Já havia visto filmes onde pessoas que tinham os olhos vendados eram
capazes de dizer onde iam, com base em seu talento inato de detectar o
movimento e a direção. Eu não. Depois de umas tantas voltas, não podia dizer em
que parte de Palm Springs estavamos, sobretudo porque suspeitava que Trey
estava dirigindo em círculos com o fim de se assegurar de que não tinha nada o
seguindo. A única coisa de que estava segura foi quando chegamos a I-10,
simplesmente pela sensação da estrada.
Não sabia em que direção íamos, e não tinha forma de dizer quanto tempo
havíamos viajado.
Trey não ofereceu muito sobre conversação, dava respostas curtas toda vez
que fazia perguntas.
- Quando se uniu aos caçadores de vampiros?
- Guerreiros da Luz – corrigiu – E nasci sendo um.
- É por isso que estava sempre falando da pressão familiar e porque
esperam tanto de você, não? É por isso que seu pai está tão preocupado com seu
rendimento esportivo?
Tomei o silêncio de Trey como uma afirmação e segui adiante, precisando
obter tanta informação quanto fosse possível.
- Com que frequência tem suas, hum, reuniões? Está sempre tendo essas
provas brutas? – Até muito pouco, não havia sabido nada que sugeria que a vida
de Trey fora muito diferente da de qualquer outro atleta na secundária que
mantinha boas notas, um trabalho e uma vida social ativa. Na verdade, pensando
em todas as coisas que Trey costumava fazer, era difícil imaginá-lo tendo algum
tempo em absoluto com os Guerreiros.
- Não temos reuniões periódicas. – disse – Bom, não alguém a meu nível.
Esperamos que nos chamem, geralmente devida a uma causa que esteja em
marcha. As vezes chegamos a fazer competições, com o fim de por a prova nossa
força. Nossos líderes viajam pelos arredores e logo os Guerreiros se reúnem de
todos os lugares com o fim de estarmos preparados.
- Preparados para que?
- Para o dia em que podemos acabar com os vampiros por completo.
- E realmente acredita que essa é a maneira de fazer? Que é o correto a se
fazer?
- Alguma vez os viu? – perguntou –Os vampiros maus, os mortos?
- Tenho visto um bom número deles.
- E não acredita que devem ser destruídos?
- Isso não é o que estava dizendo. Não tenho nenhum apreço pelos Strigoi,
acredite. Meu ponto é que Sonya não é um deles.
Mais silêncio.
Com o tempo, senti que saíamos da estrada. Conduzimos durante um tempo
mais até que o carro desacelerou e parou em um caminho de cascalho.
Chegamos a uma parada e Trey abaixou a janela.
- Esta é ela? – perguntou um homem desconhecido.
- Sim. – disse Trey.
- Desligou seu telefone celular?
- Sim.
- Leve-a para dentro então. Eles se encarregarão do resto da busca.
Ouvi o abrir de uma porta e logo continuamos no caminho de cascalho que
depois parecia ter mudado para terra. Trey diminuiu o carro e parou. Abriu sua
porta ao mesmo tempo que alguém de fora abria a minha. Uma mão em meu
ombro me impulsionou para sair.
- Vamos. Saia.
- Tenha cuidado com ela. – advertiu Trey.
Me levaram do carro a um edifício. Não foi até que uma porta se fechasse
que a venda dos meus olhos foi finalmente retirada. Estava em uma habitação
austera com paredes de gesso sem terminar e lâmpadas penduradas no teto.
Outras quatro pessoas estavam de pé ao redor de Trey e eu, três homens e uma
mulher. Todos eles pareciam estar em seus vinte anos e dois eram os que haviam
me detido no café. Além disso, todos eles estavam armados.
- Esvazie sua bolsa. – Era Jeff, o sujeito com o cabelo escuro, tinha um
pingente de ouro do antigo símbolo do sol.
Assenti, virando o conteúdo da minha bolsa e colocando sobre uma mesa
improvisada composta de um conjunto de madeira compensada colocada na parte
superior de alguns blocos de cimento. Eles se revesavam entre as coisas, a
mulher me revistou em busca de objetos. Tinha um cabelo com um péssimo
descolorimento e um rosnado em seu rosto, pelo menos era profissional e
eficiente.
- O que é isso? O cara de cabelo loiro do café levantou uma pequena bolsa
de plástico cheia de ervas e flores secas. – Você não me parece consumir drogas.
- É potpourri – disse rapidamente.
- Guarda potpourri no bolso? – perguntou com incredulidade.
Encolhi os ombros.
