Sonya levou alguns dias para se recuperar, o que atrasou a sua volta para a
Pensylvânia. Quando estava bem para ir ao aeroporto, me ofereci para levá-la. O
carro alugado havia sido encontrado, mas Dimitri estava usando para limpar
depois da missão. Em menos de vinte e quatro horas, os Guerreiros haviam
desocupado o lugar, que era na verdade um centro de viagens geralmente usado
para retiros. Quase não haviam deixado rastros de sua presença, mas isso não
deteve os guardiões de limpar cada centímetro do acampamento abandonado.
- Obrigada de novo – disse Sonya – Sei como ocupada você deve estar.
- Não tem problema. É fim de semana, e de qualquer maneira é para isso
que estou aqui...para ajudar.
Ela riu suavemente para si mesma. Sua recuperação nos últimos dias havia
sido notável, e agora parecia tão charmosa e brilhante como sempre. Hoje estava
com seu cabelo solto, deixando-o cair em ondas selvagens ao redor das linhas
delicadas de seu rosto.
- Certo, mas parece que começa a ter que ir mais além de sua descrição de
trabalho.
- Simplesmente estou feliz de que está bem – disse formalmente. Havia
crescido em volta de Sonya e estava triste de vê-la ir. – Lá na arena...bom, foi um
pouco assustador.
Algo de sua diversão se desvaneceu.
- Foi. Estive fora a maior parte do tempo e realmente não fui capaz de
processar o que estava se passando ao meu redor. Mas me lembro das suas
palavras. Estava muito surpreendente, para não mencionar valente, enfrentando a
multidão e me defendendo. Sei o quão difícil deve ter sido estar do lado oposto
daqueles da sua própria classe.
- Essas pessoas não são da minha classe – disse firmemente. Uma parte de
mim perguntou exatamente quem era de minha classe. – O que vai acontecer com
sua investigação agora?
- Oh, continuarei com ela. Dimitri também voltará em breve, e há outros
investigadores que podem nos ajudar na Corte. Ter um usuário de espírito objetivo
como Adrian foi extremamente útil, e conseguimos bastante informação para
ficarmos ocupados agora, graças as amostras de sangue e as observações da
aura. Permitiremos que Adrian continue com sua arte e ele se colocou a
disposição para mais adiante se precisarmos dele outra vez.
- Sonya, sobre meu sangue...
- Não se preocupe com isso – interrompeu – Tinha razão sobre estar sendo
agressiva e também sobre necessitarmos nos focar em Dimitri primeiro. Além do
mais, poderíamos estar fazendo algum avanço em conseguir a ajuda dos
Alquimistas.
- De verdade? – Stanton havia parecido muito contra isso quando
conversamos – Disseram que sim?
- Não, mas disseram que entrariam em contato.
Ri.
- Com eles, essa é uma resposta muito positiva.
Fiquei em silêncio por um momento, perguntando-me se isso significava que
todos esqueceriam do meu sangue. Entre os Guerreiros e a potencial ajuda
Alquimista, seguramente meu sangue já não era importante. Depois de tudo, o
estudo inicial não havia encontrado nada de especial. Ninguém tinha razão para
se preocupar com o meu sangue. Exceto que o assunto era que...eu estava um
pouco preocupada. Porque não importava o muito que eu temia ser usada como
experimento, essa pergunta persistente não me deixaria em paz. Porque o Strigoi
não havia sido capaz de beber meu sangue?
A menção anterior de auras me lembrou outra pergunta que me corroia.
- Sonya? O que significa a cor roxa na aura de alguém? Adrian disse que ele
viu na minha, mas não me disse o que era.
- Típico – disse com uma risada entre dentes – A cor roxa...bom, vamos ver.
Pelo que tenho observado, é uma cor complexa. É uma cor espiritual, mas
apaixonado, está ligado aqueles que amam profundamente e também buscam
uma vocação mais elevada. É interessante já que tem muita profundidade. A cor
branca e ouro tende a ser cores associados com poderes mais superiores e
matafísicos, assim como o roxo e o laranja estão ligados ao amor e instintos mais
baixos. O roxo tem o melhor de tudo isso. Desejaria poder explicá-lo mais
claramente.
