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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo 25

Eu tinha zombado de Keith quando viemos pela primeira vez para Palm Springs, provocando-o por ter congelado á frente dos Moroi. Mas quando estive lá agora, cara-a-cara com a essência dos pesadelos, eu soube exatamente como ele se sentiu. Eu não tinha nenhum direito de julgar ninguém por perder o seu senso racional quando confrontados com os seus maiores medos. Dito isto, se Keith estivesse aqui, eu acho que ele teria entendido porque os Moroi não eram grande problema para mim. Porque quando comparados com Strigoi? Bem, de repente, as pequenas diferenças entre os humanos e os Moroi se tornaram insignificante. Apenas uma diferença importante, a diferença entre os vivos e os mortos. Era a linha que nos dividia, a linha que juntava Adrian e eu firmemente dum lado – face aqueles que estavam do outro lado da linha. Eu já tinha visto Strigoi antes. Naquela época, eu não tinha sido imediatamente ameaçada por eles. Além disso, eu tinha a Rose e o Dimitri na mão, prontos para me proteger. Agora? Não havia ninguém para nos salvar. Apenas nós mesmos. Havia apenas dois deles, mas poderia muito bem serem 200. Strigoi operavam num tal nível diferente do resto de nós que não demorou muito para eles derrubarem as probabilidades. Ambas eram mulheres e elas pareciam ter tido os seus 20 e tais anos quando se tronaram Strigoi. Há quanto tempo atras eu não soube adivinhar. Lee tinha tido zelo ao dizer que ser Strigoi significava ser ‘jovem para sempre’. No entanto, olhando para estes dois monstros, eu realmente não pensava dessa forma. Claro, elas tinham uma aparência superficial de juventude, mas foram prejudicadas com o mal e a decadência. Elas podiam ter a pele sem rugas, mas eram de um branco doentio, muito

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mais brancas que um Moroi qualquer. Os anéis vermelhos dos olhos que riam para nós não tinham nem o brilho, nem a energia da vida, mas eram animados por uma espécie de profanação. Estas pessoas não estavam correctas. Elas não eram naturais. –Encantador–, disse uma delas, com os cabelos loiros num corte curto. Sua estrutura facial me fez pensar que tinha sido uma dhampir ou humana antes de ser transformada. Ela estava nos olhando da mesma forma que eu muitas vezes vi o gato da família a observar os pássaros. –E exatamente como descrito.– –Eles são tãooo bonitos–, cantarolou a outra com um lascivo sorriso no rosto. Sua altura me disse que ela tinha sido uma Moroi. –Eu não sei qual deles quero em primeiro lugar.– A loira deu um olhar de advertência. –Vamos partilhar.– –Como da última vez–, concordou a outra, jogando a juba de cabelos pretos encaracolados sobre o ombro. –Não–, disse a primeira. –Da última vez você os matou. Aquilo não foi partilha.– –Mas eu deixei você se alimentar de ambos depois.– Antes que ela pudesse ripostar contra, Lee de repente levantou-se e cambaleou para a frente da Strigoi loira. –Espere, espere. Dawn. Você me prometeu. Você prometeu acordar-me primeiro antes de fazer qualquer coisa.– Os dois Strigoi voltaram a sua atenção para Lee. Eu ainda estava congelada, ainda era incapaz de me mover ou realmente reagir, apesar de estar tão perto destas criaturas do inferno. Mas de alguma forma, através do terror espesso e esmagador que me envolvia, ainda consegui sentir um bocadinho de pena de Lee. Sentia um pouco de ódio também, claro considerando a situação. Mas principalmente me sentia terrivelmente triste por alguém acreditar realmente que a vida não tinha sentido a não ser sacrificar a sua alma por uma imortalidade vazia. Mas não só isso, eu sentia pena dele por realmente pensar que ele poderia confiar nessas criaturas para lhe darem o que ele queria. Porque quando estudei sobre eles, ficou perfeitamente claro para mim, que eles decidiam se deviam ou não fazer disso uma refeição de três pratos. Eu suspeitei que Lee era o único que não percebia isso. –Por favor–, disse ele. –Você prometeu. Salva-me. Restaura-me como eu era.– Eu também não pode deixar de notar a pequena mancha vermelha em seu rosto, na zona onde eu lhe tinha batido. Senti um pouco de orgulho nisso, mas eu não era suficientemente arrogante, para pensar que eu possuía todas as habilidades de luta para lutar do meu jeito e sair desta situação. Os Strigoi estavam muito próximos e a nossa

