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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Nascimento do Não Faz Sentido



Poucas palavras na língua portuguesa podem definir como ficou
meu primeiro vídeo. Sabe quando está passando um caminhão de lixo e você fica
olhando ele prensar aqueles sacos cheios de dejetos? Sai aquela aguinha fedida e
nojenta. O nome daquilo é chorume, e acho que é a única palavra capaz de
exemplificar a qualidade do vídeo. Ficou uma bosta! Eu fiquei totalmente falso,
charlatão, falando sobre coisas idiotas como peido de mulher, menstruação e
problemas num relacionamento longo. Vi aquela porcaria pelo menos dez vezes
depois de pronta, pensando no que fazer. E foi aí que tomei a segunda decisão
mais acertada da minha vida: mesmo estando horrível, postei no YouTube. Como
possuía uns 3 mil seguidores no Twitter graças ao blog, o vídeo teve mais ou
menos umas trezentas visualizações.
Meu amigo, o vídeo estava tão ruim que até minha família falava comigo meio
com pena. Vou dizer mais ou menos como eram os comentários:
“Que bosta, sai daí seu palhaço.”
“Devolve meus 4 minutos, seu cabaço!”
“Affff que lixo tentando imitar o pc siqueira.”
“Mano, se mata.”
Só que aí entra a questão principal nessa brincadeira toda. Eu tinha dois
caminhos ao ver meu vídeo sendo execrado pela opinião absoluta da maioria: tirálo
do ar e me fechar num poço de vergonha, ou cagar pra todos eles e fazer outro
vídeo. E foi o que eu fiz, naquela mesma noite. Liguei a câmera de novo e fiz um
vídeo nos mesmos moldes, falando mais um monte de baboseiras.
Depois de pronto (outra bosta, por sinal), publiquei novamente e dei um nome
para o “programa”. Chamava-se “Fala a Verdade”. Lembra como eu achava que
era o dono da verdade? Acho que esse título reflete bem o que sempre senti, uma
arrogância inconsciente. Pobre rapazinho burro.
Novamente, o vídeo foi destruído pela opinião pública, com a ressalva de que
dessa vez o blog Xpock, do amigo Daniel Soares, que posta vídeos interessantes
da web, colocou o meu na lista de postagens. Aí que danou-se. Lembro de o
vídeo ter mais ou menos “30 gostei” para “450 não gostei”. Era uma chuva de
xingamentos, ofensas e comparações com o PC Siqueira, o primeiro vlogger
brasileiro a fazer sucesso. A cada 3 comentários, 2 eram dizendo que eu queria
copiar o PC.
O que eu fiz? Outro vídeo. O terceiro da finada série Fala a Verdade.
No terceiro experimento eu já estava acostumado com as ofensas. Para ser
sincero, passei até a curti-las, era divertido ver como as pessoas ficavam
absolutamente revoltadas quando viam um vídeo que não as agradava. Muito
diferente de mim, que quando não gosto de algo simplesmente fecho o vídeo e
não vejo mais, as pessoas comentavam, passavam para as outras dizendo “Cara,
olha essa merda!” e continuavam comentando, como se o propósito de suas vidas
fosse deixar claro para o autor do vídeo que ele era uma bosta. Eu ficava triste, é
claro, mas dava risadas... E a cada xingamento parecia que sentia uma motivação
ainda maior de aprimorar, melhorar e fazer um vídeo que conseguisse ter pelo
menos 30% de aprovação.
Foi aí que aconteceu a segunda noite fatídica da minha vida. Percebi que
aquele formato não daria certo. A qualidade dos vídeos era baixa, não tinha
iluminação, era um quarto escuro com uma lâmpada acesa no meu rosto e eu só
falava coisas desinteressantes. O problema é que eu não era vesgo e esquisito, o
que fazia com que, além de tudo, ninguém realmente desse bola para o que eu
tinha a dizer. Então tomei minha primeira decisão técnica: comprar luzes para
deixar com mais qualidade.
Eu era pobre, logicamente não existia a possibilidade de investir milhares de
reais num kit de iluminação profissional. Em vez disso, fui ao supermercado e
comprei duas luminárias fajutas daquelas de 19,90 reais. Dois amigos virtuais
foram fundamentais em todo esse processo: Rogério Lima, dono do blog
Bobolhando, e Rodolfo Castrezana, dono do blog Omedi. Foi conversando com
eles que entendi como poderia melhorar os vídeos. Aprendi também que nunca se
deve jogar a luz diretamente no seu rosto, mas, sim, colocar um papel na frente
dela, espalhando-a com mais qualidade e evitando as sombras. Tecnicamente, o
nome disso é “difusor”. Pesquisei na internet como fazer um difusor caseiro, mas
nenhum agradou, dava muito trabalho. Conclusão? Passei Durex ao redor da
luminária, peguei palitos de dente, grudei uns nos outros e espetei o papel nos
palitos para ficarem na frente da lâmpada. Profissionalismo dez! Se querem saber,
até hoje eu ainda utilizo as mesmas luminárias e os mesmos palitos de dente.
A luz estava pronta e eu queria testar meu incrível kit. Posicionei-as para se
encaixarem na mesa e comecei a fazer idiotices. Eu só queria testar a luz, por isso
fiz coisas absolutamente embaraçosas, como cantar “Ave Maria” em ritmo de
ópera e tentar fazer o Super-homem utilizando minha cadeira, o que resultou
numa queda espetacular, tudo filmado.
