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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 21

Já havia visto filmes onde pessoas que tinham os olhos vendados eram

capazes de dizer onde iam, com base em seu talento inato de detectar o

movimento e a direção. Eu não. Depois de umas tantas voltas, não podia dizer em

que parte de Palm Springs estavamos, sobretudo porque suspeitava que Trey

estava dirigindo em círculos com o fim de se assegurar de que não tinha nada o

seguindo. A única coisa de que estava segura foi quando chegamos a I-10,

simplesmente pela sensação da estrada.

Não sabia em que direção íamos, e não tinha forma de dizer quanto tempo

havíamos viajado.

Trey não ofereceu muito sobre conversação, dava respostas curtas toda vez

que fazia perguntas.

- Quando se uniu aos caçadores de vampiros?

- Guerreiros da Luz – corrigiu – E nasci sendo um.

- É por isso que estava sempre falando da pressão familiar e porque

esperam tanto de você, não? É por isso que seu pai está tão preocupado com seu

rendimento esportivo?

Tomei o silêncio de Trey como uma afirmação e segui adiante, precisando

obter tanta informação quanto fosse possível.

- Com que frequência tem suas, hum, reuniões? Está sempre tendo essas

provas brutas? – Até muito pouco, não havia sabido nada que sugeria que a vida

de Trey fora muito diferente da de qualquer outro atleta na secundária que

mantinha boas notas, um trabalho e uma vida social ativa. Na verdade, pensando

em todas as coisas que Trey costumava fazer, era difícil imaginá-lo tendo algum

tempo em absoluto com os Guerreiros.

- Não temos reuniões periódicas. – disse – Bom, não alguém a meu nível.

Esperamos que nos chamem, geralmente devida a uma causa que esteja em

marcha. As vezes chegamos a fazer competições, com o fim de por a prova nossa

força. Nossos líderes viajam pelos arredores e logo os Guerreiros se reúnem de

todos os lugares com o fim de estarmos preparados.

- Preparados para que?

- Para o dia em que podemos acabar com os vampiros por completo.

- E realmente acredita que essa é a maneira de fazer? Que é o correto a se

fazer?

- Alguma vez os viu? – perguntou –Os vampiros maus, os mortos?

- Tenho visto um bom número deles.

- E não acredita que devem ser destruídos?

- Isso não é o que estava dizendo. Não tenho nenhum apreço pelos Strigoi,

acredite. Meu ponto é que Sonya não é um deles.

Mais silêncio.

Com o tempo, senti que saíamos da estrada. Conduzimos durante um tempo

mais até que o carro desacelerou e parou em um caminho de cascalho.

Chegamos a uma parada e Trey abaixou a janela.

- Esta é ela? – perguntou um homem desconhecido.

- Sim. – disse Trey.

- Desligou seu telefone celular?

- Sim.

- Leve-a para dentro então. Eles se encarregarão do resto da busca.

Ouvi o abrir de uma porta e logo continuamos no caminho de cascalho que

depois parecia ter mudado para terra. Trey diminuiu o carro e parou. Abriu sua

porta ao mesmo tempo que alguém de fora abria a minha. Uma mão em meu

ombro me impulsionou para sair.

- Vamos. Saia.

- Tenha cuidado com ela. – advertiu Trey.

Me levaram do carro a um edifício. Não foi até que uma porta se fechasse

que a venda dos meus olhos foi finalmente retirada. Estava em uma habitação

austera com paredes de gesso sem terminar e lâmpadas penduradas no teto.

Outras quatro pessoas estavam de pé ao redor de Trey e eu, três homens e uma

mulher. Todos eles pareciam estar em seus vinte anos e dois eram os que haviam

me detido no café. Além disso, todos eles estavam armados.

- Esvazie sua bolsa. – Era Jeff, o sujeito com o cabelo escuro, tinha um

pingente de ouro do antigo símbolo do sol.

Assenti, virando o conteúdo da minha bolsa e colocando sobre uma mesa

improvisada composta de um conjunto de madeira compensada colocada na parte

superior de alguns blocos de cimento. Eles se revesavam entre as coisas, a

mulher me revistou em busca de objetos. Tinha um cabelo com um péssimo

descolorimento e um rosnado em seu rosto, pelo menos era profissional e

eficiente.

- O que é isso? O cara de cabelo loiro do café levantou uma pequena bolsa

de plástico cheia de ervas e flores secas. – Você não me parece consumir drogas.

- É potpourri – disse rapidamente.

- Guarda potpourri no bolso? – perguntou com incredulidade.

Encolhi os ombros.

