A mistura que eu precisava era fácil. Para começar eu precisaria de um par de dias. Primeiro tinha prestado atenção ao tipo de shampoo que Laurel utilizava nos chuveiros de EF. A escola fornecia shampoo e condicionador, é claro, mas ela não queria confiar em algo tão banal para o seu cabelo precioso. Uma vez que conheci a marca, fui comprar o produto a uma loja de beleza ali perto e esvaziei o conteúdo pelo ralo abaixo. Em seguida, enchi as garrafas com a minha mistura caseira. O passo seguinte foi trocar a garrafa pela de Laurel. Eu recrutei Kristin para fazer isso. Seu armário era ao lado do dela em EF, e ela estava mais do que disposta para me ajudar. Parte disso era que ela partilhava a nossa aversão por Laurel. Mas também, por eu a ter salvo daquela reacção com a tatuagem, Kristin havia deixado claro que ela estava em divida para comigo e que eu poderia contar com ela no que eu precisasse. Eu não gostei da ideia de ela me estar a dever, mas a sua ajuda veio a calhar. Ela aproveitou o momento em que Laurel estava a olhar para alem do cacifo desbloqueado dela e fez a troca rapidamente. Agora só tínhamos que esperar que Laurel utilizasse novamente o shampoo e ver os resultados da minha obra. Enquanto isso, a minha outra experiência de laboratório não estava recebendo a reacção que eu esperava. Ms. Terwilliger aceitou o meu relatório, mas não o amuleto. –Não tenho nenhum uso para ele–, ela comentou, olhando por cima dos papéis que eu lhe entreguei. –Bem…eu certamente também não, minha senhora.– Ela colocou os papéis para baixo. –Isto tudo é verdade? Você seguiu todos os passos com precisão? Eu certamente não tenho como saber se você, ah, saltou alguns detalhes.– Eu balancei minha cabeça. –Não. Segui todos os passos.–
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–Bem, então. Parece que você tem você mesmo um encanto fogoso.– –Senhora,– eu disse, meio que um protesto. Ela sorriu. –O que as indicações diziam? Jogar e recitar um último encantamento? Você sabe isso?– '–Em chamas, em chamas–, disse rapidamente. Depois de ter digitado o feitiço inicialmente para as suas notas e em seguida recriá-lo, era difícil não saber tudo. De acordo com o libro – que estava traduzido de latim para Inglês - a linguagem não importava desde que as palavras fossem pronunciadas com clareza. –Bem, está aí. Experimenta-o um destes dias e vê o que acontece. Só não pegue fogo a nenhuma propriedade da escola. Porque não é seguro.– Eu levantei o amuleto pela corrente. –Mas isto não é real. Isto é um absurdo. É um monte de lixo misturado dentro de um saco.– Ela encolheu os ombros. –Quem somos nós para questionar os antigos?– Olhei, tentando descobrir se ela estava brincando. Eu sabia que ela era excêntrica desde o primeiro dia, mas ela ainda se parecia como uma grande investigadora. –Você pode não acreditar nisto. Magia como esta…não é real.– Sem pensar acrescentei, –Mesmo que fosse, minha senhora, não é para os humanos mexerem com os poderes por aí.– Ms. Terwilliger ficou em silêncio por vários momentos. –Você realmente acredita nisto?– Eu peguei a cruz do meu pescoço. –Foi como eu fui ensinada.– –Entendido. Bem, então, você pode fazer o que quiser com o amuleto. Jogá-lo fora, doá-lo, experimenta-lo. Independentemente disso, este relatório é o que eu preciso para o meu livro. Obrigado por disponibilizar tempo - como sempre, você fez mais do que era necessário.– Eu coloquei o amuleto na minha bolsa quando saí sem ter a certeza do que realmente fazer. Isto era inútil… e ainda, isto também me custou muito tempo. Fiquei decepcionada por aquilo não ter um propósito mais significativo na sua pesquisa. Todo esforço foi para o lixo. No entanto, o meu último projecto mostrou desenvolvimento do dia seguinte. Em Quimica avançada, Greg Slade e alguns de seus amigos correram para a aula assim que a campainha tocou. Nosso professor deu-lhes um olhar de advertência, mas eles nem sequer notaram. Slade exibia a sua tatuagem de águia, expondo-a para todo mundo ver. A tinta estava novamente prata brilhante. Próximo a ele, um dos seus amigos também mostrava orgulhosamente outra tatuagem de prata. Era um desenho convencional de um