O resultado ficou de uma tosqueira impressionante. O que eu fiz? Publiquei na
internet. Dane-se! Eu já havia falado bobagens o suficiente, não poderia ficar pior
do que já estava. E, se fosse para as pessoas me xingarem, pelo menos que fosse
por um motivo justo: eu estava sendo idiota e tosco, mesmo que de propósito,
sem a intenção de lançar na web.
O problema é que o nome Fala a Verdade já não me agradava mais. Eu
percebi que estava arrogante e, além do mais, como poderia lançar um vídeo
tosco fazendo babaquice e chamar de “Fala a Verdade”?
Comecei a pensar em um novo nome para o programinha. O que poderia ser
despretensioso e ao mesmo tempo com dupla interpretação? Fucei no fundo da
minha mente, conversei com pessoas, mas nenhuma ideia vinha, até que tive a
brilhante ideia de rever os vídeos que havia publicado.
Descobri, revendo os vídeos, que eu utilizava muito a frase “Isso não faz
sentido”. Era quase um jargão. Quando falava sobre alguma coisa que não dava
pra entender, estava lá a frase “Isso não faz sentido”. Ora! Tá aí! “Não Faz
Sentido” pode ser interpretado de duas formas: minha tosqueira e minhas
verdades podem não fazer sentido, ou as coisas sobre as quais eu falar podem
também não fazer sentido. O nome estava claro como água, eu mesmo havia
criado sem querer. Nascia, naquele momento, o Não Faz Sentido, com o primeiro
vídeo intitulado: “Não Faz Sentido – Idiotices. NÃO VEJA ISSO!”
As coisas começaram a mudar. Antes eu só recebia xingamentos, mas agora as
pessoas estavam dando risada da minha cara. Pela primeira vez um vídeo teve
mais “gostei” do que “não gostei”, o que foi um gás para que eu continuasse. O
vídeo atingiu mais ou menos mil visualizações, o que era outro estímulo: MEU
DEUS! MIL PESSOAS!!! ISSO É MUITA GENTE! Passei o dia seguinte
inteiro saboreando aquele doce de uma pequena vitória.
O problema era: o que fazer agora? O único vídeo que as pessoas tinham
gostado era aquele em que eu me machucava, fazia coisas idiotas e não falava
nada coerente. Não tinha como gravar outro vídeo idiota, as pessoas perceberiam
que eu estava apenas utilizando uma fórmula babaca para tentar ganhar
visualizações. Precisava criar algum conteúdo interessante e ao mesmo tempo
engraçadinho... E a resposta veio no dia seguinte.
Decidi que precisava de um cenário, algo para compor minha parede ao fundo
e fazer com que as pessoas percebessem que se tratava de um programinha da
web. A solução veio na hora! Eu era colecionador de pôsteres de cinema! Tinha
pelo menos uns oitenta, desde Power Rangers até O senhor dos anéis. Eu iria
preencher minha parede com diversos pôsteres e estaria feito meu cenário.
O problema: onde eles estavam?
– Mãe, cadê meus pôsteres?
– Sei lá, Felipe, procura no sótão.
Eu me meti em todos os buracos da casa em busca da saca de pôsteres.
Procurei no terraço, no sótão, no porão, na casa do meu tio, na cisterna, na casa
da vizinha, na floresta da casa da vizinha e até dentro da geladeira. Não sei por
quê, mas sempre que perco alguma coisa, preciso verificar se está dentro da
geladeira. Juro por tudo que é mais sagrado que uma vez, procurando meu irmão,
eu abri a dita cuja.
Nada adiantou, meus pôsteres haviam sumido. O problema é que lá na casa da
Dona Rosa isso sempre foi um costume. Ela não sabe, mas minha mãe sofre de
uma doença séria chamada Esquisitice de Limpeza. Se ela vê um grão de pó no
canto da cozinha, vai com o dedo limpar. Se ela vê um celular em cima da mesa,
tira e esconde atrás do liquidificador. Se ela vê um livro ao lado da privada,
esconde debaixo da pia do banheiro. Nada pode estar fora do lugar e muito
menos visível, por isso eu não me surpreenderia se encontrasse os pôsteres
escondidos no bueiro da rua. E é claro que, como sempre, ela não fazia a menor
ideia do que tinha feito com a coisa perdida, no caso, os pôsteres.
Eu precisava gravar algo naquela noite. Àquela altura do campeonato, já
estava entusiasmado demais com a ideia de produzir vídeos para simplesmente
deixar pra lá e adiar para o dia seguinte. Ligar a câmera e desatar a falar bobagens
tinha virado uma droga, eu estava viciado.
Continuei pensando no que poderia ter acontecido com os meus pôsteres. Ora,
tinha certeza absoluta de que os tinha deixado na cozinha desativada abaixo da
casa! Certeza absoluta! E lá minha mãe nunca iria remover as coisas do lugar,
porque já era uma zona por si só. Pelo contrário, ela até evitava lembrar que
aquele cômodo trancado existia.
Foi então que percebi o que havia acontecido. A casa do meu tio, que ficava
nos fundos, estava passando por reformas e os pedreiros estavam utilizando a
cozinha velha como quartel-general (ok, eu não sei que nomenclatura dar para o
lugar onde os pedreiros montam sua base, então, é quartel-general e cala a boca).
Neste caso, só poderia ter acontecido uma coisa: o cara achou que aquela
cambada de pôster velho estava jogada num canto e decidiu levar pra casa. Ou,
meus rins doeram de pensar, poderia ter jogado fora.