- Mantemos todo tipo de coisas. Sem enrolação, tirei todos os ácidos e

substâncias químicas antes de vir aqui.

Descartou o potpourri como inofensivo e o colocou em um monte com outros

elementos descartados, como minha carteira, sabonete para as mãos e uma

pulseira de madeira plana. Me dei conta então de que a pilha também incluía um

par de brincos. Era uns discos redondos de ouro, cobertos de redemoinhos e

pedras pequenas. Eram belos, mas nunca os havia visto antes.

Embora, não iria chamar a atenção sobre nenhuma coisa, especialmente

quando a mulher pegou meu celular.

- Deveríamos destruir isso.

- Eu desliguei. – disse Trey.

- Ela poderia ligá-lo de novo. Pode ser rastreado.

- Não faria – argumentou Trey – E isso é um pouco paranóico, não? Nada

tem esse tipo de tecnologia na vida real.

- Se surpreenderia. – disse ela.

Ele estendeu a mão.

- Me dá. Vou mantê-lo guardado. Ela está aqui de boa fé.

A mulher vacilou e Jeff assentiu com a cabeça. Trey deslizou o celular para

seu bolso e eu o agradeci. Havia um monte de números gravados que seria

doloroso perder. Uma vez que minha bolsa foi considerada segura, me permitiram

devolver as coisas dentro e levar comigo.

- Está bem. – disse cabelo loiro – Vamos para a arena.

Arena? Tive um momento difícil imaginando o que isso implicava num lugar

como esse. Minha visão da placa de prata não havia me mostrado grande parte do

edifício, só que se tratava de um único piso e tinha um aspecto irregular. Esta

habitação parecia ser do mesmo jeito. Se os folhetos antiquados eram uma prova

do estilo dos Guerreiros, esperava que esta “arena” estivesse na garagem de

alguém.

Estava equivocada.

Qualquer que fosse as faltas que os Guerreiros da Luz tiveram em outras

áreas de operação, eles haviam usado na arena...ou como me disseram era seu

nome oficial: A Arena do Esplendor Divino do Ouro Santo. A arena havia sido

construída em um lugar rodeado de vários edifícios. Não iria tão longe para

chamar de pátio. Era maior e no chão estava a mesma terra arenosa por onde

háviamos entrado. Esta disposição estava longe de ser a fina tecnologia, enquanto

observava tudo não conseguia deixar de pensar em Trey dizendo que os

Guerreiros haviam chegado a cidade esta semana.

Já que eles haviam arrumado isso tudo tão rápido...bem, era de certo modo

impressionante. E aterrorizante. Dois conjuntos de arquibancadas de madeira

haviam sido construídas em lados opostos do espaço. Um conjunto albergava em

volta de cinquenta espectadores, em sua maioria homens, de diferentes idades.

Seus olhos com receio e hostis, estavam sobre mim a medida que fui guiada a

continuar. Praticamente podia sentir seus olhares em minha tatuagem. Todos eles

sabiam sobre os Alquimistas e nossa história? Todos estavam vestidos com roupa

normal, mas aqui e ali, vi flashes de ouro. Muitos deles levavam algum tipo de

adorno – um pino, um pingente, etc – ou com um símbolo do sol antigo ou

moderno.

As outras arquibancadas estavam quase vazios. Três homens – mais velhos,

mais ou menos da idade do meu pai – estavam sentados juntos. Vestiam túnicas

amarelas, cobertas com bordados de ouro que brilhavam na luz alaranjada do pôr

do sol. Capacetes de ouro cobriam suas cabeças e estavam gravados com o

símbolo antigo do sol, o círculo com o ponto. Eles também me observavam,

mantive minha cabeça erguida, com a esperança de poder ocultar o tremor de

minhas mãos. Não poderia apresentar um caso convincente para Sonya se

parecia intimidade.

Ao redor da arquibancada, em volta dos postes, tinham banners de todas as

formas e tamanhos. Estavam cheios de telas esquisitas e pesadas, o qual me

rcordou dos tapetes medievais. Obviamente, estes não eram tão velhos, mas

davam ao lugar um toque de luxo e sentido cerimonial. Os desenhos dos banners

variavam consideravelmente. Alguns realmente se via tirados da história,

mostrando estilizados cavalheiros lutando contra os vampiros. Ao vê-los me deu

calafrios. Realmente havia retrocedido no tempo, na dobra de um grupo com uma

história tão antiga quanto a dos Alquimistas. Outros eram mais abstratos,

retratando os símbolos alquimistas antigos. Ainda assim, outros eram modernos,

representando o sol nas costas de Trey. Me perguntei se essa interpretação

recente do sol era com a intenção de atrair os jovens de hoje em dia.