- Mantemos todo tipo de coisas. Sem enrolação, tirei todos os ácidos e
substâncias químicas antes de vir aqui.
Descartou o potpourri como inofensivo e o colocou em um monte com outros
elementos descartados, como minha carteira, sabonete para as mãos e uma
pulseira de madeira plana. Me dei conta então de que a pilha também incluía um
par de brincos. Era uns discos redondos de ouro, cobertos de redemoinhos e
pedras pequenas. Eram belos, mas nunca os havia visto antes.
Embora, não iria chamar a atenção sobre nenhuma coisa, especialmente
quando a mulher pegou meu celular.
- Deveríamos destruir isso.
- Eu desliguei. – disse Trey.
- Ela poderia ligá-lo de novo. Pode ser rastreado.
- Não faria – argumentou Trey – E isso é um pouco paranóico, não? Nada
tem esse tipo de tecnologia na vida real.
- Se surpreenderia. – disse ela.
Ele estendeu a mão.
- Me dá. Vou mantê-lo guardado. Ela está aqui de boa fé.
A mulher vacilou e Jeff assentiu com a cabeça. Trey deslizou o celular para
seu bolso e eu o agradeci. Havia um monte de números gravados que seria
doloroso perder. Uma vez que minha bolsa foi considerada segura, me permitiram
devolver as coisas dentro e levar comigo.
- Está bem. – disse cabelo loiro – Vamos para a arena.
Arena? Tive um momento difícil imaginando o que isso implicava num lugar
como esse. Minha visão da placa de prata não havia me mostrado grande parte do
edifício, só que se tratava de um único piso e tinha um aspecto irregular. Esta
habitação parecia ser do mesmo jeito. Se os folhetos antiquados eram uma prova
do estilo dos Guerreiros, esperava que esta “arena” estivesse na garagem de
alguém.
Estava equivocada.
Qualquer que fosse as faltas que os Guerreiros da Luz tiveram em outras
áreas de operação, eles haviam usado na arena...ou como me disseram era seu
nome oficial: A Arena do Esplendor Divino do Ouro Santo. A arena havia sido
construída em um lugar rodeado de vários edifícios. Não iria tão longe para
chamar de pátio. Era maior e no chão estava a mesma terra arenosa por onde
háviamos entrado. Esta disposição estava longe de ser a fina tecnologia, enquanto
observava tudo não conseguia deixar de pensar em Trey dizendo que os
Guerreiros haviam chegado a cidade esta semana.
Já que eles haviam arrumado isso tudo tão rápido...bem, era de certo modo
impressionante. E aterrorizante. Dois conjuntos de arquibancadas de madeira
haviam sido construídas em lados opostos do espaço. Um conjunto albergava em
volta de cinquenta espectadores, em sua maioria homens, de diferentes idades.
Seus olhos com receio e hostis, estavam sobre mim a medida que fui guiada a
continuar. Praticamente podia sentir seus olhares em minha tatuagem. Todos eles
sabiam sobre os Alquimistas e nossa história? Todos estavam vestidos com roupa
normal, mas aqui e ali, vi flashes de ouro. Muitos deles levavam algum tipo de
adorno – um pino, um pingente, etc – ou com um símbolo do sol antigo ou
moderno.
As outras arquibancadas estavam quase vazios. Três homens – mais velhos,
mais ou menos da idade do meu pai – estavam sentados juntos. Vestiam túnicas
amarelas, cobertas com bordados de ouro que brilhavam na luz alaranjada do pôr
do sol. Capacetes de ouro cobriam suas cabeças e estavam gravados com o
símbolo antigo do sol, o círculo com o ponto. Eles também me observavam,
mantive minha cabeça erguida, com a esperança de poder ocultar o tremor de
minhas mãos. Não poderia apresentar um caso convincente para Sonya se
parecia intimidade.
Ao redor da arquibancada, em volta dos postes, tinham banners de todas as
formas e tamanhos. Estavam cheios de telas esquisitas e pesadas, o qual me
rcordou dos tapetes medievais. Obviamente, estes não eram tão velhos, mas
davam ao lugar um toque de luxo e sentido cerimonial. Os desenhos dos banners
variavam consideravelmente. Alguns realmente se via tirados da história,
mostrando estilizados cavalheiros lutando contra os vampiros. Ao vê-los me deu
calafrios. Realmente havia retrocedido no tempo, na dobra de um grupo com uma
história tão antiga quanto a dos Alquimistas. Outros eram mais abstratos,
retratando os símbolos alquimistas antigos. Ainda assim, outros eram modernos,
representando o sol nas costas de Trey. Me perguntei se essa interpretação
recente do sol era com a intenção de atrair os jovens de hoje em dia.
