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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Capitulo Bônus 2: Destinado

- Narrado por Ren -


Todo o curso da minha vida mudou no dia em que meus pais me visitaram e minha mãe perguntou se eu estava pronto para me tornar noivo. O casamento era algo que não tinha estado em primeiro plano na minha mente, mas concordei em considerá-lo uma vez que ajudaria a trazer a paz à região e era óbvio que ela estava animada com a menina. Eu sabia que minha mãe não iria escolher qualquer uma para tomar seu lugar no trono. A mulher que seria minha noiva teria de ser especial.

Eu não estava desapontado. Embora ... não era assim que me sentia no início.

De pé nas sombras frescas de uma das nossas propriedades, bem acima da pequena, mas próspera cidade abaixo, eu assisti a chegada da minha pretendente. A caravana chegou mais cedo do que eu esperava e quando vi a carruagem passar pelos portões e sob o arco decorativo, fiquei surpreso com a forma como as minhas mãos tremeram. Que um mero lapso de uma menina que eu não tinha sequer conhecido ainda poderia me causar tremores como um soldado inciante em sua primeira batalha, me encheu de uma estranha combinação de prazer e angústia.

Meu batimento cardíaco acelerou e uma sensação inebriante de excitação correu por minhas veias. Tive o prazer de descobrir que eu estava ansioso para conhecer a minha noiva. Aprender tudo sobre ela seria uma distração bem-vinda dos conflitos constantes que assolavam minha mente.

Como ela seria?

Eu queria saber seus gostos e desgostos. Eu queria memorizar o modo como suas mãos se moviam e o cheiro do seu cabelo. Talvez eu tivesse tempo suficiente com ela para descobrir um de seus pratos favoritos. Eu ansiava por ouvi-la rir e me perguntei o que ela acharia de um futuro imperador que gostava de escrever poesia.

Quando ela se aproximou, meu pensamento mudou. Minha mãe tinha mencionado que o noivado, caso eu concordasse com ele, precisava acontecer mais cedo ou mais tarde, referindo-se ao fato de que a menina estaria mais segura com a gente do que ela estava com sua própria família. Eu fiz uma careta. Ela teria se machucado? Teria sido abusada? Minhas mãos se apertaram em punhos com a idéia de que alguém tinha lhe causado mal. Se descobrisse que o fato era esse, eu iria destruir quem era o responsável. Eu já me sentir protetor com ela era um bom sinal.

Os soldados à frente da caravana circularam a carruagem, uma vez que parou em frente à casa elaborada que tinha se tornado a minha sede provisória. Coloquei as mãos no corrimão esculpido, me inclinei e chamei os soldados de Kadam perguntando se tinha acontecido quaisquer incidentes durante a viagem. Eles responderam que a viagem tinha sido tão fácil como escorregar para um banho quente, algo que o soldado mais velho e líder, um homem quase pronto para se aposentar do serviço militar, disse enquanto olhava adiante.

Quando eu assegurava que comida, descanso e um lugar confortável para lavar a poeira da estrada de seus pés estava lhes esperando, houve uma vibração de cortinas e vi uma mão delicada desaparecer no espaço escuro dentro carruagem. Me xingando por não estar na porta para encontrá-la imediatamente, eu girei e saltei para baixo do lance de escadas o mais rápido que pude e corri para a carruagem, enquanto um dos soldados ofereceu o braço para ajudá-la.

Passando uma mão nervosa pelo meu cabelo, coloquei o que eu esperava que fosse um sorriso encantador no meu rosto e esperei que ela se voltasse para mim. Ela era facilmente duas cabeças menor do que eu e ela estava tão envolta em tecido que eu não tinha ideia de como era seu corpo e forma. Vendo que ela usava véus cor de safira, minha cor favorita, eu levei isso como um bom sinal e disse:

— Saudações, linda Yesubai. Tenho a honra de conhecê-la.

Baixei a cabeça até que senti que ela se virou para mim e levantei meu olhar para encontrar o dela. Eram os olhos mais surpreendentes que eu já vi – tom surpreendente de lavanda tão brilhantes que me fez lembrar de uma das cobiçadas rosas roxas da minha mãe. Através de um véu cobrindo o rosto, que era transparente o suficiente, eu pude ver a curva de sua bochecha, a boca generosa e seu queixo empinado.

