Se ouvia disparos na arena, derrubando vários Guerreiros armados.
Compreendi que Dimitri e Eddie não estavam sozinhos, porque nenhum deles
tinha uma arma. Os disparos vinham dos edifícios que rodeavam a arena. Desatou
o caos quando os espectadores reunidos se colocaram de pé para participar da
briga. Minha respiração parou quando me dei conta de que muitos deles também
tinham suas próprias armas. Me surpreendi ao notar que o Guerreiro caído ao solo
junto a mim não sangrava. Um pequeno dardo estava em seu ombro. As “balas”
dos franco atiradores deviam ser tranquilizantes. Quem eram?
Olhei para a entrada e vi que alguns outros com aspecto de guardiões
haviam entrado na arena e estavam lutando com alguns dos Guerreiros, incluindo
Chris. Isso dava a Dimitri e Eddie a cobertura para libertar Sonya. Um flash de
cabelo vermelho chamou minha atenção perto deles e reconheci a ágil figura de
Angeline. Dimitri cortou eficientemente as correias de Sonya e logo ajudou a
levantá-la com Eddie. Um Guerreiro entusiasta chegou a eles, e Angeline
rapidamente o nocauteou, como se tratasse de um orador motivacional.
Ao meu lado, um dos Mestres gritou.
- Peguem a garota Alquimista! Peguem-na como refém! Negociarão por ela!
A garota Alquimista. Correto. Essa seria eu.
No calor da batalha, quase ninguém o ouviu, exceto um. A garota loira
descolorida tinha conseguido escapar dos tranquilizantes. Saltou para mim. Minha
adrenalina entrou em ação e de pronto eu não tive medo. Com reflexos que não
sabia que tinha, coloquei a mão na bolsa e peguei o potpourri. Abri e o lancei ao
redor de mim, gritando uma conjuração em latim que traduzia basicamente como
“não veja mais”.
Comparado com o feitiço da bola de cristal, este era surpreendentemente
fácil. Requeria vontade de minha parte, certamente, mas a maior parte da magia
estava ligada aos componentes físicos e não necessitava das horas de
concentração que o outro demandava. O poder se elevou dentro de mim quase
instantaneamente, dando-me uma emoção que não havia antecipado.
A garota gritou e deixou cair sua arma, coçando os olhos. Os gritos de
consternação dos mestres sentados juntos a mim demostrava que eles também
haviam sido infectados. Havia lançado um feitiço de cegueira, que afetaria os que
estavam perto de mim por uns trinta segundos. Uma parte de mim sabia que usar
magia era mal, mas o resto de mim se sentia triunfante ao deter alguns destes
fanáticos, mesmo que temporariamente. Não desperdicei nada do precioso tempo.
Me levantei de onde estava sentada em um salto e atravessei a arena correndo,
longe dos combates perto da entrada.
- Sydney!
Não sei como consegui escutar meu nome por cima de todo esse ruído.
Olhando para trás de mim, vi Eddie e Angeline levando Sonya porta a fora.
Fizeram uma pausa, e uma expressão de dor cruzou o rosto de Eddie quando
olhava ao redor, avaliando a situação. Podia adivinhar seus pensamentos. Queria
que fosse com eles. A maioria dos Guerreiros reunidos haviam corrido para o
centro da arena, tentando deter o resgate de Sonya. Me superavam por muito,
criando um muro entre eu e meus amigos. Ainda quando não tivera que brigar
com ninguém, parecia impossível que pudesse passar despercebida, sobretudo
porque as pessoas gritavam “a garota alquimista”.
Sacudindo a cabeça redundantemente, fiz sinal para Eddie para que se fosse
sem mim. A indecisão apareceu em seu rosto e esperava que não tentasse passar
através da multidão para chegar a mim. Fiz sinal para a porta uma vez mais
instando-o a ir para fora. Sonya era a que estava incapacitada. Eu teria que
encontrar minha própria saída. Sem esperar para ver o que ele faria, dei a volta e
continuei pelo caminho que estava seguindo. Havia muito espaço aberto para
correr, menos Guerreiros para me deter.