Todo o tempo, me peguei pensando, menos de uma semana. Armaram tudo
isso em menos de uma semana. Viajaram ao redor com tudo isso, pronto para
colocá-lo a qualquer momento, com o fim de levar a cabo estas competências e
execuções. Talvez sejam primitivos, mas isso não os fazem menos perigosos.
Apesar da grande multidão de espectadores terem um olhar áspero e
frenético, como uma espécie de milícia rústica, era um alívio que não pareciam
armados. Só minha escolta estava. Uma dúzia de armas seguiam sendo muito
para meu gosto, mas faria o que podia, e com a esperança de que a maioria
guardara as armas para o espetáculo. Chegamos a parte inferior das
arquibancadas vazias, e Trey parou perto de mim.
- Este é o alto conselho dos Guerreiros da Luz – disse Trey
Mostrou cada um de uma vez.
- Mestre Jameson, Mestre Angeletti e Mestre Ortega. Esta é Sydney Sage.
- É muito bem vinda aqui, pequena irmã – disse o Mestre Angeletti com uma
voz grave. Tinha uma barba longa e desordenada. – O momento para a união de
nossos dois grupos chegou a muito tempo. Seremos muito mais fortes uma vez
que deixemos de lado nossas diferenças e nos unamos como um só.
Mostrei a ele o sorriso cortês que pude processar, e decidi não assinalar que
era pouco provável que os Alquimistas dariam boas vindas a fanáticos armados
até os dentes em nossas linhas.
- É um prazer conhecê-los, senhores. Obrigada por permitirem que eu
viesse. Eu gostaria de falar com os senhores sobre...
O Mestre Jameson levantou uma mão para me deter. Seus olhos pareciam
demasiado pequenos para seu rosto.
- Tudo a seu tempo. Em primeiro lugar, nós gostaríamos de mostrar a você
quão diligentemente formamos nossos jovens para lutar na grande cruzada. Assim
como formamos a excelência e disciplina da mente, de igual modo, também
formamos no corpo.
Através de algum sinal tático, a porta pela qual havia acabado de chegar se
abriu. Um cara familiar caminhou para o centro da arena: Chris, o primo de Trey.
Estava com calças de treinamento e sem camisa, dando uma visão clara do
radiante sol tatuado em suas costas. Tinha um olhar feroz em seu rosto e veio
para ficar ao centro da clareira.
- Acredito que já conheceu Chris Juarez – disse o Mestre Jameson – É um
dos finalistas nesta última rodada de combate. O outro, por suposto, também
conhece. É muita a ironia de que primos devem estar frente a frente, mas não há
outra forma já que os dois falharam no ataque inicial contra o demônio.
Virei para Trey, minha boca aberta.
- Você? É um dos concorrentes...para matar Sonya? – apenas pude
pronunciar as palavras. Voltei ao conselho alarmada. – Me disseram que teria a
oportunidade de advogar pelo caso de Sonya.
- Você terá. – disse o Mestre Ortega, em um tom que implicava que seria um
esforço inútil. – Mas em primeiro lugar, devemos determinar nosso campeão.
Competidores, tomem seus lugares.
Me dei conta agora de que Trey també estava em calças de treinamento
parecendo como se pudesse estar indo para a prática de futebol. Tirou a camisa
também, e na falta do que fazer com ela, me entregou. A peguei e fiquei olhando
ele, ainda incapaz de acreditar no que estava acontecendo. Ele se encontrou com
o meu olhar brevemente, mas não pude mantê-lo. Ele caminhou para se reunir a
seu primo e o Mestre Jameson me convidou a sentar.
Trey e Chris se olhavam de frente um para o outro. Me senti um pouco
envergonhada de estar estudando dois garotos sem camisa, mas não era como se
algo demasiado sórdido estivesse passando. Minhas impressões de Chris desde a
primeira vez que o vi não haviam mudado. Tanto ele como Trey se encontravam
em boa forma física, musculosos e fortes, com as aulas de corpo que
constantemente eram trabalhados e treinados. A única vantagem que Chris tinha,
se havia uma, era sua altura; a qual também havia notado antes. Sua altura. Com
uma sacudida, as lembranças do ataque no beco voltaram a mim. Havia muito
pouco para ver de nossos atacantes, mas o que empunhava a espada era alto.
Chris deve ter sigo o originalmente designado para matar Sonya.