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saída muito longe. –Eu sei onde arranjar mais–, acrescentou ele, começando a olhar inquieto para os seus –salvadores–, que não saltaram de imediato para tornar o seu sonho realidade. –Um jovem – um dhampir. – –Eu não tive um dhampir já algum tempo–, disse a Strigoi de cabelos encaracolados, quase melancólica. Dawn suspirou. –Eu realmente não me importo, Jacqueline. Se você quer acordá-lo, força. Eu só quero estes dois. Ele não me importa.– –Eu fico com o dhampir só para mim então–, alertou Jacqueline. –Tudo bem, tudo bem–, disse Dawn. –Só se apresse.– Lee ficou tão radiante, tão feliz…que era nauseante. –Obrigado–, disse ele. –Muito obrigado! Eu estive à espera disto há tanto tempo que eu não posso acreditar - ahh! – Jacqueline se moveu tão rapidamente que mal vi aquilo acontecer. Num momento ela estava em pé a beira da porta, no outro ela tinha prendido Lee contra o cadeirão. Lee deu um grito meio abafado, quando ele mordeu o seu pescoço, um grito que logo se aquietou. Dawn fechou a porta e nos empurrou para a frente. Eu vacilei no seu toque. –Bem,– ela disse com diversão. –Vamos ter uma boa visão.– Nem Adrian nem eu respondemos. Nós simplesmente nos movemos para a sala. Dei um olhar de relance para ele mas pode discernir pouco. Em geral, ele era tão bom a esconder os seus verdadeiros sentimentos que eu acho que não deveria surpreender-me que ele podia esconder a sua aversão ao terror tão facilmente. Ele me ofereceu nenhum incentivo com uma expressão sua ou palavras e realmente achei aquilo muito refrescante. Porque – realmente - eu não via nenhum final feliz nesta situação. De perto, forçada a assistir ao ataque de Jacqueline, eu agora podia ver a expressão de felicidade que o rosto de Lee tinha. Foi a coisa mais terrível que eu já testemunhei. Eu queria fechar os olhos com força ou desvia-los mas, alguma força para além de mim, me manteve a olhar para o espetáculo macabro. Eu nunca tinha visto nenhum vampiro a morder, fosse Moroi ou Strigoi, mas eu agora entendida como alimentadores - tipo Dorothy - poderiam aceitar este estilo de vida de tão bom agrado. Endorfinas estavam a circular na corrente sanguínea de Lee, endorfinas tão fortes que o cegaram para o fato de que ele estava a ter a sua vida drenada. Ele existia num estado de alegria, perdido no vício dos produtos químicos. Ou talvez ele estava a pensar sobre o quão feliz ele seria, uma vez Strigoi novamente, se fosse possível ter qualquer tipo de pensamento racional naquele momento.

