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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Puta merda, eu virei modinha



Existe uma festa no Rio de Janeiro, que mistura cultura pop com...
bem... cultura pop, de nome Chá da Alice. Uma dessas festas GLS com público
bem eclético, de onde é difícil sair sem tomar uma cantada de alguém do mesmo
sexo que você.
Sempre fui fã desse tipo de festa (embora confesse que essa eu considero um
pouco “pop” demais, prefiro as que são mais underground e se concentram no
rock). Não por gostar de tomar cantadas de homens, mas por dois aspectos
fundamentais: a música é muito melhor e você não vê nenhum cara de regata na
balada, tentando impressionar pelo tamanho dos bíceps. É o tipo de lugar onde
você escuta “desculpa” quando esbarra em alguém, em vez de tomar um “tá
maluco, irmão?”.
Estava eu no Chá da Alice, junto com amigos da época do Colégio
Metropolitano que não via há muito tempo. O som bombando, as centenas de
pessoas dançando na pista e se acotovelando para conseguir uma cerveja. Lembro
bem que quem estava de DJ era o apresentador do Fantástico, Zeca Camargo,
tocando provavelmente Lady Gaga. No meio de toda confusão, acabei saindo por
alguns minutos para um canto mais sossegado, onde comecei a conversar com um
amigo das antigas e presente em minha vida até hoje, Bruno Blanco, dono dos
Bancos Blanco, como ele gosta de se apresentar quando tenta furar uma fila do
cinema. Obviamente ele não é dono de banco algum.
– E aí, hein, meu amigo, tá famoso agora... – dizia ele lá pela décima cerveja.
– Nada, pô, tô de boa, muita coisa pra fazer ainda. – Esse era eu, tentando
pagar de humilde.
– Tá comendo muita mulher já? – Não sei por quê, mas todo mundo acha que
o resumo do sucesso é comer mulher.
– Hahaha, ainda não, mas já tenho umas pretendentes.
– Brother, coloca só uma coisa na sua cabeça, muito importante – começou
ele, preparando um discurso motivacional daqueles que você normalmente escuta
de pessoas bem mais velhas –, tu ainda vai explodir, tu é um cara de luz, um cara
especial, tu sabe que eu sempre te falei isso. Tu vai fazer muito sucesso, mas tu
precisa se ligar em algo fundamental: por mais que tu faça muito sucesso, por
mais que tu ganhe muito dinheiro e seja conhecido no mundo inteiro, não se
esqueça da coisa mais importante... Quando começarem a aparecer as mulheres,
me apresente pra elas como seu empresário.
Isso de fato aconteceu, mas foi bem depois. O fato é que minhas risadas foram
abafadas pela presença de outra pessoa, que se aproximou sorrateiramente e tocou
meu ombro. Era uma menina negra de mais ou menos uns 20 anos, baixinha e de
óculos, bonitinha (desculpe pela falta de detalhes, mas, se o Bruno estava na
décima cerveja, eu não consigo lembrar em qual eu estava).
– Oi, você é o cara da internet? – perguntou ela, bastante tímida.
Analisei por uns segundos, pensando se aquilo realmente seria comigo. Nunca
alguém havia me parado antes na rua, muito menos num ambiente lotado como
uma balada.
Tentei responder sendo engraçado:
– “O cara” da internet eu não sou, deve ser o Lula. Hehehe. – Falhei
miseravelmente. – Mas eu sou o cara do Não Faz Sentido.
Percebi que ela não havia entendido minha tentativa de piada quando ela abriu
um largo sorriso (amigo, se ela tivesse entendido, teria ficado constrangida e saído
de perto).
– Posso tirar uma foto com você? – perguntou.
Fiquei atônito. Não fazia a menor ideia se aquilo era sério ou não, ou se algum
dos meus amigos havia dado dinheiro para ela fazer aquilo só para em seguida
gritar: “TE PEGUEI! HA HA OTÁRIO!”... Na dúvida, confirmei que sim com a
cabeça.