Outro homem de túnica apareceu pela porta. Sua túnica estava cortada de
forma ligeiramente diferente da do conselho e de alguma maneira levava mais
bordados de ouro. No lugar de um capacete, usava algo parecido com o que um
sacerdote usaria. De fato, isso era o que parecia ser quando Chris e Trey
ajoelharam-se ante ele.
O sacerdote marcou suas frentes com óleo e disse uma espécie de benção
que não pude ouvir. Então, para minha surpresa, ele fez o sinal contra o mal em
seu ombro: o sinal dos Alquimistas contra o mal.
Acredito que isso -mais do que qualquer assunto sobre vampiros maus- o
uso compartilhado de símbolos antigos, era o que realmente deixava mais óbvio
que nossos dois grupos haviam sido relacionados. O sinal contra o mal era uma
pequena cruz desenhada no ombro com a mão direita. Havia sobrevivido com os
Alquimistas desde os tempos antigos. Um calafrio percorreu meu corpo.
Realmente havíamos sido um e iguais.
Quando o sacerdote terminou, outro homem chegou e entregou a cada um
dos primos um cacetete curto de madeira: algo assim como o que a polícia
utilizava as vezes no controle de multidões. Trey e Chris se voltaram em relação
aos outros, parados em poses agressivas, sustentando os cacetetes em posição
de ataque. Um murmúrio de excitação passou pela multidão a medida em que
ficavam cada vez mais ávidos por violência. A brisa da noite jogou poeira ao redor
dos primos, mas nenhum deles estremeceu. Olhei para o conselho com
incredulidade.
- Vão se atacar com esses cacetetes? – perguntei. – Podem se matar!
- Ah, não – disse o Mestre Ortega, com demasiada calma. – Não tivemos
uma morte por anos. Vão ter lesões, isso é certo, mas isso só endurece nossos
guerreiros. A todos os nossos jovenzinhos se ensina a suportar a dor e seguir
lutando.
- Jovenzinhos – repeti. Meu olhar foi para a garota descolorida que havia me
trazido até aqui. Ela estava de pé perto das arquibancadas, sustentando sua arma
a seu lado. – O que faz com suas mulheres?
- Nossas mulheres também são fortes – disse o mestre Ortega – e
certamente valiosas. Mas nunca sonhamos em deixá-las lutar nas arenas ou caçar
vampiros ativamente. Parte da razão porque fazemos é para mantê-las a salvo.
Estamos lutando contra este mal por seu bem e o futuro dos nossos filhos.
O homem que havia entregado os cacetetes também anunciou as regras em
voz alta, uma voz ressonante que preencheu a arena. Para meu alívio, os primos
Juarez não estariam combatendo entre si sem sentido. Havia um sistema para o
combate que eles estavam a ponto de entrar. Só podiam golpear entre si em
certos lugares. Golpear outro lugar daria lugar a sanções. Um ataque com êxito
daria um ponto.
A primeira pessoa com cinco pontos era o ganhador.
Sem demora, tão pronto quando começou, estava claro que isso não ia ser
tão civilizado como esperava. Chris conseguiu êxito de imediato, golpeando Trey
com tanta força no ombro que me fez tremer. Gritos selvagens e vivas ressoaram
entre a multidão sedenta por sangue, fazendo eco de consternação com os
simpatizantes de Trey. Trey nem sequer reagiu e só seguiu tratando de golpear
Chris, mas sabia que haveria um desagradável hematoma ali mais tarde. Ambos
eram bastante rápidos e estavam alertas, capazes de esquivar da maioria dos
golpes. Moveram-se ao redor, tratando de conseguir golpear através da defesa do
outro. Mais terra subiu, grudando em suas peles suadas. Encontrei-me inclinando
mais para frente, com os punhos fechados em nervosismo. Sentia a boca seca e
não podia emitir nenhum som.
De certa forma, recordava um pouco a maneira em que Eddie e Angeline
treinavam. Certamente, também ficavam com lesões. Em sua situação, no
entanto, estavam jogando a guardião e Strigoi. Havia uma diferença entre isso e
dois garotos esforçando-se para infligir o maior dano possível ao outro. Olhando
Chris e Trey, senti meu estômago revirar. Eu não gostava de violência, sobretudo
esse desenvolvimento bárbaro. Era como se tivesse sido transportada para a
época dos gladiadores.
O fervor da multidão seguiu aumentando. Estavam de pé dando vivas
violentamente e instando os primos. Suas vozes ressoavam na noite do deserto.
Apesar de ter sido golpeado primeiro, Trey claramente podia sustentar a si
mesmo. Vi que dava golpes atrás de golpes em Chris e não estava certa do que
me deixava mais mal: ver meu amigo sendo ferido ou vê-lo ferir alguém.