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Perdi a noção do tempo que levou para drenar Lee. Cada momento era agonizante para mim, como se eu estivesse a receber a dor que Lee devia estar a sentir. O processo parecia durar para sempre e também havia uma estranha sensação de velocidade nisso. Senti-me mal por um corpo de alguém poder ser drenado num tempo tão curto. Jacqueline bebia de forma constante, parando apenas uma vez para observar, –Seu sangue não é tão bom quanto eu esperava.– –Então pare–, sugeriu Dawn, que estava começando a olhar entediada. –Basta deixá-lo morrer e ter estes dois comigo.– Jacqueline parecia que estava realmente a considerar isso, Lembrando-me novamente que Lee tinha sido um tolo ao confiar nelas duas. Depois de alguns minutos, ela deu de ombros. –Estou quase pronta. E eu realmente quero que ele me diga onde esta o meu dhampir.– Jacqueline retomou a bebida, mas como ela disse, não demorou muito mais tempo. Neste ponto de vista, Lee era quase tão pálido como um Strigoi, e havia uma qualidade estranha na sua pele esticada. Ele estava perfeitamente quieto agora. Seu rosto parecia congelado num sorriso que tanto parecia choque como alegria. Jacqueline levantou o seu rosto e limpou a boca, sentindo-se aprazerada com a sua vítima. Ela então, puxou para cima a manga da camisa e antes de arranhar com as suas unhas o seu pulso, ela viu qualquer coisa no chão. –Ah, muito mais limpo.– Ela se afastou e inclinou-se para baixo, pegando na faca de Lee. A faca tinha deslizado para debaixo de um sofá durante a nossa briga. Jacqueline pegou e sem esforço algum cortou seu pulso, fazendo com que o sangue vermelho escuro saísse. Parte do meu cérebro não achava que o seu sangue deveria se parecer tão semelhante ao meu.Deveria ser preto. Ou ácido. Ela colocou o seu punho sangrando contra a boca de Lee e inclinou a cabeça dele para que a gravidade ajudasse o fluxo sanguíneo a escorrer pela garganta abaixo de Lee. Cada horror que testemunhei esta noite tinha sido pior que a anterior. Morte era terrível - mas era também parte da natureza. Isto? Isto não fazia parte do plano da natureza. Eu estava prestes a testemunhar o maior pecado do mundo, a corrupção de uma alma através de magia negra para reanimar os mortos. Me fez sentir toda suja e desejei poder fugir dali pra fora. Eu não queria ver aquilo. Eu não queria ver o cara, que eu uma vez considerei como fosse um amigo, de repente se levantar como algo perverso da natureza. Um toque na minha mão me fez pular. Era Adrian. Seus olhos estavam em Lee e

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Jacqueline, mas a sua mão tinha agarrado a minha e apertava-a, mesmo embora ele ainda estar algemado. Fiquei surpresa com o calor da sua pele. Mesmo sabendo que os Moroi viviam e tinham o sangue quente como eu, os meus medos irracionais sempre esperavam que aquilo fosse frio. Era igualmente surpreendente o facto de aquele toque ser confortável e seguro. Não era o tipo de toque que dizia: ‘Ei, eu tenho um plano, então aguenta-te porque nós vamos sair desta.’ Era mais do tipo de toque que simplesmente dizia: ‘Você não está sozinha.’ Era realmente a única coisa que ele poderia oferecer. E neste momento isso era o suficiente. Então, algo estranho aconteceu. Ou melhor, que não aconteceu. O sangue de Jacqueline era constantemente derramado na Lee boca e, mesmo não tendo muitos casos documentados sobre conversões de Strigoi, eu sabia o básico. O sangue da vítima era drenado e depois o Strigoi assassino alimentava com o seu sangue o falecido. Eu não sabia exatamente quanto tempo levava para dar resultado - certamente não requeria o sangue todo do Strigoi - mas em algum momento, Lee deveria estar a se agitar e a levantar-se como um morto-vivo. A expressão presunçosa e fria de Jacqueline, começou a mudar para curiosidade e tornou-se então numa confusão total. Ela olhou interrogativamente para Dawn. –Por que está demorando tanto?– Dawn perguntou. –Eu não sei–, disse Jacqueline voltando-se para Lee. Com a mão livre, ela cutucou o ombro de Lee como se isso servisse para o chamar a despertar. Nada aconteceu. –Você já fez isso antes?–, perguntou Dawn. –É claro–, retrucou Jacqueline. –Não demorou este tempo todo. Ele devia estar em pé e a mover-se por aí. Algo está errado.– Lembrei-me das palavras de Lee, descrevendo como todas as suas tentativas desesperadas de tirar vidas inocentes não o tinham convertido de volta. Eu só sabia um pouco sobre o espírito - e menos ainda sobre restaurar Strigoi - mas algo me disse que não havia força nenhuma na terra que transforma-se Lee num Strigoi novamente. Um longo minuto passou, enquanto assistíamos e esperávamos. Por fim, desgostosa, Jacqueline recuou do cadeirão e arregaçou as mangas. Ela encarou o corpo imóvel de Lee. –Algo está errado –, ela repetiu. –E eu não quero perder mais sangue para descobrir o que é. Além disso, meu corte já está curado.– Eu não queria mais nada do que Dawn e Jacqueline esquecessem que eu existia, mas as próximas palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse impedi-las. O cientista em mim estava muito preso na resolução.–Ele foi restaurado - e isso o afetou de forma