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par de adagas cruzados, que era apenas um pouco menos viscosa do que a águia. Este era o mesmo amigo que tinha estado preocupado no início desta semana por não ser capaz de conseguir uma tatuagem. Aparentemente, as coisas tinham dado certo com o fornecedor. Interessante. Ter adiado o envio dos relatórios para os Alquimistas tinha sido para ver se Nevermore iria repor o que eu tinha roubado. –É incrível–, disse o amigo de Slade. –A pressa–. –Eu sei.– Slade lhe deu um soco no ombro. –Mesmo a tempo para amanhã.– Trey observava-os com uma expressão escura. –O que á amanhã?–, sussurrei para ele. Ele continuou a olhar com desprezo para eles antes de se voltar para mim. –Você vive debaixo da pedra? É o nosso primeiro jogo em casa.– –É claro–, disse. Minha experiência do ensino médio não seria completa sem a excelente campanha publicitária do futebol. –Muita coisa boa isto me vai fazer–, ele murmurou. –Ainda não te tiraram o curativo–, eu apontei. –Sim, mas o treinador está me fazendo ter calma com isto. Além disso, eu sou uma espécie de peso morto agora.– Ele balançou a cabeça em direcção a Slade e ao seu amigo. –Como é que eles não ficam em apuros com aquilo? Eles não estão fazendo nenhum esforço para as esconder. Esta escola não tem mais disciplina. Estamos praticamente na anarquia.– Eu sorri. –Praticamente–. –O seu irmão devia estar na equipe, sabe. Eu vi ele em EF. Ele poderia ser um grande atleta se ele se incomodasse a tentar por nada.– –Ele não gosta de chamar a atenção para si mesmo,– expliquei. –Mas ele provavelmente vai assistir ao jogo.– –Você está indo assistir ao jogo?– –Provavelmente não–. Trey arqueou uma sobrancelha. –Um encontro escaldante?– –Não! Mas eu apenas…bem, não costumo assistir esportes. E eu sinto que devo ficar com a Jill.– –Você não vai mesmo aplaudir-me?– –Você não precisa dos meus aplausos.– Trey me deu um olhar de decepção como resposta. –Talvez seja melhor assim–, disse ele. –Uma vez que você realmente não iria conseguir me ver realizando o meu incrível alto nível.–
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–Isso é uma vergonha–, eu concordei. –Oh, pare já com o sarcasmo.– Ele suspirou. –Meu pai vai ser o mais chato. Existe expectativas na família.– Bem, isso era algo que eu podia entender. –Ele é um jogador de futebol também?– –Nah, é menos sobre o futebol em si do que manter a forma física no auge. Excelência. Pronto para ser chamado em qualquer momento. Ser o melhor na equipe foi uma maneira de o orgulhar - até que essas tatuagens começaram.– –Você é muito bom, sem qualquer ajuda de uma tatuagem. Ele deveria continuar a se orgulhar–, disse. –Você não conhece o meu pai.– –Não, mas eu acho que conheço alguém como ele.– sorri. –Sabe, afinal de contas eu talvez precise de ir a um jogo de futebol.– Trey simplesmente sorriu de volta e a aula começou. O dia decorreu calmamente, até Jill correr para mim assim que entrei no vestiário para EF. –Eu ouvi de Lia! Ela perguntou se eu poderia passar por lá hoje à noite. Ela teve a praticar com as outras modelos, mas pensou que eu poderia precisar de uma sessão especial, uma vez que eu não tenho nenhuma experiência. Agora esta é a coisa, eu…você sabe, preciso de uma carona. Você acha…Quero dizer, você poderia…– –Claro–, disse. –É por isso que estou aqui.– –Obrigado, Sydney!– Ela jogou os braços ao redor mim, para minha grande surpresa. –Eu sei que você não tem motivo nenhum para me ajudar depois de tudo o que eu fiz, mas…– –Está tudo bem, está tudo bem–, disse acariciando-lhe desajeitadamente o ombro. Eu respirei firme. Pense que é Jill me abraçando. Não um vampiro me abraçando. –Fico feliz em ajudar.– –Será que vocês duas gostariam de ficar sozinhas?– Zombou Laurel, caminhando com sua comitiva. –Eu sempre soube que havia algo estranho na sua família.– Jill e eu nos separáramos e ela corou, o que só fez elas se rirem mais. –Deus, eu odeio elas–, disse Jill quando elas estavam fora do alcance da voz. –Eu realmente quero destrui-la.– –Paciência–, murmurei. –Elas vão ver o que está por vir um dia destes.– Olhando para o cacifo de Laurel, eu pensei que ‘um dia destes’ podia estar para acontecer mais cedo ou mais tarde.