Após tirar a foto, voltei para conversar com o Bruno, mas me surpreendi ao
encontrá-lo de cara fechada, emburrado.
– Eu não falei pra tu me apresentar como teu empresário?
Foi naquele dia em que eu percebi: O Não Faz Sentido havia se espalhado de
uma forma desproporcional.
Passei a olhar as pessoas ao meu redor e percebi que várias delas me
encaravam e cochichavam com os outros ao redor. Ainda naquela festa, tirei foto
com pelo menos mais dez pessoas, o que me ensinou uma dura lição: não mais
encher a cara em ambientes públicos, visto que na última foto eu devo ter saído
com um dos olhos fechados e provavelmente tentando fazer cara de galã.
Mas tudo que acontece possui dois lados. Ao mesmo tempo em que eu ficava
feliz com toda essa reverberação do trabalho que estava fazendo, outras questões
começavam a ser levantadas.
A primeira questão importante que ficou em evidência foi a categorização do
Não Faz Sentido como um “canal que critica coisas adolescentes”.
Pode parecer bobagem, mas aquilo me incomodava. Nunca foi minha intenção
me transformar num “crítico da juventude”, mas ao mesmo tempo era nisso que
tinha me transformado. Meio sem querer, as pessoas esperavam, a cada vídeo,
que eu fosse detonar alguma moda adolescente, mas o problema disso era que eu
já havia falado sobre praticamente tudo que estava fazendo sucesso naquele
momento entre eles.
Paralelo a isso, vinha outro enorme problema: praticamente ninguém conseguia
perceber que aquilo se tratava de um trabalho roteirizado e interpretado. As
pessoas olhavam pra mim e enxergavam um crítico, não um ator, o que ia contra
tudo que eu traçara como objetivo desde o início. Ao tentar realizar um trabalho
artístico, eu havia falhado miseravelmente e criado um trabalho de opinião e,
cacete, de humor! Eu! Humor! Um cara que nunca teve o dom de ser engraçado.
Ficava nítido que as pessoas me confundiam com a “persona” do Não Faz
Sentido no momento em que elas se aproximavam para pedir foto ou autógrafo.
Quando viam que eu era simpático e as tratava superbem, respondiam quase
sempre com um: “Nossa, eu achei que você fosse ser grosso”, ou então já se
aproximavam de mim dizendo: “Olha, eu sei que você vai me odiar, mas...”
Ninguém conseguia separar minha figura pessoal da figura que eu demonstrava
ser no Não Faz Sentido.
É óbvio que a culpa das pessoas enxergarem em mim um crítico e não um ator
era inteiramente minha. Numa decisão que até hoje não sei se foi estúpida ou
inteligente, eu coloquei meu próprio nome como personagem. O tal do “Felipe
Neto” passou a ser o cara que usa óculos escuros dentro de casa e só sabe falar
mal dos outros. Ninguém fazia a menor ideia de que na vida real eu era um
banana, totalmente dócil e incapaz de entrar numa briga. O Não Faz Sentido
tratava-se de um personagem falando coisas que eu, Felipe, jovem inocente e
pimpão, pensava, só que de um jeito que jamais fui na vida real.
Outro ponto que ajudou muito na disseminação dos vídeos e a me transformar
numa moda adolescente foi o fato de que inúmeros professores pareceram gostar
do que eu falava. Mais do que isso, começaram a transmitir meus vídeos em sala
de aula para a molecada, utilizando como base para iniciar um debate logo em
seguida. Sem dúvida essa foi uma das consequências do Não Faz Sentido de que
mais me orgulho até hoje, mas, como tudo tem dois lados, foi um fator
fundamental para fazer com que eu me transformasse definitivamente num “ícone
da moda adolescente” que eu tanto criticava.