Todo o tempo, me peguei pensando, menos de uma semana. Armaram tudo

isso em menos de uma semana. Viajaram ao redor com tudo isso, pronto para

colocá-lo a qualquer momento, com o fim de levar a cabo estas competências e

execuções. Talvez sejam primitivos, mas isso não os fazem menos perigosos.

Apesar da grande multidão de espectadores terem um olhar áspero e

frenético, como uma espécie de milícia rústica, era um alívio que não pareciam

armados. Só minha escolta estava. Uma dúzia de armas seguiam sendo muito

para meu gosto, mas faria o que podia, e com a esperança de que a maioria

guardara as armas para o espetáculo. Chegamos a parte inferior das

arquibancadas vazias, e Trey parou perto de mim.

- Este é o alto conselho dos Guerreiros da Luz – disse Trey

Mostrou cada um de uma vez.

- Mestre Jameson, Mestre Angeletti e Mestre Ortega. Esta é Sydney Sage.

- É muito bem vinda aqui, pequena irmã – disse o Mestre Angeletti com uma

voz grave. Tinha uma barba longa e desordenada. – O momento para a união de

nossos dois grupos chegou a muito tempo. Seremos muito mais fortes uma vez

que deixemos de lado nossas diferenças e nos unamos como um só.

Mostrei a ele o sorriso cortês que pude processar, e decidi não assinalar que

era pouco provável que os Alquimistas dariam boas vindas a fanáticos armados

até os dentes em nossas linhas.

- É um prazer conhecê-los, senhores. Obrigada por permitirem que eu

viesse. Eu gostaria de falar com os senhores sobre...

O Mestre Jameson levantou uma mão para me deter. Seus olhos pareciam

demasiado pequenos para seu rosto.

- Tudo a seu tempo. Em primeiro lugar, nós gostaríamos de mostrar a você

quão diligentemente formamos nossos jovens para lutar na grande cruzada. Assim

como formamos a excelência e disciplina da mente, de igual modo, também

formamos no corpo.

Através de algum sinal tático, a porta pela qual havia acabado de chegar se

abriu. Um cara familiar caminhou para o centro da arena: Chris, o primo de Trey.

Estava com calças de treinamento e sem camisa, dando uma visão clara do

radiante sol tatuado em suas costas. Tinha um olhar feroz em seu rosto e veio

para ficar ao centro da clareira.

- Acredito que já conheceu Chris Juarez – disse o Mestre Jameson – É um

dos finalistas nesta última rodada de combate. O outro, por suposto, também

conhece. É muita a ironia de que primos devem estar frente a frente, mas não há

outra forma já que os dois falharam no ataque inicial contra o demônio.

Virei para Trey, minha boca aberta.

- Você? É um dos concorrentes...para matar Sonya? – apenas pude

pronunciar as palavras. Voltei ao conselho alarmada. – Me disseram que teria a

oportunidade de advogar pelo caso de Sonya.

- Você terá. – disse o Mestre Ortega, em um tom que implicava que seria um

esforço inútil. – Mas em primeiro lugar, devemos determinar nosso campeão.

Competidores, tomem seus lugares.

Me dei conta agora de que Trey també estava em calças de treinamento

parecendo como se pudesse estar indo para a prática de futebol. Tirou a camisa

também, e na falta do que fazer com ela, me entregou. A peguei e fiquei olhando

ele, ainda incapaz de acreditar no que estava acontecendo. Ele se encontrou com

o meu olhar brevemente, mas não pude mantê-lo. Ele caminhou para se reunir a

seu primo e o Mestre Jameson me convidou a sentar.

Trey e Chris se olhavam de frente um para o outro. Me senti um pouco

envergonhada de estar estudando dois garotos sem camisa, mas não era como se

algo demasiado sórdido estivesse passando. Minhas impressões de Chris desde a

primeira vez que o vi não haviam mudado. Tanto ele como Trey se encontravam

em boa forma física, musculosos e fortes, com as aulas de corpo que

constantemente eram trabalhados e treinados. A única vantagem que Chris tinha,

se havia uma, era sua altura; a qual também havia notado antes. Sua altura. Com

uma sacudida, as lembranças do ataque no beco voltaram a mim. Havia muito

pouco para ver de nossos atacantes, mas o que empunhava a espada era alto.

Chris deve ter sigo o originalmente designado para matar Sonya.

