para a Srta. Yamani. Vem comigo?

Micah se iluminou.

- Claro.

Uma vez que os dois se foram virei para Eddie e Angeline.

- Algum sinal de Trey? - perguntei

- Não. - disse Eddie - Conferi essa manhã. Seu companheiro de quarto está

começando a me odiar. Não posso culpá-lo.

- Isso está me enlouquecendo! - disse, sentindo que podia golpear minha

cabeça contra a parede. - Estamos tão perto, e ainda impotente. Cada minuto que

passa é um minuto que Sonya perde.

Ele fez uma careta.

- Estamos seguros de que ela está viva?

- Ela estava a noite. - disse.

Eddie e Angeline me olharam surpreendidos.

- Como sabe? - perguntou ela.

- Hum, bom, eu...não pode ser! - Minha boca se abriu enquanto olhava para

trás de Eddie. - É Trey!

Certamente um sonolento Trey acabara de entrar na cafeteria. Seu cabelo

úmido indicava que havia se lavado recentemente, mas tinha hematomas e

arranhões que não podia atribuir ao futebol.

Eddie já estava em ação antes que eu pudesse dizer outra palavra, e

Angeline e eu o seguimos rapidamente. Quase esperava que Eddie fosse derrubar

Trey ali mesmo. Em vez disso, Eddie caminhou para a frente de Trey o impedindo

de entrar na fila da comida. Cheguei a tempo de escutar Eddie dizer.

- Não tem café da manhã hoje. Você vem conosco.

Trey começou a protestar e depois viu eu e Angeline. Jill apareceu de

repente também, aparentemente tinha dado um perdido em Micah. Um olhar triste

cruzou as feições de Trey, quase derrotado, e assentiu, cansado.

- Vamos lá fora.

No momento em que saímos pela porta Eddie agarrou Trey e o empurrou

contra a parede.

- Onde está Sonya Karp? - disse Eddie. Trey parecia compreensivelmente

surpreendido. Eddie era magro e musculoso, mas muitos subestimavam o quão

forte ele era.

- Eddie, afaste! - eu disse, olhando preocupada ao nosso redor. Tinha

urgência, claro, mas nosso interrogatório não daria frutos se um professor visse e

acreditasse que estávamos molestando um estudante.

Eddie soltou Trey e deu um passo para trás, mas ainda havia um brilho

perigoso em seus olhos.

- Onde está o lugar em que a tem?

Isso pareceu despertar Trey de seu estado de inatividade.

- Como sabem isso?

- Nós fazemos as perguntas. - disse Eddie. Não voltou a tocar em Trey de

novo, mas sua proximidade e sua postura deixavam claro que ele chegaria aos

extremos se fosse necessário. - Sonya está viva?”

Trey titubeou, quase esperava que negasse seu conhecimento.

- S..sim, por agora.

Eddie explodiu outra vez. Agarrou a camisa de Trey e o puxou.

- Te juro que, se você e seu transtornado grupo colocarem uma mão em

cima dela...

- Eddie. – eu adverti.

Por um momento Eddie não se moveu. Logo, devagar, soltou a camisa de

Trey, mas ficando onde estava.

- Trey. – disse, usando o mesmo tom razoável que acabara de usar com

Eddie. Apesar de tudo Trey e eu éramos amigos, certo? – tem que nos ajudar. Por

favor nos ajude a encontrar Sonya.

Ele negou com a cabeça.

- Não posso Sydney. É para o seu próprio bem. Ela é malvada. Não sei que

truque ela aplicou com vocês ou como tem mantido essa ilusão que esconde sua

verdadeira identidade, mas não podem confiar nela. Se voltará contra vocês.

Deixe-nos...deixe-nos fazer o que temos que fazer.

As palavras eram todas corretas, junto com a linha da propaganda dos

Guerreiros. Mas, havia algo na maneira em que Trey falava, algo sobre sua

postura...não podia dizer que era o que me fazia duvidar dele. As pessoas me

incomodavam por causa da minha falta de habilidade em questões sociais, mas

estava quase certa de que ele não estava totalmente de acordo com o que esse

grupo queria que ele fizesse.