Para coroar, as críticas mais duras começaram a surgir. Desde alguns jovens
que simplesmente me categorizaram como moda infantil e por isso queriam
mostrar que não iam com a minha cara até jornalistas que chegaram a redigir
matérias me taxando como oportunista que utilizara de recursos banais para fazer
sucesso.
Algumas pessoas, também nesse momento, começaram a dizer que eu
inspirava o bullying. Que meus textos eram repetidos por alunos em colégios para
atacar e humilhar os outros jovens que gostavam das coisas que eu criticava.
Bem, no meu tempo, bullying não era tratado como bullying, mas sim como
“zoação”. Hoje, a supervalorização do bullying fez com que as pessoas
considerassem qualquer provocação como tal. Mas fazer o quê? Alguns me
atacavam como pessoa radical que incentivava a violência. Outros, como
politicamente incorreto, e ainda afirmavam que eu deveria pegar mais leve e não
atacar nenhuma minoria.
É claro que eu deveria ter me preparado pra isso, mas, porra, joguem toda essa
carga na cabeça de um garoto de 22 anos que até três meses atrás passava as
madrugadas sozinho vendo seriados e vocês verão o estrago que isso causa. Sem
preparo, eu sentia esse peso de uma forma avassaladora, tentando pensar de todas
as formas em um jeito de fazer com que essas pessoas enxergassem a verdade por
trás da máscara do número de visualizações.
O fato é que é impossível. Se formos estudar os casos de sucesso de tantos
exemplos ao redor do mundo, veremos que praticamente todos eles são repletos
de duras críticas, expectativas e tentativas para derrubá-los. Qualquer sucesso,
seja ele qual for, desde uma promoção na empresa até o de um astro do cinema de
Hollywood, carrega consigo o peso do aspecto negativo. Quando falamos de
Brasil, então, o país onde Chico Buarque declarou que “sucesso é ofensa
pessoal”, eu não poderia esperar nada diferente.
Contudo, o fato é que aquilo me abalava emocionalmente. Não sabia lidar, por
exemplo, com um jornalista publicando para milhares de pessoas que eu não era
melhor do que as coisas que criticava. Cacete, eu estava sendo colocado lado a
lado com Restart, o que pra mim era desesperador.
O que decidi? Que precisava mostrar que era mais do que isso, eu era mais do
que simplesmente um cara que criticava coisas que fazem sucesso entre os
adolescentes. Pensando em agir defensivamente, mudei de forma radical o
conteúdo do Não Faz Sentido.
O primeiro passo foi publicar um vídeo chamado “Não Faz Sentido – Humor
Politicamente Correto”. Nele, comecei a chamada dizendo: “Este vídeo foi feito
pra você que curte um humor refinado. Você que prefere que o humor seja
politicamente correto e que tenha compromisso social, considere a ética, a moral e
os bons costumes. Um humor muito importante e muito engraçado. Então decidi
fazer este vídeo só com piadas muito engraçadas, todas neste formato. Sem
ofender ninguém. Pra você que leva o humor a sério.”
Em seguida, fiquei por 1 minuto em silêncio, ao som de uma ópera de Bach.
O vídeo, obviamente, sofreu muitas críticas daqueles que não conseguiram
compreender a intenção. Contudo, volto para o que disse anteriormente: nunca
diga que você não foi engraçado porque as pessoas não entenderam seu
refinamento. O fato é que não foi engraçado mesmo, foi apenas um tapa de luvas
para os que diziam que eu atacava minorias. Minha intenção foi mostrar como o
humor quase sempre carrega um quê de preconceito, seja uma piada de loira, uma
piada contra pagode, uma piada de português, ou zoando uma tia, ou falando
sobre gente burra. O humor não deve ter compromisso social, ele não existe para
educar, mas, sim, para fazer rir. E mesmo que o Não Faz Sentido não fosse um
projeto categorizado puramente como humor, aquele vídeo-crítica tentava deixar
isso claro. Embora infelizmente não deixasse.
