Eu não podia ajudá-lo e soltei um suspiro suave, involuntário. Felizmente, nem meu pai, nem o jovem percebeu isso por causa do som da corrente da fonte. — O que você quer dizer? — Perguntou o homem bonito. Ele tinha razão para desconfiar. O que quer que meu pai estava planejando não prenunciaria nada de bom para todos os envolvidos.
Lokesh virou-se e aproximou-se da fonte de água. Deixando o fluxo de água passar pelas pontas dos dedos, ele perguntou:
— Você naturalmente está ciente do anúncio do rei esta noite?
— Que a sua filha está disponível para casar? O que tem isso?
Uma parte de mim ficou machucada pela observação do jovem. Eu racionalizei isso, lembrando-me que eu não estava à procura de um pretendente de qualquer forma. Que a melhor coisa para mim e Isha era eu me casar com um homem que vivesse longe do meu pai. Longe o suficiente para que eu pudesse escapar. Tal coisa seria fácil com o rei de Mahabalipuram, mas eu suspeitava que deixar um homem como este estranho seria muito mais difícil. Ainda assim, saber de sua indiferença ao meu respeito foi um duro golpe para o meu orgulho feminino.
Eu sempre soube que eu era linda. Isha me dizia isso muito o dia inteiro e eu recebia bastante atenção dos homens que cercavam a nossa casa para conferir a minha aparência, mas pela primeira vez na minha vida, me senti ... desagradável. A idéia de que o jovem que eu achava tão fascinante não tinha interesse algum em mim, ferroou.
Meu pai prosseguiu:
— Você pode não saber disso, mas o anúncio de hoje não foi planejado. O rei tem a intenção de usar a minha filha para promover seu alcance e como ela é a única ligação restante que tenho com minha amada falecida esposa, você pode entender que a declaração sobre a sua elegibilidade para o casamento me causou alguma preocupação.
Apertei os olhos com a menção de minha mãe. Isha tinha compartilhado suas suspeitas sobre a morte da minha mãe há muito tempo. Ela me disse que minha mãe não morreu no parto como o meu pai fez todos acreditar. Sua amiga, a parteira que me entregou, tinha falado com Isha apenas algumas horas depois que eu nasci e informou que mãe e filha estavam saudáveis.
Quando a amiga de Isha voltou para verificar a mim e minha mãe, a morte de minha mãe foi anunciada e a parteira desapareceu. Isha acreditava sinceramente que o meu pai tinha eliminado as duas mulheres. Depois de ter visto o seu temperamento de perto, eu não duvidava que ele era capaz de ter feito isso. Se eu achasse que matá-lo era uma possibilidade, eu teria feito isso sozinha, há muito tempo. O homem bonito falou, e me distrai dos meus pensamentos de vingança.
— O que isso tem a ver comigo? — Perguntou o estranho.
Meu pai correu as pontas dos dedos para trás e para a frente na água e eu notei que todos os peixes desapareceram.
Não mais suplicando, eles rapidamente se retiraram para os confins da lagoa. Será que sentiram algo quando meu pai tocou a água? Eu me perguntei. Ou, talvez, ele usou seu poder de alguma forma para fazê-los recuar. Mordi o lábio, tão atenta as próximas palavras proferidas por meu pai que eu mal podia respirar.
— Pensei que pudéssemos chegar a um acordo mutuamente benéfico.
— Tipo o que?
— O seu irmão mais velho, Dhiren, não é? Ouvi dizer que ele ainda não tomou uma noiva.
— Ele ainda é jovem. Além disso, ele tem estado muito ocupado defendendo nossas terras de suas ... pequenas desavenças.
Meu pai olhou rapidamente para o estranho, seus lábios se curvaram ligeiramente com a observação do homem.
— Não seria melhor — Lokesh perguntou com um sorriso astuto — se o seu irmão pudesse voltar a seus deveres em casa? Esquecer a guerra e as disputas sobre território e dedicar-se a ser o imperador que ele está destinado a tornar-se? Com a rainha adequada ao seu lado, ele poderia tomar o seu lugar de direito. Filhos homens poderiam reinar em seu lugar.