- Esse não é você Trey – disse – Te conheço bem para saber. Não mataria

uma mulher inocente.

- Ela não é inocente. – Aí estava outra vez, essa mescla de emoções.

Dúvida. – É um monstro. Você sabe sobre eles. Sabe o que podem fazer. Não são

como ela. – assentiu em direção a Jill. – São como os outros. Os mortos.

- Você vê Sonya como uma morta? – perguntou Eddie. – Você viu os olhos

vermelhos?

- Não. – admitiu Trey – mas temos outras provas. Testemunhas que a viram

em Kentucky. Reportes de suas vítimas.

Foi difícil manter a calma depois disso. Havia visto Sonya quando era uma

Strigoi. Ela era aterrorizante e se tivesse tido a oportunidade, teria matado a mim e

a meus companheiros. Era difícil aceitar isso quando um era convertido em Strigoi,

não estavam no controle de seus sentidos e de sua alma. Perdiam a conexão com

sua humanidade, ou o que tinham os Moroi, e não eram os mesmos que haviam

sido antes. Sonya havia feito coisas terríveis, espantosas, mas já não era essa

criatura.

- Sonya mudou – disse. – ela não é um deles.

- Os olhos de Trey se estreitaram.

- Isso é impossível. Estão sendo enganados. Há algum tipo de...não

sei...magia obscura em tudo isso.

- Isso não está nos levando a nada – grunhiu Eddie – chame Dimitri, nós dois

seremos capazes de fazer ele dizer onde é o local. Já invadi uma prisão antes.

Posso fazer de novo.

- Oh, você acha isso? - Um sorriso sem graça cruzou as características de

Trey. - Esse lugar é cercado com uma cerca elétrica e cheio de homens armados.

Além disso, ela está fortemente guardada. Você não pode simplesmente entrar lá.

- Por que ela ainda está viva? - perguntou Angeline. Ela pareceu perceber o

quão estranho que soou e foi rápida para elaborar. - Isso é...Quer dizer, eu estou

feliz que ela está. Mas se você acha que ela é tão mal, por que não acabar com

ela? - Ela olhou para os meus amigos e eu. - Sinto muito.

- É uma boa pergunta - Eddie disse a ela.

Trey levou um longo tempo para responder. Eu tinha uma sensação de que

ele estava dividido entre manter segredos do grupo e querendo justificar suas

ações para nós.

- Porque todos nós estamos sendo testados - disse ele finalmente. - Para ver

quem é digno de matá-la.

- Oh, meu Deus - disse Jill.

- Por isso todas as suas contusões recentemente - eu disse. Meus temores

de violência doméstica não estavam longe, realmente. - Você está competindo

para matar uma mulher que não tem feito nada para você.

- Pare de dizer isso! - Trey gritou, realmente olhando distraído. - Ela não é

inocente.

- Mas você não está tão certo - disse eu. – Ou sim? Seus olhos não estão

dizendo o mesmo que dizem seus amigos caçadores.

Ele fugiu da acusação.

- Minha família espera isso de mim. Principalmente depois de arruinar o

ataque no beco. Perdemos nossa autorização para matar ela, então, é por isso

que o conselho ordenou essas provas para nos redimirmos e provarmos que

somos capazes.

Ter “autorização” para matar alguém era repulsivo, mas foi o resto do que

havia dito que me fez pensar duas vezes.

- Você estava lá – disse incrédula – no beco, e...era você! Foi você que me

agarrrou! - Tudo voltou a mim novamente, a surpresa e a dúvida de meu atacante.

O rosto de Trey me confirmou.

- Sabia que era amiga deles. Pude dizer só de olhar, ainda que não

soubesse que eram vocês de imediato. – Isso tinha sido dirigido para Eddie e

Angeline. Trey se dirigiu a mim outra vez. – Reconheci sua tatuagem na primeira

vez que nos vimos. Ignorei porque não pensei que estava envolvida no que eu

estava. Pensei que só andasse com vampiros inofensivos, assim não esperava

que estivesse ali naquela noite. Não queria que se machucasse. Continuo não

querendo, e é por isso que precisa deixar isso passar.