Numa suposição marota e por conta de uma coisa totalmente idiota quanto
meus pôsteres terem sido roubados, decidi que faria o vídeo daquela noite falando
exatamente sobre isso. Minha vontade de gravar algo era tão gritante e eu
comecei a me preencher de uma certeza tão forte de que aquilo daria certo, que
até mesmo esse assunto totalmente bobo virou tema pra vídeo.
Esperei ficar de madrugada, afinal eu só gostava de gravar as coisas de
madrugada, pois era o momento de absoluto silêncio, sem telefone tocando ou
pessoas me chamando. Enfim, sem ninguém pra encher o saco. As madrugadas
sempre me encantaram. Nunca fui de ser o cara da praia que tem vários amigos e
sai toda hora pra socializar. Por mais que tenha curtido bastante a adolescência,
depois de mais velho acabei ficando... bem... velho. Pra mim há muito mais
prazer em ficar em casa de madrugada vendo um filme do que ir pra balada
encher a cara com os “brother”. Eu acho que, se eu fosse um personagem,
provavelmente seria o vilão que vive isolado em seu castelo cheio de masmorras e
coisas sombrias.
Enfim, a madrugada veio e a gravação começou. Dessa vez, pontuei algumas
coisas que iria dizer, criando uma espécie de pré-roteiro. Aliás, dando o merecido
crédito, a frase “Se você rouba pôster, enfia um Toblerone no seu rabo” veio do
Alan, o mesmo primo do Latino na piscina. Acabou sendo a frase mais
comentada do vídeo. Até hoje algumas pessoas, quando me encontram, falam
“Ow, enfia um Toblerone no rabo, hahaha”. Valeu, Alan.
Quando o vídeo foi ao ar, pensei que havia finalmente feito um vídeo de
qualidade, no qual eu falava, de certa forma interpretava, e o conteúdo tinha
ficado minimamente interessante. Mal sabia eu, naquela altura, que ele também
tinha ficado uma bela porcaria. Ao revê-lo, hoje, sinto uma vergonha
impressionante, mas por incrível que pareça funcionou. A maioria curtiu, as
pessoas pegaram algumas frases e ficaram repetindo, o que era muito interessante
de analisar.
Algumas coisas são importantes de ressaltar sobre esse vídeo. Acredito que
tenha sido um verdadeiro divisor de águas para que o Não Faz Sentido se
tornasse o que se tornou. Primeiramente, percebi que o vídeo funcionava muito
mais quando eu escrevia o que ia dizer, em vez de simplesmente ligar a câmera e
sair falando qualquer coisa. A improvisação não era o que eu gostava; sempre
gostei mais de trabalhar com roteiro, pois me possibilitava uma maior criação na
parte da interpretação. Logo, um ponto a favor: aprendi que deveria escrever os
vídeos antes de fazê-los.
O segundo ponto fundamental desse vídeo, e acredito que o mais importante,
foi o fato de que gravei fingindo que estava puto. O resultado foi imediato. As
pessoas curtiram me ver revoltado. Não me pergunte a razão disso, só sei que,
pelo visto, o público brasileiro adora ver alguém dando chilique. Outro ponto
positivo: havia encontrado uma fórmula de interpretação.
O vídeo atingiu as mesmas mil visualizações do anterior, principalmente
impulsionado pelo fato de que as pessoas tinham curtido aquele vídeo tosco em
que eu fazia um monte de idiotices. Quando percebi, o das idiotices já estava em
4 mil visualizações. Foi aí que notei outro fator muito importante: um vídeo
impulsionava o outro. Eu só precisava falar, ao final de cada vídeo, para as
pessoas assistirem ao anterior e se inscreverem no canal. Foi quando nasceu a
frase que repito em absolutamente todos os vídeos: “Se você gostou, clique em
gostei aqui embaixo e inscreva-se no canal aqui em cima. E assista ao meu último
vídeo” – dando o link para a pessoa ir diretamente para a última produção. As
coisas estavam começando a se encaixar, eu estava descobrindo na prática como
fazer para que o canal ficasse interessante.
Por que estou descrevendo esses passos monótonos da criação do Não Faz
Sentido? Para que uma coisa fique clara. As coisas só deram certo porque insisti.
Eu poderia ter desistido no primeiro vídeo, quando todo mundo me xingava
incessantemente. Mas eu insisti. A desistência muitas vezes parece o caminho
mais seguro, mas o que eu iria fazer? Voltar a escrever no blog que não me dava
tanta satisfação? Não, preferia continuar sendo xingado, mas ir tentando até
acertar. Eu sabia, de certa forma, que iria aprender a fazer, pois é assim em
qualquer coisa que façamos na vida. As grandes carreiras sempre começam com
muita coisa malfeita. O que diferencia aqueles que conseguem daqueles que não
conseguem é fundamentalmente a persistência. Poderia citar aqui vários exemplos
de grandes artistas que tinham desempenhos péssimos quando começaram. Quem
aí se lembra do Cauã Reymond em Malhação, fazendo o inesquecível Maumau?
Na época, o que se ouvia das pessoas era só: “Que que esse cara tá fazendo?”;
“Quem é esse ator? Que coisa horrível.” Ninguém apostava no cara. E hoje ele é
um dos atores de maior sucesso no Brasil. Ele insistiu, persistiu, estudou,
aprendeu e hoje é aclamado pela massa brasileira.