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permanente. A magia do espírito deixou algum tipo de marca, e agora ele não pode voltar novamente.– Ambos Strigoi olharam para mim. Eu me arrepiei com os olhos vermelhos. –Eu nunca acreditei em nenhuma dessas histórias de espírito–, disse Dawn. Jacqueline, porém, ainda estava claramente intrigada com o seu fracasso. –Havia algo de errado nele, no entanto. Eu não posso explicar… mas este tempo todo, ele não estava no ponto. Não tinha o gosto certo.– –Esquece-o–, disse Dawn. –Ele teve sua chance. Ele conseguiu o que queria e agora estou seguindo em frente.– Eu vi a minha morte em seus olhos e tentei alcançar a minha cruz. –Deus me proteja–, disse no momento em que ela pulou para a frente. Contra todas as probabilidades, Adrian estava lá para parar ela – ou bem, tentar pará-la. Na generalidade, ele só se meteu na frente. Ele não tinha a velocidade ou o tempo de reação para efetivamente bloquear ela e foi especialmente desastroso com as suas mãos algemadas. Eu acho que ele tinha visto o que eu tinha, que ela ia atacar, e ele preventivamente se moveu na minha frente de forma nobre mas uma desajeitada tentativa de proteção. E que desajeitada foi. Com um movimento suave, ela empurrou-o para o lado de uma forma que pareceu fácil, mas que o afastou para o meio da sala. Minha respiração parou. Ele bateu no chão e eu comecei a gritar. De repente, senti uma dor aguda contra a minha garganta. Sem uma pausa, Dawn prontamente me agarrou e quase me levantou de pé para ter acesso ao meu pescoço. Reuni outra oração frenética enquanto a dor avançava, mas em questão de segundos, tanto a oração como a dor desapareceram do meu cérebro. Elas foram substituídas por um sentimento muito doce de contentamento e bem-aventurada e maravilhosa. Eu não pensava, excepto que eu de repente existia dentro dessa requintada felicidade inimaginável. Eu queria mais. Mais, mais, mais. Eu queria afogar-me nela, esquecer de mim mesma, esquecer tudo ao meu redor… –Ugh–, eu chorei, quando de repente e inesperadamente bati no chão. Ainda naquele auge de êxtase, eu não senti dor - ainda. Tão rapidamente como ela me agarrou, Dawn me deixou cair e me empurrou. Instintivamente, estendi um braço para amparar a minha queda, mas não consegui. Eu estava muito fraca e desorientada, que me esparramei sem nenhuma graça sobre o tapete. Dawn estava a tocar nos seus lábios com os dedos e tinha um olhar de

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indignação torcendo as já horríveis características. –O que–, ela perguntou. –O que foi isso?– Meu cérebro não estava funcionando corretamente ainda. Eu só tinha provado um pouco de endorfina, mas foi o suficiente para me deixar confusa. Eu não tinha resposta para ela. –O que se passa–, exclamou Jacqueline, caminhando para a frente. Ela olhou de mim para Dawn em confusão. Dawn fez uma careta e depois cuspiu para o chão. Era vermelho do meu sangue. Repugnante. –O sangue dela…é horrível. Não comestível. Desagradável.– Ela cuspiu novamente. Os olhos de Jacqueline se arregalaram. –Assim como o outro. Vês? Eu disse a você.– –Não.– Dawn sacudiu a cabeça. –Não há nenhuma maneira de poder ser o mesmo. Você nunca teria conseguido beber muito dela.– Ela cuspiu novamente. –Não é apenas um gosto estranho ou ruim…é como se estivesse contaminado.– Vendo o olhar cético de Jacqueline, Dawn puxou pelo braço dela. –Não acredita em mim? Tenta você mesma.– Jacqueline deu um passo hesitante na minha direção. Então Dawn cuspiu novamente e eu acho que, de alguma forma, convenceu a outra Strigoi de não querer experimentar de mim. –Eu não quero outra refeição medíocre. Dane-se. Isto está se tornando absurdo.– Jacqueline olhou para Adrian, que estava perfeitamente imóvel. –Pelo menos ainda temos ele.– –E se ele não está estragado, também,– Dawn murmurou. Meus sentidos voltaram para mim e por meio segundo, eu me perguntei se havia alguma maneira insana de podermos sobreviver a isto. Talvez os Strigoi nos considerassem como más refeições. Mas não. Assim como me permitia ter a esperança disso, eu também sabia que mesmo não se alimentando de nós, não iríamos sair daqui vivos. Elas não tinham nenhum motivo para simplesmente seguirem. Elas iam nos matar por esporte antes de partirem. Com essa mesma velocidade notável, Jacqueline saltou sobre Adrian. –Tempo para descobrir.– Eu gritei quando Jacqueline derrubou Adrian contra a parede e mordeu seu pescoço. Ela só fez isso em alguns segundos, só para apanhar o gosto. Jacqueline levantou a cabeça para cima, fazendo uma pausa e saboreando o sangue. Um sorriso leve se abriu em seu rosto, mostrando o seu sangue nas presas. –Este é bom. Muito bom. Melhor que os outros.– Ela afagou a bochecha dele queixo.–