Vários edifícios rodeavam a arena, alguns com portas e janelas. Fui até eles,
ainda que não tivesse nada com que quebrar os vidros. Duas das portas tinham
cadeados. Isso deixava duas sem cadeado. A primeira que tentei abrir tinha um
bloqueio invisível e não se abria. Frenética, corri para a segunda e ouvi um grito
atrás de mim. A garota loira descolorida tinha recuperado a visão e vinha atrás de
mim. Desesperadamente, girei a fechadura da porta. Nada aconteceu. Colocando
a mão em minha bolsa tirei o que os Guerreiros tinham confundido com sabonete
para as mãos. Eu peguei, derramando ácido sobre o metal. Derreteu ante meus
olhos. Tinha a esperança de que isso rompesse a fechadura. Golpeei a porta com
meu ombro e cedeu. Então me atrevi a olhar para trás. Minha perseguidora estava
no chão, outra vítima dos tranquilizantes.
Dei um suspiro de alívio e empurrei a porta. Havia esperado entrar em outra
garagem como a primeira que havia sido levada, mas em seu lugar me encontrei
em algum tipo de edifício residencial. Os corredores vazios giravam em uma e
outra direção e me senti desorientada. Todos estavam imersos na atividade da
arena. Passei por dormitórios improvisados, cheios de berços e maletas e
mochilas parcialmente desarrumadas. Quando vi o que parecia uma oficina, vacilei
na porta. Papéis cobriam uma grande mesa dobrável no interior, e me perguntei
se algum conteria informações úteis sobre os Guerreiros.
Morria de vontade de entrar e investigar. Esses Guerreiros eram um mistério
para os Alquimistas. Quem sabia que informações continham estes documentos?
E se houvessem informações que podiam proteger os Moroi? Duvidei por um
espaço de umas poucas batidas de coração, logo, segui meu caminho. Os
guardiões estavam usando tranquilizantes, mas os Guerreiros tinham armas
autênticas...armas que não teriam medo de usar em mim. Melhor sair dali com a
informação que tinha, do que não sair com vida.
Finalmente cheguei ao outro lado do edifício e olhei por uma janela do
dormitório. O exterior estava tão escuro que apenas podia ver algo. Já não tinha o
benefício das tochas. O único que podia dizer com certeza era que já não estava
mais na arena. Isso era suficientemente bom para mim, ainda que tivesse sido
melhor se tivesse uma porta de saída. Teria que fazer a minha. Pegando uma
cadeira, golpeei a janela e me surpreendi completamente quando o vidro se
rompeu facilmente. Alguns fragmentos caíram em mim, mas nada grande o
suficiente para causar dano. De pé sobre a cadeira, me segurei para sair pela
janela sem ferir minhas mãos.
Fui recebida por uma noite cálida e escura. Não havia luzes elétricas visíveis
mais adiante, só o terreno aberto e escuro. Supus que isso significava que estava
no lado oposto do recinto por onde Trey havia me trazido. Não havia ruas, nenhum
som da estrada pela qual havíamos viajado. Tampouco havia sinais de vida em
algum lugar, o que tomei como um bom sinal. Com sorte todos os guardas
Guerreiros que normalmente patrulhavam os terrenos estariam lutando contra os
guardiões. Se Sonya já havia saído, minha esperança era que os guardiões
começassem a se retirar...e me levasse com eles. Se não fizessem, eu não estava
certa de caminhar para a I-10 e fazer uma paragem automática.
O recinto era extenso e confuso, e enquanto caminhava ao redor, não via
sinais da estrada, comecei a ficar inquieta. Quão longe haviam me levado? Só
tinha uma quantidade de tempo para sair da propriedade dos Guerreiros. Podiam
estar me caçando agora mesmo. Também tinha o desconcertante problema de
que quando chegasse ao portão, teria que passar pela cerca elétrica. Ainda assim,
poderia ser melhor esquecer a busca da auto estrada e simplesmente ir pelo
campo do acampamento dos Guerreiros para que pudesse...
Uma mão tocou meu ombro e eu gritei.
- Calma, Sage. Não sou nenhum louco pistoleiro. Louco, sim. Mas não o
resto.
Olhei incrédula, não que realmente pudesse distinguir muito a alta e escura
figura de pé junto a mim.
- Adrian? – A altura estava correta, também a textura. Conforme olhava, me
senti mais e mais segura. Suas mãos estabilizaram meu tremor. Estava tão feliz
de ver um rosto conhecido...de ver ele...que quase me afundei em seus braços de
alívio.
- É você? Como me encontrou?