Longe de mim querer me comparar com qualquer pessoa, pois afinal, mesmo
nesse momento em que escrevo o livro, sou apenas um moleque com muita
vontade de aprender. Estou começando, estudando e suando muito, me
dedicando até mais do que deveria, o que resulta em muito estresse, mas não
desisto, assim como não desisti após ver meu trabalho sendo rechaçado pela
maioria.
Bem, seguindo a cronologia, o vídeo “Não Faz Sentido! – MEUS
PÔSTERES” estava sendo um “sucesso”. No dia seguinte, acordei e vi 2 mil
visualizações. Para mim, aquilo era um maracanã lotado. Eu não fazia os vídeos
pensando nas visualizações em si, mas me dava muita motivação ver que eles
estavam tendo repercussão. Logicamente, ainda tinha muita gente que odiava. Por
mais que a maioria curtisse, ainda tinha uma quantidade de gente significativa que
comentava me xingando, dizendo que era uma porcaria e que eu deveria desistir
do YouTube. Minha resposta às críticas sempre foi e sempre será esta: me dedicar
ainda mais para melhorar.
Acordei pensando em como seria meu próximo vídeo, pois já queria gravar
outro. A coisa mais importante para mim não era fazer vídeos sensacionais, mas
fazer um atrás do outro, pois sabia que a cada produção aprendia muita coisa, o
que melhorava o seguinte. Mais ou menos como num jogo de RPG, eu queria
jogar o tempo inteiro para poder subir de level.
Dessa vez decidi que precisava fazer algo diferente. Primeiro de tudo,
precisava montar um cenário. Além disso, precisava de um tripé. E, por último,
de camisas novas, porque meu guarda-roupa estava uma catástrofe. Por isso,
peguei minha câmera e fui ao Norte Shopping, absolutamente entusiasmado com
a ideia de investir no Não Faz Sentido.
Comprei o tripé, em seguida fui na C&A e comprei diversas camisas. Na hora,
me veio a ideia: por que não me filmar no provador enquanto experimento as
roupas? Parece uma ideia idiota, não? Mas, afinal, eu já tinha feito um vídeo de
babaquices e outro falando sobre meus pôsteres terem sido roubados, que
diferença iria fazer?
É claro que, como toda ideia minha, tinha que ter um quê de estupidez. Por
isso, peguei as diversas camisas que tinha gostado e selecionei também uma
blusinha feminina toda decotada. Eu não pretendia comprá-la, mas iria levar para
o provador e me filmar com ela no corpo. No final acabei comprando, porque
ficou um arrasôôô! Ok, mentira.
A única parte constrangedora nisso tudo foi que esqueci que, antes de entrar no
provador, a funcionária da loja precisa olhar as peças que você está levando e te
dar uma plaquinha com o número de peças. Ao ver a blusinha feminina, olhou
pra mim com uma cara suspeitíssima, e eu conseguia ler em sua pupila:
“Hmmmmmm... viado.” Expliquei detalhadamente a razão daquilo tudo e ela me
deixou entrar, nitidamente não tendo acreditado e provavelmente pensando que
eu precisava da blusinha para fazer uma performance de Drag Queen. Ai ai,
coitadas das pessoas que quisessem assistir a isso, com meu porte de grilo
africano e minha bunda que mais parece duas uvas passas. Acho que eu seria
vaiado. Mas, enfim, isso é uma história pra outra hora.
Fiz a gravação dentro do provador e, naquela hora, decidi que meu próximo
vídeo falaria exatamente sobre shoppings, pois era um tema com bastante coisa
pra se dizer. Principalmente sobre coisas que me incomodavam, pois eu já tinha
percebido que esse era o formato que agradava.
Ao sair da C&A, faltava apenas uma coisa, que eu ainda não sabia que seria
provavelmente a mais importante de todas: o cenário. Àquela altura, não fazia
ideia do que comprar, por isso optei pelo caminho mais simples: comprar um
monte de coisas que não faziam sentido, para combinar com o nome do
programa. Como muita gente me pergunta até hoje onde consegui aqueles itens
da parede, vou contar rapidinho.
Fui na Saraiva Mega Store, a livraria que vende DVDs, CDs, eletrônicos,
comida, cigarro e só não vende pessoas porque eu acho que é proibido.
Passeando por lá, encontrei uma pequena caixa repleta de pequenos pôsteres
relacionados a programas de TV e cinema. Comprei dois: um de Friends, por ser
provavelmente o que eu mais gosto na TV e já ter assistido a todas as temporadas
dez vezes, e outro do Johnny Depp, simplesmente por ser o meu maior ídolo no
ramo da interpretação, junto com a Meryl Streep. Aliás, se tivesse um da Meryl, o
cenário do Não Faz Sentido contaria com a presença dela também. O tiro foi
certeiro, até hoje tem gente que diz que só assiste ao Não Faz Sentido pra ficar
olhando o Johnny, o que pra mim faz muito sentido.
Saindo de lá, fui na Tok&Stok e simplesmente saí comprando tudo o que eu
via pela frente pra se colar na parede. Adesivos com a frase: “Cuidado, homem
na cozinha”, “E no fim tudo acaba em pizza”, “Só sei fritar” (o que eu juro que
não é uma alusão a LSD, pois sou totalmente contra drogas), um balão que dava
para escrever dentro com giz (que decidi que seria o destaque do cenário, onde eu
escreveria sempre uma frase aleatória) e mais outros recortes aleatórios.