— Deixe-me adivinhar. Você deseja que sua filha seja a rainha.
— Ela é linda. Obediente. Recatada. Além do mais, seu dote é apoiado pelo rei. — Ele se inclinou para a frente e baixou a voz. — E, só entre nós dois, com a minha filha no trono, eu ficaria satisfeito que meus netos um dia poderão governar ambos os reinos. As brigas sem sentido sobre território acabariam e ambos os nossos reinos poderiam florescer de uma forma mutuamente satisfatória.
O jovem esfregou o queixo e eu ouvi o som dele esfregando a barba em seu rosto. Eu queria gritar, gritar para ele não dar ouvidos às palavras de meu pai. Lokesh nunca cumpria suas promessas. Ficar aqui ouvindo ele era perigoso. Mas eu não disse nada e torci minhas mãos invisíveis, desesperada para ouvir sobre esse futuro que ele planejara para mim. O fato de que Lokesh não permitiria que o rei me casasse com alguém de sua escolha não foi surpreendente, mas eu tinha permitido que um pequeno raio de esperança crescesse e como eu esperava, meu pai o apagou antes mesmo de uma noite ter se passado.
Então meu pai desonesto completou:
— Com certeza, a este ponto você poderia ser liberado para perseguir seus próprios objetivos. Talvez você possa encontrar uma mulher com riquezas suficientes para que você possa comprar uma pequena propriedade de sua preferência. Obviamente, como o segundo filho, seria dada uma parte da riqueza de seu pai para você se estabelecer. Com o suficiente para iniciar, você pode até se dar bem. Você nunca seria capaz de se manter com o seu irmão, é claro, mas não há nenhuma vergonha em ser o segundo melhor. E tenho certeza de que os filhos reais da minha filha iriam gostar de conhecer o seu tio se ele se dignasse a visitá-los de vez em quando.
Enquanto Lokesh continuava, as costas do jovem endireitaram-se ainda mais. Sua fúria era evidente. Eu sabia disso e meu pai sabia disso. Manipulação era uma de suas habilidades e a única maneira de contornar era fingir que nada do que ele dizia o afetava.
Mais uma vez, eu achei que eu deveria defender o jovem, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Meu pai tinha tramado suas camadas de manipulação em torno do homem como uma cobra hábil e eu quase podia ouvir o som do ego do belo estranho sendo ferido conforme as voltas o apertavam.
— Você entende que eu sinto um grande afeto paternal pela minha filha. É imperativo para mim que eu a mantenha por perto. Nossas terras fazem fronteira uma com a outra. Por isso, estou disposto a negociar um compromisso em nome do nosso rei, mas não se enganem, se minha generosa oferta for rejeitada, não terei escolha senão aumentar as hostilidades entre os nossos povos.
— E você se sente confortável alojando sua filha com seus inimigos?
A língua de Lokesh disparou sobre os lábios:
— Tenho toda a confiança de que você vai tratá-la com a honra e o respeito que ela merece.
Eu poderia ter rido. Não havia nenhum inimigo mais perigoso para o meu bem-estar do que o homem que dizia sentir "afeto paterno" por mim.
O jovem chamado Kishan virou as costas para o meu pai, o que significava que ele estava de frente para mim. Na verdade, ele estava a apenas alguns centímetros de distância. Uma miríade de emoções cruzou seu rosto enquanto ele considerava as palavras de meu pai. Eu queria alcançá-lo e acariciar sua testa com a ponta do meu dedo, para suavizar as rugas e aliviar o desconforto que meu pai havia lhe causado.
Finalmente, ele disse:
— Eu vou passar a sua proposta adiante para os meus pais. Vamos enviar nossa resposta por correio dentro de uma quinzena.
Meu pai abaixou a cabeça em um gesto de boa vontade fingida.
— Que seus cavalos sejam rápidos.