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Jill balançou a cabeça com espanto. –Eu não sei como você pode ser tão clemente, Sydney. Tudo corre imediatamente para você.– Sorri, imaginando o que Jill iria pensar se ela soubesse da verdade - que eu não era tão –clemente– como parecia. E não apenas quando se tratava de Laurel. Se Jill queria pensar que eu era daquele jeito, então que seja. Claro, minha fachada como sendo gentil foi revelada, mostrando a minha outra personalidade quando o grito de Laurel encheu o vestiário no final da aula uma hora depois. Foi quase uma repetição do incidente do gelo. Laurel saiu a gotejar do chuveiro, envolta numa toalha. Ela correu com horror para o espelho, segurando o seu cabelo para cima. –O que há de errado?–, perguntou uma das suas amigas. –Você não vê isto?–, gritou Laurel. –Há qualquer coisa de errado…Isto não está bem. É óleo…ou eu não sei!– Ela pegou num secador de cabelo e começou a secar o cabelo, enquanto o resto de nós assistia com interesse. Depois de alguns minutos, os longos fios estavam secos, mas era difícil dizer. Era como se realmente o seu cabelo estivesse revestido em óleo ou graxa, como se ela não o tivesse lavado nas últimas semanas. O cabelo que normalmente era reluzente e brilhante, agora estava feio, fraco e pendurava-se em espiral. A cor também estava um pouco modificada. O vermelho brilhante e flamejante, agora tinha uma tonalidade de amarelo doentio. –Cheira estranho também–, exclamou ela. –Lave-o novamente–, sugeriu uma outra amiga. Laurel fez isso, mas não ia ajudar. Mesmo quando ela descobriu que era o shampoo que estava causando o problema, não ia adiantar, pois a mistura que eu tinha feito não sairia do seu cabelo facilmente. A água iria continuar alimentar a reacção e levaria muitas e muitas esfregadelas antes de ela corrigir o problema. Jill deu-me um olhar espantado. –Sydney?–, ela sussurrou com um milhão de perguntas no meu nome. –Paciência–, assegurei-lhe. –Isto foi apenas a primeira acção.– Naquela noite, levei Jill até á boutique de Lia DiStefano. Eddie foi connosco, é claro. Lia era apenas alguns anos mais velha que eu e quase um tanto mais baixa. Apesar de seu tamanho minúsculo, havia algo grande e forte na sua personalidade quando ela nos confrontou. A loja estava cheia de trajes elegantes e vestidos, embora ela mesma estivesse vestida casualmente com uns jeans rasgado e uma larga blusa camponês. Ela colocou o sinal fechado na sua porta e depois confrontou-nos com as mãos nos quadris. –Então, Jillian Melrose–, começou ela. –Temos menos de duas semanas para
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transformar-te numa modelo.– Seus olhos caíram sobre mim. –E você vai ajudar.– –Eu?– Exclamei. –Eu sou apenas a carona.– –Não se você quiser que a sua irmã brilhe no meu show.– Ela foi ter com Jill, a diferença de alturas era quase cômico. –Você tem que comer, beber e respirar passerelle se você estiver indo fazendo isto. E você tem que fazer tudo isto – com eles.– Com um floreio, Lia pegou numa caixa de sapato ali perto e tirou um par de sapatos roxo, brilhante e com um salto que tinha pelo menos cinco centímetros de altura. Jill e eu paralisamos. –Ela já não é alta o suficiente?– perguntei por fim. Lia bufou e trouxe os sapatos até Jill. –Estes não são para o show. Mas uma vez que você dominar estes, você estará pronta para qualquer coisa.– Jill pegou-os cautelosamente, segurando-os para os estudar. Os saltos me lembravam as estacas de prata que Eddie e Rose usavam para matar Strigoi. Se Jill realmente queria estar preparada para qualquer situação, bastava ela manter os saltos por perto. Consciente da nossa análise, ela finalmente trocou as suas sandálias marrom - presas por tiras muito elaboradas – pelos sapatos roxo. Uma vez calçados, ela se levantou lentamente e quase caiu. Eu rapidamente saltei para a segurar. Lia acenou com a cabeça em aprovação. –Vê? Isto é o que eu estava falando. Trabalho de equipe entre irmãs. Cabe a você ter certeza que ela não cai e quebre o seu pescoço antes do meu show.