Cheguei em casa, colei tudo de forma desordenada, em sincronia com meu
relógio que dança, posicionei a câmera no tripé e já gravei outro vídeo, dessa vez
falando sobre shoppings.
Não perguntem por quê, mas fiz o vídeo inteiro com sotaque de paulista,
puxando o “s”. Meu irmão, quando viu, ficou o dia inteiro falando que tinha
ficado uma bosta por conta disso. É uma rixa totalmente idiota, essa de paulistas
com cariocas e vice-versa. Os paulistas têm dificuldade de gostar de coisas feitas
com sotaque carioca, enquanto os cariocas têm a mesma implicância com
paulistas. As bandas, como por exemplo o CPM 22 e o NX Zero, nunca
conseguiram atingir tanto os cariocas. Já a banda dos meus amigos de infância, R.
Sigma, ao ganharem um concurso nacional, ouviram do Rick Bonadio, o maior
produtor musical do Brasil, que eles precisavam cantar sem sotaque carioca.
Quanta babaquice, convenhamos. Até hoje, de vez em quando, ainda recebo
comentários do tipo: “Não consigo gostar do Felipe Neto por causa daquele
sotaque nojento de carioca dele.” Patético, pois é.
O vídeo “Não Faz Sentido! – Shoppings” acabou sendo outro marco na
história do canal. Obviamente vocês já devem ter percebido que muitas coisas
foram “marcos” (por sinal, por que “marco” e não “rogério”?), mas acredito que o
início de qualquer projeto deve ser exatamente dessa forma: preenchido por
marcos (rogérios), pois mostra o desenvolvimento através da tentativa. Você
insiste, persiste, muda aqui, muda ali e vai encontrando o formato ideal para
chegar mais perto do que você imaginava que seria.
A questão que marcou de vez o vídeo sobre shoppings foi que, antes de
começar a gravar, passei alguns minutos pensando num fator fundamental: o que
poderia colocar de acessório para diferenciar o que eu fazia no YouTube do que
eu era na vida real? E foi nesse momento que desenterrei outro item essencial: OS
ÓCULOS! Estavam lá, jogados na prateleira, com meses de poeira acumulada,
aguardando o momento triunfal em que seriam utilizados, ficando famosos para
milhões de pessoas. É bacana imaginar o trajeto que esses óculos percorreram.
Afinal, pensem: encontrei-os em Porto de Galinhas, enterrados na areia, num
local frequentado por praticamente turistas. Baseado nisso, os óculos podem ter
nascido no exterior, vieram para o Brasil, foram para uma loja em São Paulo
(vamos dizer), depois vendidos para um futuro turista paulistano, viajaram até
Porto de Galinhas, no nordeste brasileiro, foram encontrados por um carioca
magrelo, parando no Rio de Janeiro e de repente estavam no YouTube. Na boa?
Eu deveria ter escrito um livro sobre esses óculos, não sobre mim. Seria muito
mais interessante.
Muita gente me pergunta a razão pela qual resolvi utilizar óculos escuros nas
gravações se eu estava dentro de casa. Agora vocês já sabem que não só era
dentro de casa como também de madrugada. Num quarto micro de cinco metros
quadrados e de portas e janelas fechadas (na verdade só a porta, porque não
cabiam janelas). Ou seja, qualquer um que entrasse no meu quarto e me visse
naquele momento constrangedor, falando para uma câmera, sozinho, de óculos
escuros e cabelo pra cima, pensaria que eu tinha problemas mentais. De fato
tenho, mas não quando se trata disso.
A utilização dos óculos foi por uma razão muito simples: eu queria deixar claro
que aquilo não era simplesmente um carinha qualquer falando alguma coisa.
Imaginei que, ao verem o cenário e os óculos, as pessoas chegariam à conclusão
óbvia de que se tratava de um trabalho pensado, roteirizado e planejado. Doce
ilusão, não adiantou rigorosamente nada e a esmagadora maioria pensou que eu
era exatamente daquele jeito na vida real, mas essa história da reação do público à
minha personalidade fica para outro capítulo.
Bom, vamos fazer uma recapitulação básica?
A essa altura do campeonato eu possuía seis vídeos: três da série Fala a
Verdade, que todo mundo odiava, e mais três do Não Faz Sentido, sendo o
primeiro aquele em que eu só fazia babaquices, o segundo reclamando que
haviam roubado meus pôsteres e o terceiro reclamando sobre coisas relacionadas
a shoppings.
Eu já havia definido o cenário, o formato rebelde com críticas e palavrões, o
figurino com os óculos escuros. Enfim, a única coisa que faltava era conseguir
acertar o tom. Até o vídeo dos shoppings, eu falava de um jeito muito menino,
com sotaque de paulista, meio querendo não parecer antipático. Justamente por
isso, considero que os vídeos citados são uma verdadeira porcaria, mas não tanto
quanto a série Fala a Verdade. Aliás, essa era tão ruim que, quando publiquei o
vídeo do shopping, deletei todos do Fala a Verdade. Hoje em dia, se você entrar
no meu canal do YouTube (www.youtube.com/felipeneto), descobrirá que
apenas deixei um único vídeo em homenagem póstuma ao Fala a Verdade, um
microvídeo de dois segundos em que dou uma risada totalmente anormal. Um
pedacinho do Fala a Verdade que decidi manter para poder lembrar para sempre
como eu era. Já os primeiros do Não Faz Sentido decidi manter simplesmente
porque... Bem... De que adianta ficarmos removendo as coisas ruins que
fazemos? O lance é seguir em frente, evitar ficar pensando muito no que foi feito
e pensar mais no que se vai fazer.