- É o único ser humano aqui fora com uma aura amarela e roxa. – disse –
Faz com que seja fácil te identificar.
- Não, quero dizer. Como me encontrou aqui. Neste recinto?
- Segui os outros. Me disseram para não fazer, mas...bom – Debaixo da débil
luz da lua apenas pude ver seu encolher de ombros – Não sigo bem as instruções.
Quando Castille saiu com Sonya e começou a balbuciar sobre como havia saído
por alguma porta, pensei em dar uma volta rápida ao redor. Não acredito que
supunha que fizesse isso tampouco, mas os guardiões estavam ocupados.
- Está louco – disse, apesar de feliz por saber que não havia sido
abandonada neste miserável lugar – Os Guerreiros estão tão loucos que
provavelmente matariam um Moroi a primeira vista que tivessem.
Ele puxou minha mão para a frente. Mesmo através de sua brincadeira, tinha
um tom duro em suas palavras. Ele estava consciente do perigo que
enfrentávamos.
- Então é melhor sairmos daqui.
Adrian me levou de volta na direção que eu tinha vindo, em seguida, deu a
volta ao lado oposto do prédio. Eu não vi as luzes da auto-estrada ainda, mas ele
logo se virou e começou a correr em direção a borda mais distante da
propriedade, longe do edifício. Eu corri ao lado dele, ainda segurando sua mão.
- Onde vamos? – perguntei.
- Os Guardiões se reuniram na parte posterior, para não serem vistos. Essa
parte da cerca foi desativada...você pode escalá-la.
- Claro que posso escalá-la. Sou praticamente um prodígio na Educação
Física. – assinalei – a pergunta é, você pode senhor fumante?
A cerca começou a tomar forma a medida que ela bloqueava algumas
estrelas.
- Essa é a seção. Atrás do arbusto de aspecto selvagem. – disse Adrian. Não
podia ver nenhum arbusto mas confiava em seus olhos – Iremos um pouco mais
além dela, há uma rota rural que os guardiões utilizaram como um ponto de
parada. Estou estacionado ali.
Nos detivemos em frente a cerca, ambos um pouco sem alento. Olhei para
cima.
- Tem certeza de que está desligada?
- Estava quando entramos – disse Adrian, mas pude ouvir um pouco de
incerteza em sua voz – Você acha que esses caras teriam começado a agir em
conjunto o suficiente para já ter arrumado?
- Não – admiti – Mas ainda assim eu gostaria de ter certeza. Quero dizer, a
maioria das cercas elétricas comerciais não ferem alguém significativamente, mas
eu gostaria de saber.
Ele olhou ao redor.
- Podemos jogar um pedaço de pau?
- A madeira não é condutora – revirei minha bolsa e encontrei o que queria:
uma caneta de metal com cabo de espuma – Com sorte, a espuma bloqueará a
pior parte se a cerca estiver realmente ligada.
Tentando não fazer uma careta, me estiquei e toquei a cerca com a ponta da
caneta, esperando que uma intensa descarga me enviaria voando para trás. Não
aconteceu nada. Lentamente deslizei a caneta pela cerca, já que a maioria dos
objetos eletrificados tinham um pulso intermitente. Esse contato seria necessário.
- Parece limpo – disse, exalando com alívio e voltando para Adrian – Acredito
que podemos...ahh!
Uma forte luz brilhou em meus olhos, cegando-me e acabando com qualquer
visão noturna que tinha adquirido aqui fora. Ouvi Adrian gritar também de
surpresa.
- É a garota! – exclamou uma voz masculina – E...e um deles!
A lanterna foi retirada de meu rosto e alguns pontos seguiam dançando na
minha visão, pude distinguir duas figuras descomunais que nos cercavam
rapidamente. Estavam armados? Minha mente se acelerou.
Se estivessem ou não, continuavam sendo uma ameaça evidente já que ao
parecer, os Guerreiros gostavam de praticar batendo um no outro em seu tempo
livre e eu e Adrian não.
- Não se movam – disse um deles. Uma folha clareou pelo brilho da lanterna
que havia caído. Não tão mal quanto uma pistola, mas tampouco genial. – Ambos
venham conosco, de volta para dentro.
Desafortunadamente para eles, eu tinha alguns truques na manga.
Rapidamente coloquei a caneta em meu bolso e peguei outra das tarefas da Srta.