Apesar do fato de que eu sabia que isso não era algo excessivamente correto, eu não pude me conter e peguei a mão dela na minha, pressionando meus lábios nos seus dedos finos.

— Estou tão feliz que você veio. — Eu disse calorosamente enquanto meus olhos pegavam os dela novamente sobre os nós dos dedos de sua mão.

— Eu também estou contente por estar aqui. — Ela respondeu de forma suave, mas distante e educada.

Uma prática muito politíca para recuar do meu erro descuidado juntamente com sua saudação apenas morna ao me ver, eu apertei os dedos levemente, deixei cair a mão e apertei a minha mão nas minhas costas e dei vários passos para longe. Eu tinha suposto muito, muito rapidamente e obviamente a assutei. Talvez ela não pensasse sobre a possibilidade de casamento, tanto quanto eu estava.

Também era provável que a idéia de estar perto de um homem fosse alarmante para ela. Eu era bom o suficiente para ler a linguagem corporal para saber que ela me considerava um perfeito desconhecido e que ela não confiava em mim ainda, mas eu estava determinado que eu faria tudo ao meu alcance para mostrar a ela que eu era digno de ganhá-la. E de alguma forma eu ia fazer de tudo para me aproximar dela como um filhote de cachorro exuberante e inexperiente.

— Você prefere descansar? Eu posso pedir que lhe tragam comida se você preferir comer sozinha. — Eu ofereci enquanto caminhávamos.

Ela considerou minhas palavras por um momento e então respondeu:

— Não. Eu acho que eu prefiro ter minhas refeições com os demais.

Balançando a cabeça um pouco para reconhecer as palavras dela, eu considerei não apenas o que ela disse, mas como ela disse. Eu não tive a sensação de que ela particularmente queria comer comigo, mas ela sentia que era seu dever. A última coisa que eu queria era forçar uma mulher a se tornar minha noiva, que considerasse casar comigo uma obrigação. Eu queria amor. Talvez isso não desse certo.

— Vamos fazer nossa refeição daqui uma hora .

Ela assentiu com a cabeça e eu sinalizei as mulheres que eu tinha designado para cuidar de suas necessidades durante a sua estadia. Elas correram para a frente e a levaram para sua suíte para deixá-la confortável. Suspirando pesadamente, a decepção caiu sobre mim, mas recusando-me a permitir que isso extinguisse a esperança que eu tinha sentido antes, resolvi dar a ela algum tempo e me reuni com os soldados de Kadam enquanto esperava seu retorno.

O jantar foi tranquilo, comigo fazendo mais do que falar e ela respondendo com palavras breves e acenos quase imperceptíveis. Minha frustração voltou à tona. Não era isso que eu queria. A garota que eu imaginei passar o resto da minha vida teria mais fogo, mais paixão, mais ... ousadia. Eu queria alguém que pudesse se defender. Que não se intimidaria simplesmente porque eu era um homem ou o herdeiro de um trono.

Naquela noite, depois do jantar andei pelo terraço, perguntando o que eu deveria fazer. Devo mandá-la de volta? Dizer a minha mãe que ela tinha se enganado em sua escolha? Era verdade que ela era linda e falava bem, mas isso não era o suficiente. Era errado querer mais?

A lua de repente rompeu com as nuvens e vi Yesubai na varanda abaixo. Ela usava um vestido de seda de mangas sino brancas. Seu rosto brilhante estava livre de véus e seu cabelo escuro pendia solto, a ponta quase tocando o chão. Fios grossos voaram na brisa. Mais uma vez fiquei impressionado com sua beleza. Enquanto eu estava ali olhando para ela, eu a vi levantar a mão ao rosto e passar em sua bochecha. Ela fez isso mais e mais e mesmo eu não conseguindo ouvir o som, eu sabia que ela estava chorando.

A ideia de se casar comigo era assim tão horrível? Será que ela se sentia presa? Talvez ela pensasse que iríamos abandoná-la se não concordasse com o casamento. Talvez ela preferia fazer algo diferente com sua vida. Ela precisava saber que iria protegê-la de qualquer maneira. Fiquei surpreso que minha mãe já não tivesse explicado isso.

Eu desçi as escadas e saí para a sua varanda.

— Yesubai? — Ela se virou para olhar para mim, alarmada. Eu levantei a mão. — Eu sinto muito se eu a assustei. Eu estava no último andar e ouvi seu choro. — Não era verdade. Ela não tinha feito um barulho, mas eu não conseguia pensar em mais nada para dizer. — Você vai me dizer o que está errado? — Eu perguntei.