Faltavam apenas dois vídeos. Mais dois vídeos e o Não Faz Sentido teria
nascido pra valer. O problema foi que, justo nesse momento, eu desanimei.
Veja bem, o desânimo pode acontecer a qualquer momento em qualquer tarefa.
Muitas vezes desanimamos de coisas que adoramos. Um dia estamos
superempolgados e no outro paramos de fazer. Este livro, por exemplo, não
duvido nada de que seja colocado na gaveta muito em breve e eu só retome
meses depois. Só que aí está a jogada principal: muitas vezes desanimamos de
algo com razão, pois realmente não teria futuro continuar fazendo. No caso do
Não Faz Sentido, contudo, a decisão de continuar mesmo desanimado foi o que o
transformou num sucesso.
A situação era a seguinte: com o vídeo dos shoppings lançado, eu já estava de
saco cheio por não ter conseguido ainda criar um vídeo que pudesse dizer: “Esse
ficou bom.” Ficava irritado em ver que meu próprio irmão e primo achavam uma
bosta, por mais que não me falassem isso. Utilizavam sempre o discurso: “Po,
cara, gostei dessa parte aqui”, o que poderia ser interpretado como: “Jogue todo o
resto no vaso.” Perfeccionista como sou, estava completamente agoniado e
superansioso com isso tudo. Sabia que era uma questão de tempo e que em
determinado momento eu conseguiria fazer alguma coisa boa, mas pra mim
aquilo já estava levando tempo demais. Seis vídeos, pelo menos duas semanas só
pensando naquilo e resultado zero. Por mais que os vídeos agora já tivessem uma
média de 3 a 5 mil visualizações, ainda eram repletos de comentários negativos e
bastante repudiados.
Muitos nesse momento podem dizer: “Ah, então você fazia vídeos pensando
no que os outros iriam achar?” Amigos, quem faz vídeo pensando só no que ele
próprio vai achar não publica na internet, ele grava em DVD e vê sozinho em
casa. É o famoso cara que diz: “Eu escrevo pra mim, não pros outros”, então
escreva na porra de um diário. Se você publica, você quer saber as reações, você
quer agradar, você quer ver seu material sendo curtido. Quem nega isso está
sendo um hipocritazinho babaca, muito provavelmente por nunca ter conseguido
sucesso com o que lançou. Discurso de pseudointelectual fracassado tentando
encontrar desculpas para seu material não ter visibilidade. Ou isso, ou a famosa
frase: “O público é burro, não entende meu humor.” Não, amigo, o público não é
burro, você que não é engraçado.
Voltando ao Não Faz Sentido, o desânimo bateu forte na manhã seguinte à
publicação do vídeo dos shoppings. Mesmo vendo que o vídeo obteve um
resultado melhor em aceitação do público, eu assistia e considerava uma porcaria.
Na realidade, sabia que a única razão pela qual algumas pessoas estavam curtindo
era pela ausência de conteúdo original no Brasil nesse segmento. Sim, amigos,
pioneirismo foi fundamental na história do Não Faz Sentido. O fato de eu ter sido
provavelmente o primeiro, ou um dos primeiros, a elaborar vídeos pra internet de
uma forma mais pensada, roteirizada e com investimento (mesmo que fossem
apenas duas luminárias de R$ 19,90 e um tripé de R$ 130,00) já fez com que eu
saísse na frente. Antes de mim, só quem havia conseguido algo na internet era o
Ronald Rios, o Guilherme Zaiden e o PC Siqueira, que surgiu basicamente junto
comigo (o PC mais ou menos quatro meses antes) e está até hoje com o vlog
estourando de acessos, além de ter um programa na MTV.
A questão é que o tempo é um fator muito interessante de se analisar. O
Ronald Rios, quando começou, não contava com a popularização do YouTube.
Mesmo assim, por ser praticamente o pioneiro no Brasil no formato de vlog,
acabou conseguindo algum mínimo destaque e foi parar na MTV, com um
programa de madrugada. O Guilherme Zaiden já contava com uma pequena
popularização da ferramenta e, por isso, obteve números na casa dos milhões e
chegou a fazer uma participação na novela Caminho das Índias. O que aconteceu
com ele, contudo, simplesmente não sei dizer. Já eu e o PC tivemos a combinação
de muita dedicação e sorte. Nós não fizemos nada superior ao Zaiden, mas
tivemos a diferença do momento.
Quando o PC e eu lançamos os vídeos, o YouTube estava fervilhando no
Brasil. As pessoas estavam (e estão até hoje) completamente viciadas em entrar
no site e ficar navegando pelos vídeos, coisa que não acontecia na época dos dois
antecessores. Por essa razão, fizemos “sucesso” no momento certo. Fomos os
pioneiros do novo público do YouTube e, com isso, acabamos nos tornando os
dois canais brasileiros de maior sucesso da história no país. Como eu disse, por
dois fatores: dedicação e sorte.
Voltando ao meu momento desanimado, acordei no dia seguinte e não senti
estímulo para gravar outro vídeo. Acompanhei de perto os comentários e
“curtiram” que acompanhavam meus três vídeos no ar, pensando se aquele seria o
momento em que eu voltaria a escrever o blog e desistiria do YouTube ou não.