- Cansei disso – disse Eddie. Era uma maravilha que tinha sido paciente todo

esse tempo. – Precisamos derrubar a porta desse lugar e...

- Espera, espera – uma ideia estava se formando em minha cabeça...e era

outra ideia louca. – Trey, disse que Eddie não pode entrar nesse lugar, mas eu

poderia?

- Do que está falando? – perguntou Trey, tinha uma mescla de surpresa e

confusão em seu rosto.

- Sabe quem sou. Sabe o que faço. – Trey assentiu. – Nossos dois grupos

podiam ser unidos. Aqueles caras que me detiveram no café disseram que

pensavam que devíamos trabalhar juntos. Os guerreiros querem os recursos dos

Alquimistas.

- Você que...quer um intercambio? – perguntou Trey, franzindo o cenho.

- Não. Só quero falar com o seu conselho. Quero explicar porque Sonya não

é...eh, porque ela não é mais como era antes. Tem um Moroi que usa um certo

tipo de magia que pode enclusive te mostrar...

- Não. – disse Trey imediatamente. – Nenhum deles teria permissão de

entrar. A vocês, híbridos, tampouco seriam permitidos. – De novo se dirigia a

Eddie e Angeline. Nunca havia escutado o termo “ híbrido” ser usado, mas seu

significado era claro.

- De acordo. – disse – Só humanos. Eu sou humana. Seu grupo quer

trabalhar com o meu grupo. Deixe-me ir com você. Desarmada. Falarei com seus

líderes e...

- Sydney não – protestou Eddie – Não pode ir lá sozinha! Vão decapitar a

Sonya, Santo Deus. E você lembra do que disse Clarence dos radicais que o

pegaram?

- Não ferimos humanos – disse Trey com firmeza – Estará segura.

- Acredito – eu disse – e também estou segura de que não deixará que algo

de mal me aconteça. Olha, não sente curiosidade sobre porque Sonya é como é?

Pode pensar que sua gente está comentendo um erro? Disse que tolerava os

Moroi. Ela é um deles. Me deixe explicar. Não estou pedindo nada mais do que

uma oportunidade para falar.

- E uma garantia de segurança – disse Angeline, que parecia tão ofendida

quanto Eddie. Ele assentiu ante suas palavras – Importa muito a honra certo? Tem

que prometer que ela estará bem.

- A honra é o que nos faz fazer o que fazemos – disse Trey – Se

prometemos que ela vai estar bem, ela estará.

- Então peça, por favor? Não faria isso por mim? Como meu amigo?

Um olhar de dor cruzou as feições de Trey ante isso. Havia feito alusão a

que me devia algo por tê-lo ajudado a encerrar o caso das tatuagens ilícitas. Isso

obrigaria qualquer amigo, sobretudo a um que haviam lhe inculcado um rígido

sentido de honra. Supus então, que algo mais do que honra estava em jogo aqui.

Trey e eu éramos amigos, com mais coisas em comum do que eu havia dado

conta. Ambos éramos parte de grupos que queriam controlar nossa vida, de

maneiras que não gostávamos. Também tínhamos pai dominante. Se Trey e eu

não tivéssemos metas tão opostas, poderíamos rir sobre isso.

- Eu perguntarei. – disse Trey. Algo me dizia que ele também estava

pensando em nossas similiaridades. – Porque é você. Mas não posso prometer

nada.

- Então pergunte agora. – grunhiu Eddie. – Não temos tempo a perder. E

imagino que Sonya tampouco.

Trey não negou. De repente estava perguntando-me se esta era uma

decisão inteligente. O que aconteceria se deixássemos que Trey saísse de nossas

vistas? Seria melhor se levássemos ele para Dimitri? E Sonya...quanto tempo lhe

restava?

- Agora – reiterei a Trey – Tem que contatá-los agora, não vai para a aula.

Era provavelmente a primeira e última vez que diria essas palavras.

- Eu juro – disse Trey – Vou ligar agora.