Outro homem de túnica apareceu pela porta. Sua túnica estava cortada de

forma ligeiramente diferente da do conselho e de alguma maneira levava mais

bordados de ouro. No lugar de um capacete, usava algo parecido com o que um

sacerdote usaria. De fato, isso era o que parecia ser quando Chris e Trey

ajoelharam-se ante ele.

O sacerdote marcou suas frentes com óleo e disse uma espécie de benção

que não pude ouvir. Então, para minha surpresa, ele fez o sinal contra o mal em

seu ombro: o sinal dos Alquimistas contra o mal.

Acredito que isso -mais do que qualquer assunto sobre vampiros maus- o

uso compartilhado de símbolos antigos, era o que realmente deixava mais óbvio

que nossos dois grupos haviam sido relacionados. O sinal contra o mal era uma

pequena cruz desenhada no ombro com a mão direita. Havia sobrevivido com os

Alquimistas desde os tempos antigos. Um calafrio percorreu meu corpo.

Realmente havíamos sido um e iguais.

Quando o sacerdote terminou, outro homem chegou e entregou a cada um

dos primos um cacetete curto de madeira: algo assim como o que a polícia

utilizava as vezes no controle de multidões. Trey e Chris se voltaram em relação

aos outros, parados em poses agressivas, sustentando os cacetetes em posição

de ataque. Um murmúrio de excitação passou pela multidão a medida em que

ficavam cada vez mais ávidos por violência. A brisa da noite jogou poeira ao redor

dos primos, mas nenhum deles estremeceu. Olhei para o conselho com

incredulidade.

- Vão se atacar com esses cacetetes? – perguntei. – Podem se matar!

- Ah, não – disse o Mestre Ortega, com demasiada calma. – Não tivemos

uma morte por anos. Vão ter lesões, isso é certo, mas isso só endurece nossos

guerreiros. A todos os nossos jovenzinhos se ensina a suportar a dor e seguir

lutando.

- Jovenzinhos – repeti. Meu olhar foi para a garota descolorida que havia me

trazido até aqui. Ela estava de pé perto das arquibancadas, sustentando sua arma

a seu lado. – O que faz com suas mulheres?

- Nossas mulheres também são fortes – disse o mestre Ortega – e

certamente valiosas. Mas nunca sonhamos em deixá-las lutar nas arenas ou caçar

vampiros ativamente. Parte da razão porque fazemos é para mantê-las a salvo.

Estamos lutando contra este mal por seu bem e o futuro dos nossos filhos.

O homem que havia entregado os cacetetes também anunciou as regras em

voz alta, uma voz ressonante que preencheu a arena. Para meu alívio, os primos

Juarez não estariam combatendo entre si sem sentido. Havia um sistema para o

combate que eles estavam a ponto de entrar. Só podiam golpear entre si em

certos lugares. Golpear outro lugar daria lugar a sanções. Um ataque com êxito

daria um ponto.

A primeira pessoa com cinco pontos era o ganhador.

Sem demora, tão pronto quando começou, estava claro que isso não ia ser

tão civilizado como esperava. Chris conseguiu êxito de imediato, golpeando Trey

com tanta força no ombro que me fez tremer. Gritos selvagens e vivas ressoaram

entre a multidão sedenta por sangue, fazendo eco de consternação com os

simpatizantes de Trey. Trey nem sequer reagiu e só seguiu tratando de golpear

Chris, mas sabia que haveria um desagradável hematoma ali mais tarde. Ambos

eram bastante rápidos e estavam alertas, capazes de esquivar da maioria dos

golpes. Moveram-se ao redor, tratando de conseguir golpear através da defesa do

outro. Mais terra subiu, grudando em suas peles suadas. Encontrei-me inclinando

mais para frente, com os punhos fechados em nervosismo. Sentia a boca seca e

não podia emitir nenhum som.

De certa forma, recordava um pouco a maneira em que Eddie e Angeline

treinavam. Certamente, também ficavam com lesões. Em sua situação, no

entanto, estavam jogando a guardião e Strigoi. Havia uma diferença entre isso e

dois garotos esforçando-se para infligir o maior dano possível ao outro. Olhando

Chris e Trey, senti meu estômago revirar. Eu não gostava de violência, sobretudo

esse desenvolvimento bárbaro. Era como se tivesse sido transportada para a

época dos gladiadores.

O fervor da multidão seguiu aumentando. Estavam de pé dando vivas

violentamente e instando os primos. Suas vozes ressoavam na noite do deserto.