Terwilliger: um bracelete fino e redondo de madeira. Antes de que qualquer dos
Guerreiros pudesse fazer algo, rompi o círculo de madeira em quatro partes e
lançei ao chão, invocando outro encantamento em latim. Uma vez mais, senti a
emoção do poder e seu júbilo. Os homens gritaram, havia lançado um feitiço de
desorientação, um que arruinava o equilíbrio e deixava sua visão borrada e
surrealista. Funcionava muito parecido com o feitiço da cegueira, afetando os que
me rodeavam.
Me lancei pra frente e empurrei um dos nossos agressores para baixo. Caiu
facilmente, muito incapacitado pelo feitiço para resistir. O outro tipo estava tão
alterado que havia deixado cair a lanterna e estava praticamente no chão já que
seus intentos para se equilibrar fracassaram. Sem demorar, dei um bom chute no
processo. Não precisava necessariamente da visão noturna de Adrian, mas estes
dois estariam indefesos na escuridão enquanto o feitiço se desfazia.
- Sage! Que demônios você fez comigo?
Me virando, vi Adrian agarrado a cerca, utilizando-a para sustentar a si
mesmo. Em minha busca por deter os Guerreiros, esqueci que o feitiço afetava a
todos que estavam ao meu redor.
- Oh – disse – sinto muito.
- Você sente? Minhas pernas não funcionam!
- É seu ouvido interno, na realidade. Vamos. Segure a cerca e suba. Uma
mão depois da outra.
Me segurei à cerca também e o incentivei a subir. Não era a cerca mais fácil
de subir, não estava eletrificada e não tinha picos e tê-la de apoio diminuía um
pouco a desorientação de Adrian. Não obstante, ainda assim foi um processo
lento, mas fazíamos nosso caminho para cima. Esse feitiço durava um pouco mais
do que o da cegueira, mas eu estava dolorosamente consciente que assim como
quando Adrian estivesse livre do feitiço, os Guerreiros também estariam.
Contra todo o prognóstico, chegamos a parte superior da cerca. Passar por
cima, para o outro lado, foi muito mais difícil, e tive que fazer uma boa quantidade
de acrobacias para ajudar Adrian a fazer a transição enquanto eu permanecia
estável. Finalmente consegui colocá-lo na posição correta para descer.
- Bem – disse – agora só tem que reverter o que você fez antes, com uma
mão na frente da...
Algo escapou, ou sua mão ou seu pé, e Adrian desabou no chão. Não era
uma caída longa, e sua estatura ajudou um pouco...não é que ele estivesse em
condições de usar suas pernas e aterrizar de pé. Fez uma careta.
- Ou simplesmente pode tomar o caminho mais curto para baixo – disse.
Rapidamente desci até ele e o ajudei a se colocar de pé. A não ser a
debilitação pelo feitiço, ele não parecia ter sofrido nenhum dano. Deslizando um
braço ao redor dele e desejando que apoiasse seu peso em mim, tentei correr
pelo caminho que ele havia mencionado, agora ligeiramente visível. “Correr” era
difícil. Era difícil manter Adrian de pé e eu dava tombos continuamente. Saimos
lentamente do lugar, que era quase tanto quanto poderíamos esperar. O estado
de Adrian o deixava torpe e pesado, e sua altura era um verdadeiro inconveniente.
Então, sem prévio aviso, o feitiço se desvaneceu, e Adrian se recuperou num
instante. Suas pernas fortaleceram e seu passo, difícil de manejar, se indireitou.
De repente, foi como se ele me levasse e nós praticamente tropeçamos em nós
mesmo tentando nos adaptar.
- Está bem? – perguntei, deixando-o ir.
- Eu estou agora. Que demônios foi isso?
- Não é importante. O importante é que eles também se recuperaram. Talvez
tenha os golpeado o suficiente para reduzir sua velocidade. – Isso parecia algo
improvável. – Mas de todo modo é melhor corrermos.
Corremos, e sem dúvida ele tinha o sistema respiratório de um fumante
inveterado, suas pernas longas compensavam. Podia me deixar para trás
facilmente, mas desacelerou de maneira que permanecessemos juntos. Quando
começou a se adiantar, pegou minha mão de novo. Gritos soaram atrás de nós e
apaguei a lanterna para ser mais difícil de nos detectar.
- Ali – disse Adrian – vê os carros?
