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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Evolução e revolução



Quando as pessoas me perguntam do que sinto mais orgulho quando
olho para trás, tenho grande dificuldade de definir. Graças a muito trabalho,
muitas pessoas importantes, muitas noites sem dormir e muito café, posso dizer
que tenho grande orgulho do que construí até hoje.
O Não Faz Sentido foi a base de tudo, foi a alavanca necessária para que eu
pudesse seguir meu caminho como empreendedor, o que possibilitou diversos
projetos de sucesso na internet.
A Parafernalha virou uma grande vitrine para inúmeros artistas, inclusive eu.
Foi o projeto de impulsão para algo maior, o início de uma revolução do
entretenimento brasileiro, a exploração de uma nova forma de se produzir
conteúdo no país. Ela rompeu barreiras, inovou e provou sua capacidade de
forma expressiva, sendo ainda hoje um fenômeno de audiência, assim como o
Não Faz Sentido. Outras pessoas maravilhosas entraram para compor um time
perfeito, entre elas Alessandra Bezerra, que se tornou diretora de produção,
Douglas Felix, responsável por conteúdo de bastidores, Otavio Ugá, diretor e
editor e Fellipe Lourenço, meu grande amigo desde as épocas de colégio que
tornou-se meu braço direito em meus empreendimentos e um dos gestores do
grupo Parafernalha.
Por volta de dezembro de 2012, contudo, tive a ideia de um novo
empreendimento. Algo que pudesse definitivamente alicerçar todo o movimento
de revolução do entretenimento.
Já estávamos para começar 2013 e o YouTube já havia mudado
consideravelmente. Agora inúmeros canais de qualidade existiam, motivados
pelas conquistas daqueles que começaram todo esse movimento. Não apenas
produtoras de humor, como também grandes canais musicais, canais sobre video
games, tecnologia, relacionamento, maquiagem, musculação, educação,
curiosidades, entre inúmeros outros assuntos. O YouTube já havia se
transformado em uma grande central de conteúdo profissional, muito diferente do
que era na época em que decidi gravar meu primeiro vídeo.
O dinheiro agora era maior, devido à entrada de muitos novos anunciantes,
animados com essa ideia de estampar suas marcas em algo que se comunicava de
maneira muito mais eficiente com o público jovem. Com isso, novos modelos de
negócio começaram a surgir ao redor do YouTube, funcionando para os próprios
youtubers.
Analisando os possíveis modelos de negócio, acabei me deparando com um
especial: o formato de Network. Uma empresa responsável por gerir a carreira de
um youtuber, dar a ele suporte e atenção especiais, educar o mercado, elevar os
ganhos, oferecer ferramentas exclusivas e impulsionar a profissionalização do
formato. Obviamente meus olhos brilharam. O melhor ainda era a forma como a
empresa faturava dinheiro primariamente: recebendo uma comissão do valor
mensal de cada canal associado a ela. Em outras palavras: quanto mais
impulsionássemos o mercado e gerássemos mais renda para os youtubers
profissionais, mais a empresa faturaria. Era um modelo justo e ideal.
Nessa época, a Parafernalha já estava de mudança para uma sala de duzentos
metros quadrados, dez vezes maior que a primeira sala em que começamos. De
quatro pessoas, em apenas um ano e meio já havíamos passado para quinze e
tudo estava no caminho certo. Foi quando eu e Fellipe Lourenço nos debruçamos
em cima do estudo deste novo modelo e de que forma poderíamos transformá-lo
em um grande empreendimento no mercado brasileiro.
Curiosamente, nesse mesmo período, recebemos o contato de uma das gigantes
Networks americanas: a Maker Studios, que queria colocar a Parafernalha e o
Não Faz Sentido em sua carta de canais clientes. Nosso alerta piscou e
percebemos que aquele era o momento certo, as gigantescas empresas americanas
haviam percebido a força do YouTube brasileiro e iriam começar a assinar com
os canais do país. Se iríamos criar algo desse tipo no Brasil, não poderíamos
deixar que os americanos controlassem o mercado e teríamos de agir rapidamente,
caso contrário, todos os canais brasileiros acabariam assinando contratos longos e
ficariam amarrados a empresas que não viam o país da forma como nós víamos,
com o objetivo que nós tínhamos. Para nós, não era apenas assinar canais e lucrar
com isso, era mudar a história.