Kishan se despediu e Lokesh obsevou ele partir. O silêncio desceu sobre o jardim. Todos as coisas répteis ficaram quietas. Até o vento se acalmou. Minha respiração de repente parecia muito alta. Eu bati em minha testa superaquecida e desejei que minhas pernas invisíveis parassem de doer. Erguendo as mãos, Lokesh canalizou sua energia, um ato que eu raramente tinha testemunhado. A água da fonte ondulou e congelou enquanto gelo cobria cada centímetro da superfície de pedra do caminho.
Ele chicoteou os braços no ar e um vento forte destruiu o jardim, arrancando flores delicadas de suas hastes e quebrando as árvores. Então ele ergueu os braços e o chão tremeu, a fonte congelada rachou e eu tropecei e caí. Mordi minha língua forte, em vez de gritar. Empurrando as mãos abertas, faíscas azuis saíram de seus dedos e enegreceram o tronco de uma árvore próxima. Diminuindo os ataques, ele apagou o poder e com um passo determinado ele deixou o jardim, descendo um conjunto diferente de escadas do que o que eu tinha usado.
Eu esperei um longo tempo antes de voltar para o meu quarto e quando voltei, eu lavei cuidadosamente os meus pés e subi na cama, mas o sono me escapou. Em vez disso, eu olhei para o material transparente estendido sobre minha cama e me preparei para a manhã que estava por vir.
Quando a luz do dia encontrou o meu quarto, eu esperei que meu pai fosse me buscar. Eu esperava que ele fosse aparecer imediatamente, mas conforme as horas da manhã passaram e nem mesmo uma camareira veio ao meu quarto, me aventurei. Eu não encontrei ninguém, nenhum convidado ou funcionário, até que entrei no grande salão e então quem me procurou não era meu pai nem o seu braço-direito, Hajari, mas o rei Devanand, meu pretendente de Mahabalipuram.
— Oh, minha querida. Isto é trágico. Trágica notícia de fato.
— O que foi? — Lhe perguntei enquanto eu ajustava o véu com mais força sobre minha face. — O que aconteceu?
— Você não ouviu?
Eu balancei a cabeça em resposta.
— O rei foi assassinado.
— É ... isto é possível? — Eu perguntei, a suspeita já enchendo minha mente. — Como ele morreu? Foi descoberto o vilão?
— Ainda não. Seu pai está investigando.
— Eu entendo.
— A princípio, acreditava-se que ele simplesmente faleceu em seu sono, mas quando as mulheres foram atendê-lo, seu camisolão caiu. Foi quando eles viram as marcas pretas no peito perto de seu coração.
— Marcas pretas?
— Sim. A área que circundava o coração dele estava queimada, mas a pele enegrecida não era suficiente para matá-lo. Ainda assim, é prova suficiente para levantar suspeitas.
— Entendo. O que está acontecendo agora? Onde está o meu pai?
— Ele está organizando as tropas. Eles irão defender o reino até que um novo rei seja escolhido. Ele teme que um usurpador possa tentar tomar o trono e ele não quer que isso aconteça.
— Claro.
Ele acariciou minha mão.
— Infelizmente, isso significa que não serão mais feitos planos neste momento a respeito de seu futuro. Você deve saber que eu fiz as minhas intenções muito claras para o seu pai. Ele me garantiu que eu seria um dos primeiros a saber quando tudo se acalmasse. Até então, todos os convidados devem retornar o mais silenciosamente possível para seus próprios domínios.
— Eu entendo.
— Ah. Lá está o homem de seu pai. Eu vou deixá-la em seu cuidado então. Até que nos encontremos de novo, senhorita encantadora.
O rei apertou minha mão e, relutantemente, me deu a Hajari, que pegou meu braço em um aperto forte.
— Onde você estava? — Ele sussurrou em meu ouvido.
— Ninguém veio me buscar esta manhã. — Respondi friamente.
— Seu pai está esperando por você. Venha.
Ele me arrastou pelo corredor e através de várias passagens, saboreando a oportunidade de me mostrar que ele estava no comando, embora nós dois soubessemos que era apenas temporário. Com certeza, seu comportamento mudou completamente no momento em que entrou no quarto onde meu pai estava sentado e cercado por assessores do falecido rei. Quando ele me viu, ele dispensou o grupo.