Apesar de ter sido golpeado primeiro, Trey claramente podia sustentar a si

mesmo. Vi que dava golpes atrás de golpes em Chris e não estava certa do que

me deixava mais mal: ver meu amigo sendo ferido ou vê-lo ferir alguém.

- Isso é terrível – disse, quando por fim pude encontrar minha voz.

- Esta é a excelência em ação – disse o Mestre Angeletti – Não é nenhuma

surpresa, já que seus pais também são guerreiros excepcionais. Também se

enfrentaram um pouco em sua juventude. São aqueles, na primeira fila.

Olhei onde ele indicou e vi dois homens de idade mediana, lado a lado, com

olhares alegres em seus rostos enquanto davam gritos de alento aos primos. Nem

precisava de um guia do Mestre Angeletti para adivinhar que estavam

relacionados. O selo da família Juarez era forte nos homens e seus filhos. Os pais

aplaudiam tão avidamente como a multidão, nem sequer pestanejando quando

Trey e Chris se machucavam. Era como meu pai e o de Keith. Nada importava

exceto o orgulho familiar e respeitar as regras do grupo.

Eu havia perdido a quantidade de pontos quando Mestre Jameson disse:

- Ah, isso vai ser bom. O próximo ponto determina o ganhador. Sempre fico

orgulhoso quando os competidores estão igualados. Me deixa saber que estamos

fazendo certo.

Não havia nenhuma razão nisso. As lágrimas apareceram em meus olhos,

mas se era pelo ar seco e poeirento ou simplesmente minha ansiedade, não podia

dizer. O suor respaldava em Trey e Chris agora, seus peitos subindo e descendo

com o esforço da batalha. Ambos estavam cobertos de arranhões e hematomas,

parecendo os antigos dias do passado. A tensão na arena era palpável, todos

esperavam para ver quem daria o golpe final. Os primos se detiveram

ligeiramente, medindo-se entre si quando se deram conta de que esse era o

momento da verdade. Esse era o golpe que contava. Chris, com o rosto

emocionado e iluminado, atacou primeiro, se adiantando para conseguir dar um

golpe no torso de Trey. Dei um grito afogado, saltando em meus pés em alarme

como a maior parte da multidão. O som foi ensurdecedor. Ficou claro na

expressão de Chris que podia saborear a vitória, e me perguntava se já estava

imaginando o ataque com o qual mataria Sonya. O sol banhava seu rosto em luz

sangrenta.

Talvez foi porque havia visto o suficiente de Eddie para aprender alguns dos

fundamentos, mas de repente me dei conta de algo. O movimento de Chris foi

demasiado temeroso e descuidado. Efetivamente, Trey era capaz de evitar o

ataque e deixei escapar um suspiro de alívio. Me deixei cair de volta em meu

assento. Aqueles que estavam seguros de que ele estava a ponto de ser acertado

rugiram de indignação.

Isso deixou a Trey uma brecha para acabar com Chris. Minha tensão voltou.

Isso era realmente o melhor? Trey “ganhando” o direito de levar uma vida? O

ponto era discutível. Trey não pegaria a oportunidade. Franzi o cenho enquanto

olhava. Ele não titubeava precisamente, mas havia algo que não parecia certo. Há

um ritmo na luta, onde as respostas instintivas e automáticas tomavam o relevo.

Era quase como se Trey estivesse lutando intencionalmente contra seu seguinte

movimento instintivo, o que dizia ataca agora e ao fazê-lo Trey permaneceu

aberto. Deu um golpe em Chris, mas este o derrubou contra o solo. Apoiei uma

mão em meu próprio peito, como se eu também tivesse sentido o golpe.

As pessoas pareciam loucas. Inclusive os Mestres saltaram de seus

assentos, gritando sua aprovação e consternação. Tive que continuar sentada a

força. Cada parte de mim queria correr ali e me assegurar de que Trey estava

bem, mas tive a sensação de que os membros armados de minha guarda

atirariam ou me golpeariam antes que eu desse dois passos. Minha preocupação

desapareceu um pouco quando vi Trey se levantar. Chris deu uma palmadinha em

Trey, sorrindo de orelha a orelha enquanto os presentes gritavam seu nome.

Trey prontamente se retirou indo para os terraços abarrotados, dando lugar

ao vencedor. Seu pai logo o recebeu com um olhar de desaprovação, mas não

disse nada. O homens que havia dado os cacetetes parou perto de Chris com a

espada que eu havia devolvido. Chris a ergueu sobre sua cabeça, ganhando mais

aplausos. Ao meu redor, Mestre Jameson se levou e gritou:

- Tragam a criatura.