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Embora seja um desperdício. Ele é tão bonito.– Dawn foi em direção a eles. –Deixe-me tentar antes que você pegue tudo!– Jacqueline a ignorou e se inclinou sobre Adrian, que tinha agora os olhos vidrados. Enquanto isso, eu estava livre o suficiente das endorfinas e estava pensando claramente outra vez. Ninguém estava prestando atenção em mim. Tentei ficar de pé e senti o mundo girar.Ainda no chão, consegui rastejar na direção da minha bolsa, encontrando-a esquecida perto da entrada da sala. Jacqueline estava a beber de Adrian novamente, mas apenas um bocado antes de Dawn puxa-la para longe e exigir a vez dela para que pudesse lavar o gosto do meu sangue fora da sua boca. Me surpreendo com a rapidez com que me movi, eu vasculhei o fundo da minha bolsa, procurando desesperadamente por qualquer coisa que pudesse ajudar. Alguma parte fria e lógica de mim disse que não havia maneira de nós podermos sair desta, mas também não havia nenhuma maneira de eu poder ficar apenas lá e observá-las a drenar Adrian. Eu tinha que lutar. Eu tinha que tentar salvá-lo assim como ele tinha tentado por mim. Não importava se o esforço falhasse ou se eu morresse. De alguma forma, eu tinha que tentar. Alguns alquimistas carregavam armas, mas eu não. Minha bolsa era enorme, cheia de coisas a mais do que eu realmente precisava, mas nada no conteúdo se assemelhava a uma arma. Mesmo que a tivesse, a maioria das armas eram inúteis contra Strigoi. A arma iria diminui-los, mas não matá-los. Somente estacas de prata, decapitação e fogo poderiam matar um Strigoi. Fogo… Minha mão se fechou em torno do amuleto que eu tinha feito para Ms. Terwilliger. Eu o enfiei na minha bolsa, quando ela deu-me, sem saber o que devia fazer com ele. Eu só pode assumir que a perda de sangue e os pensamentos dispersos me fez tirá-lo agora e considerar a possibilidade de usá-lo. Mesmo a ideia era ridícula. Você não poderia usar algo que não funcionava! Era uma bugiganga, um saco de pedras e folhas sem valor. Não havia nenhuma magia aqui e eu era uma idiota por pensar naquilo. E, no entanto, era um saco de pedras. Não a mais pesada, mas com certeza o suficiente para chamar a atenção de alguém se batesse em alguém na cabeça com aquilo. Era o melhor que tinha. A única coisa que tinha para atrasar a morte de Adrian. Girando em volta do meu braço, eu mirei Dawn e joguei, recitando o encantamento tolo como um grito de batalha: –em chamas, em chamas!–