O sinal tocou, terminando nossa reunião. Ainda, se tivéssemos tido a

oportunidade de salvar Sonya justo agora, estava segura de que todos os meus

amigos saíram do campus nesse momento. Deixamos que Trey se fosse e ele se

dirigiu a seu dormitório, não para as aulas.

Angeline, recentemente liberada de sua suspensão, partiu com Jill enquanto

Eddie e eu seguimos para a aula de história.

- Isso foi um erro – disse, com o rosto sombrio quando olhou por onde Trey

havia ido – Por tudo que sabemos ele pode desaparecer e teremos perdido toda a

oportunidade de recuperar Sonya.

- Não creio que ele faça – disse eu – Conheço Trey. É uma boa pessoa, e

me dei conta de que ainda que creia que os Strigoi precisam ser exterminados,

não está cem por cento seguro sobre Sonya. Fará o que pode. Acredito que se

sente dividido agora mesmo, atrapalhado entre o que lhe disseram por toda a sua

vida e no que está começando a ver com seus olhos.

Parece com alguém que você conhece? Me perguntou uma voz interna.

Havia esperado que Trey me desse uma resposta em seguida...digamos que

na aula de química. Mas ele não estava ali e nem em nenhum lugar do colégio.

Supus que essas coisas levassem tempo, e minha paciência e fé se viram

recompensadas no final do dia com uma mensagem de sua parte: Ainda estou

verificando. Alguns estão dispostos a falar. Outros precisam ser convencidos.

Eddie não levou a mensagem de Trey como uma prova concreta quando

enviei, mas não acredito que Trey tivesse dito algo se tivesse saído da cidade.

Eddie queria se reunir com Dimitri e discutir estratégias tendo em conta este novo

acontecimento. Assim, decidimos fazer uma viagem grupal ao centro da cidade.

Eu enviei mensagens a nossa família para nos reunirmos fora do dormitório em

meia hora. Jill foi a primeira a chegar e se deteve em seco quando me viu.

- Sydney...seu cabelo.

Levantei o olhar de onde estava respondendo uma mensagem de Brayden,

dizendo que não podia sair esse fim de semana.

- O que tem ele?

- A maneira com que você arrumou as camadas. Fazem um complemento

perfeito em seu rosto.

Estava me olhando daquela forma estranha outra vez.

- Bom, sim – disse, esperando mudar o tema – É um, humm, bom corte de

cabelo. Lamento que teve que se livrar de Micah.

Levou alguns segundos, mas minha distração a tirou de seu transe induzido

por meu cabelo.

- Ah, não. Está bem, as coisas estão se tornando raras entre nós de toda

forma.

- Ah, verdade? – Micah parecia tão animado como sempre da última vez que

eu o vi. – Ainda tem problemas?

- Bom...acredito que sim. Eu gosto dele, de verdade. Eu gosto de sair com

ele e seus amigos. Mas eu só fico recordando que nada pode acontecer entre nós.

Como esta manhã. Há um mundo inteiro que ele não pode fazer parte. E eu não

suporto pensar em mentir ou excluí-lo de minha vida. Talvez tenha que fazer...de

verdade. Terminar as coisas. Sei que disse isso antes, mas agora é sério.

- Estamos aqui para você se fizer. - Tecnicamente estava sendo sincera,

mas se Jill viesse chorando para mim, não saberia o que fazer. Talvez poderia

encontrar um livro de técnicas sobre uma boa ruptura antes dela fazer.

Um sorriso cansado se estendeu em seu rosto.

- Sabe o que é bobo? Quero dizer, não quero ir saltando de um garoto para

outro, e me importo com Micah, mas estou começando a me dar conta de que

Eddie é um bom garoto.

- Ele é um grande garoto. – eu confirmei.

- Casais de Moroi e dhampirs são mal vistos, mas agora...quero dizer, há uns

que fizeram casais em St. Vladimir – riu angustiada – Eu sei, eu sei...sei que não

deveria estar pensando assim. Um garoto de cada vez. Mas mesmo

assim...quando vejo Eddie; é tão valente e tão seguro. Faria qualquer coisa por

nós, sabe? É como um herói em quadrinhos da vida real. Mas é tão dedicado que

provavelmente nunca se interessaria por alguém como eu. Não tem tempo para

garotas.