Criatura era dificilmente como eu descreveria Sonya Karp quando quatro

guerreros fortemente armados a arrastaram por toda a arena poeirenta. Suas

pernas apenas pareciam funcionar, e apesar da distância, me dei conta de que

estava drogada. Por isso Adrian não podia alcançá-la em seu sonho. Também

explicava porque ela não havia utilizado nenhum tipo de magia para tentar

escapar. Seu cabelo estava um desastre, e estava com a mesma roupa que a

havia visto naquela noite no apartamento de Adrian. Estava desalinhada, mas pelo

menos não parecia ter sinais de abuso físico.

Desta vez, não pude evitar de ficar em pé. A garota loira imediatamente

colocou uma mão no meu ombro, me obrigando a sentar. Olhei para Sonya,

querendo desesperadamente ajudá-la, mas sabia que estava impotente.

Escondendo de novo o medo e a raiva, pouco a pouco me sentei e virei na direção

do conselho.

- Vocês me disseram que teria a oportunidade de falar. – Recorri a seu

sentido de honra. – Deram sua palavra. Isso não significa nada?

- Nossa palavra significa tudo. – disse o mestre Ortega, parecendo ofendido.

– Vai ter sua oportunidade.

Atrás da guarda de Sonya chegaram dois homens transportando um enorme

bloco de madeira com restrições de braço. Parecia que havia saído de um estúdio

de filme medieval, e meu estômago se retorceu, quando me dei conta para o que

era: decapitação. As sombras haviam se incrementado, obrigando os homens a

pegar tochas que projetavam sinistros flashes de luz ao redor da arena. Era

impossível acreditar que estava no século 21 na Califórnia. Me senti como se

tivesse sido transportada a algum castelo bárbaro.

E realmente, estes caçadores eram bárbaros. Um dos guardas de Sonya a

empurrou por trás, forçando sua cabeça sobre a superfície do bloco enquanto

atava suas mãos com os correias de couro. Em seu estado aturdido, não requeria

quase nenhum nível de força que o homem usou. Não podia acreditar que

pudessem ser tão hipócritas quando estavam a ponto de acabar com a vida de

uma mulher que não podia oferecer nenhuma resistência e que muito menos sabia

que estava aqui. Todo mundo gritava por seu sangue, e senti que eu ia ficar

doente.

O Mestre Angeletti se levantou, e um silêncio caiu sobre a arena.

- Estamos reunidos aqui de todas as partes do país para uma grande coisa.

É um dia raro e bendito quando realmente temos um Strigoi em cativeiro – Porque

não é um Strigoi, pensei com raiva. Nunca seriam capazes de capturar um vivo –

Eles infectam seres humanos decentes como nós, mas hoje vamos enviar uma de

volta ao inferno, uma que é particularmente insidiosa devido a sua capacidade de

ocultar sua verdadeira natureza e finge ser um dos demônios mais benignos, os

Moroi, com quem também lidaremos um dia. – Murmúrios de aprovação passou

pela multidão – Sem enrolação, antes de começar, uma de nossas irmãs

Alquimista gostaria de falar em nome dessa criatura.

A aprovação desapareceu, substituída por enojados e evidentes murmúrios.

Me perguntava inquieta se os guardiões manteriam suas armas apontadas para

mim se eu fosse atacada. O Mestre Angeletti levantou as mãos e os silenciou.

- Mostrarão respeito a nossa pequena irmã – disse - Os Alquimistas são

familiares, e uma vez, fomos um. Seria um acontecimento transcedental se

pudéssemos uma vez mais unir forças.

Com isso, se sentou e me fez um gesto. Nada mais foi oferecido e assumi

que isto significava que a palavra era minha. Não estava de todo segura do que se

supunha que deveria expor de meu caso nem onde. O conselho tomava as

decisões, mas isso parecia algo que todos deveriam escutar. Me coloquei de pé e

esperei que a garota com a arma fosse me impedir de novo. Ela não fez. Pouco a

pouco, com cuidado, fiz meu caminho para baixo dos terraços e parei na arena,

consciente de não chegar muito perto de Sonya. Não acreditava que seria melhor.

Mantive meu corpo em ângulo para o conselho mas voltei minha cabeça de

uma maneira que esperava chegar aos demais. Havia dado reportes e

apresentações antes, mas sempre em uma sala de conferências. Nunca havia

abordado uma multidão furiosa, e muito menos falado com um grupo tão grande

sobre assuntos de vampiros. A maioria dos rostos ali estavam encobertas pelas

sombras, mas eu podia imaginar todos esses olhos enojados e sedentos de

sangue fixos em mim. Sentia minha boca seca, e, o que foi um fenômeno raro,

minha mente estava em branco. Um momento depois, fui capaz de empurrar

através de meu medo – o que certamente não desapareceu – e recordei o que

queria dizer.