— Dormiu bem, minha querida? — Ele perguntou educadamente enquanto os últimos homens saiam e fechavam a porta atrás deles.
— Sim, pai. — Eu respondi com o meu olhar treinado em seus pés.
— Eu suponho que você ouviu falar da morte do rei. — Disse ele e pelo seu tom de voz, eu não poderia dizer se ele quis dizer isso como uma pergunta ou uma afirmação. Eu decidi que era melhor não dizer nada.
Ele esperou por alguns segundos e, em seguida, confirmou o que eu já suspeitava.
— Trágico, não é? Claro, você está ciente de que isso pode significar para você.
— Que eu não vou me casar, afinal? — Me aventurei em voz baixa.
— Oh, você vai se casar, Yesubai, mas não com um rei velho que você obviamente prefere. — Ele se virou e caminhou de volta para a mesa do rei, onde um grande mapa estava aberto. Ele pegou uma estatueta de um guerreiro nas costas de um elefante e o mudou para outro local através de uma linha preta grossa desenhada sobre o mapa. O território estava marcado com a palavra Rajaram. Olhei para longe antes que ele olhasse para mim novamente.
— Você deveria estar feliz. — Disse ele. — Minha intenção é que você se case com alguém muito mais jovem. E então, quando você for uma rainha e um pouco de tempo passar, eu vou esperar que você o mate.
Assustada, olhei para cima e o encontrei olhando para mim, com um brilho diabólico em seus olhos.
— Para ver se você vai cumprir sua parte neste pequeno drama, eu vou manter Isha por perto. Você entende as minhas expectativas? — Ele terminou.
Depois que eu pisquei sobre a umidade dos meus olhos, eu assenti levemente e respondi:
— Sim, pai.
— Muito bem. Você pode ir. Vamos residir aqui até que os arranjos apropriados sejam feitos para o seu noivado.
...
Levou cerca de um mês para o meu pai subir relutantemente ao trono. Ele manteve Isha longe de mim para segurar que eu cumprisse com o combinado. As empregadas atribuídas a mim eram eficientes, mas frias e Hajari tornou-se uma constante presença ao meu lado. Em nenhum momento ele me deixava fora da sua vista. Meu quarto foi considerado muito fácil de escapar e novos aposentos foram atribuídos a mim. Havia apenas uma porta para entrar e sair do meu novo quarto e até que as correspondências fossem enviadas, o meu pai estava contente em me deixar lá.
Minhas refeições eram trazidas e eu era permitida caminhar no pátio uma vez por dia apenas se Hajari estivesse comigo. Desde que eu sabia que estar a sós com Hajari só resultaria em um ataque provável, eu determinei que era melhor ficar no meu quarto. Sem Isha, o único rosto conhecido no meu mundo muito limitado, eu me desesperava. Alimentos perderam seu atrativo e eu mantive as cortinas pesadas fechadas sobre minha janela gradeada.
Em seguida, umas correspondências chegaram. A família Rajaram tinha considerado a oferta do meu pai, apesar das ameaças reveladas por trás dele, e a própria rainha disse que gostaria de me encontrar para verificar se eu seria um bom partido para seu filho. Meu pai estava emocionado com a perspectiva. Ele havia se distraído com as funções do reino, mas quando o mensageiro chegou, ele não pode esperar para compartilhar a notícia e me levou até ele imediatamente. Ele não estava satisfeito com a minha aparência.
— Você andou doente? — Ele questionou.
— Não, pai.
Grosseiramente, ele arrancou o véu do meu rosto e estreitou seus olhos enquanto ele segurava meu queixo, virando a cabeça de um lado a outra para me estudar. Me empurrando para o lado, ele encurralou Hajari e envolveu a mão ao redor da garganta do homem. Seus olhos se arregalaram e ele chiou enquanto arranhava debilmente a mão do meu pai.