Seus olhos cor de lavanda estavam luminosos à luz da lua e ela parecia um espírito da floresta nervoso pronto para saltar sobre a sacada e voar a qualquer momento.

— N ... não há nada errado. — Ela respondeu, finalmente. Eu poderia dizer que ela estava angustiada por eu ter sido testemunha de suas lágrimas.

Dei um passo mais perto.

— Eu prometo a você. Não tenho nenhum desejo de vê-la machucada ou infeliz. Se a ideia de se tornar minha noiva está perturbando você, isso pode ser facilmente sanado. O olhar de pânico no rosto dela me confundiu.

— Não! — Ela declarou. — Eu não posso permitir que você me mande embora.

— Não foi isso que eu quis dizer. — Eu esfreguei meu queixo enquanto a estudava, perguntando por que eu parecia estar dizendo todas as coisas erradas. Não soava como eu. Tentei novamente. — Eu só quis dizer que, se você não tem nenhum desejo de se casar, não vou forçá-la. Nada foi finalizado. Você é livre para escolher.

— Livre. — Ela soltou uma respiração curta com uma risada em seguida, congelou e ergueu os olhos para mim antes de virar de costas. — Se ao menos eu fosse. — Ela terminou.

— Pode ser. — Eu disse enquanto terminei com a distância entre nós. — O casamento para mim não é a única maneira de você se livrar daqueles que machucaram você. Ela endureceu.

— O que quer dizer? — Perguntou ela.

— Quero dizer ... — Senti que ela não queria que eu a tocasse, assim, sem saber o que fazer com minhas mãos, cruzei os braços desajeitadamente em meu peito. — Eu quero dizer que a nossa família irá protegê-la de qualquer maneira.

— E quem vai proteger você?

Suas palavras eram tão suaves que eu mal podia compreendê-las, mas quando as entendi, fui tomado por compreensão. Ela estava apavorada. E não era comigo.

— Yesubai, eu não vou deixar você ser prejudicada.

Ela se virou e olhou para mim, então, totalmente. Sem hesitação. Nenhuma reserva. Nada a esconder. Era como se uma janela para a sua alma se abrisse e eu vi a pessoa que ela era. A pessoa que ela queria ser. Ela tinha um núcleo de força, mas ele estava enterrado tão profundamente dentro dela que eu me perguntava se ela sabia que estava lá. Eu não sabia se eu seria capaz de superar a distância e descascar as camadas as quais ela se escondia atrás. Mesmo que fosse possível, levaria tempo e muita paciência, mas eu sentia que o resultado valeria a pena.

Silenciosamente, eu perguntei:

— O que você quer, Yesubai?

Ela respondeu com um murmúrio hesitante, com a testa franzida, como se ela não tivesse entendido a pergunta.

— Eu quero ... — ela fez uma pausa. — Eu quero estar com alguém que me ame. Eu quero viver com sua família. Eu quero me sentir segura.

Sorri então e ofereci minha mão aberta. Ela colocou a sua mão, muito menor, na minha e embora seus dedos tremessem, ela não protestou quando eu coloquei minha outra mão em cima e apertei levemente.

— Eu prometo a você. Vou lhe dar todas essas coisas, se... se é isso que você quer, Yesubai.

Ela olhou para as nossas mãos e, em seguida, para mim, procurando o meu rosto por um momento antes de dizer finalmente:

— É o que eu quero.

Esse foi o ponto de virada para mim. Eu já tinha visto a pessoa que ela queria ser. A pessoa com força e fogo que vivia por trás dos véus. Seria preciso uma grande dose de bondade e paciência para trazê-la para fora. Eu decidi que eu poderia esperar por isso. Eu poderia esperar que ela aprendesse a me amar. Poderíamos adiar o noivado e mesmo se decidíssemos ir em frente com isso, um compromisso poderia durar anos.

Eu estava confiante de que ao longo do tempo iríamos conhecer um ao outro e que havia uma chance para que fossemos felizes.

Quando eu sugeri atrasar o noivado no dia seguinte, ela se opôs, dizendo que precisava assinar a papelada antes de voltar. Levei várias horas dando atenção a ela e com cuidado fiz perguntas antes dela admitir que foi seu pai que insistiu na união. Ela acreditava absolutamente que se ela voltasse sem ter um acordo comigo, ele iria causar um grande sofrimento.