- Isso é terrível – disse, quando por fim pude encontrar minha voz.
- Esta é a excelência em ação – disse o Mestre Angeletti – Não é nenhuma
surpresa, já que seus pais também são guerreiros excepcionais. Também se
enfrentaram um pouco em sua juventude. São aqueles, na primeira fila.
Olhei onde ele indicou e vi dois homens de idade mediana, lado a lado, com
olhares alegres em seus rostos enquanto davam gritos de alento aos primos. Nem
precisava de um guia do Mestre Angeletti para adivinhar que estavam
relacionados. O selo da família Juarez era forte nos homens e seus filhos. Os pais
aplaudiam tão avidamente como a multidão, nem sequer pestanejando quando
Trey e Chris se machucavam. Era como meu pai e o de Keith. Nada importava
exceto o orgulho familiar e respeitar as regras do grupo.
Eu havia perdido a quantidade de pontos quando Mestre Jameson disse:
- Ah, isso vai ser bom. O próximo ponto determina o ganhador. Sempre fico
orgulhoso quando os competidores estão igualados. Me deixa saber que estamos
fazendo certo.
Não havia nenhuma razão nisso. As lágrimas apareceram em meus olhos,
mas se era pelo ar seco e poeirento ou simplesmente minha ansiedade, não podia
dizer. O suor respaldava em Trey e Chris agora, seus peitos subindo e descendo
com o esforço da batalha. Ambos estavam cobertos de arranhões e hematomas,
parecendo os antigos dias do passado. A tensão na arena era palpável, todos
esperavam para ver quem daria o golpe final. Os primos se detiveram
ligeiramente, medindo-se entre si quando se deram conta de que esse era o
momento da verdade. Esse era o golpe que contava. Chris, com o rosto
emocionado e iluminado, atacou primeiro, se adiantando para conseguir dar um
golpe no torso de Trey. Dei um grito afogado, saltando em meus pés em alarme
como a maior parte da multidão. O som foi ensurdecedor. Ficou claro na
expressão de Chris que podia saborear a vitória, e me perguntava se já estava
imaginando o ataque com o qual mataria Sonya. O sol banhava seu rosto em luz
sangrenta.
Talvez foi porque havia visto o suficiente de Eddie para aprender alguns dos
fundamentos, mas de repente me dei conta de algo. O movimento de Chris foi
demasiado temeroso e descuidado. Efetivamente, Trey era capaz de evitar o
ataque e deixei escapar um suspiro de alívio. Me deixei cair de volta em meu
assento. Aqueles que estavam seguros de que ele estava a ponto de ser acertado
rugiram de indignação.
Isso deixou a Trey uma brecha para acabar com Chris. Minha tensão voltou.
Isso era realmente o melhor? Trey “ganhando” o direito de levar uma vida? O
ponto era discutível. Trey não pegaria a oportunidade. Franzi o cenho enquanto
olhava. Ele não titubeava precisamente, mas havia algo que não parecia certo. Há
um ritmo na luta, onde as respostas instintivas e automáticas tomavam o relevo.
Era quase como se Trey estivesse lutando intencionalmente contra seu seguinte
movimento instintivo, o que dizia ataca agora e ao fazê-lo Trey permaneceu
aberto. Deu um golpe em Chris, mas este o derrubou contra o solo. Apoiei uma
mão em meu próprio peito, como se eu também tivesse sentido o golpe.
As pessoas pareciam loucas. Inclusive os Mestres saltaram de seus
assentos, gritando sua aprovação e consternação. Tive que continuar sentada a
força. Cada parte de mim queria correr ali e me assegurar de que Trey estava
bem, mas tive a sensação de que os membros armados de minha guarda
atirariam ou me golpeariam antes que eu desse dois passos. Minha preocupação
desapareceu um pouco quando vi Trey se levantar. Chris deu uma palmadinha em
Trey, sorrindo de orelha a orelha enquanto os presentes gritavam seu nome.
Trey prontamente se retirou indo para os terraços abarrotados, dando lugar
ao vencedor. Seu pai logo o recebeu com um olhar de desaprovação, mas não
disse nada. O homens que havia dado os cacetetes parou perto de Chris com a
espada que eu havia devolvido. Chris a ergueu sobre sua cabeça, ganhando mais
aplausos. Ao meu redor, Mestre Jameson se levou e gritou:
- Tragam a criatura.