— Você vai garantir que ela coma, que seu cabelo seja escovado e oleado até que brilhe e que não haja nenhuma marca em seu rosto ou inchaço sob os olhos. Eu fui claro?
— Sim, meu rei. — Hajari tossiu.
— Bom. — Ele deixou o seu servo cair e acrescentou. — Ela parte em três dias. Garanta que ela esteja pronta. Eu quero que ela seja adornada como uma princesa. Agora vá. Preciso falar com ela a sós.
Hajari, cuja garganta estava agora inchada e vermelha, recuou sem dizer uma palavra e fechou a porta atrás de si.
Meu pai disse:
— Agora então. Há algumas coisas que eu acho que devemos discutir antes de você partir.
…
Pavor me tomou quando o palácio da Família Rajaram veio à tona. Eu estava no meio de uma grande caravana, andando em uma carruagem opulenta e estava vestida como se eu já fosse uma grande rainha. Meu pai não poupou nenhuma despesa em apresentar o seu pequeno presente mortal para a família Rajaram. Dentro de um baú cheio de vestidos de seda suntuosa e véus havia um compartimento secreto cheio de garrafas de veneno e facas afiadas pequenas o suficiente para caber dentro de um bolso.
Eu sabia as conseqüências se eu falhasse. Meu pai deixou bem claro para mim. Eu deveria agradar Dhiren, o mais velho, me casar com ele, descobrir o paradeiro secreto de suas relíquias de família, roubá-las e matá-lo. Até lá, eu deveria espionar a família Rajaram.
Se eu não fizesse o que meu pai queria, ele iria torturar Isha. Torci a pequena mecha de cabelo grisalho de Isha no meu bolso. Ele tinha me dado como um lembrete de que eu precisava cumprir o meu dever. Na verdade, ele tinha sido tão específico sobre o método que ele usaria para ferir a minha babá que eu não tinha dúvida de que ele não tinha apenas feito isso antes, mas que apreciava a oportunidade de fazer novamente.
Meu estômago se apertou dolorosamente, sabendo que eu tinha concordado em me tornar uma assassina secreta e uma espiã para o homem doente, depravado que meu pai era, mas as consequências se eu falhasse, eram impensáveis. Eu não podia permitir que a minha amada Isha sofresse nas suas mãos. Eu não sabia se eu poderia cometer um assassinato para salvá-la, mas não havia dúvida de que eu devia a ela por me proteger dele. Toda vez que eu a via mancar, me lembrava que a culpa era minha por ela sofrer, minha culpa, ela permanecer em seu emprego. Eu não iria deixá-la nas mãos dele. Quando cheguei ao palácio, fui apresentada e cada pessoa que eu conheci parecia aberta e gentil. Hajari tinha vindo comigo e tentou inserir-se como meu auto denominado protetor, mas felizmente o conselheiro militar, um homem astuto, que parecia ver através de meu véu os segredos escondidos dentro do meu coração, atribuíu seu próprio homem também. Ele foi sábio em fazer isso. As ações de Hajari foram severamente restringidas com o soldado dos Rajaram constantemente nas proximidades. Eu não encontrei Deschen até o jantar naquela noite. A rainha era o personificação da elegância. Ela me observava do outro lado da mesa e perguntou questões educadas sobre a minha casa e família. Ela interpretou minhas respostas contidas como timidez. Depois do jantar, ela me chamou para seu quarto privado e me mandou sentar a seu lado. Mulheres de todas as idades a rodeavam e conversavam alegremente enquanto costuravam.
Quando ela viu que eu estava relutante em falar sobre mim mesma, ela falou de sua família distante, de sua terra natal e de seus filhos. Seu amor por sua família era óbvio, como o fato de que ela era ferozmente protetora com seus filhos. Ela parecia surpresa quando eu perguntei sobre seu filho mais jovem, mas estava muito disposta a compartilhar histórias de sua juventude. Eu logo soube que Kishan tinha sido enviado para as fronteiras e provavelmente voltaria dentro de um mês e que Dhiren não era esperado há algum tempo. Deschen disse que queria me conhecer primeiro, antes de a decisão a respeito do noivado fosse feita.