Com um trabalho de extrema paciência e muita, mas muita disposição,
transformamos aquela pequena reunião com um simples recrutador da Maker em
um contato direto com os fundadores da empresa. Nossa missão era ousada, eu
teria de provar para os titãs da indústria que valia mais a pena investir na nossa
empresa e deixar que nós criássemos a maior Network do Brasil do que deixar
tudo nas mãos deles próprios, o que obviamente resultaria em maiores lucros para
os mesmos. Se qualquer executivo ouvisse meu objetivo, provavelmente me
chamaria de maluco, não tinha a menor chance de um grande executivo ser
convencido por um moleque de 24 anos de que a melhor estratégia seria colocar
tudo em suas mãos. Mas, assim como no início do Não Faz Sentido, início da
Parafernalha e início do “Coisas que Gostaríamos de Dizer”, eu havia decidido:
aquele era o maior desafio da minha vida.
Alguns dias depois conseguimos o improvável, uma reunião de uma hora com
os fundadores e os membros do board executivo da Maker Studios, em Los
Angeles. Eu teria apenas uma hora de discurso para tentar provar a eles que a
insana decisão de não entrar no mercado brasileiro e confiar em mim seria a
melhor saída. Quando comentava minha ideia com outros youtubers ou até
mesmo com outras pessoas do mercado executivo, ouvia sempre conselhos
brandos, baseados na ideia de “esse menino vai tomar um não bem feio”.
Contudo, ao longo de todo o período à frente da Parafernalha e trabalhando
diariamente como empresário, havia adquirido alguma experiência, o suficiente
para saber que o mundo no qual eu havia me metido como um executivo era um
mundo composto por loucuras, guiadas por aqueles que tinham o maior nível de
insanidade, a ponto de arriscarem tudo em algo em que pouquíssimos viam valor.
Durante duas semanas trabalhei todos os dias, junto do Fellipe Lourenço, em
uma apresentação digna para a Maker Studios. Eu não tinha um designer na
equipe, então tive de criar tudo eu mesmo. Duas semanas depois, estávamos na
gigantesca sala de reunião.
Quando relembro essa história, parece que toda a minha vida havia me
condicionado para aquele momento. Cada detalhe, cada erro cometido, tudo
havia resultado em uma gama de aprendizados necessários para que aquela
loucura não parecesse tão louca.
Olhei para a sala de reunião lotada. Havia ali pelo menos quinze executivos.
Muitos deles eram jovens, por volta de seus 35 anos, enquanto outros pareciam
mais velhos e um pouco mais turrões. O presidente da empresa na época (e
também o fundador), Danny Zappin, encontrava-se no centro da imensa mesa de
vidro, ao lado da esposa e também sócia, Lisa Donovan e seu irmão (também
sócio), Ben Donovan. A cena toda parecia um filme, uma sala imensa com
paredes de vidro e um luxo que eu jamais havia tido como uma realidade tão
próxima.
Quando abri o primeiro slide, percebi ali o primeiro resultado real de como
minha vida havia me preparado quase que inteiramente para aquele momento. A
capa da apresentação estava muito bonita, totalmente diferente das apresentações
comuns em power point que vemos no mundo dos negócios, normalmente
formadas por fotos mal posicionadas e fontes Times New Roman. Todo o meu
passado como designer gráfico havia possibilitado que uma linda apresentação
aparecesse naquele momento.
Comecei a falar e entrei para a segunda etapa do meu crescimento. Se não
fosse meu interesse pelo mundo do design gráfico, jamais teria decidido criar um
site de seriados (IsFree.TV). Sem isso, jamais teria ficado absolutamente viciado
no universo dos seriados americanos e, em consequência, em disponibilizar
legendas traduzidas para que brasileiros pudessem assistir. As madrugadas em
claro que passava durante anos traduzindo seriados do áudio para o texto haviam
me deixado com um inglês absolutamente fluente. Sempre me perguntei a razão
do IsFree ter sofrido um fim tão cruel, mas naquele dia eu compreendi, era como
se tudo tivesse acontecido por um motivo. Se eu não tivesse o inglês mais fluente
possível, teria engasgado, gaguejado, ou levado um tradutor, o que arruinaria
completamente a apresentação.
E aí entrou o teatro, o teatro que marcou toda a minha vida, que sempre me
deixou confiante de falar em público, de me expressar com tranquilidade e de
interpretar quando fosse necessário. Não fosse o teatro, jamais teria sido capaz de
falar com tanta calma, propriedade e firmeza em frente a tantos tubarões da
indústria.