- Não, isso tem sentido – disse, estacionando no caminho circular de entrada
do aeroporto – Mais ou menos. Ainda não soa exatamente como eu.
- Bem, dificilmente é uma ciência exata. E ele tem razão...está em você.O
assunto é... – Havíamos nos detido e a vi me estudando cuidadosamente – Eu
tinha notado antes. Quero dizer, estou segura de que sempre tem estado aí, mas
cada vez que te via, simplesmente via o amarelo da maioria dos intelectos. Adrian
não é tão esperto em ler auras como eu sou, assim que estou surpreendida que
ele notou algo que eu não notei.
Não era a única. Espiritual, apaixonada...eu de verdade era essas coisas?
Adrian acreditava que eu era essas coisas? A ideia fez eu me sentir quente em
todas as partes. Exaltada...e confusa.
Sonya parecia estar a ponto de dizer algo mais sobre o assunto e logo
mudou de opinião. Clareou a garganta.
- Bem, então. Aqui estamos. Obrigada pelo passeio.
- Não tem problema. – disse, minha mente no entanto navegava em visões
roxas – Tenha uma boa viagem.
Abriu a porta do carro e se deteve.
- Ah, tenho algo para você. Clarence me pediu que te desse.
- Clarence?
Sonya procurou em seu bolso e encontrou.
- Aqui está. Foi bastante firme que você tivesse...já sabe como ele é quando
se trata de algo.
- Eu sei. Obrigada.
Sonya se foi e a curiosidade me fez abrir o envelope antes de ir. Dentro
havia uma fotografia, mostrando Clarence e um cara jovem, quase da minha
idade, que parecia humano. Os dois tinham seus braços ao redor do outro e
estavam sorrindo para a câmera. O garoto desconhecido tinha cabelo loiro liso
que apenas chegava a seu queixo e olhos azuis impressionantes que destacavam
contra sua característica bronzeada. Era extremamente bonito, e seus olhos
refletiam seu sorriso, que também tinha um pouco de tristeza.
Estava tão focada na sua boa aparência que não notei sua tatuagem
imediatamente. Estava sobre sua bochecha esquerda, um desenho abstrato feito
de meias luas agrupadas de vários tamanhos e orientações, que estavam juntas
de modo que quase pareciam como uma videira. Era exótico e charmoso; a tinta
índigo forte quase coincidia com seus olhos. Estudando mais o desenho, notei
algo familiar em sua forma e jurei que podia ver um brilho tênue de dourado
bordando as linhas azuis. Quase deixei cair a foto de surpresa. As meias luas
haviam sido tatuadas sobre o lírio Alquimista. Voltei a olhar para a foto. Uma
palavra estava gravada sobre esta: Marcus.
Marcus Finch, quem os guerreiros haviam clamado que era um ex-
Alquimista. Marcus Finch, quem os alquimistas haviam clamado que não existia. A
coisa louca era, a menos que alguém fosse trancado como Keith contou, não
haviam "ex-Alquimistas." Você estava nisso para a vida toda. Você não pode ir
embora. No entanto, o lírio obscurecido falava por si. A menos que Marcus tinha
uma mudança de nome que de alguma forma iludiu os Alquimistas, Stanton e os
outros estavam mentindo para mim sobre saber quem ele era. Mas por quê?
Houve algum racha? Há uma semana, teria dito que era impossível que Stanton
não tivesse me dito a verdade sobre ele, mas agora, sabendo como a informação
era dividida cuidadosamente em parcelas...teria que perguntar.
Olhei fixamente a foto uns momentos mais, presa nesses olhos azuis
assombrosos. Logo a guardei e voltei para Amberwood, resolvi manter a fotografia
secreta. Se os alquimistas queria me negar a existência de Marcus Finch, iria
continuar deixando que eles fizessem isso até eu descobrir o porque. Isso
significava que minha única pista era Clarence e os guerreiros ausentes. Ainda
assim, era um começo.
De alguma maneira, alguma vez, iria encontrar Marcus Finch e obteria
minhas respostas.