Todos os dias eu saía para os jardins do palácio, sempre com os meus dois acompanhantes e todas as noites eu passava com Deschen. Não demorou muito para eu admirar a mãe de Kishan. Ela me fascinou, quase tanto como o seu filho. Ficou claro que havia um grande amor entre Deschen e seu marido. Quando chegava a hora de se retirar, o imperador vinha buscar a esposa. Juntos, eles davam boa noite a todas as mulheres viúvas que ela acolhera.
As mulheres, cujos maridos tinham morrido na guerra, eram ferozmente leais à família Rajaram e eu senti impulsionada por ouvir as suas histórias. Gostaria de saber se poderia haver uma maneira de salvar Isha. Ela iria florescer como uma das mulheres da rainha. Eu estava apenas começando a me sentir em casa e segura quando o meu pai me fez uma visita.
Um pesadelo terrível me acordou. Meus braços se arrepiaram e percebi que as janelas estavam abertas, as cortinas ondulantes na brisa. Eu tinha acabado de levantar para fechá-las quando ouvi uma voz.
— Você parece bem, minha querida.
Congelando no lugar, eu instintivamente abaixei minha cabeça.
— Pai. — Eu disse.
— Como as coisas estão progredindo? A família aceitou você?
— Eu acredito que eles aceitaram.
— Então por que está demorando tanto? Por que eu não ouvi nada sobre um noivado?
— A rainha ainda está me avaliando. Além disso, ambos os príncipes estão fora.
— Sim. Eu estou os mantendo ocupados.
— Mas por quê? Pensei que quisessemos eles aqui.
Ele se moveu tão rapidamente que eu não estava preparada. Meu pai me empurrou contra a parede com o antebraço na minha garganta.
— O que você disse? — Ele perguntou, seus olhos escuros brilhando ao luar.
— Peço desculpas. — Eu sussurrei. — Eu não quis questioná-lo.
— Lembre-se de seu lugar — Ele sibilou.
Eu balancei a cabeça, me xingando por ser tão imprudente. Meu tempo longe do meu pai me fez complacente.
— Eu não preciso explicar minhas ações para você. Ainda assim, quando a rainha mencionar os conflitos que mantém seus filhos longe, você pode lhe garantir que você tem bastante influência sobre seu pai para acabá-los e que eles devem concordar com a união de nossas famílias. Você já viu os medalhões que eu lhe pedi para encontrar?
— Não. Nem a rainha, nem o rei os usa. O conselheiro militar não permite que eu ou Hajari nos movamos pela propriedade sem seus homens estarem presentes.
Meu pai murmurou:
— Eu deveria ter matado aquele Kadam.
Quando eu não disse nada, ele deu um passo para trás, finalmente, me liberando de seu poder sobre o meu pescoço, e disse:
— Você sabe o motivo de eu buscar esses medalhões?
— Não. — eu respondi com cuidado — Eu só preciso saber que você os quer.
— Isso é certo. — Ele parecia satisfeito com a minha resposta.
Inclinando a cabeça, ele me considerou por um momento, depois disse:
— Talvez, minha cara Yesubai, é hora de você entender exatamente quem você é.
Senti o oxigênio deixar meus pulmões.
— O que quer dizer?
— Sim. Se você souber minhas motivações, você vai entender a melhor forma de me servir. — Virando-se, ele cruzou as mãos atrás das costas e começou — Você é a filha de um homem muito poderoso e eu não quero dizer politicamente. — Ele caminhou ao redor da sala tocando vários objetos que pertenciam à família real enquanto falava. — Eu fui o herdeiro de um trono de uma grande província em uma terra muito longe daqui. — Ele se voltou para mim. — Mesmo que eu tenha matado meu irmão e minha madrasta para ascender ao trono, eu desisti.
Que ele tinha matado para realizar seus objetivos não foi surpreendente, mas se afastar de um trono, era.
— Você não queria esse poder? — Eu questionei.