E, então, apresentei tudo que havia criado com o Não Faz Sentido e a
Parafernalha no YouTube brasileiro, o que deixou todos os presentes
visivelmente impressionados. Os dois maiores canais do país na época, com
números recordes e influência insuperável em todo o território nacional, via
YouTube.
Falei com paixão, paixão pelo mundo do entretenimento, por todo o universo
da comunicação e do empreendedorismo. Mostrei a eles todos os indicativos
socioeconômicos de uma revolução iminente no Brasil, como nenhum outro país
do mundo seria capaz de fazer, fundamentada basicamente na perda de força da
Rede Globo com o público jovem e o crescimento acachapante do YouTube no
país justamente por este público, sedento por um conteúdo inovador após décadas
de repetições nas velhas mídias.
Provei, através de pesquisas recentes, como o Brasil era absolutamente sedento
por um novo conteúdo. Isso ficava claro em pesquisa realizada pela eMarketer,
que listava o Brasil em primeiro lugar do mundo em número de minutos assistidos
no YouTube por usuário, além de ser também o número 1 em porcentagem de
usuários na internet que entrava no YouTube regularmente (89% da população
on-line, contra 80% dos americanos).
Mostrei a eles os nossos planos, que eram muito maiores que somente explorar
o mercado brasileiro de modo a gerar lucros. Nós não iríamos apenas fazer
dinheiro, iríamos ajudar a mudar um país, ajudar a fazer história.
Impulsionaríamos o YouTube nacional de modo a conquistar os corações dos
brasileiros, que cada vez mais tinham acesso a uma internet de alta velocidade,
motivados essencialmente pelos planos de governo da época.
Por fim, deixei claro que a Maker Studios tinha duas opções. Ela poderia
enxergar o Brasil apenas como um mercado a ser conquistado em termos de
número e assim disputar com as outras gigantes americanas para ver quem seria
capaz de assinar o maior número de canais, ou poderia se associar à nossa
empresa e deixar que fizéssemos um trabalho na internet brasileira jamais visto na
história do país, motivado por nossa paixão de revolução, gerando milhões de
novas possibilidades, impulsionando o mercado de dentro pra fora e atraindo os
olhares de todo o mundo.
Ao final do discurso (de mais de quarenta slides), Sam Wick, vice-presidente
de desenvolvimento e operações de negócios, pediu a palavra e disse uma das
frases de que mais me orgulho até hoje: “Essa foi a melhor apresentação que eu já
vi na vida.”
A reunião de uma hora tornou-se uma reunião de seis horas com os fundadores
da empresa. Momento este em que a Maker Studios tomou uma decisão:
congelou toda a estratégia de inserção no mercado brasileiro e decidiu que faria o
que fosse preciso para realizar este trabalho através de nós.
Imediatamente o burburinho no cenário americano começou, as fofocas se
espalharam e pouco tempo depois outra gigantesca Network decidiu que também
iria tentar nos convencer de fazer negócios com eles em vez da Maker. E assim
deu-se início a uma série de propostas de ambos os lados, todas lutando para que
eu decidisse qual delas escolheria para iniciar os negócios no Brasil. Aos que
consideravam nossa estratégia maluca e diziam que nunca um executivo se
interessaria por tudo aquilo, ficou a resposta: duas titãs do mercado agora
disputavam por nosso conhecimento e paixão.
Ao final de algumas semanas de negociações, a Parafernalha anunciou a união
com a Maker Studios, através de uma transação milionária, nascendo assim a
primeira Network brasileira da história do YouTube: a Paramaker.
Hoje, a Paramaker já soma milhares de canais e centenas de milhões de
visualizações por mês. A cada dia, novos youtubers nascem no Brasil com o
objetivo de poderem estar atrelados à única Network que verdadeiramente se
preocupa em mudar o entretenimento do país e, obviamente, todos querem fazer
parte disso.
Quando olho pra trás, me lembro do momento em que tirei aquela câmera
empoeirada do armário. O dia em que fui ao shopping com minha mãe comprar
adesivos para montar um cenário. O dia em que decidi colocar aqueles óculos
escuros que havia encontrado numa praia. Pequenas ações, pequeníssimas ações,
que resultaram em tudo o que existe hoje. Dezenas de empregos gerados,
milhares de produtores de conteúdo se beneficiando, o início de uma mudança.
A revolução nasceu...

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