Após esse vídeo, foquei minhas atenções para outra questão: mostrar que não é
porque algo faz sucesso que você deve dizer que é uma porcaria. Para tal, fiz o
vídeo: “Não Faz Sentido – Modinhas”, no qual utilizei as frases: “Agora virou
modinha não gostar de modinha” e “se o seu conceito pra gostar de algo é a
quantidade de sucesso que esse algo tem, você é um idiota”. O vídeo mostrava
exemplos de coisas que eram quase unânimes em qualidade e que carregavam
com elas pessoas que diziam não gostar simplesmente porque muita gente
gostava. E, se você entendeu o objetivo que eu tinha com este vídeo, deve ter
dado uma risadinha no canto da boca. Sei que eu dei... A risadinha.
Esses dois vídeos, contudo, tiveram participação fundamental para que o Não
Faz Sentido crescesse ainda mais. Veja bem, até então o canal era tido apenas
como uma série de vídeos que falava mal de modas adolescentes, e muitos
críticos diziam: “Quero ver ele falar de coisa séria.” É claro que eu ainda não
havia realmente discursado sobre um assunto muito sério, mas fato é que aqueles
dois vídeos foram absolutamente diferentes de todos os outros que já tinha feito.
Neles, eu criticava atitudes, posturas e não simplesmente modas. E o resultado
não poderia ter sido melhor: os vídeos mantiveram a média de visualizações do
canal. Eu havia conseguido falar de coisas diferentes e com maior conteúdo, e as
pessoas haviam gostado na mesma intensidade. Yahuu!
Ok, esse “yahuu” foi estúpido.
Enfim, aquilo me deu um gás, principalmente porque, por conta desses vídeos,
algumas pessoas que criticavam antes passaram a elogiar, dizendo que aquela
pegada era muito mais interessante do que ficar apenas falando sobre coisas que
estavam na moda.
Já com alguma experiência no YouTube e no Twitter, onde eu já estava com
pelo menos 200 mil seguidores, já havia percebido que a molecada da internet
estava cada vez mais perdendo a noção do bom e velho português. Cada vez mais
eu recebia comentários, positivos ou negativos, escritos de forma totalmente
equivocada, trocando “mas” por “mais”, “você” por “vs”, “incomodado” por
“encomodado” (para de me corrigir automaticamente, Word, eu quero escrever
“encomodado” mesmo).
Observando tudo isso, decidi passar para esse tema que tinha uma pegada bem
mais séria: falar sobre educação, através do vídeo “Não Faz Sentido – Gente que
Escreve Errado”.
O desafio era gigantesco. Os vídeos do Não Faz Sentido traziam consigo uma
pegada humorística e quase sempre falavam sobre modas. Mas agora eu queria ir
um pouco além e incentivar os jovens a buscarem conhecimento, mais ou menos
como o ET Bilu (se você não entendeu, procure no Google). Contudo, ao mesmo
tempo em que iria falar sobre um tema muito sério, não poderia tornar o discurso
maçante e cansativo de se assistir. Precisava do humor, precisava do tom de raiva
e da crítica com dedo no olho da molecada.
E foi assim que escrevi o roteiro, após dar uma passada nos comentários
recentes do vídeo sobre o Justin Bieber e ler isso:
“Vs so fla isso pq vs naum cata mina seo boiola.”
É difícil de traduzir, eu sei, mas, após estudar a frase e encaminhar para
pessoas especializadas, consegui formular uma tradução adequada. O que essa
pessoa quis dizer foi mais ou menos isso:
“Eu mato aula pra ficar jogando Tïbia.”
Peço desculpas caso um especialista com maior conhecimento tenha obtido um
entendimento diferente da frase.