Estava surpreendida de ver Jill sentada fora do nosso dormitório quando
entrei. Estava na sombra, e era capaz de desfrutar do agradável clima sem a força
completa do sol. Por fim, havíamos passado para uma espécie de outono por aqui,
não era que vinte e seis graus podia ser associado ao clima de outono. O rosto de
Jill estava pensativo, mas brilhou um pouco quando me viu.
- Olá, Sydney. Tinha a esperança de te encontrar. Já não posso te encontrar
sem seu telefone.
Fiz uma careta.
- Sim, preciso substituí-lo. Foi uma grande pena.
Ela assentiu em compaixão.
- Levou Sonya?
- Está a caminho de voltar a Corte e a Mikhail...e espero que a uma vida
muito mais pacífica.
- Isso está bem – disse Jill. Desviou o olhar e mordeu o lábio inferior.
Eu a conhecia o suficientemente bem agora para reconhecer sinais quando
estava se preparando para me dizer algo. Também sabia que não devia
pressionar, assim esperei pacientemente.
- Eu disse – disse ela afinal – Eu disse a Micah que está terminado...
verdadeiramente terminado.
O alívio fluiu através de mim. Uma coisa a menos para me preocupar.
- Sinto muito – disse – Sei que deve ter sido difícil.
Tirou o cabelo de seu rosto enquanto considerava.
- Sim. Eu não. Eu gosto. Eu gostaria de seguir passando um tempo com ele,
como amigos, se ele quiser. Mas não sei. Ele não gostou muito...e nossos amigos
em comum? Bem...não estão muito felizes comigo agora. – Tratei de não gemer.
Jill havia avançado tanto em seu status aqui, e agora isso podia se destruir. – Mas
é melhor. Micah e eu vivemos em mundos diferentes, tenho estado pensando
muito em amor...como, o amor épico... – levantou o olhar para mim por um
momento, seus olhos se suavizando – E isso não era o que tinhamos. Acredito
que se estou com alguém, é isso que deveria sentir.
Acreditava que o amor épico era uma espécie de extensão para alguém de
sua idade, mas não disse.
- Vai ficar bem?
Ela voltou para a realidade.
- Sim, vou. – Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. – E uma vez que
isso tiver passado, talvez Eddie queira sair alguma vez...fora do campus, claro.
Vendo como estamos “relacionados.”
Suas palavras eram quase uma repetição do que havia escutado na outra
noite na casa de Clarence, e a olhei surpreendida quando a compreensão me
bateu.
- Não sabe...acreditei que sabia já que Angeline é sua companheira de
quarto...
Jill franziu o cenho.
- Do que está falando? O que eu não sei?
Oh Deus. Porque, porque, tinha que ser eu a entregar a notícia? Porque não
podia estar trancada no meu quarto ou na biblioteca fazendo algo agradável, como
uma tarefa?
- Eddie, humm, convidou Angeline para sair. Não sei quando vai ser, mas ele
decidiu dar uma oportunidade para ela. – Não havia pego meu carro emprestado,
assim que provavelmente ainda não haviam saído.
Jill parecia afligida.
- O que? Eddie e Angeline? Mas...ele não suportava ela...
- Algo mudou – disse sem convicção – Não estou certa do que. Não é
como... é, amor épico, mas eles tem se acertado na última semana. Sinto muito.
Jill parecia mais devastada por isso do que por terminar com Micah.
Desviou o olhar e piscou para espantar as lágrimas.
- Está bem. Quero dizer, nunca o encorajei. Provavelmente acredita que
estou saindo com Micah. Porque deveria ter esperado? Deveria ter alguém.
- Jill...
- Está bem. Estarei bem. – Parecia tão triste e logo, surpreendentemente,
seu rosto ficou mais escuro. – Oh Sydney. Vai ficar zangada comigo.
Estava pensando em Micah e me senti totalmente confundida pela mudança
do tema.
- Porque?
Ela colocou a mão no bolso e tirou uma revista. Era alguma revista de
turismo do sul da Califórnia, com artigos e anúncios onde se expunha as áreas.
Uma das páginas estava marcada e abri ela. Era um anúncio de página completa
para Lia DiStefano, uma colagem de fotos de seus vários desenhos.
E uma das fotos era de Jill.