- Na realidade – disse – acredito que se interessaria muito por você.

Seus olhos se abriram.

- Sério?

Queria contar tudo. Em vez disso, escolhi minhas palavras cuidadosamente,

pouco disposta a revelar seus segredos depois que ele tinha falado para mim

deixar que ele cuidasse de seus próprios assuntos pessoais.

- Todo o tempo fala de como inteligente e competente você é. Acredito que

definitivamente estaria aberto para algo. – Também disse que não merecia seu

amor, mas esse pensamento poderia desaparecer se Jill se interessasse por ele.

Ela se perdeu em seus pensamentos e não disse mais nada do tema quando

Eddie e Angeline chegaram. Fomos até a cidade e deixei Jill e os dhampirs na

casa de Adrian, enquanto eu fazia alguns recados. Esperar Trey era agonizante e

eu precisava de uma distração. E me faziam falta umas coisas de Alquimista e

queria me assegurar de fazer tudo antes de entrar no acampamento dos

Guerreiros.

Meu telefone tocou quando estava empacotando. Era Trey, e saí da loja de

ervas em que estava, para atender a chamada.

- Tudo bem – disse ele – Está tudo pronto. Vão se reunir com você à

noite...só você.

Emoção e ansiedade passaram por meu corpo. Esta noite. Parecia

surpreendentemente pronto, ainda que isso era exatamente o que queria.

Precisávamos tirar Sonya dali.

- Vou te levar lá as sete em ponto – disse Trey – E...bom, eu sinto...mas terá

que ir com os olhos vendados. E estará certa de que nada nos siga. Se fizerem,

tudo acaba.

- Entendo. – disse, ainda que ir vendada fazia com que isso forre

aterrorizante. – Estarei pronta, obrigada Trey.

- E tem mais – continuou – queremos que nos devolvam a espada.

Fiz os arranjos para que ele me pegasse no Adrian, eu sabia que Eddie e

Dimitri teriam várias coisas para me dizer. Então, liguei para eles tão logo acabei

de falar com Trey, para avisá-los. Também liguei para Stanton, para atualizá-la.

Me ocorreu que deveria ter ligado antes, mas primeiro queria uma resposta

definitiva por parte de Trey.

- Não gosto da ideia de que vá sozinha. – me disse – Mas é pouco provável

que façam algo contra você. De verdade parece que se mantém longe dos

humanos, nós em particular. E se há uma oportunidade de tirar Karp de lá...bom.

Isso nos salvaria de muitos problemas com os Moroi. – O tom de Stanton me disse

que ainda que ela acreditasse que eu estaria bem, não era muito otimista a

respeito de Sonya. – Tenha cuidado, senhorita Sage.

O apartamento de Adrian estava cheio de tensão quando cheguei. Dimitri,

Eddie e Angeline estavam claramente inquietos, provavelmente porque eles

estavam sendo deixados de fora da ação. Adrian, surpreendentemente, também

parecia irritado, ainda que eu não soubesse o porque. Jill o olhava preocupada e

se mantiveram, olhando um para o outro, seguramente passando mensagens

entre si, através do laço. Por fim, através de apenas um olhar, era como se

tivessem terminado uma conversa. Jill suspirou e se dirigiu à cozinha com os

outros.

Comecei a falar com Adrian, mas Eddie me chamou.

- Estamos debatendo se devemos te dar uma arma ou não. – disse.

- Bom, a resposta é não – disse imediatamente – Vamos, eles vão me

vendar. Não acreditam que vão me revistar também?

- Deve haver uma maneira – disse Dimitri. Como estávamos com o ar

condicionado ligado ele tinha colocado seu sobretudo. – Não posso deixar que vá

para lá indefesa.

- Não estou em perigo – disse, sentindo que havia repetido o mesmo todo o

dia. – Pode ser que estejam loucos, mas Trey disse que se dão sua palavra, a

cumprem.