– Jill me lançou um olhar de pânico que eu suspeitei que refletia no meu próprio rosto. Comecei a sugerir que Eddie podia ser o suporte de Jill, mas ele tinha discretamente se afastado para o canto da loja e parecia ter escapado à atenção de Lia. Aparentemente, os seus serviços de proteção tinha limites. Enquanto Jill simplesmente tentava não tombar, eu ajudei Lia a arranjar espaço livre no centro da loja. Lia, em seguida, passou mais ou menos a hora seguinte a demonstrar como se andava adequadamente na passerelle, com ênfase na postura e passo firme a fim de exibir em todos os ângulos as roupas. A maioria desses detalhes ficaram perdidos para Jill, no entanto, ela simplesmente lutava para atravessar a sala sem cair. Graça e beleza não era tão preocupante como ficar em pé. No entanto, quando eu olhei para Eddie, ele assistia Jill com um olhar absorto em seu rosto, como se cada passo que ela dava era pura magia. Ele captura o meu olhar e imediatamente retomou ao seu olhar cuidadoso de Guardião. Eu fiz o meu melhor ao oferecer palavras de encorajamento a Jill - e sim, impedi-la de
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cair e quebrar seu pescoço. A meio da sessão, ouvimos um bater no vidro da porta. Lia fez uma carranca e em seguida reconheceu o rosto do outro lado da porta. Ela se animou e foi destrancar a porta. –Mr. Donahue –, disse ela, deixando Lee dentro. –Veio ver como a sua estrela está brilhando? – Lee sorriu, seus olhos cinzentos instantaneamente procuraram os de Jill. Jill encontrou seu olhar e sorriu amplamente. Lee não tinha estado por perto na última alimentação, e embora falassem constantemente ao telefone e nas mensagens instantâneas, eu sabia ela estava numa excitação para o ver. Um olhar ao rosto de Eddie, me mostrou que ele não estava tão encantado com a presença de Lee. –Eu já sei como ela brilha–, disse Lee. –Ela é perfeita.– Lia bufou. –Eu não iria tão longe.– –Hey,– disse quando uma impressionante inspiração me surgiu. –Lee, você quer ser responsável por segurar em Jill e a impedir de quebrar seu pescoço? Eu preciso de entregar um recado.– Previsivelmente, Lee estava mais do que disposto e eu sabia que não precisava temer pela segurança dela com o Eddie a supervisionar. Deixei-os, correndo mais duas ruas até chegar a Nevermore. Desde que eu ouvi Slade e seus amigos confirmarem que os tatuadores estavam novamente no activo, eu queria pagar uma viagem em pessoa. Embora desta vez não escondida. Os bens roubados já revelaram as suas evidências. Exceto o líquido claro, eu tinha identificado todas as outras substâncias dos frascos. Todos os metais eram cópias exatas dos compostos Alquimistas, significando que essas pessoas tinham uma ligação com os Alquimistas ou então eles roubavam. De qualquer maneira, meu caso crescia cada vez mais forte. Eu só esperava que isto fosse suficiente para me redimir e livrar a Zoe disto aqui, particularmente uma vez que o tempo estava correndo com a sua chegada. Já tinha passado uma semana desde que meu pai havia dito que ela me iria substituir. Meu plano era ver a disponibilidade com que Nevermore me daria uma tatuagem. Eu queria saber quais eram os avisos (se houvesse algum) que eles davam e se era fácil logo à primeira. A conversa de Adrian não tinha rendido muita mais informação, mas provavelmente a sua tatuagem de um motoqueiro-esqueleto-com-fogo-com-um papagaio não tinha feito muito para ajudar na sua credibilidade. Eu estava armada com dinheiro hoje, o que eu esperava que me levasse a algum lugar. Como era, eu nunca precisei de nenhum lampejo. Assim que entrei, o cara atrás do balcão - o mesmo que tinha falado com Adrian - pareceu aliviado.