Levei um momento para percebê-la. A foto era de perfil, com Jill com óculos
de sol e um chapéu de feltro, também com um cachecol colorido como um pavão
real que Lia tinha dado. O cabelo ondulado de Jill fluía atrás dela e os ângulos de
seu rosto estavam charmosos. Se não conhecesse Jill nunca a teria identificado
como essa modelo, ainda que certamente seria óbvio que era uma Moroi para
qualquer um que soubesse o que buscar.
- Como? – exigi – Como aconteceu isso?
Jill deu uma respiração profunda, pronta para aceitar sua culpa.
- Quando deixou as roupas e me deu o cachecol, perguntou se deixaria tirar
uma foto para ver como seriam fotografadas as cores. Tinha outros acessórios no
carro e também coloquei. Queria me provar que com a cobertura correta, poderia
esconder minha identidade. Mas nunca pensei...quero dizer, não disse que as
usaria. Deus, me sinto tão estúpida.
Talvez não estúpida, mas inocente. Quase destruí a revista. Estava furiosa
com Lia. Parte de mim queria processá-la por usar uma foto de uma menor sem
autorização, mas tinhamos problemas maiores. Quão extensa era a circulação
dessa revista? Se Lia havia colocado a foto de Jill só para ser mostrada na
Califórnia, talvez ninguém a reconheceria. Ainda assim, uma modelo Moroi
poderia surpreender as pessoas.Quem sabe que problemas causaríamos agora?
- Sydney, sinto muito – disse Jill – Que posso fazer para remediar?
- Nada – disse – exceto se manter longe de Lia. – Me senti doente. – Me
encarregarei disso. – Só não sabia como. Só podia rezar para que ninguém
notasse a foto.
- Farei o que você precisar se pensar em algo. Eu... – Seus olhos se
arregalaram por algo atrás de mim. – Talvez devessemos conversar mais tarde.
Olhei para trás. Trey estava caminhando em nossa direção. Outro problema
com o qual lidar.
- Provavelmente é uma boa ideia. – disse. A pena de Jill e a publicidade
teriam que ficar em segundo plano. Ela se foi quando Trey chegou e parou ao meu
lado.
- Melbourne – disse, testando um de seus velhos sorrisos. Este titubeou um
pouco.
- Não sabia que estava por aqui – disse – Acreditei que havia ido com os
outros. – Os guerreiros haviam se dispersado como o vento. Trey havia dito antes
que eles viajavam pelas suas “casas” e o Mestre Angeletti também havia
mencionado encontros em diversos lugares do país. Provavelmente, todos haviam
regressado ao lugar de onde tinham vindo. Havia acreditado que Trey
simplesmente desapareceria também.
- Nope – disse – Aqui é onde vou a escola, onde meu pai quer que eu
permaneça. Além do mais, os outros Guerreiros nunca tiveram uma base
permanente em Palm Springs. Se movem onde quer...
Não pode terminar, assim eu disse.
- Aonde quer que recebam dicas sobre monstros que possam executar
brutalmente?
- Não foi assim – disse – Acreditávamos que ela era uma dos Strigoi. Ainda
acreditamos.
Analisei seu rosto, esse garoto que eu havia acreditado que era meu amigo.
Estava bastante segura de que era.
- Você não. Por isso perdeu a luta de propósito.
- Não fiz. – protestou
- Você fez. O vi vacilar quando podia ter eliminado Chris. Não queria ganhar.
Não queria matar Sonya porque não estava certo de verdade se ela era um
Strigoi.
Ele não negou.
- Mas acredito que todos eles devem ser destruídos.
- Eu também. – reconsiderei. – Bem, a menos que haja uma maneira de
salvar todos, mas isso é incerto. – Apesar do muito que havia dito enquanto
defendia Sonya, não estava muito cômoda em revelar segredos e experimentos. –
Se os guerreiros viajam ao redor do mundo, o que acontecerá a proxima vez que
estiverem aqui na área? Inclusive em Los Angeles? Se unirá a eles outra vez?
Viajará para a seguinte casa?
- Não. – a resposta foi dura. Franca, inclusive.
A esperança surgiu em mim.
- Decidiu se separar deles?
As emoções no rosto de Trey eram difíceis de ler, mas não pareciam
emoções felizes.