Escrevi o roteiro, deixando uma pitada de humor no ponto em que eu atacava
diretamente as pessoas que escreviam errado, muitas vezes de propósito, mas
também segui com a intenção que tinha preestabelecido. Falei sobre leitura, busca
por maior aprimoramento da língua portuguesa e deixei claro que a vida não é
fácil para quem prefere passar por ela sem a dedicação necessária aos estudos.
BUM!
O vídeo teve um sucesso absoluto, milhões de visualizações e, dessa vez, com
um apoio quase total de professores e dos pais dos jovens que assistiam aos
vídeos.
Pela primeira vez eu havia atingido um novo público: o adulto. Comecei a
receber mensagens não somente dos jovens, mas dos pais, que escreviam sobre a
importância que os vídeos estavam tendo numa melhora do rendimento de seus
filhos. A garotada havia absorvido a mensagem e eu conseguia perceber isso nas
respostas que recebia pelos veículos de mídias sociais. Tanto nos comentários
quanto no Twitter ou Orkut (o Facebook ainda não era popular na época) as
respostas começavam a vir com o português mais correto. Aliás, sem querer
parecer arrogante mas, poucas vezes, após a publicação do vídeo, voltei a ler
alguém escrevendo “vs” em vez de “você” ou “vc”, comumente usado como a
gíria padrão da palavra na web, o que é aceitável (como eu disse no vídeo,
abreviações são normais, escrever errado que é o problema).
Os professores voltaram a ter um papel fundamental. Mais do que nunca,
abraçaram o Não Faz Sentido e exibiram o vídeo “Gente que Escreve Errado” em
milhares de salas de aula pelo Brasil, conforme eu recebia por depoimentos na
internet. Alguns vinham falar comigo nas ruas e diziam: “Faça mais vídeos desse
tipo, eles não gostam de escutar conselhos de professores, mas escutam quando é
você falando.”
Mais uma vez eu me via numa situação de pressão. O vídeo sobre educação
havia sido um sucesso absoluto, mas agora jogava nas minhas costas um peso
inacreditável. Os adolescentes estavam me ouvindo, absorvendo minhas
mensagens e realmente utilizando em suas vidas. Mas, pera, EU TINHA 22
ANOS!
Eu também era jovem (e, se você estiver lendo este livro antes de 2020, ainda
sou. Se estiver lendo após 2020, OI! Que maneiro estar falando com alguém do
futuro, espero que já tenham inventado o carro voador e finalizado os estádios pra
Copa). Como jovem, era muito complicado sentir a responsabilidade de falar para
outros que eram no máximo 10 anos mais jovens que eu, sendo muitos deles da
minha idade ou até mais velhos.
Além de modinha, eu havia me tornado uma espécie de conselheiro
adolescente. Pois é, ao mesmo tempo em que tudo dava certo, tudo dava meio
errado com relação aos planos que eu havia traçado pra minha vida. Eu não era
jornalista, não era intelectual, não era a pessoa certa pra isso, mas a verdade é que
as pessoas me enxergavam como crítico. E praticamente nenhuma delas como
ator.
Com o passar dos dias, cada vez mais eu percebia que o Não Faz Sentido
poderia realmente assumir uma postura mais eficiente no que se tratava de
mensagem positiva (leia-se “aproveitável”) para os jovens. Foi assim com os
vídeos sobre “Humor Politicamente Correto”, “Modinhas” e “Gente que Escreve
Errado”. Por isso, decidi manter a mesma linha mais um pouco e fiz mais dois
vídeos com uma pegada mais séria.
O primeiro deles foi após um evento muito desagradável. Por volta do início de
junho, meu primo Alan decidiu ir sozinho a uma balada underground de rock
numa casa chamada Pista 3, bem famosa para os frequentadores de festas nesse
estilo no Rio de Janeiro. Normalmente, o tipo de lugar frequentado por gente
inteligente e educada, onde quase nunca acontecem confusões.