Criatura era dificilmente como eu descreveria Sonya Karp quando quatro
guerreros fortemente armados a arrastaram por toda a arena poeirenta. Suas
pernas apenas pareciam funcionar, e apesar da distância, me dei conta de que
estava drogada. Por isso Adrian não podia alcançá-la em seu sonho. Também
explicava porque ela não havia utilizado nenhum tipo de magia para tentar
escapar. Seu cabelo estava um desastre, e estava com a mesma roupa que a
havia visto naquela noite no apartamento de Adrian. Estava desalinhada, mas pelo
menos não parecia ter sinais de abuso físico.
Desta vez, não pude evitar de ficar em pé. A garota loira imediatamente
colocou uma mão no meu ombro, me obrigando a sentar. Olhei para Sonya,
querendo desesperadamente ajudá-la, mas sabia que estava impotente.
Escondendo de novo o medo e a raiva, pouco a pouco me sentei e virei na direção
do conselho.
- Vocês me disseram que teria a oportunidade de falar. – Recorri a seu
sentido de honra. – Deram sua palavra. Isso não significa nada?
- Nossa palavra significa tudo. – disse o mestre Ortega, parecendo ofendido.
– Vai ter sua oportunidade.
Atrás da guarda de Sonya chegaram dois homens transportando um enorme
bloco de madeira com restrições de braço. Parecia que havia saído de um estúdio
de filme medieval, e meu estômago se retorceu, quando me dei conta para o que
era: decapitação. As sombras haviam se incrementado, obrigando os homens a
pegar tochas que projetavam sinistros flashes de luz ao redor da arena. Era
impossível acreditar que estava no século 21 na Califórnia. Me senti como se
tivesse sido transportada a algum castelo bárbaro.
E realmente, estes caçadores eram bárbaros. Um dos guardas de Sonya a
empurrou por trás, forçando sua cabeça sobre a superfície do bloco enquanto
atava suas mãos com os correias de couro. Em seu estado aturdido, não requeria
quase nenhum nível de força que o homem usou. Não podia acreditar que
pudessem ser tão hipócritas quando estavam a ponto de acabar com a vida de
uma mulher que não podia oferecer nenhuma resistência e que muito menos sabia
que estava aqui. Todo mundo gritava por seu sangue, e senti que eu ia ficar
doente.
O Mestre Angeletti se levantou, e um silêncio caiu sobre a arena.
- Estamos reunidos aqui de todas as partes do país para uma grande coisa.
É um dia raro e bendito quando realmente temos um Strigoi em cativeiro – Porque
não é um Strigoi, pensei com raiva. Nunca seriam capazes de capturar um vivo –
Eles infectam seres humanos decentes como nós, mas hoje vamos enviar uma de
volta ao inferno, uma que é particularmente insidiosa devido a sua capacidade de
ocultar sua verdadeira natureza e finge ser um dos demônios mais benignos, os
Moroi, com quem também lidaremos um dia. – Murmúrios de aprovação passou
pela multidão – Sem enrolação, antes de começar, uma de nossas irmãs
Alquimista gostaria de falar em nome dessa criatura.
A aprovação desapareceu, substituída por enojados e evidentes murmúrios.
Me perguntava inquieta se os guardiões manteriam suas armas apontadas para
mim se eu fosse atacada. O Mestre Angeletti levantou as mãos e os silenciou.
- Mostrarão respeito a nossa pequena irmã – disse - Os Alquimistas são
familiares, e uma vez, fomos um. Seria um acontecimento transcedental se
pudéssemos uma vez mais unir forças.
Com isso, se sentou e me fez um gesto. Nada mais foi oferecido e assumi
que isto significava que a palavra era minha. Não estava de todo segura do que se
supunha que deveria expor de meu caso nem onde. O conselho tomava as
decisões, mas isso parecia algo que todos deveriam escutar. Me coloquei de pé e
esperei que a garota com a arma fosse me impedir de novo. Ela não fez. Pouco a
pouco, com cuidado, fiz meu caminho para baixo dos terraços e parei na arena,
consciente de não chegar muito perto de Sonya. Não acreditava que seria melhor.
Mantive meu corpo em ângulo para o conselho mas voltei minha cabeça de
uma maneira que esperava chegar aos demais. Havia dado reportes e
apresentações antes, mas sempre em uma sala de conferências. Nunca havia
abordado uma multidão furiosa, e muito menos falado com um grupo tão grande
sobre assuntos de vampiros. A maioria dos rostos ali estavam encobertas pelas
sombras, mas eu podia imaginar todos esses olhos enojados e sedentos de
sangue fixos em mim. Sentia minha boca seca, e, o que foi um fenômeno raro,
minha mente estava em branco. Um momento depois, fui capaz de empurrar
através de meu medo – o que certamente não desapareceu – e recordei o que
queria dizer.