- Estão cometendo um erro – comecei. Minha voz era pequena e clareei a

garganta, obrigando-me a projetar e soar mais forte – Sonya Karp não é um

Strigoi.

- Temos registros dela em Kentucky – interrompeu o Mestre Jameson –

Testemunhas que a viram matar.

- Isso porque ela era um Strigoi aquela época. Mas ela já não é mais. – Não

deixava de pensar que a tatuagem me impediria de falar, mas este grupo já estava

muito consciente do mundo vampírico. – No último ano, os Alquimistas tem

aprendido muito sobre os vampiros. Vocês devem saber que os Moroi, vocês os

chamam de “demônios benignos”, praticam magia elementar. Recentemente

descobrimos que há um novo e raro tipo de magia, uma que está ligada aos

poderes psíquicos e a cura. Esse poder tem a capacidade de restaurar Strigoi de

novo a sua forma original, seja ele humano, dhampir ou Moroi.

Uns poucos raivosos se levantaram rapidamente em um frenesí. A

mentalidade da multidão em ação. O Mestre Jameson tomou isso como para

acalmá-los de novo.

- Isso – disse simplesmente – é impossível.

- Temos documentado o caso de três, não, quarto pessoas que aconteceu

isso. Três Moroi e um dhampir que uma vez foram Strigoi e agora estão em

posição de seus seres originais e almas. – Falar sobre Lee no tempo presente não

era de todo exato, mas não havia necessidade de esclarecer. E descrever um

antigo Strigoi que queria se converter em Strigoi outra vez provavelmente não

ajudaria no meu caso – Olhem-na. Ela parece Strigoi? Ela está fora, no sol. – Não

havia muito sol, mas esses fugazes raios de sol matariam a um Strigoi. Com a

maneira com que eu suava de medo, bem poderia ter estado em um ardente sol

de meio de tarde – Seguem dizendo que isso é obra de uma magia retorcida, mas

alguma vez, apenas uma vez, a viram em forma de Strigoi aqui em Palm Springs?

Ninguém reconheceu isso de imediato. Finalmemte, o Mestre Angeletti,

disse.

- Ela derrotou nossas forças na rua. Obviamente voltou a sua forma

verdadeira.

- Ela não fez isso. Dimitri Belikov fez, um dos melhores guerreiros dhampirs

aí fora. Não se ofenda, mas apesar de todo o treinamento, seus soldados foram

superados irremediavelmente. – Vi os olhares mais agressivos. Me dei conta de

que provavelmente não era a melhor coisa que pudesse ter dito.

- Você foi enganada. – disso o Mestre Angeletti – Não é de estranhar já que

sua gente a tempos se enreda atrás das cenas com os Moroi. Não são como nós,

nas trincheiras. Vocês não enfrentam cara a cara os Strigoi. São criaturas

malvadas, sedentas de sangue que devem ser destruídas.

- Estou de acordo com isso. Mas Sonya não é um deles. Olhem-na. – Eu

estava ganhando valor, minha voz cada vez mais forte e mais clara na noite do

deserto. – Seguem presumindo a captura de um monstro terrível, mas tudo o que

vejo é uma mulher drogada e comedida. Bom trabalho. Na verdade um inimigo

digno.

Ninguém do conselho parecia quase tão tolerante como haviam estado

antes.

- Nós simplesmente a submetemos – disse o Mestre Ortega – É um sinal de

nossa destreza que fomos capazes de fazê-lo.

- Submeteram uma mulher inocente e indefesa. – Não sabia se enfatizando

este ponto poderia ajudar, mas pensei que não seria mal se tinham pontos de

vista retorcidos e cavalheirescos das mulheres – E sei que tem cometido erros

antes. Sei sobre Santa Cruz – Não tinha ideia se este havia sido o mesmo grupo

cujos homens haviam ido atrás de Clarence, mas estava apostando que pelo

menos o conselho sabia. – Alguns de seus membros mais entusiastas foram atrás

de um Moroi inocente. Vocês viram os erros de seus métodos quando Marcus

Finch disse a verdade. Tampouco é demasiado tarde para corrigir este erro.

Para minha surpresa o mestre Ortega sorriu.

- Marcus Finch? Você o está colocando como uma espécie de herói?