Lentamente, saindo da escuridão, duas caminhonetes se materializaram,
junto com um Mustang de cor amarela muito mais visível.
- Muito discreto. – murmurei.
- A maioria dos guardiões se foram – disse Adrian – mas não todos.
Antes de que pudesse responder alguém me pegou por trás. Em uma
manobra que teria deixado Wolfe orgulhoso, consegui dar um chute para trás que
tanto havia se esforçado para nos ensinar. Peguei meu atacante com surpresa e
me soltou, só para que seu companheiro me empurrasse para o chão.
Três figuras correram dos carros e se lançaram sobre nossos atacantes.
Graças a seu característico sobretudo, supus que Dimitri comandava o grupo.
- Saiam daqui – exclamou para Adrian e para mim – Sabe onde nos
encontrar. Te cubriremos. Conduza rápido, provavelmente estão no caminho.
Adrian me ajudou a levantar, e uma vez mais corremos juntos. Havia
lesionado o tornozelo quando caí, assim me movia devagar, mas Adrian me
ajudou e permitiu que me apoiasse nele. Todo o tempo meu coração ameaçava
sair do meu peito, mesmo quando chegamos a segurança do Mustang. Ele me
guiou para o lado do passageiro.
- Pode entrar bem?
- Estou bem – disse, delizando para dentro e pouco disposta a admitir que a
dor estava aumentando. Rezava para que não tivessemos demorado muito. Não
podia suportar a ideia de ser a responsável pela captura de Adrian.
Satisfeito, Adrian correu para o lado do condutor e arrancou o carro. O motor
rugiu com vida e ele seguiu as ordens de Dimitri ao pé da letra, alcançou uma
velocidade que me causou inveja. Nesta rota rural, parecia improvável que
houvesse alguma polícia. Olhei para trás várias vezes, mas quando chegamos a I-
10, era óbvio que nada havia nos seguido. Suspirei agradecida e apoiei a cabeça
contra o assento, mesmo estando muito longe de estar tranquila. Todavia não
podia dar por certo que estávamos a salvo.
- Ok. – disse. - Como diabos me encontraram?
Adrian não respondeu de imediato. E quando ele fez, me dei conta de que
era de muita má vontade.
- Eddie colocou um dispositivo de rastreio em sua bolsa, quando estavamos
em minha casa.
- Que? Não pode ser! Eles me revistaram.
- Bem, estou certo de que não parecia como um. Eu não sei o que ele
acabou fazendo. Na verdade, ele conseguiu do seu pessoal. Tão pronto quando
Trey confirmou a reunião desta noite, Belikov estava ao telefone com cada
guardião em um raio de duas horas, tentando recrutar ajuda. Também chamou os
Alquimistas e os convenceu de compartilhar algo de tecnologia.
Havia tantas loucuras no que ele havia acabado de dizer, que não sabia por
onde começar a analisar. Todos os tipos de acontecimento tinha ocorrido sem o
meu conhecimento. E ainda assim quando tudo havia sido resolvido, ninguém
havia me falado sobre ele. Além do mais, os Alquimistas haviam participado?
Ajudando os guardiões a me rastrear?
- Os brincos – disse – De lá que veio. O rastreador deve estar em um deles.
Nunca teria imaginado.
- Não me surpreende, conhecendo a maneira como vocês trabalham.
O resto da realidade da noite começou a assentar. O último dos meus medos
desapareceu, só para ser substituido por ira.
- Mentiram para mim! Todos vocês! Deveriam ter me dito o que estavam
fazendo...que estavam me seguindo e que planejavam uma incursão. Como pôde
me esconder isso?
Ele suspirou.
- Eu não queria, acredite. Disse a eles uma e outra vez que era necessário
deixá-la informada. Mas todos temiam que você se negasse a levar o dispositivo
se soubesse. O que, de alguma maneira, você pudesse ter um deslize e revelasse
o plano para esses malucos. Eu não acreditava nisso, contudo.
- E ainda assim, não se incomodou em me dizer você mesmo – espetei,
indignada.
- Não podia! Me fizeram prometer que não diria.
De alguma maneira sua traição doía mais do que a dos outros. Havia
chegado a confiar nele implicitamente. Como podia fazer isso comigo?
- Ninguém acreditava que eu fosse capaz de persuadir os Guerreiros, assim
todos fizeram seus planos de emergência sem mim. – Não importava que eu não
tinha sido capaz de persuadí-los. – Alguém deveria ter me contado. Você deveria
ter me contado.