- Sonya não tem essa garantia. – disse Dimitri.

- Nenhuma arma vai me ajudar a salvá-la. – disse – Exceto por meu

raciocínio. E estou preparada com isso o melhor que posso.

Os dhampirs não estavam felizes. Seguiram discutindo entre eles e eu os

deixei para pegar água. Adrian gritou da sala.

- Tem refrigerante dietético aí dentro.

Abri a geladeira, e certamente estava vendo todo o tipo de refrigerante. E

tinha mais comida do que jamais tinha visto. Outro benefício da generosidade de

Nathan Ivashkov. Peguei uma lata de Coca Cola dietética e me reuní a Adrian no

sofá.

- Obrigada – disse, abrindo a lata – Esta é a segunda melhor coisa que pode

ter depois do sorvete.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Sorvete? Soa como uma sobremesa, Sage.

- E é – admiti. O tema mundano era reconfortante entre toda a tensão. – É

em parte sua culpa por trazer a tona ontem. Agora não posso deixar de pensar

nisso. Queria um pouco no jantar, e Brayden me convenceu de não comê-lo, o

que é provavelmente o porque eu estou tão obcecada com isso. Alguma vez

aconteceu com você? Alguma vez não poder ter algo e o querer ainda mais.

- Sim – disse amargamente – Acontece todo o tempo.

- Porque está tão desanimado? Também pensa que eu deveria levar uma

arma? – Com Adrian era realmente difícil saber onde levaria seu estado de ânimo.

- Não, entendo seu ponto, e penso que está correta. – disse. – Ainda que eu

não goste da ideia de você ir lá.

- Tenho que ajudar a Sonya. – disse.

- Sei que tem que fazer. Desejaria poder ir com você.

- Ah, verdade? Vai me proteger e me tirar de lá como fez a noite? – o

provoquei.

- Sim, se é o que precisa. Você e Sonya. Colocaria uma em cada ombro.

Muito viril, certo?

- Muito – disse, feliz de vê-lo brincando de novo.

Sua diversão desapareceu e voltou a ficar sério.

- Deixe eu perguntar algo. O que é mais assustador: entrar em um covil de

humanos loucos assassinos ou estar segura, ainda que de certo modo selvagem,

com vampiros e meio vampiros? Sei do temor que você e os Alquimistas tem da

gente, mas..é a lealdade a sua própria raça tão forte que...não sei...que as

pessoas em si não importam?

Era uma pergunta surpreendentemente profunda para Adrian. Também fazia

alusão a minha viagem ao centro de reeducação dos Alquimistas para visitar

Keith. Me lembrei como o pai de Keith não havia se importado com os valores

morais de seu filho sempre e quando significava que Keith não tivesse boas

relações com os vampiros. Também me levou a pensar no café e em como os

Guerreiros não queriam escutar outra verdade que não fosse a sua. E finalmente,

olhei para os dhampirs discutindo na cozinha, pensando em maneiras encobertas

de manter eu e Sonya seguras sem importar os riscos.

Olhei para Adrian.

- Eu fico com os vampiros. Minha lealdade a minha própria raça vai até certo

ponto.

Algo no rosto de Adrian se transformou, mas não prestei muita atenção.

Estava muito impactada dando-me conta que as palavras que acabava de dizer

podiam ser consideradas como alta traição entre os Alquimistas.

Eddie e Angeline foram buscar o jantar e os deixei pegar meu carro, desde

que Eddie dirigisse. Enquanto eles estavam fora, Dimitri me ensinou algumas

técnicas de auto defesa, mas era difícil aprender muito em tão pouco tempo.

Continuava pensando no que Wolfe havia dito de evitarmos lugares perigosos. O

que diria de mim se soubesse que iria entrar no esconderijo de caçadores de

vampiros?

Eddie e Angeline estiveram fora por um bom tempo e lregressaram,

desanimados por todo o tempo que o restaurante havia demorado.

Não pensei que chegaríamos a tempo – disse Eddie – Tinha medo que não

teria tempo de comer antes da sua missão.