- Não. Eles decidiram nos isolar...meu pai e a mim. Fomos marginalizados.
Olhei fixamente por uns momentos, perdida nas palavras. Não gostava dos
guerreiros e da participação de Trey, mas isso não era o que estava tentando
alcançar.
- Por minha culpa?
- Não. Sim. Não sei. – encolheu os ombros. – Indiretamente, suponho. Não
te culpam pessoalmente nem os Alquimistas. Todavia querem formar uma equipe
com os Alquimistas. Imaginaram que você simplesmente se comportou a sua
maneira tipicamente equivocada. Mas eu? Fui eu que te coloquei lá, quem jurou
que tudo estaria bem. Por isso me culpam pelo lapso de juízo e as consequências
disso. Os outros também estão aceitando a culpa, o conselho está de acordo,
porque a segurança não deteu o ataque, mas isso não me faz me sentir melhor.
Papai e eu somos os únicos exilados.
- Eu..eu sinto muito. Nunca acreditei que algo como isso aconteceria.
- Não tinha o porque – disse pragmático, apesar de seu tom de voz ainda
estar triste – Até certo ponto, tem razão. Fui eu que te meti lá. É minha culpa e
estão castigando meu pai pelo que eu fiz. Essa foi a pior parte. – Trey estava
tentando parecer relaxado, mas podia ver a verdade. Havia trabalhado tão duro
para impressionar seu pai e acabou causando-lhe a pior humilhação. As seguintes
palavras de Trey confirmaram. – Os guerreiros tem sido toda a vida do meu pai.
Ser expulso é como...bem, ele está levando muito mal. Tenho que encontrar uma
maneira de voltar a entrar...por ele. Suponho que não saiba onde tem um Strigoi
fácil de matar, verdade?
- Não – disse – Especialmente já que nenhum deles são fáceis de matar. –
Estava insegura de como proceder – Trey, o que significa isso para nós? Entendo
que já não podemos ser amigos...vendo como eu, uh, arruinei o trabalho da sua
vida.
Um indício de seu antigo sorriso voltou.
- Nada está arruinado para sempre. Eu te disse, voltarei a entrar. E se não é
por matar um Strigoi, quem sabe? Talvez se aprender mais de vocês, posso
achar uma brecha entre nossos grupos e fazer com que todos trabalhemos juntos.
Isso me daria alguns pontos.
- É bem vindo para tentar – disse diplomaticamente. Na realidade não
acreditava que isso aconteceria, e podia dizer.
- Bom, descobrirei algo então, algum movimento grande para chamar a
atenção dos guerreiros e pedir que meu pai e eu voltemos a estar com eles.
Tenho que fazer. – Seu rosto começou a escurecer outra vez, mas então tive um
breve regresso de seu sorriso...um cheio de tristeza – Sabe o que é pior? Agora
não posso convidar Angeline para sair. Passar tempo com você é uma coisa,
ainda mais se sou um marginalizado, mas não posso arriscar ser amistoso com
um Moroi nem com um dhampir. Especialmente não posso sair com uma. Quero
dizer, eu percebi o que ela era a um tempo atrás, mas poderia ter jogado de tolo.
Esse ataque à arena meio que destruiu qualquer oportunidade disso. Os
guerreiros tampouco gostam dos dhampirs, você sabe. Dhampirs e Moroi.
Também os encantaria vê-los derrotados...eles simplesmente acreditam que é
muito difícil e não é uma prioridade agora.
Algo nessas palavras me fez tremer, sobretudo porque me lembrou do
comentário casual dos guerreiros sobre eliminar eventualmente os Moroi. Os
Alquimistas certamente não tinham carinho pelos dhampirs e pelos Moroi, mas
estavam muito longe de querer acabar com eles.
- Eu tenho que ir – Trey alcançou seu bolso e me entregou algo que eu
estava agradecida de ver. Meu telefone. – Imaginei que estava querendo isso.
- Sim. – O peguei com entusiasmo e liguei. Não sabia se o recuperaria e
estava a ponto de comprar um novo. Esse tinha três meses e praticamente era
antiquado de todos os modos. – Obrigada por salvá-lo. Oh. Veja – Li a tela – Há
um monte de mensagens de Brayden. – Não havíamos nos falado desde a noite
do desaparecimento de Sonya.