- Estão cometendo um erro – comecei. Minha voz era pequena e clareei a
garganta, obrigando-me a projetar e soar mais forte – Sonya Karp não é um
Strigoi.
- Temos registros dela em Kentucky – interrompeu o Mestre Jameson –
Testemunhas que a viram matar.
- Isso porque ela era um Strigoi aquela época. Mas ela já não é mais. – Não
deixava de pensar que a tatuagem me impediria de falar, mas este grupo já estava
muito consciente do mundo vampírico. – No último ano, os Alquimistas tem
aprendido muito sobre os vampiros. Vocês devem saber que os Moroi, vocês os
chamam de “demônios benignos”, praticam magia elementar. Recentemente
descobrimos que há um novo e raro tipo de magia, uma que está ligada aos
poderes psíquicos e a cura. Esse poder tem a capacidade de restaurar Strigoi de
novo a sua forma original, seja ele humano, dhampir ou Moroi.
Uns poucos raivosos se levantaram rapidamente em um frenesí. A
mentalidade da multidão em ação. O Mestre Jameson tomou isso como para
acalmá-los de novo.
- Isso – disse simplesmente – é impossível.
- Temos documentado o caso de três, não, quarto pessoas que aconteceu
isso. Três Moroi e um dhampir que uma vez foram Strigoi e agora estão em
posição de seus seres originais e almas. – Falar sobre Lee no tempo presente não
era de todo exato, mas não havia necessidade de esclarecer. E descrever um
antigo Strigoi que queria se converter em Strigoi outra vez provavelmente não
ajudaria no meu caso – Olhem-na. Ela parece Strigoi? Ela está fora, no sol. – Não
havia muito sol, mas esses fugazes raios de sol matariam a um Strigoi. Com a
maneira com que eu suava de medo, bem poderia ter estado em um ardente sol
de meio de tarde – Seguem dizendo que isso é obra de uma magia retorcida, mas
alguma vez, apenas uma vez, a viram em forma de Strigoi aqui em Palm Springs?
Ninguém reconheceu isso de imediato. Finalmemte, o Mestre Angeletti,
disse.
- Ela derrotou nossas forças na rua. Obviamente voltou a sua forma
verdadeira.
- Ela não fez isso. Dimitri Belikov fez, um dos melhores guerreiros dhampirs
aí fora. Não se ofenda, mas apesar de todo o treinamento, seus soldados foram
superados irremediavelmente. – Vi os olhares mais agressivos. Me dei conta de
que provavelmente não era a melhor coisa que pudesse ter dito.
- Você foi enganada. – disso o Mestre Angeletti – Não é de estranhar já que
sua gente a tempos se enreda atrás das cenas com os Moroi. Não são como nós,
nas trincheiras. Vocês não enfrentam cara a cara os Strigoi. São criaturas
malvadas, sedentas de sangue que devem ser destruídas.
- Estou de acordo com isso. Mas Sonya não é um deles. Olhem-na. – Eu
estava ganhando valor, minha voz cada vez mais forte e mais clara na noite do
deserto. – Seguem presumindo a captura de um monstro terrível, mas tudo o que
vejo é uma mulher drogada e comedida. Bom trabalho. Na verdade um inimigo
digno.
Ninguém do conselho parecia quase tão tolerante como haviam estado
antes.
- Nós simplesmente a submetemos – disse o Mestre Ortega – É um sinal de
nossa destreza que fomos capazes de fazê-lo.
- Submeteram uma mulher inocente e indefesa. – Não sabia se enfatizando
este ponto poderia ajudar, mas pensei que não seria mal se tinham pontos de
vista retorcidos e cavalheirescos das mulheres – E sei que tem cometido erros
antes. Sei sobre Santa Cruz – Não tinha ideia se este havia sido o mesmo grupo
cujos homens haviam ido atrás de Clarence, mas estava apostando que pelo
menos o conselho sabia. – Alguns de seus membros mais entusiastas foram atrás
de um Moroi inocente. Vocês viram os erros de seus métodos quando Marcus
Finch disse a verdade. Tampouco é demasiado tarde para corrigir este erro.
Para minha surpresa o mestre Ortega sorriu.
- Marcus Finch? Você o está colocando como uma espécie de herói?
Não exatamente, não. Nem sequer conheço o tipo. Mas se ele era um ser
humano que falava em tom condescendente com estes loucos, então deve ter
algum tipo de integridade.