Mais um dia se passou. O vídeo dos shoppings passou a ser aquele com maior
quantidade de acessos, chegando a 4.500 mais ou menos. Eu estava a dois vídeos
de finalmente conseguir encontrar o formato ideal, mas muito longe de imaginar
isso. O desânimo era cada vez maior.
Mais dois dias chegaram e foram embora, até que, no final do quarto dia, fiquei
incomodado com algo de verdade.
Eu estava conversando com pessoas pelo Twitter (nessa época eu já estava
com uns 5 mil seguidores) quando alguém puxou o assunto da temática
envolvendo a relação entre homens e mulheres na balada. Um playboy defendia
que homem tem que “chegar marcando” pra cima da mulherada. Algumas
mulheres concordavam, se colocando na postura de que precisam ser
conquistadas. Já eu, com minha postura radical, dizia que essa temática era uma
babaquice. Sempre me recusei veementemente a chegar numa mulher. Pra mim,
essa postura remete a uma coisa totalmente imbecil realizada por playboys que
usam regata na balada e chegam nas mulheres com papinhos do tipo: “Nossa,
você é linda, vamos conversar?” Comigo sempre funcionou nos olhares, na troca
silenciosa de intenções, seguida de movimentos não bruscos que levavam a uma
dança e, se fosse o clima, no primeiro beijo. Mas o que mais me surpreendeu foi a
postura de determinadas mulheres, nitidamente se considerando princezinhas que
precisavam que seus super-heróis as conquistassem depois de muita luta. Pra
mim, isso merecia umas verdades.
Pronto, foi o que faltava para que eu pudesse voltar a gravar. Fiquei
verdadeiramente incomodado com aquilo e na hora peguei o papel e a caneta,
onde escrevi sem parar tudo o que pensava sobre o assunto. Daqueles rabiscos
saíram frases como: “É feminista? É feminista? Então tem que ser macho
também!” e “Mulher também se masturba. Menos a minha mãe. E a minha avó”.
Frases que acabaram ficando eternizadas no canal.
Quando a madrugada chegou, preparei tudo para a gravação, arrumei o cabelo,
coloquei os óculos e parti pra frente da câmera. Só que dessa vez havia uma
diferença clara para todas as outras gravações: eu estava verdadeiramente
incomodado com o que iria falar.
Quando comecei o discurso, percebi que minha “interpretação” estava
mesclando duas coisas: as verdades que eu realmente tinha dentro de mim e uma
personalidade agressiva que nunca tinha explorado. A combinação disso acabou
resultando num discurso bem mais incisivo, sem “forçação” de nada, sem sotaque
e muito mais natural. Falei aquele texto como se estivesse colocando pra fora algo
que me incomodava havia anos.
E foi assim, sem querer, que a última peça faltante do Não Faz Sentido entrou
em cena: o temperamento. Sem imaginar, gravei um vídeo realmente revoltado
com um assunto e o resultado foi infinitamente superior a todos os outros que
tinha gravado até então. E a resposta final sobre isso veio quando meu irmão
assistiu ao vídeo, dizendo algo como: “Porra, é tudo que eu penso.” Era isso! O
Não Faz Sentido poderia virar um espaço em que eu poderia dizer verdades que,
por mais que soassem puramente óbvias para alguns, eram questões que muitos
pensavam mas nunca diziam.
O resultado foi imediato. Lancei o vídeo, tuitei e no dia seguinte ele já estava
em alguns blogs. O público adorou. Pela primeira vez um vídeo meu teve um
massacre de comentários positivos, chegando a ter 90% de “curtiram”. As
pessoas estavam se identificando com o discurso, muitos dizendo que era
exatamente no que eles pensavam, inclusive as próprias mulheres.
A data foi 28 de abril de 2010. O dia em que o Não Faz Sentido oficialmente
nasceu. Ali, por conta de uma conversa no Twitter que me deixou irritado com
uma coisa tão básica: mulheres patricinhas e playboys babacas que ditam o
comportamento das baladas. Naquela noite eu sabia que tinha encontrado todos
os elementos para fazer o Não Faz Sentido dar certo: cenário, óculos escuros,
críticas radicais, pensamentos verdadeiros, coisas que muitos pensavam mas
nunca diziam e uma pitada de ódio.
A certeza absoluta veio dois dias depois. Superentusiasmado ao ver que o
“Não Faz Sentido! – Sedução e Cantadas” bateu 10 mil visualizações em apenas
dois dias, decidi já fazer o novo. E agora, meus amigos, é que a brincadeira
começa de verdade.
Eu já tinha a fórmula nas mãos. Sabia que era uma questão de tempo agora.
Tudo o que eu precisava era de um tema que realmente odiasse e poderia fazer
um vídeo com muita verdade na interpretação.
Não pensei em qual tema faria o vídeo ter mais sucesso. Em vez disso, pensei
em qual assunto me trazia mais revolta no momento. Muitas pessoas acham que
minha escolha de temas veio por meio de um estudo sobre o que estava na moda,
mas a realidade foi inversa. Só comentei sobre os assuntos que viriam a seguir
justamente pela razão de eles estarem na moda, o que fazia com que meus olhos e
ouvidos fossem constantemente invadidos por eles.