- Estou te dizendo, queria te contar. Mas estava preso. Você mais do que
ninguém sabe o que é estar preso entre grupos, Sage. Além disso, não se lembra
o que te disse antes de entrar no carro de Trey?
Sim eu lembrava. Quase palavra por palavra. Aconteça o que acontecer,
quero que saiba que nunca duvidei do que vai fazer. É inteligente e valente.
Me encolhi mais no assento e me senti como se estivesse a ponto de chorar.
Adrian estava certo. Sim, sabia o que era ter sua lealdade estendida entre
diferentes grupos. Entendia a posição em que ele estava. Era só uma parte
egoísta de mim que desejava que sua lealdade comigo tivesse sido mais forte do
que com os outros. Ele tentou, disse uma voz interior. Ele tentou dizer.
O ponto de encontro ao qual Dimitri tinha dito a Adrian resultou na casa de
Clarence. O lugar estava cheio de guardiões, alguns dos quais estavam
remendando as lesões do outro. Ninguém havia sido assassinado em nenhum dos
grupos, algo que os guardiões haviam sido muito cautelosos. Os Guerreiros da
Luz já pensavam que os vampiros eram retorcidos e corruptos. Não precisavam
de mais combustível para botar fogo.
Não que o ataque desta noite fosse ajudar no assunto. Não tinha nem ideia
de como iam reagir os Guerreiros, ou se poderia haver alguma represália
preparada. Supunha que os guardiões e os Alquimistas haviam levado isso em
consideração. Me perguntei amargamente se alguns deles compartilhariam suas
opiniões comigo.
- Sei que não devo me oferecer para te ajudar a curar – me disse Adrian, a
medida que passavamos junto a um grupo de guardiões – sente na sala de estar e
trarei um pouco de gelo.
Comecei a dizer que podia conseguir por mim mesma, mas meu tornozelo
doía cada vez mais. Com um assentimento, o deixei e fui para a sala de estar. Um
par de guardiões desconhecidos estavam ali, junto com um radiante Clarence.
Para minha surpresa, Eddie e Angeline também estavam ali, sentados juntos
e...de mãos dadas?
- Sydney! – exclamou ele. Imediatamente soltou a mão de Angeline e correu
para mim, assombrando-me com um abraço. – Graças a Deus que está bem.
Odiei ter que te deixar lá. Isso não era parte do plano. Supunhamos que trariamos
você junto com Sonya.
- Sim, bom, quem sabe na próxima vez, alguém possa me informar sobre o
plano – disse con intenção.
Eddie fez uma careta.
- Eu sinto por isso. Realmente sinto. Nós simplesmente...
- Eu sei, eu sei. Não pensaram que aceitaria, temiam que algo saísse mal,
etc, etc.
- Sinto muito.
Não o perdoei completamente, mas estava cansada demais para pressionar
muito mais.
- Simplesmente me diga isso – disse, baixando a voz – estava segurando a
mão de Angeline?
- Er. Sim. Só estávamos...conversando. Quero dizaer, isso é...acredito que
poderíamos sair em algum momento. Não na escola, claro, porque todo mundo
pensa que somos parentes. E provavelmente não seria nada sério. Quero dizer,
ela está, todavia, um pouco fora de controle, mas não é tão mal quanto eu
pensava. E esteve realmente genial nesta batalha. Sinto que devo tirar da minha
cabeça essa fantasia com Jill e provar algumas coisas normais. Você me
empresta seu carro.
Tive que recolher minha mandíbula do chão.
- Claro. – disse – Está longe de minha intenção deter um incipiente romance.
– Deveria dizer a ele que Jill poderia não ser uma fantasia, depois de tudo? Não
queria me intrometer. Eddie merecia ser feliz, mas não podia evitar de me sentir
um pouco mal por ter dito para Jill que ele podia estar interessado. Esperava não
ter feito as coisas mais complicadas.
Adrian voltou com uma bolsa de gelo. Sentei em uma cadeira e ele me
ajudou a colocar o gelo no tornozelo depois de ter apoiado em um banco. Relaxei
a medida que o gelo começou a adormecer a dor, com esperança de que tivesse
quebrado nada.
- Não é emocionante? – me perguntou Clarence – Finalmente puderam ver
os caçadores de vampiros vocês mesmos!