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Foi um bom tiro. Miss.Carson teria ficado orgulhosa. Mas eu não tive oportunidade de admirar a minha habilidade atlética, porque estava muito distraída a ver Dawn a pegar fogo. Meu queixo caiu enquanto eu olhava para o impossível. Não era um incêndio enorme. Não era como se o seu corpo inteiro estivesse envolvido em chamas. Mas onde o amuleto tinha atingido ela, uma pequena chama acendeu, espalhando-se rapidamente através do cabelo dela. Ela gritou e começou a dar tapinhas frenéticas na sua cabeça. Strigoi temia o fogo e por um momento, Jacqueline recuou. Então, com firme determinação, ela largou Adrian e pegou num cobertor. Ela envolveu-o em torno da cabeça de Dawn, sufocando as chamas. –Que diabos?– Dawn exigiu quando voltou a si. Ela imediatamente começou a vir na minha direção com a sua raiva. Eu soube então que a única coisa que tinha feito foi acelerar a minha própria morte. Dawn simplesmente pegou em mim e bateu com a minha cabeça contra a parede. Meu mundo vacilou e eu senti náuseas. Ela vinha para mim de novo, mas congelou quando a porta se abriu de repente. Eddie apareceu na entrada com uma estaca de prata na mão. O que realmente foi incrível foi a velocidade que se seguiu. Não houve pausas, nem longos momentos para avaliar a situação e nem brincadeiras sarcásticas entre os combatentes. Eddie simplesmente foi para cima de Jacqueline. Jacqueline respondeu com igual rapidez, correndo para se encontrar com o seu digno inimigo. Depois de ela o ter soltado, Adrian tinha caído para o chão, ainda no auge das endorfinas Strigoi. Mantendo-me baixa no chão, eu corri para o seu lado e ajudei-o a levantar para irmos para o outro lado ‘seguro’ da sala, enquanto Eddie entrava em choque com o Strigoi. Eu tirei apenas um olhar, o suficiente para ver a natureza mortal que a dança das suas manobras se assemelhava. Ambos os Strigoi estavam a tentar conseguir controlar Eddie, provavelmente na esperança de quebrar o seu pescoço, mas ao mesmo tempo tinham o cuidado de ficar longe da estacada da sua estaca de prata. Olhei para Adrian, que estava perigosamente pálido e cujas pupilas tinham reduzido ao tamanho de pequenos pontos. Eu tinha apenas uma impressão superficial de quanto Jacqueline tinha bebido dele e não sabia se o estado de Adrian era mais de perda de sangue ou de endorfinas. –Eu estou bem, Sage–, ele murmurou, piscando como se a luz o ferisse. –Embora, muito drogado. Faz com que as coisas que eu usei parecem bastante soft.– Ele piscou, numa luta para se manter acordado. Suas pupilas dilatavam para um tamanho mais normal e, em seguida, parecia concentrar-se em mim.–Bom Deus. Você está bem?–

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–Eu ficarei–, disse começando a ficar. No entanto, quando eu falei, uma onda de tontura bateu em mim e eu oscilei. Adrian fez o seu melhor para me apoiar, embora fosse muito estranho com as mãos atadas. Nos inclinamos um contra o outro, e eu quase ri da ridícula situação, por nós tentarmos ajudar um ao outro, quando nenhum de nós estava em condições de fazê-lo. Então, algo me chamou a atenção que colocou todos os outros pensamentos para longe. –Jill–, eu sussurrei. Adrian imediatamente seguiu o meu olhar para a entrada da sala onde Jill tinha acabado de aparecer. Eu não fiquei surpreendida ao vê-la. A única maneira de Eddie ter chegado aqui era se Jill lhe tivesse dito o que estava acontecendo com Adrian pela ligação do espirito. Parada ali, com os olhos a piscar enquanto observava Eddie a lutar com o Strigoi, ela parecia uma deusa feroz pronta para a batalha. Era tanto inspirador como assustador. Adrian compartilhava os meus pensamentos. –Não, não, Jailbait–, ele murmurou. –Não faças nada estúpido. Castile precisa de lidar com isso.– –Ela sabe lutar–, disse. Adrian fez uma careta. –Mas ela não tem uma arma. Sem uma, ela é apenas uma boneca ali.– Ele tinha razão, é claro. E eu, embora certamente não querendo por a vida de Jill em perigo, não podia ajudar mas acho que se ela estivesse devidamente equipada, ela podia ser capaz de fazer alguma coisa. No mínimo, uma distração podia ser um benefício. Eddie estava a aguentar segurar o seu terreno contra os dois Strigoi, mas ele não estava a fazer nenhum progresso para melhorar o ataque contra eles também. Ele precisava de ajuda. E precisávamos de garantir que Jill não corresse para ali com apenas o seu talento para a defender. Então tive uma ideia e eu fiz um esforço para me levantar. O mundo girava mais do que antes mas - apesar doa protestos de Adrian - consegui cambalear até a cozinha. Eu quase não consegui chegar à pia e abrir a torneira, antes das minhas pernas cederem sobre mim. Segurei-me contra a banca e usei-a para me manter de pé. –Jill!– gritei. Ela se virou para o meu grito, viu a água a correr e imediatamente soube o que fazer. Ela levantou a mão. O fluxo que vinha da torneira, de repente foi lançado para fora e rapidamente atravessou a cozinha em direcção à sala, onde Jill o apanhou com as suas mãos e magicamente se transformaram numa bola entre elas. A água deslizou pelo ar,