Não exatamente, não. Nem sequer conheço o tipo. Mas se ele era um ser

humano que falava em tom condescendente com estes loucos, então deve ter

algum tipo de integridade.

- Porque não haveria de colocar? – perguntei – Ele foi capaz de diferenciar o

bem do mal.

O Mestre Angeletti começou a rir agora.

- Nunca tinha esperado um alquimista falar do sentido de “bem e mal”.

Pensei que seus próprios pontos de vista disso eram irremovíveis.

- Do que está falando? – Não pretendia descarrilar, mas estes comentários

eram muito desconcertantes.

- Marcus Finch traiu os alquimistas – explicou o mestre Angeletti – Não

sabia? Supus que um alquimista renegado seria a última pessoa que usaria para

advogar por seu caso.

Estava momentaneamente sem fala. Estava dizendo...estava dizendo que

Marcus Finch era um alquimista? Não. Não pode ser. Se ele tivesse sido, então

Stanton sabia quem ele era. A menos que ela mentiu sobre não ter nenhum

registro dele, uma voz em minha cabeça advertiu.

O Mestre Jameson aparentemente ouviu o bastante de mim.

- Nós apreciamos que tenha vindo aqui e respeitamos sua intenção de

defender o que acredita ser verdade. Assim mesmo, nos alegra que foi capaz de

ver o quão fortes estamos convertidos. Espero que leve esta notícia quando voltar

a seu grupo. Em todo caso, suas intenções aqui demonstraram o que sabemos

por muito tempo: os grupos precisam se juntar. Claramente, os alquimistas tem

recolhido uma grande quantidade de conhecimentos ao longo dos anos que

poderiam ser úteis para nós, assim como nossa força pode ser útil para vocês.

Sem mais...- Olhou para Sonya e franziu o cenho – o ponto segue sendo que

agora, qualquer que sejam suas intenções, realmente foi enganada. Inclusive há

uma pequena possibilidade impossível de que tenha razão, que ela realmente seja

uma Moroi...não podemos tomar a possibilidade de que talvez esteja corrompida.

E se ela acredita que foi restaurada, poderia ser influenciada subconscientemente.

Uma vez mais fiquei sem palavras, mas não porque parecia ter perdido meu

caso. As palavras do Mestre Jameson foram quase idênticas a que o pai de Keith

havia dito, quando me disse que Keith teria que voltar para a re-educação. O Sr.

Darnell havia feito eco deste sentimento, que não poderia correr o risco de que um

pouco de influência sutil afetara Keith. Ações extremas haviam sido requeridas.

Somos o mesmo, pensei. Os alquimistas e os guerreiros. Os anos nos tinha

dividido, mas viemos do mesmo lugar, tanto em nossos objetivos quanto em

nossas atitudes cegas.

Então o Mestre Jameson disse o mais impactante de tudo.

- Inclusive se é só um Moroi, não é uma grande perda. Iremos buscar eles

eventualmente de todos os modos, uma vez que tivemos derrotado os Strigoi

Fiquei gelada ante essas palavras. A garota loira me cercou e de novo me

obrigou a sentar na primeira fila. Não ofereci resistência, muito surpreendida pelo

que acabara de ouvir. O que quiseram dizer com buscar os Moroi? Sonya podia

ser só o início e logo o resto dos meus amigos, e logo Adrian...

O Mestre Angeletti me trouxe de volta para o presente. Fez um grande gesto

para Chris enquanto falava.

Chris pegou a espada, com um brilho fanático em seus olhos. Uma sentelha

feliz, inclusive. Ele queria fazer isso. Queria matar. Dimitri e Rose haviam matado

muitas e muitas vezes, mas ambos haviam dito que não havia alegria nisso.

Estavam contentes de fazer o certo e defender os demais, mas não desfrutavam

trazendo a morte. Havia aprendido que a existência de vampiros era incorreta e

torcida, mas o que estava a ponto de presenciar era a verdadeira atrocidade.

Estes eram os monstros.

Queria gritar, chorar ou me jogar na frente de Sonya. Estávamos a um passo

da morte de uma pessoa brilhante e afetuosa. Então, sem aviso prévio, o silêncio

da arena foi preenchido com armas de fogo. Chris se deteve e levantou a cabeça

com surpresa. Estremeci e olhei imediatamente para a escolta armada,

perguntando-me se tomariam sobre si mesmo para se converter em um pelotão de

fusilamento. Pareciam tão surpreendidos quanto eu, bom, a maioria deles. Dois

deles não mostraram muita emoção, porque despencaram no solo.

E foi então quando Dimitri e Eddie irremperam pela arena.

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