O problema é que, já havia algum tempo, os famosos “playboys” tinham
percebido que nessas baladas existia uma grande concentração de mulheres
interessantes, bem diferentes do padrão em festas de playboyzinhos e patricinhas,
onde as meninas passam a festa inteira olhando para as roupas das outras e
definindo quem está mais gostosa. Nas festas que frequentávamos, as mulheres
normalmente utilizavam calças rasgadas, tênis All Star e ligavam o “foda-se” para
questões estritamente estéticas. Elas estavam lá pra se divertir e não pra disputar.
Pois bem, alguns playboys começaram a achar isso atraente e passaram a
frequentar as festas, o que começou a ter um acréscimo significativo no número
de confusões.
Veja bem, playboy não tem muito a oferecer à mulherada quando se trata de
inteligência. Por isso, normalmente suas maiores preocupações são seus bíceps e
a tentativa constante de mostrar para os demais o quanto ele é macho. Daí vem a
prática de usar regata na balada, ou até mesmo ficar sem camisa, seja o frio que
for. Mas o grande problema sempre fica por conta dessa necessidade de
autoafirmação.
Meu primo Alan estava na festa se divertindo, como sempre fazemos quando
vamos juntos, até que decidiu ir ao banheiro. Ao chegar, encontrou uma fila
chata, mas posicionou-se no final dela e esperou sua vez, como qualquer ser
humano decente e com um pingo de respeito.
Bem, essas não são características que podemos encontrar com constância nos
playboys. Dois deles se aproximaram do banheiro quando o Alan já era o
primeiro da fila e tentaram ultrapassar, deixando todo mundo indignado. Meu
primo, que nunca foi de olhar injustiça e ficar calado, colocou o braço tentando
impedir a entrada dos playboys no banheiro. Simplesmente fechou a passagem,
num modo educado de dizer que era necessário ir para o final da fila.
Mas playboy não enfrenta fila, playboy não admite ser desafiado. Vendo Alan
se posicionar pela defesa do bom senso, um dos dois retardados agarrou meu
primo numa gravata, imobilizando seus braços e o outro acertou um soco certeiro
em seu rosto, ao mesmo tempo em que gritavam coisas imbecis que todo playboy
diz, algo como “tá maluco, irmão?”, “tá querendo morrer, filho da puta?”.
Bateram e correram, o que normalmente os playboys fazem: atacam em grupo
de forma covarde e em seguida desaparecem.
A história foi basicamente essa, com o agravante de que, quando meu primo
contou ao segurança, que foi expulsar os dois playboys da balada, os babacas
ainda tentaram convencê-lo de que quem tinha desferido golpes havia sido o
próprio Alan. Mais uma postura comum num playboy: covarde, fujão e
mentiroso.
Enfim, contei toda essa história para mostrar qual foi minha inspiração para o
vídeo que veio a seguir no Não Faz Sentido, intitulado de “Playboys
Porradeiros”, no qual falei tudo o que pensava sobre essa postura imbeciloide que
determinados homens têm nas baladas, ou até mesmo na vida.
Devo confessar que pensei umas cinco vezes antes de publicar esse vídeo. Na
realidade não foi tanto minha mente que permaneceu na dúvida, mas, sim, minha
integridade física. Até então o máximo que poderia acontecer se alguém que não
gostasse dos meus vídeos e me encontrasse na rua seria uma crise de choro de
determinado fã de Justin Bieber. Mas agora eu estaria fazendo um vídeo que
mexeria com mais do que simplesmente meninas enlouquecidas. Como eu disse
anteriormente, playboy não gosta de ser contrariado.
Enfim, decidi publicar e me ausentar temporariamente de baladas, onde
poderia encontrar algum desses indivíduos com sangue nos olhos (o que, na
prática, significa álcool nos olhos).
Mais uma vez o Não Faz Sentido provou que poderia tratar de assuntos sérios
e manter a média de visualizações, o que acabou me dando ainda maior gás.