- Porque não haveria de colocar? – perguntei – Ele foi capaz de diferenciar o
bem do mal.
O Mestre Angeletti começou a rir agora.
- Nunca tinha esperado um alquimista falar do sentido de “bem e mal”.
Pensei que seus próprios pontos de vista disso eram irremovíveis.
- Do que está falando? – Não pretendia descarrilar, mas estes comentários
eram muito desconcertantes.
- Marcus Finch traiu os alquimistas – explicou o mestre Angeletti – Não
sabia? Supus que um alquimista renegado seria a última pessoa que usaria para
advogar por seu caso.
Estava momentaneamente sem fala. Estava dizendo...estava dizendo que
Marcus Finch era um alquimista? Não. Não pode ser. Se ele tivesse sido, então
Stanton sabia quem ele era. A menos que ela mentiu sobre não ter nenhum
registro dele, uma voz em minha cabeça advertiu.
O Mestre Jameson aparentemente ouviu o bastante de mim.
- Nós apreciamos que tenha vindo aqui e respeitamos sua intenção de
defender o que acredita ser verdade. Assim mesmo, nos alegra que foi capaz de
ver o quão fortes estamos convertidos. Espero que leve esta notícia quando voltar
a seu grupo. Em todo caso, suas intenções aqui demonstraram o que sabemos
por muito tempo: os grupos precisam se juntar. Claramente, os alquimistas tem
recolhido uma grande quantidade de conhecimentos ao longo dos anos que
poderiam ser úteis para nós, assim como nossa força pode ser útil para vocês.
Sem mais...- Olhou para Sonya e franziu o cenho – o ponto segue sendo que
agora, qualquer que sejam suas intenções, realmente foi enganada. Inclusive há
uma pequena possibilidade impossível de que tenha razão, que ela realmente seja
uma Moroi...não podemos tomar a possibilidade de que talvez esteja corrompida.
E se ela acredita que foi restaurada, poderia ser influenciada subconscientemente.
Uma vez mais fiquei sem palavras, mas não porque parecia ter perdido meu
caso. As palavras do Mestre Jameson foram quase idênticas a que o pai de Keith
havia dito, quando me disse que Keith teria que voltar para a re-educação. O Sr.
Darnell havia feito eco deste sentimento, que não poderia correr o risco de que um
pouco de influência sutil afetara Keith. Ações extremas haviam sido requeridas.
Somos o mesmo, pensei. Os alquimistas e os guerreiros. Os anos nos tinha
dividido, mas viemos do mesmo lugar, tanto em nossos objetivos quanto em
nossas atitudes cegas.
Então o Mestre Jameson disse o mais impactante de tudo.
- Inclusive se é só um Moroi, não é uma grande perda. Iremos buscar eles
eventualmente de todos os modos, uma vez que tivemos derrotado os Strigoi
Fiquei gelada ante essas palavras. A garota loira me cercou e de novo me
obrigou a sentar na primeira fila. Não ofereci resistência, muito surpreendida pelo
que acabara de ouvir. O que quiseram dizer com buscar os Moroi? Sonya podia
ser só o início e logo o resto dos meus amigos, e logo Adrian...
O Mestre Angeletti me trouxe de volta para o presente. Fez um grande gesto
para Chris enquanto falava.
Chris pegou a espada, com um brilho fanático em seus olhos. Uma sentelha
feliz, inclusive. Ele queria fazer isso. Queria matar. Dimitri e Rose haviam matado
muitas e muitas vezes, mas ambos haviam dito que não havia alegria nisso.
Estavam contentes de fazer o certo e defender os demais, mas não desfrutavam
trazendo a morte. Havia aprendido que a existência de vampiros era incorreta e
torcida, mas o que estava a ponto de presenciar era a verdadeira atrocidade.
Estes eram os monstros.
Queria gritar, chorar ou me jogar na frente de Sonya. Estávamos a um passo
da morte de uma pessoa brilhante e afetuosa. Então, sem aviso prévio, o silêncio
da arena foi preenchido com armas de fogo. Chris se deteve e levantou a cabeça
com surpresa. Estremeci e olhei imediatamente para a escolta armada,
perguntando-me se tomariam sobre si mesmo para se converter em um pelotão de
fusilamento. Pareciam tão surpreendidos quanto eu, bom, a maioria deles. Dois
deles não mostraram muita emoção, porque despencaram no solo.
E foi então quando Dimitri e Eddie irremperam pela arena.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 21
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às 17:11
Marcadores: Bloodlines, O Lírio Dourado
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