O sorriso malicioso de Trey que eu tanto gostava voltou.
- Melhor você ficar com esse então. O amor verdadeiro não espera por nada.
- Amor verdadeiro, huh? – Sacudi minha cabeça em exasperação. – É bom
ter você de volta.
Isso me valeu um sorriso franco.
- Te vejo por aí.
Tão logo quando estava só, escrevi uma mensagem a Brayden: Sinto por
não responder. Perdi meu telefone durante três dias. Sua resposta foi quase
imediata: Estou no trabalho, tenho um descanso logo. Você vem? Pensei nele.
Vendo que não tinha que salvar vidas agora, este era um bom momento quanto
qualquer outro. Respondi que estava saindo de Amberwood agora.
Brayden tinha meu café favorito pronto para mim quando cheguei a Spencer.
- Baseado em quando saiu de lá, calculei quando necessitaria fazê-lo para
que estivesse quente quando chegasse.
- Obrigada. – disse, tomando-o. Me senti um pouco culpada por ter uma
reação emocional maior por ver o café do que por ver ele.
Me disse que o outro barista estava em seu descanso e logo me levou para
uma mesa longe.
- Isso não levará muito tempo – disse Brayden – Sei que provavelmente tem
muitas coisas para fazer essa semana.
- Na verdade as coisas estão começando a se acalmar – disse
Tomou uma respiração profunda, demonstrando a mesma ansiedade e
determinação que havia tido quando me pediu para sair.
- Sydney – disse, sua voz formal – Creio que não deveríamos nos ver mais.
Me detive a meio gole.
- Espera...o que?
- Sei o quão devastador que provavelmente isso é para você – adicionou –
Eu admito, também é difícil para mim. Mas frente a luz dos acontecimentos
recentes, está bastante claro que não está pronta para uma relação.
- Acontecimentos recentes?
Assentiu solenemente.
- Sua família. Você quebrou vários de nossos compromissos sociais para
estar com eles. Ainda que essa devoção familiar seja admirável, simplesmente
não posso estar em uma relação volátil.
- Volátil? – Continuei repetindo suas palavras e finalmente me obriguei a
tomar o controle – Então...deixe-me ver se entendi bem. Está terminando comigo.
Ele meditou.
- Sim. Sim, eu estou fazendo.
Esperei, em busca de uma reação interna. Uma torrente de dor. A sensação
de que meu coração estava se rompendo. Alguma emoção, na realidade. Mas em
sua maioria, tudo o que senti foi uma espécie de surpresa, perplexidade.
- Uh – disse
Isso aparentemente foi o suficiente de uma reação perturbadora para
Brayden.
- Por favor não faça isso mais difícil. Te admiro muito. É absolutamente a
garota mais inteligente que já conheci. Mas simplesmente não posso me envolver
com alguém tão irresponsável como você.
O olhei.
- Irresponsável.
Brayden assentiu de novo.
- Sim.
Não sei onde começou, em algum lugar em meu estômago ou meu peito,
talvez. Mas de repente, fui consumida por uma risada incontrolável. Não pude me
deter. Tive que baixar meu café, para que não derramasse. Ai tive que enterrar
meu rosto em minhas mãos para limpar as lágrimas.
- Sydney? – perguntou Brayden cautelosamente – Esta é um tipo de reação
de dor histérica?
Levou quase outro minuto para que me acalmasse o suficiente para
contestar.
- Oh, Brayden. Fez meu dia melhor. Me deu algo que nunca pensei que
receberia. Obrigada. – Peguei meu café e levantei. Me olhou completamente
perdido.
- Uhm, de nada?
Deixei a cafeteria, rindo como uma tonta. Durante todo o último mês, tudo em
minha vida havia sido uma ou outra vez sobre como responsável eu era, diligente,
exemplar. Havia sido chamada de um montão de coisas. Mas nunca, jamais, havia
sido chamada de irresponsável.
E eu gostava um pouco disso.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Capitulo 23
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às 17:14
Marcadores: Bloodlines, O Lírio Dourado
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