Não estava segura de descrever a noite com tanto entusiasmo, mas tinha
que lhe conceder um ponto.
- Tem razão – disse – Sinto por não acreditar antes.
Ele me ofereceu um sorriso amável.
- Está bem querida. Provavelmente eu tampouco teria acreditado em um
velho louco.
Devolvi o sorriso e logo pensei em algo que me ocorreu antes.
- Senhor Donahue...você disse que quando se encontrou com os caçadores
antes, este humano chamado Marcus Finch interveio em seu nome.
Clarence assentiu ansiosamente.
- Sim, sim. Bom jovem, esse Marcus. Certamente espero encontrá-lo de
novo algum dia.
- Era um alquimista? – eu perguntei. Vendo o olhar perplexo de Clarence,
toquei a bochecha. – Tinha uma tatuagem como a minha?
- Igual a sua? Não, não. Era diferente. É dificil de explicar.
Me inclinei mais a frente.
- Mas ele tinha uma tatuagem na bochecha?
- Sim. Não viu na foto?
- Que foto?
O olhar de Clarence se voltou pensativo.
- Podia jurar que te mostrei algumas das fotos de minhas viagens, da época
em que Lee e Tamara eram jovens...ah, que bons dias esses.
Trabalhei duro para manter a paciência. Os momentos coerentes de
Clarence as vezes era difícil de conseguir.
- E Marcus? Tem uma foto dele também?
- Claro. Uma encantadora de nós dois juntos. Procurarei um dia e te
mostrarei.
Queria pedir que me mostrasse agora, mas com sua casa tão cheia de
gente, não parecia o momento adequado.
Dimitri chegou pouco depois, junto com os últimos guardiões que tinham
estado lá. Dimitri de imediato perguntou por Sonya, que eu sabia que estava
descansando em seu quarto. Adrian havia se oferecido para curá-la, mas Sonya
tinha suficiente claridade mental para recusar, dizendo que só queria sangue,
descanso e uma oportunidade para que os medicamentos desaparecessem de
forma natural.
Uma vez que Dimitri conseguiu essa informação e pode se tranquilizar
quanto a Sonya, veio diretamente a mim, olhando para baixo de sua elevada
altura para onde estava sentada com o gelo.
- Sinto muito – disse – Sei que a essa altura já deve saber o que aconteceu.
- Que fui enviada a uma situação perigosa com só a metade da informação
que precisava? – perguntei – Sim, sei tudo sobre isso.
- Não sou um fanático por mentiras e as meias verdades – disse – desejaria
que tivesse tido outra maneira. Tivemos tão pouco tempo, e esta parecia a melhor
opção. Ninguém duvidava da sua capacidade para a razão e apresentar um caso
convincente. Era da habilidade dos guerreiros para escutar e racionalizar que
duvidávamos.
- Pude ver porque vocês não me confiaram o plano – em volta de mim vi
Adrian estremecer pela forma que havia dito vocês. Não queria dizer nada
intencionalmente com isso, mas agora me dava conta de que soava muito
condescendente e alquimista; tão eles contra nós. – Mas não posso acreditar que
os alquimistas permitiram...toleraram que me mantivessem fora de qualquer
informação.
Não havia mais cadeiras livres, então Dimitri apenas se sentou com as
pernas cruzadas.
- Não há muito que possa dizer sobre isso. Como te disse, havia pouco
tempo, e quando falei com Donna Stanton, sentiu que seria mais seguro que não
soubesse o que aconteceria. Se te faz sentir melhor, fui muito firme sobre que te
mantivessem a salvo uma vez que estivessemos ali.
- Talvez – disse – Seria melhor se ela tivesse pensado em como poderia me
sentir quando me inteirasse de que não era de confiança no que se refere a
informação vital.
- Sim, pensou – disse Dimitri, parecendo ligeiramente incomodado. – Disse
que não se importaria porque entende a importância de não questionar as
decisões de seus superiores e que sabe que o que fazem é o melhor. Disse que é
uma alquimista exemplar.
Não questionar. Eles sabem o que é melhor. Não podemos correr nenhum
risco.
- É claro que disse. – eu disse. Eu nunca questiono nada.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 22
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
às 17:12
Marcadores: Bloodlines, O Lírio Dourado
0 Comments:
Postar um comentário