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como se fosse algo aparentemente sólida. Segurando a água, Jill correu para a luta e atirou para as costas de Jacqueline a água. Gotas voaram por ali, mas tinham rigidez suficiente para ela conseguir acertar um forte choque e explodirem completamente como um spray de água. Jacqueline girou, a mão dela balançou para atacar Jill. Jill já estava à espera daquilo e atirou-se para o chão, esquivando-se exatamente do jeito que eu vi Eddie ensiná-la. Ela levantou-se fora do alcance de Jacqueline e o Strigoi foi atras dela – dando a Eddie uma abertura para as costas dela. Eddie aproveitou a oportunidade, escapando-se de Dawn, e mergulhou a sua estaca nas costas de Jacqueline. Eu nunca tinha prestado muita atenção antes, mas se a estaca fosse empurrada com força suficiente, esta podia alcançar o coração de alguém com a mesma facilidade que a parte da frente – ou seja o peito. Jacqueline ficou rígida e Eddie tirou a estaca para fora, conseguindo evitar a plena força do ataque de Dawn. Ela ainda conseguiu apanha-lo e ele tropeçou ligeiramente mas recuperou rapidamente o equilíbrio e prontificou-se para ela. Jill foi esquecida e correu para a nossa beira na cozinha. –Você está bem?–, exclamou ela, olhando para nós. O olhar feroz tinha desaparecido. Ela era agora apenas uma rapariga comum, preocupada com os seus amigos. –Oh meu Deus. Eu estava tão preocupada com vocês dois. As emoções eram tão fortes. Eu não conseguia entender o que estava a acontecer, apenas que era algum problema horrível.– Eu arrastei o meu olhar para Eddie, que estava dançando sobre Dawn. –Nós temos que ajudá-lo…– Dei dois passos de distância do balcão e comecei a cair. Tanto Jill como Adrian estenderam a mão para me apanharem. –Jesus, Sage–, ele exclamou. –Você está em má forma.– –Não tão ruim quanto você–, protestei ainda preocupado com a ajuda de Eddie. –Elas beberam mais de você…– –Sim, mas eu não tenho uma ferida braço a sangrar.–, ele ressaltou. –Ou uma possível concussão.– Aquilo era verdade. Com toda aquela excitação, eu estava tão cheia de adrenalina que me tinha esquecido de onde Lee me apunhalou. Não admira eu estar tão tonta. Ou talvez isso era porque eu tinha batido com a minha cabeça contra a parede. Eu acho que ninguém adivinharia o porque. –Aqui–, disse Adrian suavemente. Ele pegou nos meus braços com as mãos algemadas. –Eu posso cuidar disso.–

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Um lento formigamento de calor se espalhou através da minha pele. No início, o toque de Adrian foi reconfortante, como se fosse um abraço. Senti a tensão e a dor a começar a diminuir. Tudo estava bem no mundo. Ele estava no controle. Ele estava a cuidar de mim. Ele estava a usar a sua magia em mim. –Não!– gritei, afastando-me dele com uma força que eu não sabia que tinha. O horror e o conhecimento do que estava a acontecer comigo era muito poderoso. –Não me toque! Não me toque com sua magia!– –Sage, você vai se sentir melhor, acredite em mim–, disse ele, chegando em minha direção novamente. Eu recuei, agarrando-me à borda do balcão. A memória fugaz do calor e do conforto foi ofuscada pelo terror que eu carreguei a minha vida toda sobre a magia dos vampiros. –Não, não, não. Nenhuma magia! Não em mim! A tatuagem vai curar-me! Eu sou forte!– –Sage…– –Pare, Adrian–, disse Jill. Ela se aproximou hesitante.–Está tudo bem, Sydney. Ele não vai curar você. Eu prometo.– –Nenhuma magia–, sussurrei. –Pelo amor de Deus–, rosnou Adrian. –Isso é uma superstição boba.– –Nenhuma magia–, Jill disse com firmeza. Ela tirou a camisa de botão que usava por cima de uma T-shirt. –Vem cá, eu vou usar isto para envolver o seu braço para que estanque o san…– Um grito ensurdecedor da sala nos apanhou desprevenidos. Eddie fez o seu assassinato, acertando em cheio no peito de Dawn. Na minha breve briga com Adrian e Jill, Dawn deve ter atingido Eddie com algumas investidas, porque havia uma grande marca vermelha de um lado do rosto e os seus lábios estavam a sangrar. Contudo a expressão em seus olhos eram duros e triunfantes, enquanto puxava fora a sua estaca e observava a queda Dawn. Através de toda a confusão e horror, os instintos básicos de Alquimista tomaram controle. O perigo se foi. Havia procedimentos que precisavam ser seguidas. –Os corpos–, disse. –Nós temos que destruí-los. Há um frasco na minha bolsa.– –Whoa, whoa–, disse Adrian me retendo ali junto com Jill. –Fique onde está. Castile pode ir busca-la. O único lugar para onde você vai é para um médico.– Não me mexi, mas imediatamente argumentei a última declaração. –Não! Nada de médicos. Pelo menos, você tem que - você tem que chamar um Alquimista. Na minha