- Nem sequer sei se posso comer – admiti. Apesar de minhas palavras

valentes de antes, estava começando a ficar nervosa. – Oh, pode ficar com essas

no caso de precisar do carro.

Ele havia caminhado até minha bolsa com as chaves e as havia deixado ali

de todas as formas.

- Tem certeza?

- Tenho.

Ele encolheu os ombros e pegou as chaves outra vez. Adrian, para minha

surpresa, o olhou com os olhos semicerrados e parecia incomodado com algo.

Não podia suportar suas mudanças de humor hoje. Se levantou e caminhou até

Eddie. Depois de uns momentos, se afastaram mais e pareciam estar tendo uma

discussão em voz baixa, uma que incluía umas olhadas para mim. Todo mundo

parecia incomodado e começaram a falar de qualquer coisa que vinha a mente.

Só podia olhar de um lado a outro, sentindo que havia perdido algo importante.

Trey me chamou as sete em ponto, dizendo que estava me esperando lá

fora. Me levantei e peguei a espada, respirando profundamente.

- Desejem-me sorte.

- Te acompanho lá fora. – disse Adrian.

- Adrian. – o advertiu Dimitri.

Adrian revirou os olhos.

- Eu sei, eu sei. Não se preocupe. Eu prometi.

Prometeu o que? Nada havia sido explicado.

Não havia muito o que caminhar já que ele vivia no primeiro andar, mas

quando saímos, me reteve com suas mãos em meus braços. Um tremor me bateu,

tanto pelo contato como pelo inesperado gesto. Suas únicas demostrações de

ternura eram com Jill.

- Sage – disse – É sério, tome cuidado. Não seja uma heroína, temos muito

disso aqui. E...não importa o que aconteça, quero que saiba que nunca duvidei do

que vai fazer. É inteligente, e é valente.

- Fala como se já tivesse acontecido e falhado. – disse

- Não, não. Eu só...bom, quero que saiba que eu confio em você.

- De acordo – disse me sentindo um pouco confusa. Outra vez sentia que

não estavam me dizendo algo. – Espero que meu plano funcione.

Precisava me afastar, me soltar do agarro de Adrian, mas não podia fazer.

Tinha dúvidas, por alguma razão. Havia segurança e comodidade aqui. Uma vez

fora, realmente estaria caminhando para a jaula do leão. Fiquei uns momentos

mais, segura no círculo que havíamos feito, e logo, de má vontade, me afastei.

- Por favor tenha cuidado – repetiu – Volte a salvo.

- Eu terei. – Por impulso tirei meu crucifixo e coloquei em sua mão – Desta

vez, guarde-o, é serio. Guarde até que eu volte. Se você se preocupar muito, olhe

e pense que terei que voltar para buscá-lo. Ele realmente cai bem com calça caqui

e cores neutras.

Me preocupava que ele me devolveria, mas simplesmente assentiu e apertou

a cruz. Me afastei, sentindo um pouco vulnerável sem o crucifixo, mas esperava

que lhe desse confiança. Meu incômodo de repente parecia algo pequeno, queria

que Adrian estivesse bem.

Sentei no banco do passageiro no carro de Trey e imediatamente dei a

espada. Ele parecia tão miserável quanto antes.

- Tem certeza de que quer fazer isso?

Porque todo mundo continuava me perguntando isso?

- Sim. Absolutamente.

- Me dê seu celular.

Eu entreguei e ele o desligou. Me devolveu, junto com uma venda.

- Vou confiar em você para que coloque isso.

- Obrigada.

Comecei a colocar a venda e logo, impulsivamente voltei a olhar o edifício

uma última vez. Adrian ainda estava ali de pé, com as mãos nos bolsos, e o rosto

preocupado. Vendo que o olhava, logo sorriu e levantou uma mão em...que?

Despedida? Benção? Eu não sabia, mas me fez sentir melhor. A última coisa que

eu vi foi o reflexo da cruz na luz do sol justo antes de cobrir os olhos com a venda.

Sumi na obscuridade.

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