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–Graças a Deus–, disse ele. –Por favor me diga que você tem mais. Essas crianças estão me deixando louco. Quando nós entramos nisto… Eu não tinha ideia que ia ser tão grande. O dinheiro é bom, mas Cristo. É uma loucura continuar com isto.– Eu mantive minha confusão fora do meu rosto, perguntando o que diabos ele estava falando. Ele agia como se eu estivesse dentro do esquema aqui, o que não fazia sentido. Mas então, seus olhos brilharam na minha bochecha, e de repente entendi. Minha tatuagem em forma de lírio. Estava descoberta desde que a escola tinha terminado. E eu sabia, com absoluta certeza, que quem estava a arranjar suprimentos para ele trabalhar, era também um Alquimista. E ele assumiu que a minha tatuagem fazia de mim aliada. –Eu não tenho nada comigo–, disse. Seu rosto caiu. –Mas a demanda…– –Você perdeu o outro lote,– disse arrogantemente. –Você deixou-o ser roubado mesmo em frente do seu nariz. Você sabe quantos problemas tivemos para conseguir arranjar aquilo? – –Eu já expliquei para o seu amigo!–, exclamou ele. –Ele disse que entendia. Ele disse que tinha tratado do assunto e que não valia a pena nos preocupar mais.– Havia um sentimento afundando-se na boca do estômago. –Sim, bem, ele não fala por todos nós, e não temos a certeza se queremos continuar. Você foi comprometido.– –Nós temos cuidado–, ele argumentou. –Esse roubo não foi culpa nossa! Agora, puf, por favor. Você tem que nos ajudar. Será que ele não lha disse? Há uma demanda enorme para amanhã, porque os miúdos da escola privada têm um jogo. Se nós conseguirmos faze-los todos, vamos fazer o dobro do dinheiro.– Eu lhe dei o meu melhor sorriso gelado. –Vamos discutir o assunto entre nós e voltar depois.– Com isso, me virei e comecei a sair. –Espere–, ele chamou. Lancei-lhe em olhar superior. –Você pode fazer com que essa pessoa pare de telefonar?– –Que pessoa?– perguntei, querendo saber se ele queria dizer algum estudante persistente de Amberwood. –A que tem uma voz estranha, que me pergunta sempre se alguém alto e pálido apareceu por aqui. Os que se parecem com vampiros. Achei que era alguém que você conhecia.– Alguém alto e pálido? Eu não gostei do som daquilo mas mantive o meu rosto em branco. –Desculpe. Não sei do que você está falando. Deve ter sido uma brincadeira.–
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Saí, fazendo uma anotação mental para investigar ainda mais. Se alguém estava perguntando sobre pessoas que pareciam vampiros, isso era um problema. No entanto, não era o problema imediato. Minha mente corria enquanto eu processava mais sobre o que o tatuador tinha dito. Havia um Alquimista fornecendo Nevermore. Em alguns aspectos, não devia ser uma surpresa. De que outra forma eles conseguiam arranjar sangue de vampiro e todos os metais necessários para as suas tatuagens? E, aparentemente, este desonesto Alquimista tinha ‘tratado do assunto’ que levara ao roubo dos suprimentos deles. Quando foi que meu pai ligou para mim dizendo que eu estava sendo tramada por causa dos relatórios de Keith? Logo depois de eu ter investigado á socapa Nevermore. Eu sabia quem era o desonesto Alquimista. E eu sabia que eu tinha sido ‘o assunto’. Keith tinha tomado cuidado comigo, fazendo movimentos para me tirar de Palm Springs e trazer alguém novo e inexperiente para que não se interferisse com a sua operação ilícita de tatuagens. Era por isso que ele queria Zoe em primeiro lugar. Fiquei horrorizada. Eu não tinha uma grande opinião sobre Keith Darnell, não de qualquer maneira. Mas eu nunca, nunca tinha pensado que ele pudesse