Para os curiosos: não, eu não apanhei, mas descobri algo interessantíssimo, os
playboys porradeiros não sabem que são playboys porradeiros. Eles sempre
acham que têm razão quando caem na porrada e, por isso, não vi ninguém
dizendo que se encaixava no perfil da crítica. Ninguém defendeu o lado criticado
do vídeo e até hoje nenhum playboy veio tirar satisfação comigo. O que, no final
das contas, é uma pena, pois parece que nenhum playboy foi realmente capaz de
absorver a mensagem do vídeo. Embora eu não ache que playboy algum consiga
absorver qualquer mensagem, seja aonde for.
Enfim, fiz mais um vídeo, dessa vez falando sobre os “trolls” da internet, isto é,
pessoas que dedicam suas vidas on-line a entrar em conteúdo criado por outras
pessoas e deixar mensagens de puro ódio despropositado. É o cara que entra no
seu vídeo e comenta algo como: “seu lixo, vídeo patético” ou simplesmente passa
dias tuitando sobre o quanto determinada pessoa é horrível na internet.
É importante ressaltar aqui uma mensagem que talvez tenha ficado confusa
para aqueles que viram o vídeo sobre os trolls. Muitas pessoas acharam que eu
me referia a qualquer pessoa crítica, em geral, o que está longe de ser verdade,
caso contrário estaria falando mal do próprio Não Faz Sentido e de outros canais
do YouTube brasileiro, como o PC Siqueira e o Cauê Moura. Há uma diferença
brutal entre o “troll” e o cara que critica. Qualquer crítica, para ser considerada
como tal, deve vir com argumentos, embasamento e, se possível, uma ideia de
solução. Sempre busquei alimentar os vídeos do Não Faz Sentido com todos
esses ideais, para fugir exatamente da temática hater (em português, seria algo
como “odiador”) e fundamentar meus vídeos com uma temática mais embasada.
Posso nem sempre ter atingido esse objetivo, mas é importante lembrar que nunca
fui um crítico especializado ou alguém que traçou a vida pensando nesse ideal. O
que posso garantir é que sempre tentei.
O vídeo sobre os trolls, embora tratando de um assunto específico e não muito
popular, obteve mais uma vez um êxito fora do normal para vídeos na internet
brasileira. Mais do que criticar determinado tema, esse vídeo serviu também para
informar e mostrar que determinado comportamento estava sendo abusivamente
praticado na internet brasileira. De todos que fiz até hoje, considero que esse
tenha sido o vídeo de menor êxito, visto que, por mais que a esmagadora maioria
tenha apoiado e defendido o seu ideal, absolutamente nada mudou e até hoje
vemos um comportamento raivoso excessivo nos comentários de pessoas no
YouTube, Twitter, Facebook ou qualquer outro tipo de mídia social. Aliás, se
você estiver lendo este livro e o Facebook não for mais a moda do momento,
legal, pois eu nunca gostei muito e sempre disse que em determinado momento
acabaria morrendo. Caso você esteja no futuro e o Facebook ainda seja a crista da
onda da internet, então falhei duas vezes: uma pela minha previsão e a segunda
por usar o termo “crista da onda”.
Piadinhas à parte, fato é que nesse momento encontrava-me na seguinte
situação: os vídeos não paravam de subir de posição, o Não Faz Sentido era
comentado em todo lugar e eu não parava de receber e-mails e mensagens
elogiando o conteúdo que tinha ficado mais maduro e menos sobre “modinhas”.
Por mais que minha felicidade fosse alta em ver o projeto crescendo, eu também
me via na situação de cada vez mais personificar um personagem e me distanciar
da carreira de ator. Além disso, sentia uma pressão imensa baseada no que as
pessoas esperavam de mim, e no papel que estava assumindo para os jovens com
acesso a internet do Brasil. Isso tudo me afetava e me deixava cada vez mais
ansioso.
E a brincadeira ainda não tinha sequer começado pra valer...

acesse os vídeos mencionados neste capítulo:

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