Eu sabia que seu pai era um líder militar inteligente e astuto, e que ele havia manipulado o seu caminho para o reino, mas agora eu também sabia que ele era o responsável por aterrorizar a filha. Esse conhecimento queimou dentro de mim, especialmente sabendo que não havia recurso imediato para lidar com ele como ele merecia. Eu teria que passar com cuidado por onde ele estava interessado.

O importante era manter Yesubai segura e fora de seu alcance. Ter vingança precipitadamente ou me mover contra a pessoa que a machucou poderia minar tudo o que estávamos trabalhando para realizar. Lokesh iria terminar o noivado, no mínimo, e, em seguida, usar a desculpa de que ele e sua família tinham sido insultados e iria resultar em uma chuva de guerra em cima de nossas cabeças, no máximo. Eu precisava pensar como o diplomata que eu tinha sido treinado para ser e conter o fogo dentro do meu coração de guerreiro até o momento certo.

Apesar das vantagens políticas que nossa união traria, eu não queria que Yesubai pensasse que eu desejava um relacionamento com ela simplesmente para trazer a paz entre nossos reinos ou mesmo para protegê-la, apesar de ambos os motivos serem válidos. Eu disse a ela que eu estava ansioso para ser um marido e prometi que eu tentaria o melhor que eu pudesse para ser um bom esposo. Acima de tudo eu queria que ela fosse feliz. Quando eu disse isso, ela pareceu considerar a minha palavra e relaxou um pouco mais.

Passamos alguns dias juntos e eu estava feliz por ela querer estar ao meu lado enquanto eu visitava as tropas e me reunia com os líderes da cidade. Ela permaneceu envolta em véus e era tão calma e tão imóvel como uma estátua, mas eu podia ver seus olhos brilhantes me observando enquanto eu falava e ela parecia estar alerta e interessada em tudo o que ela via e experimentava.

Esperança floresceu dentro de mim de novo e eu pensei que talvez nem tudo estivesse perdido. Em várias ocasiões, eu a peguei olhando para mim, para a pele nua exposta na parte superior do meu tórax e garganta, em particular, e me perguntei se isso significava que ela poderia estar tão atraída por mim como eu estava por ela.

Eu me flagrei sorrindo mais vezes. Eu mesmo escrevi um poema não sobre a minha misteriosa garota dos sonhos, mas sobre a garota com o cabelo longo, preto e rosto brilhante, que estava sob o luar na varanda, com lágrimas de prata correndo pelo rosto. Embora eu nunca a ouvi rir ou descobri a sua comida favorita, ela me agraciou com um belo sorriso ou dois e eu me considerei com sorte.

Antes de ir embora, eu me senti confiante de que seria um bom relacionameto e quando eu perguntei a ela, mais uma vez, se ela tinha certeza, ela respondeu:

— Me tornar uma Rajaram é tudo o que eu poderia desejar.

Devido à sua insistência, os papéis foram trazidos e fizemos nosso noivado oficial. Eu sabia que minha mãe ficaria satisfeita e eu estava bem. Vê-la partir foi difícil. Mal tínhamos iniciado o longo processo de conhecer um ao outro. Eu sabia que precisava me mover com cuidado e lentamente com ela, então eu só tentei o mais cortês, o mais despido, dos gestos e toquei meus lábios rapidamente na parte detrás de sua mão, ansiando pelo dia em que ela estaria confortável o suficiente para permitir que eu a segurasse em meus braços e me despedisse dela.

Enquanto eu assistia a caravana partir, eu me questionva sobre o meu estado de recém-noivo. Ficaríamos separados por muito mais tempo do que eu queria. Se houvesse alguma coisa que eu aprendi sobre Yesubai no pouco tempo que passamos juntos, era que ela precisava de persuasão constante, como uma égua hesitante e eu temia que os passos ténues que tínhamos feito seriam em vão se ficassemos separados por muito tempo. Seria muito fácil deixar o frágil relacionamento que tinhamos inciado retroceder ao ponto que experimentamos no primeiro encontro.

Foi quando eu decidi que iria escrever para ela. Todos os dias, se necessário. Se eu não pudesse estar com ela em pessoa, eu abriria meu coração para ela no papel. Então, talvez, quando nos encontrassemos de novo, sentiríamos que a distância entre nossos corações não era tão difícil de superar depois de tudo.

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