chegar a este nível. Ele era uma pessoa imoral, mas ele cresceu com os mesmos princípios com que eu cresci sobre os humanos e vampiros. Para ele abandonar essas crenças e expor inocentes aos terríveis efeitos colaterais do sangue de vampiro para seu próprio ganho… bem, era mais do que uma traição aos Alquimistas. Era uma traição á raça humana inteira. Minha mão estava no celular pronto para chamar Stanton. Isto seria o bastante. Uma chamada com o tipo de notícias que eu tinha, e os alquimistas arrebatariam em Palm Springs - e em Keith. Mas e se não houvesse nenhuma prova solida para conectar a Keith? Era possível outro Alquimista entrar lá e jogar o mesmo jogo que eu, ficando o tatuador a pensar que eles faziam parte da equipe de Keith. No entanto, Keith era quem eu queria tramar. Eu queria garantir que não havia nenhuma maneira de ele poder escapar desta. Tomei uma decisão e ao invés de ligar para os Alquimistas, liguei para o Adrian. Quando voltei para a loja de Lia, eu encontrei a sessão de treino terminada. Lia estava dando a Jill algumas instruções de última hora, enquanto Eddie e Lee pairava nas redondezas. Eddie deu uma olhada ao meu rosto e imediatamente soube que algo estava errado. –Qual é o problema?–
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–Nenhum–, disse suavemente. –Apenas um problema que eu vou corrigir em breve. Lee, você se importaria de levar Jill e Eddie de volta para a escola? Eu ainda tenho alguns recados para fazer. – Eddie franziu o cenho. –Você está bem? Você precisa de alguém para a proteger?– –Eu vou ter alguém.– Reconsiderei, uma vez que estava prestes a me encontrar com Adrian. –Bem, mais ou menos. Enfim, eu não estou em apuros. Seu trabalho é manter um olho em Jill, lembra? Obrigada Lee, –adicionei, vendo-o a acenar. Lembrei-me de uma coisa de repente. –Espere…Eu pensava que este era um dos dias que você tinha um curso noturno. Nós estamos mantendo você…ou…tipo, em que dias você tem aulas? – Eu nunca tinha pensado muito sobre isso, só me apercebia que havia alguns dias em que Lee estava por perto e outros em que ele estava em Los Angeles. Mas pensando bem, não havia um padrão lógico. Eu vi que o rosto de Eddie se iluminou também. –É verdade–, disse ele, olhando com suspeita para Lee. –Que tipo de horário você tem?– Lee abriu a boca, e eu senti que uma história pronta vinha por aí. Então ele parou e lançou um olhar ansioso á Jill, que ainda estava conversando com Lia. Seu rosto caiu. –Por favor, não diga a ela–, ele sussurrou. –Dizer-lhe o quê?– Perguntei, mantendo a minha voz baixa também. –Eu não estou na faculdade. Quero dizer, eu estava. Mas não este semestre. Eu queria algum tempo livre, mas…não quero desapontar meu pai. Então, eu lhe disse que estava apenas a tempo parcial, que era por isso que eu estava mais por perto.– –O que você faz em Los Angeles durante todo este tempo, então? –, Perguntou Eddie. Era uma excelente pergunta. –Eu ainda tenho amigos lá e eu preciso manter a minha fachada.– Lee suspirou. –É estúpido eu sei. Por favor - deixe- me ser o único a lhe dizer. Eu queria tanto impressioná-la e provar a mim mesmo para ela. Ela é maravilhosa. Ela apenas me pegou num momento ruim.– Eddie e eu trocamos olhares. –Eu não vou dizer,– afirmei. –Mas você realmente devia deixá-la saber. Quer dizer, eu acho que não vai haver nenhum dano…mas você não deve ter esse tipo de mentira entre vocês.– Lee olhou miserável. –Eu sei. Obrigado –. Quando ele se afastou, Eddie balançou a cabeça para mim. –Eu não gosto dele mentindo. Não de todo.– –Lee tentando salvar a pele é a coisa menos estranha por aqui, – disse.