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bolsa tem os números… – –Vai buscar a bolsa dela.–, Adrian disse a Jill. –Antes que ela entre em chilique aqui. Eu vou ligar o braço.–Dei-lhe um olhar de aviso. –Sem magia. Que, por sinal, poderia fazer isto dez vezes mais fácil.– –Vou curar-me sozinha.–, disse observando Jill a buscar a minha bolsa. –Você percebe,– acrescentou Adrian, –você vai ter que superar a sua fixação por dietas e consumir algumas calorias importantes para recuperar a perda de sangue. Açúcar e fluidos, assim como Clarence. Boa ideia alguém ter ensacado todos estes doces que estão no balcão.– Eddie caminhou até Jill e ela fez uma pausa, enquanto ele perguntava se ela estava bem. Ela assegurou-lhe que sim e, embora Eddie parecesse que conseguia aguentar com cerca de 50 Strigoi mais, havia também um olhar em seus olhos…algo que eu não pode acreditar que fui tão chega para não ter notado antes. Algo que eu ia ter que pensar. –Droga,– disse Adrian, atrapalhando-se com as bandagens. –Eddie, procura no corpo de Lee se tem lá umas chaves para estas malditas algemas.– Jill estava ocupada a conversar com Eddie, mas congelou face às palavras –corpo de Lee–. Seu rosto ficou tão pálid que ela poderia ser um dos mortos. Com toda esta confusão, ela não tinha reparado no corpo Lee que estava no cadeirão. Houve muito movimento com os Strigoi, que ela se distraiu com a ameaça que eles representavam. Ela deu alguns passos em direção à sala e foi quando ela o viu. Abriu a sua boca, mas nenhum som saiu imediatamente. Então ela correu para a frente e agarrou as suas mãos, gritando. –Não–, ela chorou. –Não, não, não.– Ela sacudiu-o, na esperança de o acordar. Num flash, Eddie estava ao seu lado, com os seus braços a envolve-la, enquanto murmurava coisas sem sentido para acalmá-la. Ela não ouviu-o. Seu mundo inteiro era Lee. Senti as lágrimas brotarem dos meus olhos e odiei elas por estarem a cair. Lee tinha tentado matar-me e depois chamou outros para me matar. Ele tinha deixado um rastro de inocentes pelo caminho. Eu deveria estar feliz por ele ter ido embora, mas ainda assim, me senti triste. Ele tinha amado Jill, na sua caminhada insana e, a dor no rosto dela me disse com toda a exatidão, que ela também o amava. A sua ligação de espírito não tinha mostrado a morte dele ou o seu papel na nossa captura. Neste momento, ela simplesmente achava que ele foi vítima de um Strigoi. Muito em breve, ela ficaria a saber a verdade sobre os seus motivos. Eu não sei se isso iria aliviar a dor ou não. Eu pressupus que não.

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Estranhamente, a imagem do ‘Amor’ da pintura de Adrian me veio à memória. Pensei nas pinceladas irregulares de cor vermelha, cortando através da escuridão, rasgando-a ao meio. Olhando para Jill e para a sua dor inconsolável, consegui compreender um pouco mais a arte dele.

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