— Mandar em um reino não é poder. — Ele cuspiu enquanto olhava para mim — Este é o verdadeiro poder. — Ele puxou uma corrente em volta do seu pescoço e me mostrou um amuleto quebrado anexado ao final.
— O que é isso?
— Chama-se amuledo de Damon.
— Isso é um tigre?
— Como você é inteligente, minha querida. — Ele esfregou o polegar sobre o amuleto com uma expressão quase carinhosa. Ele murmurou baixinho, como se perdido em seus pensamentos — Há muito tempo atrás, houve uma grande batalha que uniu os reinos da Ásia. Um demônio apareceu. Ele devastou o país e, finalmente, suas atrocidades ficaram horríveis demais para ser ignoradas. Cinco reinos se uniram para derrotar o monstro de uma vez por todas.
Meu pai nunca tinha dito nada sobre seu passado. A maioria do que eu sabia foi adquirido a partir de pedaços que eu tinha escutado. Fiquei fascinada e horrorizada ao mesmo tempo.
Ele continuou.
— Na véspera de sua derrota, uma deusa bela e horrível os liderou montada em seu tigre, chamado Damon.
Sorrindo secretamente, ele bateu nas garras do tigre no medalhão.
— Quando o demônio foi finalmente morto, ela presenteou cada reino com um pedaço do amuleto. Logo, descobriu-se que as peças do amuleto controlavam os elementos - cada parte com um deles. Diz-se que se o amuleto for remontado, seu portador vai possuir o poder da própria deusa.
Isso explicava muito - o fogo azul que eu tinha visto em suas mãos, a água derramando da boca do homem que ousou me tocar, os pequenos tremores no chão sempre que ele estava com raiva, os fortes ventos que tinha invocado no jardim e a morte prematura do rei. Isso era o que levava o meu pai. Isso era o que ele procurava. E de alguma forma, uma parte desse poder que ele tinha reunido havia sido transmitido através de seu sangue. Minhas habilidades eram presentes de uma deusa.
Ele sorriu como se provocando uma criança com um brinquedo.
— Você pode ver, existem duas peças que faltam.
— Estas são as peças que eu estou procurando?
— Sim. Uma vez que o amuleto estiver completo, não haverá nada nem ninguém que não possa controlar. Eu vou ser invencível. E se você tiver muita sorte, você vai viver para se aquecer na minha glória. Não vai ser o mesmo como se você fosse um filho, mas eu nunca me fecho para novas ... oportunidades.
Ele segurou meu queixo em sua mão, a seu parto firme.
— Se você tivesse um pouco de fogo em seu sangue.
Um filho? Quem seria ele? ... Deschen. Ela era a mulher que ele desejava para isso.
— Mas Deschen pode ter passado de seus anos férteis.
— Sim. Essa é uma possibilidade. — Admitiu. — É por isso que eu estou interessado com a possibilidade de permitir que você se case com um dos príncipes. Se eu não posso ter um filho para moldar a minha imagem, talvez possa com neto.
A idéia de que meu pai poderia se tornar ainda mais poderoso era surpreendente. Tudo fazia sentido. A razão que eu tinha sido enviada. Os conflitos com a família Rajaram. Era tudo para ter os amuletos e arrancar Deschen de sua família.
Agora que eu sabia a verdadeira motivação de meu pai, era ainda mais importante que eu escondesse minhas habilidades. Se ele soubesse o que eu poderia fazer, ele moldaria a mim e meu descendente em quem ele era - um assassino, sedento de poder, receptáculo do mal. Quanto mais eu fosse fraca e dócil, menos ele iria me ver e quanto menos ele me visse, menos vilania ele esperaria que eu participasse. — Você sabe o que eu espero — disse ele. — Você tem duas semanas para anunciar seu noivado ou encontrar os medalhões. Para cada dia após isso, vou lhe enviar um dos dedos de Isha em uma caixa.
Engolindo o meu horror, meus olhos encheram-se de lágrimas frustradas, eu murmurei:
— Sim, pai.
Quando olhei para cima, ele tinha ido embora.
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