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Descobri então que Jill podia andar de um lado para o outro da loja e rodopiar sem cair mais. Não era bonito, mas era um começo. Ela ainda tinha um longo caminho a percorrer para se parecer com as modelos que eu via na TV, mas considerando que ela não tinha sido capaz de estar em cima dos sapatos em primeiro lugar, eu supos que ela tinha feito um progresso considerável. Ela começou a tirar o salto, mas Lia parou. –Não. Eu disse a você. Você tem que usar estes sapatos todo o tempo. Prática, prática, prática. Usá-los em casa. Usá-los em todo o lado.– Ela se virou para mim. –E você…– –Eu sei. Certificar-me que ela não quebra o pescoço, –afirmei. –Ela não vai ser capaz de os usar o tempo todo, no entanto. Nossa escola tem um código de vestimenta.– –E se eles estivessem uma cor diferente?–, perguntou Lia. –Eu não acho que é apenas a cor–, disse Jill se desculpando.–Eu acho que é a parte do uniforme. Mas eu prometo usá-los fora da aula e praticar no nosso quarto.– O que foi bom o suficiente para Lia e, depois de mais algumas palavras de conselho, ela nos deixou seguir caminho. Nós prometemos praticar e voltar dali a dois dias. Eu disse a Jill que eu me encontraria com ela mais tarde, mas eu não sei se ela ouviu. Ela estava tão enredada na ideia de Lee a levar até sua casa que praticamente tudo o resto passou por ela. Eu corri para a casa de Clarence e fui recebida na porta por Adrian. –Uau–, disse impressionado com sua iniciativa. –Eu não esperava que você estivesse pronto tão rapidamente.– –Eu não estou–, disse ele. –Eu preciso que você veja algo agora.– Eu fiz uma careta. –Ok–. Adrian me levou até aos fundos da casa, para além de onde eu normalmente ia, o que fez ficar nervosa. –Tens certeza que isso não pode esperar? Esta coisa que tenho que fazer é tipo urgente…– –Então é isto. Como Clarence lhe pareceu da última vez que você o viu? – –Estranho.– –Mas de boa saúde?– Eu pensei sobre isso. –Bem, eu sei que ele está cansado. Mas normalmente ele parecia bem. – –Sim, bem, ele não está ‘bem’ agora. Está para além de apenas cansado. Ele está fraco, com tonturas e confinado em sua cama.– Chegamos a uma porta de madeira fechada e Adrian parou. –Você sabe o que causou isso?– Perguntei alarmada. Eu estava preocupada com as complicações de um doente Moroi, mas não esperava lidar com isto tão cedo.
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–Eu tenho uma boa ideia–, disse Adrian com uma surpreendente ferocidade. –O teu rapaz Keith.– –Pare de dizer essas coisas. Ele não é ‘meu rapaz’ – exclamei. –Ele está arruinando minha vida!– Adrian abriu a porta revelando uma grande e ornamentada cama de dossel. Estar num quarto de um Moroi não era algo com que eu estava confortável, mas o olhar de comando do Adrian era muito poderoso. Eu segui-o e suspirei quando vi Clarence deitado na cama. –Somos só nós–, disse Adrian ao velho homem. Clarence procurou com os olhos o som da voz e depois fechou-os novamente como se estivesse a dormir. No entanto, não foi os seus olhos que me chamaram a atenção. Era a palidez, ele estava com uma doentia palidez - isso e a ferida sangrenta no pescoço de Clarence. Era pequena, feita apenas por uma picada como se tivesse sido um instrumento cirúrgico a faze-la. Adrian olhou para mim com expectativa. –Bem, Sage? Você tem alguma ideia por que Keith drenaria o sangue de Clarence?– Engoli em seco, mal conseguindo acreditar no que estava vendo. Aquilo era a última peça do puzzle. Eu sabia que Keith era o fornecedor dos tatuadores e agora sabia onde ele ia arranjar o seu ‘material’. –Sim–, disse por fim com voz pequena. –Eu tenho uma ótima ideia.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 21
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às 12:12
Marcadores: Laços de Sangue
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