Eu já sabia sobre o que iria falar, estava tão claro quanto água: o que eu mais
sentia repúdio no momento, o que me fazia querer socar a parede de tanta
intolerância era o cenário musical brasileiro em que nos encontrávamos. Na
época, o que fazia sucesso eram as chamadas “bandas coloridas”, compostas por
Cine e Restart, que de tanto sucesso chegaram a gerar guerras entre os fãs. Os de
Cine odiavam os de Restart e vice-versa. Se esse público tivesse mais de 15 anos,
poderia ter dado problema.
A gota d’água foi quando abri o YouTube e vi um vídeo sensacional. Se você
tem menos de 25 anos deve se lembrar: o Puta Falta de Sacanagem. Um vídeo
que mostrava os fãs de Restart, que foram até a Avenida Paulista e ficaram em
frente à Fnac, onde supostamente teria uma tarde de autógrafos da banda. O
problema foi que a banda não apareceu, por conta do número absurdo de crianças
que por lá surgiram, o que acabaria causando confusão. Uma equipe de
reportagem foi até o local e o que vimos foi um desastre. Crianças e adolescentes
berrando, chorando, aos prantos, dando declarações engraçadíssimas, entre as
quais se destacaram: “Eu acho isso uma puta falta de sacanagem!” e “Eu não vou
deixar barato, vou xingar muito no Twitter.”
Ao ver aquele vídeo, percebi que era um sinal: era o que faltava pra o roteiro
ficar completo. Peguei minha prancheta e desatei a escrever tudo o que pensava
daquelas bandas. Sacaneei pesado, dando nomes aos bois, falando o que eu
realmente acreditava. O texto era inteiramente de acordo com as minhas verdades,
já a interpretação era feita de uma forma mais agressiva, bem diferente do banana
que sou na vida real.
Quando fui gravar, já sabia o que iria acontecer. Por mais que não fosse
possível exteriorizar essa certeza, eu já sabia que aquele vídeo seria o principal
marco da história do canal. As falas estavam encaixadas, estava com revolta o
suficiente para as pessoas se identificarem e, acima de tudo, estava verdadeiro. Eu
não estava falando o que as pessoas queriam ouvir, mas o que eu queria falar.
Gravei tudo muito rápido, como se tivesse vomitado o texto mais que qualquer
coisa. Na mesma hora fui pra edição e postei no YouTube.
Quando acordei no dia seguinte, porém, veio a surpresa. Eu sabia que o vídeo
estava bom, mas o que imaginava é que provavelmente chegaria a umas 20 mil
visualizações. A questão é que, quando acordei, apenas algumas horas após a
publicação, o vídeo já estava com as ditas 20 mil. Em algumas horas eu já havia
conseguido mais visualizações que os outros quatro vídeos somados. Quando
mandei pro meu primo e meu irmão, as respostas vieram na base das risadas.
Estava todo mundo se identificando, curtindo e repassando. O vídeo tinha
atingido o que eu sempre quis: ficou interessante e divertido.
O que aconteceu a partir dali foi uma loucura. Muita gente me pergunta o que
fiz para que os vídeos tivessem tantas visualizações, mas a verdade é que não fiz
nada! Eu só queria gravar, não estava pensando na divulgação. Sabia que, no
momento em que criasse algo realmente interessante, ele se espalharia sozinho,
pois esse é o poder incrível da internet.
Ao final do dia, o vídeo estava com 30 mil visualizações e pelo menos 95% de
“gostaram”. E foi a partir daí que algo muito peculiar aconteceu: os fãs de Cine e
Restart descobriram o que estava acontecendo. Haha. Hahaha. Ha.
Amigo, não tente imaginar o que é você ver seu Twitter pular, da noite pro dia,
de 6 mil para 20 mil seguidores, sendo muitos deles adolescentes completamente
revoltados te xingando de todos os nomes possíveis na gramática portuguesa.
Minha “timeline” de respostas virou uma praça de guerra. Era bombardeio por
todo lado. Eu não fazia a menor ideia de que aquelas bandas possuíam tantos fãs
malucos e, mais ainda, não podia imaginar quais seriam as consequências daquilo
para meus vídeos.
A verdade é que aconteceu o inverso do que os fãs de Cine e Restart queriam.
Em suas ingenuidades, tadinhos, eles acabaram sendo os maiores divulgadores
que o Não Faz Sentido já teve. Na esperança de tentar me xingar com mais peso,
eles passavam uns para os outros, publicavam nos blogs de fã-clubes, divulgavam
no Twitter incessantemente dizendo: “affeee olham o vídeu dessi cara manuuuu
que fdpppp.” Na tentativa de tentar acabar com o Não Faz Sentido, os fãs de
Cine e Restart acabaram por se tornar a maior razão do sucesso dele.
A partir daí foi uma avalanche. Praticamente todos os blogs do Brasil
publicaram, dentre os quais vale destacar o Não Salvo (www.naosalvo.com.br),
do amigo Maurício Cid, e o Bobagento (www.bobagento.com.br), do outro
amigo Raphael Mendes.
Tente imaginar. Eu, um rapaz do subúrbio do Rio de Janeiro, que nunca
conseguiu ter condições para realizar muita coisa, acordando no dia seguinte e
vendo que meu vídeo estava agora com 300 mil visualizações. Trezentas mil
pessoas. Depois de quatro dias, quando resolvi gravar outro vídeo, o “Não Faz
Sentido – Gente Colorida” havia ultrapassado UM MILHÃO de visualizações.
O monstro havia nascido de vez. Uma combinação de muito trabalho, sorte,
momento, persistência e fãs de Restart. Agora não tinha mais jeito.

acesse os vídeos mencionados neste capítulo:

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